segunda-feira, 19 de junho de 2017

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

O senhor disse que falta legitimidade a Temer e que ele teria que antecipar as eleições como gesto de grandeza.

Não é que falta legitimidade ao Temer. Ele está lá por imposição constitucional. É legal. O governo é que está perdendo legitimidade. É o consentimento dos que obedecem à ordem dada. Quando as pessoas começam a discordar, e não é só do governo federal, perde-se a legitimidade. O que se vê hoje é atrito entre a Polícia Federal e os procuradores. Entre o Executivo e o Legislativo. Membros do Judiciário mandam cessar o mandato de um membro do Legislativo. Tudo isso são sinais de que a ordem está começando a perder validade. Isso é grave. Isso é que é deslegitimar. Não é só o Temer. É muito maior do que isso.

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Fernando Henrique Cardoso é sociólogo e ex-presidente da República, na entrevista “Vamos dar uma trégua ao Brasil”, revista IstoÉ da semana.

Avanço das reformas é o que interessa, afirma BC

‘A incerteza aumentou, mas o que me interessa são as reformas e o ajuste’, diz Ilan Goldfajn

Presidente do Banco Central, continua com um olho nos índices macroeconômicos e outro nas reformas para calibrar o ritmo da queda de juros

Entrevista com Ilan Goldfajn

Fabrício de Castro, Fernando Nakagawa e Irany Tereza, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Há um ano, quando assumiu, em 13 de junho, a presidência do Banco Central, o economista Ilan Goldfajn elegeu como principal bandeira uma inflação “baixa e estável”. A taxa acumulada em 12 meses, medida pelo IPCA, estava em 9,5%. Hoje, derrubada em grande parte pela recessão que assolou o País, baixou ao patamar de 3,6% (taxa de maio), e a economia “se estabilizou”. Condições suficientes para o BC garantir: o corte de juros continua. Ilan continua com um olho nos índices macroeconômicos e outro nas reformas para calibrar o ritmo da queda de juros. “A incerteza nas últimas semanas aumentou”, reconhece. “Mas, podemos ter as reformas e os ajustes avançando. E é só isso que me interessa, sob o ponto de vista do BC”, disse, em entrevista ao Estadão/Broadcast. A seguir, os principais trechos:

Um ano de Banco Central. Qual é o seu balanço?

Foi um ano em que a direção de política econômica mudou. Aí não é só uma questão de Banco Central, tem as questões econômicas, muitas reformas, muitos ajustes... A percepção, quando se olha o ano como um todo, é que, de fato, houve bastante avanço. Na questão do Banco Central houve mudanças relevantes. A começar por um dos objetivos principais do BC, que é a inflação. Quando eu entrei... eu mal sentei aqui e já estavam falando em meta de inflação ajustada. Basicamente, uma das nossas primeiras decisões foi não fazer uma meta ajustada, porque achávamos que a meta de 4,5% era possível de ser atingida. Na economia, estávamos no meio de uma recessão, com inflação. Hoje em dia temos uma economia, eu diria, que se estabilizou no primeiro trimestre. E perspectivas de uma recuperação gradual. A situação é diferente, porque aí a gente consegue, sob o ponto de vista da política monetária, entrar no período de flexibilização, que é nossa linguagem para redução da taxa de juros. O que se discute hoje é a velocidade, o ritmo e a extensão. Mas não se discute se a inflação ainda está alta, se tem que subir juros.

A avaliação do BC é de que a recessão acabou?

Eu diria... Vimos no primeiro trimestre um crescimento razoável, de 1%. Uma parte importante deste crescimento tem a ver com o setor agrícola, mas tem a outra parte que indica que pelo menos houve uma estabilização. A gente olha para frente e acredita que existe a possibilidade de uma recuperação gradual, ao longo deste ano. Bancos centrais falam de possibilidades, não é uma diminuição de nada, é simplesmente porque temos que tomar decisões, Copom, ou outras decisões, em que a gente sempre vai observar a atividade, se ela está recuperando gradual, se mais lento, mais rápido. É o risco que a gente tem colocado.

Temer grava vídeo para pedir punição a criminosos

Mensagem, sem citar Joesley e articulada com ministros, deve ser divulgada nesta segunda (19) antes de presidente viajar para Rússia e Noruega; Polícia Federal deve encerrar inquérito

Tânia Monteiro, Daiene Cardoso, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Antes de embarcar para a Rússia e a Noruega e à espera de uma denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ainda nesta semana, o presidente Michel Temer gravou ontem um vídeo para ser postado em redes sociais hoje no qual afirma que criminosos não ficarão impunes no País. Ele, no entanto, não cita diretamente o empresário Joesley Batista, da JBS, que colocou, após sua delação premiada, o governo federal em crise.

Temer aproveitou o vídeo para explicar sua viagem para a Europa, que começa na segunda e termina na sexta-feira, e para se defender das acusações de Joesley. Em entrevista à revista Época deste fim de semana, o empresário disse que o presidente é chefe de uma organização criminosa. Joesley obteve da Procuradoria-Geral da República (PGR) imunidade de seus crimes. Na gravação, Temer afirma que questões políticas têm atravancado o avanço da economia. Na Rússia e na Noruega, ele vai tratar de acordos comerciais.

Entrevista contradiz depoimento de Joesley sobre contato com Temer

Rubens Valente, Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O empresário Joesley Batista, da JBS, caiu em contradição em pelo menos dois pontos na comparação entre a entrevista concedida à revista "Época" e o depoimento à PGR (Procuradoria-Geral da República) no acordo de delação premiada.

Ele indicou uma data diferente sobre seu primeiro contato com o presidente Michel Temer e deu uma nova versão sobre os encontros iniciais com o ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR).

Em entrevista publicada no site da "Época" na sexta-feira (16), Joesley afirmou: "Conheci Temer através do ministro Wagner Rossi [PMDB], em 2009, 2010. Logo no segundo encontro ele já me deu o celular dele. Daí em diante passamos a falar. Eu mandava mensagem para ele, ele mandava para mim. De 2010 em diante. Sempre tive relação direta".

A data é diferente da que ele forneceu no depoimento prestado à PGR como parte do acordo de delação premiada, em vídeo gravado no dia 7 de abril passado.

Na ocasião, Joesley declarou que só conheceu Temer depois da eleição do peemedebista como vice-presidente na chapa da petista Dilma Rousseff. O executivo inicialmente disse que conhecia Temer já fazia "cinco, seis anos", mas foi interrompido por um procurador. Em seguida, diz: "O presidente Michel Temer conheci há cinco, seis anos atrás, ele já como vice-presidente. Quem me apresentou foi o ex-ministro Wagner Rossi, nomeado por ele".

Aliados de Temer têm dossiê jurídico que aponta caminhos para pedir anulação de delação da JBS

Por Painel, Folha de S. Paulo

Mapa de guerra Aliados de Michel Temer têm em mãos um dossiê jurídico que aponta caminhos para pedir a anulação da delação dos irmãos Batista. O documento elenca itens que poderiam dar base formal a diversos questionamentos sobre o acordo firmado com o MPF. A minuta tem um capítulo intitulado “Expectativas” que recomenda, por exemplo, que o governo peça no Supremo a rescisão da colaboração da JBS, alegando que ela “abusou da boa fé dos brasileiros e garantiu a impunidade aos delatores”.

Às claras O documento de 30 páginas questiona a competência do ministro Edson Fachin para homologar a delação da JBS, tema que será julgado pelo STF na quarta-feira (21), e sugere que o MPF “seja intimado” a explicar à sociedade por que deixou de denunciar os irmãos Batista.

O herói Ministros do Supremo têm reclamado, reservadamente, do que chamam de açodamento da Procuradoria-Geral da República na formulação de denúncias contra políticos.

E o vilão Os magistrados dizem que, muitas vezes, a Justiça rejeita denúncias que não vêm acompanhadas de provas suficientes. Esse cenário, dizem, empurra para o Judiciário a pecha de ineficaz.

Veja bem Esses mesmos ministros afirmam que o acordo da JBS deveria ter sido avaliado pelo plenário do STF.

Temer pode desprezar listra tríplice para PGR; conheça concorrentes

Reynaldo Turollo Jr., Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em maio de 2016, Michel Temer desautorizou o então ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, quando este defendeu que o governo não nomeasse como procurador-geral da República o nome mais votado por integrantes do MPF (Ministério Público Federal).

"Quem escolhe o Procurador-Geral da República, a partir de lista tríplice, é o presidente da República. O presidente manterá tradição de escolha de primeiro de lista tríplice para PGR", disse Temer, na ocasião, em nota.

Hoje, ele mudou o tom e vem dando pistas de que pode não agir assim.

A Constituição dá ao presidente a prerrogativa de escolher um nome entre todos os integrantes do MPF com mais de 35 anos de idade. Mas, desde 2001, a ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) organiza uma eleição entre os membros da carreira e submete ao presidente os três nomes mais votados. A votação será em 27 de junho. O mandato do atual procurador-geral, Rodrigo Janot, vai até 17 de setembro.

Em 2001, Fernando Henrique Cardoso ignorou a lista e reconduziu à PGR Geraldo Brindeiro. A partir de 2003, com Lula, os presidentes têm nomeado o primeiro da lista –foi assim em 2015, quando Dilma Rousseff reconduziu Janot.

Caciques do PMDB preferem Raquel para PGR

Com apoio de José Sarney, Renan Calheiros e Osmar Serraglio, Raquel Dodge surge como favorita para substituir o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Com apoio de caciques do PMDB, Raquel Dodge é favorita à PGR

Subprocuradora é a preferida de Sarney, Renan, Serraglio e Gilmar

Jailton Carvalho, O Globo

-BRASÍLIA- Muito antes das eleições internas para a escolha de uma lista tríplice a ser apresentada ao presidente Michel Temer, a subprocuradora Raquel Dodge desponta como a favorita a ocupar o lugar do atual procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Tida como certa entre os três primeiros colocados na disputa interna, Raquel conta com forte apoio de três peemedebistas: o ex-presidente José Sarney, o expresidente do Senado Renan Calheiros (AL) e o ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio (PR).

Os três líderes já fizeram chegar aos ouvidos de Temer que, pela vontade deles, Raquel deverá chefiar o Ministério Público Federal nos próximos dois anos, segundo disse ao GLOBO uma fonte que acompanha a disputa de perto. Também já teriam manifestado preferência pela subprocuradora o ministro da Justiça, Torquato Jardim, e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.

Temer prefere Bonságlia, mas deve ceder a aliados

Oito candidatos disputam a sucessão de Rodrigo Janot na PGR

- O Globo

-BRASÍLIA- Apesar de ser a preferida de aliados do PMDB para ocupar a vaga de Rodrigo Janot, a subprocuradora Raquel Dodge não é a favorita do presidente Michel Temer. Ele teria uma ligeira preferência pelo subprocurador Mário Bonságlia, outro nome praticamente assegurado na lista tríplice. Mas, fragilizado pelo inquérito em que é investigado por corrupção, organização criminosa e obstrução de justiça, o presidente estaria disposto a ceder à pressão dos aliados que, até aqui, têm sido essenciais para a permanência dele no cargo. Na avaliação de interlocutores de Temer, Raquel não teria a mesma combatividade de Janot mas, para o presidente, guardaria ainda um certo grau de imprevisibilidade.

Janot distinguirá caixa 2 do crime de corrupção

Maíra Magro | Valor Econômico

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai oferecer uma solução judicial para dezenas de políticos acusados exclusivamente do crime de caixa 2. São aqueles que receberam recursos não contabilizados para suas campanhas, mas não praticaram outros atos de corrupção. Ao apresentar denúncia contra esses políticos, Janot vai propor a chamada "suspensão condicional do processo".

Trata-se de um acordo em que o Ministério Público Federal sugere a antecipação de pena alternativa à prisão - multa ou prestação de serviços comunitários - e, em troca, o acusado deixa de responder a processo e, no fim, se cumprir as exigências, fica com a ficha limpa.

Cerca de metade dos 98 políticos investigados no âmbito do Supremo Tribunal Federal a partir de delações de executivos da Odebrecht se qualifica a um acordo desse tipo. Para se beneficiar, o político não pode ser alvo de processo nem ter sido condenado por outro crime. Até o momento, foram identificados cerca de 30 casos de caixa 2 exclusivo.

Em meio à crise política, Temer inicia viagem à Rússia e Noruega

Agenda do presidente inclui temas como infraestrutura, comércio, investimentos e cooperação

Lu Aiko Otta e Tânia Monteiro, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Buscando passar uma mensagem de normalidade em meio ao acirramento da crise política, o presidente Michel Temer embarca nesta segunda-feira, 19, para uma agenda de quatro dias na Rússia e na Noruega em busca de mais comércio, investimentos e cooperação. Enquanto na primeira parada a agenda será eminentemente econômica, na segunda ele deverá ouvir críticas a medidas aprovadas pelo Congresso Nacional que reduzem as áreas de preservação ambiental.

O presidente decidiu manter a viagem mesmo após a entrevista do empresário Joesley Batista, um dos donos do Grupo J&F à revista Época, em que ele acusa Temer de ser chefe de uma organização criminosa envolvendo peemedebistas na Câmara dos Deputados. O Palácio do Planalto divulgou nota no fim de semana para rebater o empresário e informou que vai processá-lo.

Antes da Rússia, Temer se prepara para denúncia

O presidente Michel Temer definiu ontem, na véspera de sua viagem à Rússia, a estratégia para barrar a denúncia de Janot, que será enviada à Câmara até o dia 26.

Antes de viagem, Temer articula base para barrar denúncia de Janot

Governo quer relator favorável na CCJ e apoio do PSDB em votação

Eduardo Bresciani / Eduardo Barretto / Thiago Herdy, O Globo

BRASÍLIA E SÃO PAULO - O governo espera que a primeira viagem internacional do presidente Michel Temer após a eclosão da crise política deflagrada pela delação da JBS, em uma semana esvaziada no Congresso devido às festas juninas, permita ao Planalto se preparar para a tempestade que deverá se instalar na próxima semana, com a apresentação da denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Os articuladores políticos foram orientados ao longo do fim de semana, em reuniões no Palácio do Jaburu, a trabalhar para encontrar um relator favorável ao governo na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que precisa analisar a admissibilidade da denúncia, antes da votação em plenário. Também atuarão para evitar que a oposição consiga o apoio de 342 deputados para endossar as acusações do procurador-geral e permitir ao Supremo Tribunal Federal (STF) levar o caso adiante.

Para que a estratégia funcione, o governo considera fundamental manter o principal aliado, o PSDB, sob controle. Os tucanos decidem na quarta-feira se anteciparão sua convenção para substituir definitivamente o senador afastado Aécio Neves (MG) no comando da legenda, encontro que pode ampliar o racha no partido. Amanhã, a 1ª Turma do STF decidirá sobre o pedido de prisão do senador. A tendência é que o pedido seja negado, mas que os ministros mantenham o tucano afastado do mandato.

Pacote de bondade de Temer prevê R$ 2 bi para o Rio

Projetos do Avançar no Estado incluem porto, estradas e área social

Um empurrão de R$ 2 bi

Investimentos do Avançar no Rio preveem, até 2018, projetos de infraestrutura e na área social

Geralda Doca, O Globo

-BRASÍLIA- O novo programa que o presidente Michel Temer pretende lançar assim que voltar da viagem à Rússia, Avançar, que vai substituir o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), contempla o Rio com a liberação de R$ 5,91 bilhões do orçamento da União para retomada de obras públicas em diversas áreas. Cerca de um terço deste valor, o equivalente a R$ 2 bilhões serão desembolsados até dezembro de 2018 , quando termina o atual governo.

O novo programa faz parte da agenda positiva do governo em meio à crise política e integra um rol de medidas em estudo pelo Planalto, como o reajuste da tabela do Imposto de Renda ou a correção dos benefícios pagos no Bolsa Família.

Do total destinado pelo Avançar ao Estado do Rio, R$ 1 bilhão vai para o programa Minha Casa Minha Vida e R$ 563 milhões para obras no setor de transporte. As áreas de saúde, educação e cultura também serão beneficiadas. Ao todo, serão atendidos 357 projetos no Rio. Em boa parte deles, no entanto, Temer vai inaugurar apenas uma etapa.

Distritão pode voltar à pauta da Câmara em julho

Por Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - Pressionados pelo calendário eleitoral, deputados articulam votar antes do recesso de julho a reforma política na Câmara. O texto, que antes previa uma série de modificações, agora deve ficar limitado a poucos pontos: mudança no sistema proporcional, a criação de um fundo público para custear as campanhas e talvez a cláusula de barreira, caso consiga apoio suficiente para avançar.

Avaliada como proposta para baratear campanhas e também para salvar os investigados na operação Lava-Jato, aumentando suas chances de reeleição, a lista fechada está fora dos planos. O modelo com mais apoio, e que vai a voto, é o distritão, como regra de transição para a eleição de 2018, e que se tornaria o distrital misto a partir de 2022. Para valer nas próximas eleições, a reforma precisa tramitar até setembro.

No atual modelo, a lista proporcional aberta, o número de cadeiras é determinado pela soma dos votos nos candidatos e partidos e as vagas são preenchidas pelos mais votados da coligação. Já na lista fechada, o voto é só no partido e as vagas são distribuídas pela ordem estabelecida pela legenda. No distritão, são eleitos os mais votados, independentemente dos votos recebidos pelas siglas partidárias.

Cabeça a prêmio | Ricardo Noblat

- O Globo

“Michel Temer é o chefe da organização criminosa da Câmara dos Deputados”. Joesley Batista, empresário

Pedro Collor começou a derrubar o irmão da presidência da República ao denunciá-lo por corrupção sem apresentar provas.

Bastou a Roberto Jefferson o poder da palavra para detonar o escândalo do mensalão que quase pôs a pique o governo Lula.

Além de provas entregues à Justiça, Joesley Batista ofereceu uma narrativa dura e crua de suas relações com políticos nos últimos anos. Alvíssaras! Evoluímos.

O país do futuro, esse substantivo abstrato, dá sinais de que poderá rebentar se assim quisermos.

O capitalismo de compadrio estrebucha na maca e resiste em ser substituído pelo capitalismo moderno da livre competição que independe de favores do Estado.

Se delinquir, delate | Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

O Brasil, que há pouco tempo entrou para o clube da delação premiada, logo descobriu o potencial dessa ferramenta para enfrentar esquemas de corrupção inseridos no funcionamento do governo. Avoluma-se, contudo, a sensação de que estamos nos lambuzando com o melado recém-descoberto.

Quando não há limites para delatar, o conjunto de incentivos que deveria levar ao bem maior para a sociedade entra em parafuso. A teoria recomenda restringir os prêmios ao primeiro a entregar os comparsas. Exige que os relatos sejam sustentados por sólidas provas factuais.

A afoiteza de procuradores e a esperteza de criminosos confessos, entretanto, vão alargando as fronteiras do instituto no Brasil. É difícil encontrar caso no mundo em que se foi tão longe com delações premiadas.

Além da economia | Cida Damasco

- O Estado de S.Paulo

Crise põe em risco planos e recursos para enfrentar desafios na área social

São tantas e tão grandes as dúvidas e as preocupações em relação aos indicadores macroeconômicos de curto prazo, que até nos damos ao luxo de deixar um pouco de lado o acompanhamento da área social. Aqui e ali aparecem diagnósticos da situação da saúde, educação e segurança, por exemplo, mas costumam ser encarados com um quase fatalismo pelos observadores: “é assim mesmo, esse País não avança”. Esse quase fatalismo só é substituído pelo inconformismo quando “as coisas” saem do controle, como ocorreu com as rebeliões nos presídios e agora com o drama das cracolândias em São Paulo.

Claro que não há um muro a separar esses dois quadros. Ao contrário: eles estão cada vez mais juntos e misturados. Quanto mais persistente a crise econômica, quanto mais largo o ralo da corrupção por onde escorre o dinheiro público, quanto mais obstinado o governo para garantir a sobrevivência a qualquer custo, menor a possibilidade de enfrentamento dos desafios sociais. É esse o perigo que ronda o Brasil hoje. Mesmo que em alguns casos a crise ainda não tenha piorado drasticamente esse quadro, pelo menos impediu sua melhora. Mais ainda, ameaça inviabilizar o alcance das metas determinadas para os próximos anos.

As decisões do PSDB e o horizonte do país | Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

Partido político é uma organização da sociedade com características singulares e únicas. Não é clube de futebol, escola de samba ou associação filatélica. É uma ferramenta vocacionada para a organização política de pessoas que têm propósitos comuns e visões de mundo semelhantes. Tem como objetivo final a conquista do poder para a execução de seu programa de governo baseado nos valores que o orientam e na visão estratégica que defende.

O partido político tem sempre um dilema essencial em momentos de crise: defender seus estreitos interesses eleitorais imediatos ou pensar no interesse público e nacional?

Na última segunda-feira, 12 de junho, reunimos senadores, deputados, membros da executiva nacional, os Governadores Geraldo Alckmin, Simão Jatene, Marconi Perillo e Beto Richa, os Prefeitos João Doria, Arthur Virgílio, entre outros, e os Ministros Aloisio Nunes Ferreira, Antônio Imbassahy, Bruno Araújo e Luislinda Valois. Foram mais de cinco horas de um debate franco e qualificado sobre a complexa conjuntura nacional. Todos puderam falar a favor ou contra o desembarque do Governo Temer.

Temer na UTI | Fernando Limongi

- Valor Econômico

Reformas nunca foram compromisso real do presidente

O governo Temer permanece na UTI. A elite política brasileira, incluindo o PT e o PSDB, não sabe o que fazer com a batata quente que tem nas mãos.

A sobrevida de Temer não vem sem consequências. Parte delas já está aí para quem quer ver. Um exemplo apenas: a convocação do novo presidente do BNDES para a reunião de Temer com os governadores. O apoio político envolve um comprometimento menor com a austeridade e as reformas. A versão Temer da Nova Matriz Econômica ganha corpo.

O interessante é que o "mercado", a se crer no que escreveram os colunistas econômicos ao longo da semana, finge não ver a enrascada. A reforma da previdência, inadiável tempos atrás para salvar o Brasil do descontrole das contas públicas, agora pode esperar. Bastaria um "tapinha" e, se nem isto for possível, 2018 está na esquina. O bicho papão já não parece tão assustador.

O efeito Macron | Jose Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

Eleições antecipadas seriam muito diferentes de Diretas-já, na forma e resultado. Num pleito presidencial solteiro, o vencedor seria eleito para substituir Temer até 2019, mantendo, até lá, Congresso e governadores que estão aí. Já trazer 2018 para 2017, como propôs FHC, implica trocar ocupantes de Assembleias, Câmara, Senado e de 28 palácios, fora vices e suplentes. Em vez de um só, a antecipação quer dizer desalojar 1.790 poderosos. Facinho.

Deixemos de lado, por ora, quem e como se operaria o milagre. Renúncia coletiva? Emenda constitucional? Intervenção divina? Pacto com o demo? São questões mais metafísicas que políticas. Já as consequências seriam bem práticas e palpáveis.

Diferentemente de Diretas-já para eleger um presidente-tampão, em uma eleição geral antecipada não haveria o problema da desincompatibilização que impediria governadores como Alckmin e prefeitos como Doria de disputarem a eleição presidencial agora. Tem que mexer em tanta coisa para abreviar todos os mandatos em vigor que prazos de filiação partidária ou para um governante renunciar e disputar outro cargo seriam detalhes.

Dois Poderes | Gustavo Patu

- Folha de S. Paulo

Não mais que duas entidades, nenhuma delas eleita pelo voto popular, dispõem hoje de conhecimento, liderança e respaldo bastantes para conduzir a agenda do país.

Uma é o consórcio de policiais, procuradores e juízes reunidos em torno da Lava Jato. A outra são os economistas e tecnocratas, do Executivo, da academia e do mercado, empenhados na formulação e defesa das reformas.

A primeira conta com amplo apoio da população e a licença para matar —reputações— ao arrepio das garantias jurídicas dos suspeitos.

O poder da segunda emana da recessão devastadora, ainda por ser vencida. A ninguém agrada o programa de ajustes (nem mesmo ao empresariado que se abriga no BNDES), mas no fundo se sabe que sem a galinha dos ovos de ouro do mercado não há empregos nem receita tributária.

O que esperar do futuro | Luiz Carlos Mendonça de Barros

- Valor Econômico

O futuro se impõe sobre o presente e o passado e que algo novo terá que ser construído pelo esforço de todos

Neste momento tão conturbado que vivemos creio ser minha obrigação como colunista do Valor expandir um pouco o escopo das reflexões. Pensar hoje a economia brasileira fora do contexto da política é limitar muito a contribuição que sinto posso dar ao leitor neste período de angústia e incertezas sobre nosso futuro. Estamos vivendo um daqueles momentos da história de uma sociedade em que o futuro se impõe sobre o presente e o passado e que algo novo terá que ser construído pelo esforço de todos. A operação Lava-Jato já destruiu, com o que foi revelado até agora, as bases de um sistema político iniciado com a redemocratização e que certamente não existirá mais após as eleições de 2018.

Faço esta observação a partir de fatos concretos que vão mudar profundamente o funcionamento de nosso sistema de representação popular. O sistema de financiamento das campanhas eleitorais, ancorado principalmente no financiamento por parte de empresas privadas, vai desaparecer do cenário político. Os custos terríveis que estão sofrendo as empresas que usaram este mecanismo como estratégia para crescimento de seus negócios mostrou os riscos reais de tal sistema. Como corolário direto deste fato, as campanhas eleitorais terão um corte brutal em seus orçamentos, o que vai levar partidos e candidatos a rever profundamente sua forma de ser e de agir.

É preciso acompanhar a banda – Editorial | O Estado de S. Paulo

A banda continua a passar, com os Estados Unidos liderando o crescimento no mundo rico, a Europa consolidando a recuperação e dezenas de países emergentes avançando, com Índia e China à frente do grupo. Ao elevar os juros pela segunda vez em três meses, o banco central americano (Federal Reserve, Fed) reiterou sua aposta no fortalecimento econômico do país e na continuidade da criação de empregos. Novas medidas de aperto monetário estão previstas, para acomodar a política do Fed à intensificação dos negócios e a pressões inflacionárias um pouco mais intensas. Há pouco tempo o Brasil voltou a acompanhar a banda, por enquanto de longe, mas com possibilidade de se aproximar. Essa é, no entanto, uma hipótese otimista, neste momento. O jogo político em Brasília determinará se o País continuará a avançar, mesmo lentamente por algum tempo, ou se continuará vendo a prosperidade global passar, distanciar-se e sumir além da curva, como na recessão criada pela desastrosa gestão petista.

Falsa alternativa – Editorial | O Globo

O PT prega o financiamento público integral, sem preocupação com o elevado peso da carga de impostos

Talvez não haja democracia em que não tenha ocorrido algum escândalo com o dinheiro da política. E se houver, é bastante provável que ainda venha a ocorrer. Mesmo na austera Alemanha, o ex-chanceler Helmut Kohl, com lugar na História por haver patrocinado a reintegração do país depois da falência do bloco soviético, sucumbiu a um dinheiro “não contabilizado” — no eufemismo lulopetista —, e encerrou a brilhante carreira como homem público.

A lista de casos deste tipo mundo afora é extensa. No Brasil sabe-se bem disso. Mas na vida pública brasileira há uma característica: existe sempre algum político e/ou partido em busca da fórmula perfeita e definitiva para acabar de vez com os males da política. Como se isso fosse possível. Desta cultura e costume decorrem mirabolantes e inexequíveis, por ilegais, propostas de Constituintes, por exemplo, e projetos vendidos como fórmulas mágicas como aqueles apetrechos apregoados por camelôs de esquina.

Impunidade mineira – Editorial | Folha de S. Paulo

Já pertencem ao folclore político nacional as notícias —melhor dizendo, a falta delas— sobre o andamento judicial do chamado mensalão mineiro, formalmente denunciado quase uma década atrás.

Como no caso petista, o mensalão tucano envolveu a participação do empresário Marcos Valério de Souza, a quem se atribui a arquitetura de um esquema destinado a desviar recursos de empresas públicas para o financiamento de campanhas eleitorais.

Em Minas, estatais estariam na origem de recursos que, passando pelo célebre Banco Rural —também utilizado no esquema do PT— terminavam alimentando a agência publicitária de Marcos Valério, a qual se dedicava à campanha do então governador do Estado, Eduardo Azeredo (PSDB), candidato à reeleição em 1998.

Condenado, em dezembro de 2015, a 20 anos de prisão —foi o único, em todo o escândalo, a conhecer alguma sentença até agora—, Azeredo continua em liberdade, na dependência de uma confirmação em segunda instância. Não há data para o julgamento.

O fracasso do programa fiscal trará de volta a inflação – Editorial | Valor Econômico

O Conselho Monetário Nacional (CMN) deve, na reunião do dia 29, reduzir a meta de inflação dos atuais 4,5% para 4,25% em 2019. Esta será a primeira vez desde 2005 que o governo dará um passo em direção à desinflação.

Passados 23 anos do Plano Real e 18 anos do regime de metas, o país ainda convive com inflação elevada. Segundo relatório do Credit Suisse, divulgado na semana passada, a meta de inflação média nos países desenvolvidos é de 2,2%. Nos países da América Latina é de 3% e, nas economias emergentes, de 4%.

Mesmo diante da turbulência política e do consequente aumento das incertezas sobre a atividade, há fortes argumentos para a redução da meta para 2019 (que é sempre fixada em junho para dois anos à frente). O principal é que as expectativas do mercado, segundo a pesquisa Focus do Banco Central, já estão ancoradas em 4,25% para 2019, 2020 e 2021.

O que o PT tem a ensinar – Editorial | O Estado de S. Paulo

O PT mente com tamanha determinação e energia que, mesmo sendo o principal responsável pela crise econômica, política e moral que o País hoje enfrenta, consegue aparecer, pasme o leitor, como a vanguarda da luta contra um governo em cuja testa pregou o estigma de “corrupto” e “inimigo do trabalhador”. Se há algo que o governo de Michel Temer poderia aprender com os aguerridos petistas, é justamente o vigor com que eles se dedicam à tarefa de fazer prevalecer sua versão dos fatos, mesmo que esta, no caso petista, contrarie frontalmente a realidade. Tivesse metade dessa garra ao defender as reformas que encaminhou e ao denunciar o descalabro que herdou da trágica era lulopetista, certamente o presidente Temer estaria em melhor situação.

É certo que a mentira frequenta certos círculos políticos, mas, numa época em que, infelizmente, a verdade aparenta importar cada vez menos, o PT parece ter entendido muito bem o poder do discurso que seja apenas “lógico”, isto é, que faça “sentido”, embora não guarde relação nenhuma com a realidade. Se é de uma batalha que se trata, travada entre a realidade e a “pós-verdade” – termo que designa as circunstâncias em que as crenças pessoais são mais importantes do que os fatos objetivos –, o PT está claramente muito mais bem preparado para ela do que seus adversários.

Dentro da perda da memória | João Cabral de Melo Neto

Dentro da perda da memória
uma mulher azul estava deitada
que escondia entre os braços
desses pássaros friíssimos
que a lua sopra alta noite
nos ombros nus do retrato.
E do retrato nasciam duas flores
(dois olhos dois seios dois clarinetes)
que em certas horas do dia
cresciam prodigiosamente
para que as bicicletas de meu desespero
corressem sobre seus cabelos.
E nas bicicletas que eram poemas
chegavam meus amigos alucinados.
Sentados em desordem aparente,
ai-los a engolir regularmente seus relógios
enquanto o hierofante armado cavaleiro
movia inutilmente seu único braço.

(In livro “Pedra do Sono”)