segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

Ele gostar ou não gostar, não me importa. Mas não vou mudar de opinião só por isso. Por quê? Porque estou dizendo que a nossa situação é estreita. Qualquer que seja o presidente, a situação é a mesma. É uma pinguela. Então, vamos criar condições para atravessar essa pinguela. Segunda afirmação que eu tenho feito: se a pinguela quebrar é pior. Porque você cai na água. Outro dia ouvi na rede social alguém dizer: mas eu prefiro sair nadando. É uma posição. Mas, e os que não sabem nadar? Afogam. Então, tem de saber como sai. Precisa de um road map. Eu diria que na área econômica o governo até já tem um road map. Mas a população não sente a saída. O que temos de fazer? Veja, o governo foi levar ao Congresso a PEC do Teto. O que ele diz? Eu não posso gastar mais do que eu ganho. Eu ouvi o Tancredo dizer isso, lá atrás. E o Lula falou isso umas 20 vezes. Isso quer dizer que vão prejudicar educação e saúde? Depende. Tem de ver a prioridade. O que está por trás dessa proposta? A ideia de que o governo tem um poder ilimitado de fazer dinheiro. E não tem.

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Fernando Henrique Cardoso é sociólogo, foi presidente da República. Entrevista. O Estado de S. Paulo, 12/12/2016

Temer prepara programa de R$ 1,3 bi para empregos

Por agenda positiva, Temer vai lançar pacote para estimular a economia


Michel Temer deve lançar um “minipacote” de medidas para evitar demissões e estimular a economia. O programa terá investimento de R$ 1,3 bilhão para garantir 200 mil postos de trabalho em quatro anos. A agenda busca neutralizar os efeitos da delação da Odebrecht e o aumento da impopularidade do governo. Em pesquisa do Datafolha, divulgada ontem, 51% dos entrevistados consideram o governo ruim ou péssimo. A estratégia, definida ontem em reunião no Jaburu, será usar o vazamento da delação como pretexto para invalidar o depoimento

Após divulgação de delações que atingem governo e para combater impopularidade, Planalto cria ‘minipacote’ que visa manutenção de empregos

Murilo Rodrigues Alves e Lígia Formenti - O Estado de S. Paulo

Em busca de uma agenda positiva para neutralizar o impacto do vazamento de delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht e do aumento da impopularidade, o governo Michel Temer pretende lançar nos próximos dias um “minipacote” de medidas que teriam como foco a manutenção de empregos e o estímulo à economia.

Já está certo o anúncio do Programa de Sustentação ao Emprego (PSE), com investimento previsto de R$ 1,3 bilhão para a manutenção de 200 mil postos de trabalho em quatro anos. Trata-se da versão permanente, revista e ampliada do Programa de Proteção ao Emprego (PPE), lançado na gestão Dilma Rousseff em junho do ano passado.

O programa permite a redução da jornada de trabalho em até 30%, com redução também do salário em igual proporção. A metade do desconto no salário – que também pode chegar a 30% – é bancada pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

As demais medidas envolvem ações nas áreas regulatórias, de crédito e competitividade, com o objetivo de melhorar o ambiente de negócios. Temer e aliados ficaram preocupados não apenas com o potencial dos vazamentos das delações envolvendo os ex-dirigentes da empreiteira, mas também com a pesquisa Datafolha que mostrou aumento da impopularidade do governo.

O cronograma para divulgação foi acelerado para tentar neutralizar o impacto do vazamento da delação premiada do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho. Nos depoimentos, o ex-executivo afirmou que Temer pediu dinheiro da Odebrecht. O presidente rechaçou as declarações do ex-diretor e disse que todas as doações feitas pela empreiteira ao PMDB foram declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Também foram citados outros integrantes do governo, além de pelo menos 30 parlamentares.

A operação para tentar reduzir os estragos da delação ganhou força sobretudo diante dos sinais de descontentamento dados pela própria base do governo. O receio é de que o clima desfavorável prejudique a tramitação da PEC da Previdência, que começa a ser discutida na Câmara nesta semana.

O líder do PSD na Câmara, deputado Rogério Rosso (PSD-DF), disse que o governo deve lançar ainda nesta semana um pacote de oito medidas para geração de emprego e estímulo à atividade econômica.

Cronograma. A equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defendia que essas medidas só começassem a ser anunciadas em janeiro. Ele trabalha em propostas regulatórias para facilitar a renegociação de dívidas das empresas, mas sem que seja adotada nenhuma ação que coloque em risco a saúde dos bancos.

Já o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, analisa alterações em marcos legais para tentar melhorar o ambiente de negócios.

Para conter crise, Temer aposta em saída econômica

Planalto quer pressa em votações no Congresso e pacote de medidas

Presidente reuniu assessores e aliados após delação de ex-diretor da Odebrecht e queda de popularidade. Definição da nomeação do tucano Antonio Imbassahy para a Secretaria de Governo pode sair hoje

Diante da baixa popularidade e do agravamento da crise política, com as cúpulas do PMDB e do governo arrastadas para o centro da Lava-Jato, o presidente Michel Temer reuniu ontem aliados e assessores para pedir rapidez na aprovação das medidas econômicas no Congresso e na formulação de um pacote de ações para a retomada do crescimento. O objetivo é ter resultados a apresentar e garantir a governabilidade. Temer pode nomear hoje o deputado tucano Antonio Imbassahy para a Secretaria de Governo.

Aposta na economia

Com agravamento da crise política, Temer procura trunfo econômico para resistir

Cristiane Jungblut, Simone Iglesias e Bárbara Nascimento - O Globo

-BRASÍLIA-. Diante do agravamento da crise política, com a cúpula do governo e do PMDB arrastados para o centro da Lava-Jato e com baixa popularidade, o presidente Michel Temer aposta na aprovação de medidas econômicas no Congresso e no anúncio de um minipacote de ações para a retomada do crescimento numa tentativa de tirar sua gestão das cordas. Ontem, o peemedebista deflagrou uma intensa mobilização junto à sua base de apoio para manter os partidos comprometidos com o governo.

Base vai contestar divulgação de teor de delação

Estratégia de aliados de Temer é questionar vazamento de depoimento de ex-diretor da Odebrecht; presidente convoca reunião de emergência

Carla Araújo Erich Decat Lígia Formenti - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Aliados do presidente Michel Temer vão reforçar nesta semana as críticas à divulgação da delação do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho. A estratégia é questionar a legalidade da divulgação, o que, para eles, poderia comprometer a delação, assim como ocorreu com o depoimento do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro. Com base nisso, o esforço é para tentar invalidar o depoimento.

Um dos defensores dessa tese será o presidente do PMDB e líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), citado, assim como Temer, pelo ex-diretor da Odebrecht.

Uma reunião de emergência no Palácio do Jaburu foi realizada ontem à noite, com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), Moreira Franco, também citados pelo ex-executivo.

Temer quer reforçar elo com PSDB para reagir a delação

Marina Dias, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Na tentativa de conter a crise política que avançou sobre o Planalto após a revelação de detalhes da delação da Odebrecht, o presidente Michel Temer quer um acordo definitivo com o PSDB e planeja o anúncio de medidas econômicas para tentar tirar seu governo das cordas.

Neste domingo (11), o presidente recebeu aliados no Palácio do Jaburu, em reuniões que não constavam de sua agenda oficial, para discutir o cenário.

Entre os visitantes, estavam o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), o secretário de Parcerias e Investimentos, Moreira Franco, e o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA), que deve assumir a Secretaria de Governo.

Contra crise política, Temer acelera agenda econômica

Por Vandson Lima, Andrea Jubé, Bruno Peres, Maíra Magro e André Guilherme Vieira – Valor Econômico

BRASÍLIA E SÃO PAULO - No esforço de neutralizar o impacto das delações de executivos da Odebrecht, que o envolveram e a seu núcleo de governo, o presidente Michel Temer antecipou para esta semana o lançamento do pacote de medidas microeconômicas que aliviem o setor empresarial e acelerem a reforma trabalhista.

Após a divulgação da delação, Temer viajou a São Paulo, retornou a Brasília e, à noite, convocou os ministros mais próximos e integrantes da equipe econômica para reunião no Palácio do Jaburu, com duas pautas sobre a mesa: definir a estratégia de reação do governo às denúncias contidas na delação da Odebrecht e acelerar as agendas positivas em gestação. Temer pediu à equipe econômica que apresse a definição das medidas com potencial para acelerar o crescimento e a geração de empregos.

Ameaçado, o presidente tenta salvar o governo

Por Raymundo Costa – Valor Econômico

BRASÍLIA - A bomba da Odebrecht provocou ondas de choque intensas no Palácio do Planalto e o edifício está cheio de rachaduras. A posição do secretário Moreira Franco (PPI) é exemplar. Ele comanda o carro-chefe do governo na área de concessões de infraestrutura, que patrocina obras, tem previsão de gastar R$ 60 bilhões em obras de infraestrutura, justamente o foco das investigações da Lava-Jato e das inconfidências bem premiadas dos executivos da empreiteira.

Moreira Franco está praticamente imobilizado na função, diante das denúncias da Odebrecht. Mesmo que desminta as reuniões mencionadas e que tenha elaborado um passo-a-passo de tudo o que fez durante as tratativas para a construção de um terceiro aeroporto em São Paulo. Espécie de check-list. Parece que está fácil provar: teve pouca participação e quando atuou foi para evitar e contrariar interesse desses típicos perseguidos pela Lava-Jato. Duro é provar, e se provar, a tempo.

Sem fatores sazonais, desemprego já supera 12% no país

Por Sergio Lamucci – Valor Econômico

SÃO PAULO - A taxa de desemprego já supera a marca de 12% em cálculos que levam em conta o ajuste sazonal dos dados divulgados pelo IBGE. Na série dessazonalizada do Goldman Sachs, por exemplo, a desocupação atingiu o nível recorde de 12,1% nos três meses encerrados em outubro - acima dos 11,8% dos números originais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua.

No mesmo período de 2015, a desocupação estava em 9,2% quando se descontam fatores sazonais, segundo o Goldman Sachs. Na série original do IBGE, a taxa era de 8,9%.

Os números dão uma medida da deterioração acentuada do mercado de trabalho, um dos principais motivos que explicam a queda do consumo privado, ao lado do nível elevado de endividamento das famílias e da contração do crédito. Segundo analistas, essa piora deve continuar nos próximos meses.

Desemprego está pior que em outras crises, aponta FGV

Por Arícia Martins – Valor Econômico

SÃO PAULO - A recessão atual, que pode caminhar para o terceiro ano, é também o período em que a taxa de desemprego atingiu o maior nível no país, ao menos desde setembro de 1992. Segundo série mais longa da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, construída pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), os picos da desocupação em outras crises foram menores: de 10,9% entre 1998 e 2000, 10,8% de 2002 a 2004, e 9,7% no ano de 2009.

Já no trimestre terminado em outubro, o percentual de desempregados em relação à População Economicamente Ativa (PEA) alcançou 11,8%, mesmo patamar de setembro. Os dados anteriores a março de 2012 - mês em que o IBGE passou a divulgar a Pnad Contínua - foram estimados pelos pesquisadores Bruno Ottoni Eloy Vaz e Tiago Cabral Barreira com o método de retropolação, replicando o comportamento da pesquisa atual de emprego caso ela existisse desde 1992, a partir de dados da Pnad anual e da extinta Pesquisa Mensal de Emprego (PME).

Isenções de impostos responderão por um terço do INSS em 2017

Isenções devem ‘tirar’ R$ 62 bilhões da Previdência

Argumento do governo é que retirada dos benefícios pode significar o fechamento de várias empresas

Idiana Tomazelli, Adriana Fernandes – O Estado de S. Paulo

/ BRASÍLIA, - Enquanto pretende endurecer as regras para a aposentadoria no Brasil, o governo prevê abrir mão de R$ 62 bilhões em receitas da Previdência Social no ano que vem. O valor é um terço do rombo de R$ 181,2 bilhões previsto para a Previdência em 2017.

O tamanho da renúncia com a concessão de isenções de contribuições concedidas a micro e pequenas empresas, entidades filantrópicas e exportações agrícolas virou arma de resistência das centrais sindicais, que defendem que o governo faça um corte mais radical desses benefícios em substituição a medidas duras da proposta de reforma das regras para aposentadoria.

Na proposta de emenda à Constituição (PEC), o governo propõe acabar apenas com um dos seis tipos de renúncias de receitas previdenciárias em vigência hoje – há um sétimo, referente aos Jogos Olímpicos, que se encerrará no fim do ano que vem. A medida quer acabar com a isenção de contribuições sobre exportações da produção rural, o que trará uma economia de cerca de R$ 6 bilhões por ano.

'Não sou candidato e especulações só atrapalham o País', diz FHC

Tucano afirma que, 'num momento de ânimos acirrados, as pessoas não pensam'

Sonia Racy, Alberto Bombig e Gabriel Manzano - O Estado de S. Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou ao Estado na última quinta-feira, 9, que não pretende se colocar como uma alternativa para ocupar a Presidência da República caso a grave crise política se aprofunde ainda mais neste ou no ano que vem e provoque a interrupção do mandato de Michel Temer. "Não sou candidato permanente", afirmou FHC.

FHC recebeu o Estado antes da divulgação pela imprensa, na sexta-feira, de parte das delações premiadas feitas por ex-executivos da empreiteira Odebrecht, que atingem diretamente Temer e o PMDB. O tucano reconhece que, nos bastidores da política, o nome dele começa a ser cada vez mais apontado como uma alternativa para ocupar o Planalto se o afastamento de Temer vier a ocorrer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na ação que corre na corte contra a chapa na qual a ex-presidente Dilma Rousseff e Temer disputaram as eleições de 2014 ou até pelo mesmo pelo Congresso, em um processo de impeachment. "Acho que essa hipótese (de ele próprio voltar à Presidência) foi levantada e que ela não é boa para o Brasil".

O sociólogo Fernando Henrique Cardoso, 85 anos, foi presidente por dois mandatos consecutivos, de 1995 a 2002. Ele foi sucedido diretamente por Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo FHC, a gestão Temer é uma "pinguela" (frágil e estreita ponte improvisada com troncos) que deve resistir até as eleições de 2018. "Se a pinguela quebrar, será pior".

O ex-presidente também falou sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal que manteve Renan Calheiros (PMDB-AL) no comando do Senado, a despeito dos movimentos de rua que pedem a saída do senador do cargo. "A rua é importante, mas também tem a lei, tem a institucionalidade, o longo prazo. Num momento de ânimos acirrados como nós estamos, as pessoas não pensam."

Leia a seguir trechos da entrevista:

Odebrecht demite mais de 100 mil em 3 anos

Em meio à Lava Jato, grupo tem hoje menos de 80 mil funcionários em sua folha

Josette Goulart – O Estado de S. Paulo

Enquanto pipocam vazamentos do conteúdo de delações de 77 executivos da Odebrecht sobre esquemas de corrupção que atingem a elite da classe política brasileira, os empregados da empresa convivem com outra dura realidade: o desemprego. Na semana passada, diversos executivos foram informados que o número de funcionários da companhia já está abaixo dos 80 mil. Isso significa que mais de 100 mil foram demitidos ou pediram demissão nos últimos três anos, quando o quadro de funcionários chegou ao seu auge. Se levado em conta o período da Lava Jato, no fim de 2014, a companhia foi reduzida à metade em número de funcionários.

Somente neste ano foram cerca de 50 mil demissões, sendo que boa parte feita pela construtora Norberto Odebrecht. A explicação é que muitas obras acabaram e não há novos contratos para realocar pessoal. A culpa não é somente da Lava Jato, que fez o grupo mergulhar em uma crise financeira. Pesaram ainda a recessão econômica no Brasil, que reduziu os investimentos de forma generalizada, e a queda nos preços mundiais do petróleo, que atingiu a economia de vários países onde a Odebrecht atua, como Venezuela e países da África.

Alerj tenta solução para pacote de austeridade

Deputados terão reunião sobre salário com servidores e comando da área de segurança

Vinicius Neder e Roberta Pennafort – O Estado de S. Paulo

RIO - Após apresentar o orçamento de 2017 com uma previsão de déficit de R$ 17,1 bilhões, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), entra nesta semana com a expectativa de salvar parte do pacote de austeridade anunciado no início de novembro. As medidas mais controversas seriam votadas hoje na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), mas a sessão foi adiada para a quarta-feira. O presidente do Legislativo, Jorge Picciani (PMDB), marcou reunião para amanhã para tentar um acordo em torno de ajustes nos gastos com a folha de pagamento da área de segurança.

O pacote tinha 22 projetos no formato original. O objetivo era gerar economia de R$ 27,8 bilhões nas contas de 2017 e 2018, com cortes de gastos, elevação de receita (com tributos e contribuição previdenciária) e extinção de programas sociais. Nas primeiras sessões na Alerj, a rejeição dos deputados a vários projetos apresentados reduziu a economia em pelo menos R$ 12 bilhões.

Meirinha - Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

Em um ambiente tomado por crises agudas, como o que vivemos, a tendência é sempre tentar dimensionar o tamanho dos problemas por meio das estatísticas. Acabamos aprisionados em um cipoal de dados e números que relatam vários desastres anunciados, em aflitiva busca por saídas, perdendo de vista o país real, aquele que sobrevive às mazelas de diferentes governos e resiste. Muitas vezes, milagrosamente.

A Folha publicou, no sábado (10), a história de Rosimere Amorim da Costa, a Meirinha, síntese desse Brasil marcado pelas imensas falhas do Estado nacional em melhorar, de fato, a vida das pessoas.

Que se vão todos! - Ricardo Noblat

- O Globo

Entre fazer alguma coisa ou nada, o governo Temer acionará sua tropa no Congresso contra a Lava-Jato.
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A delação da Odebrecht, que mal começou, já provoca espanto, horror e nojo. Os atingidos por ela se dizem vítimas inocentes de infâmias e apostam que no futuro serão absolvidos pela Justiça e redimidos pela História. E nós? O que falta para concluirmos que fomos governados nos últimos 14 anos por um bando de suspeitos de corrupção, mas que seguimos governados ainda por uma parte expressiva deles?

DIGO SUSPEITOS porque à luz das leis é o que eles são. Mas é difícil acreditar na inocência deles. Não só pelo volume de indícios e de provas reunidas pela Lava-Jato e oferecidas ao exame de todos nós, como também pelo relato circunstanciado, repleto de detalhes críveis e escabrosos, dos delatores ouvidos até aqui, sujeitos a penas maiores se mentirem ao juiz Sérgio Moro.

Futuro incerto – Valdo Cruz

- Folha de S. Paulo

Bateu o medo na equipe do presidente Michel Temer. Ninguém vai admitir publicamente, mas reservadamente já se fala até no risco de a gestão do peemedebista sucumbir e não chegar ao fim.

A piora acentuada na avaliação do governo captada pelo Datafolha e o primeiro aperitivo do que será a delação da Odebrecht jogaram o Palácio do Planalto num mar de total incertezas sobre seu futuro.

Diante da apreensão que se instalou no seu time, Temer pede sangue frio para ditar os próximos passos. Reações precipitadas passariam a imagem de desespero num cenário complexo e incerto.

Vai dar para esperar até 2018? - Marcos Nobre

- Valor Econômico

Renan está para Delcídio como Temer para Dilma

Sabe-se lá como, o governo Dilma conseguiu sobreviver a uma tempestade perfeita até o momento em que o ministro Teori Zavascki ordenou a prisão de Delcídio do Amaral, senador no exercício do mandato, líder do governo no Senado. Nesse mesmo dia 25 de novembro de 2015, a decisão do ministro foi referendada pela 2a. Turma do STF e confirmada em votação no Senado. A partir desse momento, o sistema político entrou em estado de pânico permanente.

A barbaridade jurídica perpetrada pelo STF com a prisão do senador abriu a caixa de Pandora das atrocidades jurisdicionais. Foi a senha e a chancela para a multiplicação das arbitrariedades em todos os níveis. E não apenas no Judiciário. Não por acaso, o acolhimento do pedido de impeachment de Dilma Rousseff por Eduardo Cunha aconteceu exatamente uma semana depois da prisão de Delcídio.

Será mesmo o juízo final? - Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

Há duas hipóteses sobre o impacto no sistema político das delações da Odebrecht, que enfim começam a se descortinar. A primeira, bastante difundida, é o juízo final, segundo a qual não restará pedra sobre pedra e todo resquício de governabilidade será destruído.

Embora variantes dessa ideia sejam frequentes no opinionismo jornalístico e populares no "circus maximus" das redes sociais, a boa prática investigativa recomenda iniciar a análise com a hipótese complementar, mais conservadora, e pela peça central do tabuleiro, o presidente.

Sobre a tolerância e o sectarismo - Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

Tempos bicudos os nossos. Crescem a intolerância e o sectarismo. A globalização vai deixando suas vítimas pelo caminho, despertando a reação dos marginalizados pelo curso das coisas. A abundância gerada pela revolução tecnológica não é bem repartida. As guerras, a fome e a miséria produzem um enorme contingente de deserdados. A imigração em massa e o desemprego alimentam ódios recíprocos. O xenofobismo e os fundamentalismos radicais geram conflitos abertos ou latentes que abraçam a cena contemporânea.

A vitória de Trump nos Estados Unidos, a expressiva votação da extrema direita na Áustria, a vitória do Brexit na Grã-Bretanha, a derrota da reforma constitucional na Itália, as perspectivas de radicalização na França, a forte presença do terrorismo como ameaça permanente são faces de um mundo que não oferece às novas gerações um horizonte alvissareiro. A intolerância racial, religiosa e política preenche os vazios deixados por uma globalização que incorpora o livre trânsito de mercadorias e capitais, mas não consegue lidar com o deslocamento dos excluídos.

Esculhambação institucional - Denis Lerrer Rosenfield

- O Globo

A balbúrdia criada pela decisão monocrática do ministro Marco Aurélio, afastando o senador Renan Calheiros da presidência do Senado, seguida pela decisão da Mesa Diretora desta Casa em não seguir a decisão judicial, assim como a não validação desta liminar pelo Plenário do Supremo, é uma amostra, particularmente sofrível, da crise institucional na qual o país está mergulhado.

Seria simplesmente hilário se não expusesse a gravidade de nossa situação. Não dá para rir, embora seja cômico.

Não há vencidos nem vencedores, embora alguns especialmente vaidosos queiram se atribuir tal protagonismo. Quem perde é o Brasil, vítima de manobras irresponsáveis, que em nada contribuem para tirar o país do buraco no qual foi lançado pelo lulopetismo.

As pistas estão no agronegócio – Editorial / O Estado de S. Paulo

A melhora da economia brasileira em 2017, depois de dois anos de recessão, pode começar pelo campo, com uma safra de grãos de 213,1 milhões de toneladas – se o tempo, como se espera, for favorável. Sinais de recuperação, ainda escassos em outros setores, aparecem bem mais claramente na atividade do campo. Se as previsões se confirmarem, os produtores, com mais dinheiro, poderão dar um bom impulso aos negócios, inicialmente no interior e depois em toda a cadeia de circulação de bens e serviços. Além disso, a maior oferta de alimentos e matérias-primas garantirá preços mais estáveis e previsíveis, mas esse efeito dependerá também do desempenho de outros tipos de lavouras e da pecuária. A colheita prevista para a safra 2016-2017 será 14,2% maior que a da temporada anterior, pelos números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), subordinada ao Ministério da Agricultura. Esse aumento compensará com alguma folga o recuo do ano anterior, quando a produção, de 186,6 milhões de toneladas, prejudicada pelas condições do tempo, foi 10,6% menor que a de 2014-2015.

Bases sólidas – Editorial / O Globo

• Um novo modelo fiscal será a base para o país afastar os fantasmas da insolvência e da estagnação

A Constituição de 1988 foi costurada como uma espécie de plano de viagem para um Estado provedor, num país que precisaria crescer de forma exponencial, sem pressões inflacionárias, refratário a crises, com receitas sempre em alta. Isso não deu certo sequer em economias planificadas, amarradas até pela força discricionária, a extinta União Soviética o exemplo mais completo desse tipo de experimento. Por inviável, a intenção dos constituintes, ainda que lhes seja concedido o beneplácito de se ampararem em ideias nobres, colocou o Brasil na rota da possível insolvência, em algum momento.

O caminho foi sedimentado nos anos seguintes com medidas como o engessamento do orçamento nos gastos com saúde e educação, uma camisa de força na gestão dos recursos públicos, e a indexação (ao salário mínimo e/ou inflação) de rubricas sociais (Previdência etc.). Somente essa equação responde hoje por 40% dos gastos primários da União.

Fuga da escola – Editorial / Folha de S. Paulo

O Brasil tem conseguido colocar mais crianças de menor nível socioeconômico na escola, mas falha sistematicamente em convencer os adolescentes a persistirem até o fim do ciclo básico.

Esse é um retrato dos resultados da pesquisa Síntese de Indicadores Sociais, divulgada recentemente pelo IBGE. Em 2005, a proporção de alunos de 4 e 5 anos entre os 20% mais pobres do país que estavam estudando era de 52,4%, contra 86,7% entre os mais ricos.

Esse hiato de mais de 30 pontos percentuais diminuiu de forma significativa na última década. No ano passado, a fatia de crianças do quinto menos favorecido da população que frequentava a escola atingiu 80%, contra 94% entre os de maior renda.

É um desenvolvimento que merece ser celebrado. Pesquisas têm comprovado a importância da inclusão educacional até os 6 anos, etapa em que o desenvolvimento cognitivo é mais intenso.

Uma reforma necessária, que precisa ser duradoura – Editorial / Valor Econômico

Há muito tempo a sociedade tem conhecimento de que os regimes previdenciários, que protegem os servidores públicos e os trabalhadores da iniciativa privada, estão em forte desequilíbrio financeiro. As projeções apontam para déficits atuariais que assustam aqueles que se dão ao trabalho de ler os documentos técnicos sobre o assunto. Mesmo assim, a solução para o problema vem sendo adiada, com os sucessivos governos demonstrando receio em enfrentar as reações populares às necessárias correções de rumo.

Na semana passada, depois de vários adiamentos, o presidente Michel Temer encaminhou ao Congresso uma proposta de reforma da Previdência Social, que é abrangente e, se for aprovada com os ajustes que se fizerem necessários, será duradoura. Essa é uma questão importante a ser considerada, pois o país não pode, daqui a três ou quatro anos, ser obrigado a discutir novamente outra "reforma", pois a atual não foi capaz de encaminhar soluções adequadas para enfrentar os desequilíbrios.

Viagem à dor do passado: uma entrevista não publicada com o poeta Ferreira Gullar

Em julho, quando preparava uma nova edição de sua obra-prima ‘Poema Sujo’, o poeta Ferreira Gullar, morto no domingo passado, relembrou para o ‘Estado’ o forte impacto emocional provocado pelo processo de criação, durante o solitário período de exílio forçado em Buenos Aires, em 1975

Ubiratan Brasil / Aliás / O Estado de S. Paulo

Uma injusta fama de mal-humorado acompanhava o poeta Ferreira Gullar, morto no domingo, 4, aos 86 anos. Ainda que restrita, havia uma parcela de jornalistas e editores que evitava conversar com ele, temendo respostas atravessadas ou mesmo a indiferença. Nada mais irreal – Gullar era dono de uma risada que, se não atingia a estatura de uma gargalhada, trazia embutida um misto de galhofa e sinceridade. E o poeta sabia rir e fazer rir, especialmente quando narrava as estripulias de seus gatos – foram vários, sempre com o mesmo nome de Gatinho.

Gullar vivia em Copacabana, no Rio, na Rua Duvivier. Era muito conhecido na região, onde era tratado pelo nome. Ele gostava de contar uma história sobre um morador de rua que também vivia por ali e que observava a forma como o poeta era tratado. Até que, em um dia, parou diante do próprio e disse: “Ferreira Gullar! Tão famoso e eu nem sei quem é!” Uma história que o escritor adorava contar e recontar.

No final de julho, quando a Companhia das Letras iniciou a reedição de sua obra a partir do já clássico Poema Sujo, o repórter conversou por telefone com o poeta. A intenção era a publicação de uma matéria, que acabou, por motivos diversos, não sendo publicada. Apesar do triste motivo, o momento atual tornou-se propício, como uma homenagem ao poeta.

"A morte é o nada", diz Ferreira Gullar em entrevista inédita

RESUMO. Em entrevista inédita, Ferreira Gullar, um dos mais importantes poetas brasileiros, morto no domingo (4), fala sobre a importância e o papel da poesia e da arte, sobre os intérpretes do Brasil e sobre o futuro, o amor e a morte. Dois encontros de Gullar com o escritor que assina as perguntas estão aqui compilados.

Pedro Maciel – Ilustríssima / Folha de S. Paulo

Poeta, crítico, teórico de vanguardas, letrista, ilustrador e dramaturgo. O maranhense José Ribamar Ferreira, ou Ferreira Gullar, morto no domingo (4), aos 86 anos, deixou sua marca em variadas áreas da cultura brasileira.

Ex-militante do Partido Comunista, ao qual se filiou no dia em que começou a ditadura militar no país, em 1964, Gullar se notabilizou posteriormente como um dos mais ferozes críticos da esquerda e do chamado lulismo, como se constatava nas páginas da Folha, onde manteve coluna por 11 anos.

Em conversas e desconversas que tivemos, no entanto, o poeta pouco falou de política, mas muito de poesia, arte, vida e morte. Amigo e leitor de meus originais, permitiu que eu gravasse dois encontros, um em 2010 e outro em 2015. A síntese dessas conversas está na entrevista que segue, que permaneceu inédita até o momento.

Arte do futuro – Ferreira Gullar

NOTA DA EDIÇÃO
Ferreira Gullar, morto aos 86, de pneumonia, no domingo (5), ditou esta última coluna para a neta Celeste na cama do hospital.

Com pouco fôlego, teve de fazer pausas para descansar. "Quando eu perguntei se preferia terminar outro dia, ele disse que não, porque não sabia o que poderia acontecer", afirmou Celeste.

"Ele me falou uma vez: 'Eu adivinho as coisas'. Acredito que sim. Então ficamos aguardando essa nova arte que nascerá da tecnologia. Qual será?"

Poema triste – Graziela Melo

Triste alma,
meu tormento,
agonia singular!

O suspiro
vem do fundo,
das dores
que rondam o mundo

E nela
vêm
se alojar...

É o gemido
dá agonia

Que sufoca
o meu
viver

Por uma
espinhosa
razão

De ver
o mundo sofrer!!!