sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Opinião do dia – Roberto Freire

É por isso que o PPS, já há muito, defende a unidade de todas as forças democráticas para que, nas eleições de 2018, seja oferecida aos brasileiros uma alternativa fora da nefasta polarização entre uma esquerda atrasada que tanto mal causou ao país nos últimos 13 anos e uma extrema-direita de corte claramente fascista. A construção desse projeto para o Brasil se faz ainda mais necessária neste momento, sobretudo quando observamos o desastre que tomou conta da Venezuela após tantos desmandos perpetrados por governos populistas e antidemocráticos.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS, “A ditadura escancarada e o PT”, Diário do Poder, 4/8/2017

Base de Temer no Congresso põe foco na reforma política

Prioridade é criar fundo com recursos públicos para financiar eleições; Meirelles quer reforma da Previdência

Isadora Peron, Julia Lindner, Vera Rosa | O Estado de S. Paulo.


BRASÍLIA - Após a Câmara rejeitar denúncia contra o presidente Michel Temer, parlamentares da base aliada querem aprovar a reforma política, que prevê mudanças no sistema político-eleitoral e estabelece um fundo de R$ 3,5 bilhões, com recursos públicos, para financiar eleições. Para que vigorem já no próximo ano, as medidas têm de ser aprovadas em 60 dias. Já o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) espera a aprovação da reforma da Previdência até o final de outubro, e a tributária, em novembro. Deputados do Centrão – do qual fazem parte PP, PSD, PR e PTB – ameaçam votar contra a reforma caso o governo não retalie os que votaram contra Temer. Os senadores Aécio Neves (MG) e Tasso Jereissati (CE) definiram que Tasso continua interinamente na presidência do PSDB, mas conduzirá eleições internas e a escolha do candidato à Presidência da República.

Após a Câmara rejeitar a denúncia contra o presidente Michel Temer, parlamentares da base aliada querem agora concentrar esforços nas próximas semanas na aprovação da reforma política, que prevê mudanças no sistema político-eleitoral e estabelece um fundo com recursos públicos para financiar as eleições. Essas medidas precisam ser aprovadas na Câmara e no Senado em 60 dias para que tenham validade já nas eleições de 2018.

Base aliada de Temer encolhe 40% depois da delação da JBS

Ranier Bragon | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer conta hoje na Câmara dos Deputados com uma base de apoio real de cerca de 260 deputados, o que representa uma queda de quase 40% em relação ao que ele tinha nos primeiros meses deste ano, antes de vir à tona a delação da JBS.

Até o escândalo, que resultou em uma denúncia sob acusação de corrupção passiva contra o peemedebista, a sua base contava com 20 partidos que, juntos, têm 416 dos 513 deputados federais.

Entre a divulgação da gravação da conversa de Joesley Batista com o presidente e a votação da denúncia pela Câmara na quarta-feira (2), quatro partidos anunciaram o desembarque do governo: PSB, Podemos, PPS e PHS.

Na sessão de quarta que barrou a tramitação da denúncia, 89 deputados de partidos governistas votaram contra Temer, em um sinal de que dificilmente continuam seguindo as orientações do Palácio do Planalto.

Com isso, a base real de Temer hoje soma 261 deputados, apenas 4 a mais do que a maioria absoluta das cadeiras da Casa (257). Esse é um número apertado inclusive para a aprovação de simples requerimentos e projetos, tendo em vista que dificilmente as sessões da Câmara contam com quorum completo.

Governo tenta apressar reforma da Previdência

Após rejeição da denúncia, Temer mostra confiança na base

Meirelles diz que espera aprovar mudanças na aposentadoria em outubro; Rodrigo Maia faz apelo ao PSDB

A vitória do presidente Temer, que teve a denúncia de corrupção passiva contra ele rejeitada pela Câmara, deixou o governo mais confiante na aprovação da reforma da Previdência ainda este ano. Além dos 263 votos pela rejeição da denúncia, o Planalto conta como favoráveis os 19 deputados ausentes e os dois que se abstiveram. Somando esses 284 com os 106 deputados dos 11 partidos que têm ministros mas deram votos contra o presidente, o Planalto calcula que tem um universo de 390 deputados sobre os quais trabalhará em busca dos 308 votos necessários para a aprovação das mudanças nas regras previdenciárias. O presidente Temer mostrou confiança ontem: “Eu me sinto fortalecido para isso (aprovar a reforma da Previdência)”. Mas a tarefa do Planalto não será fácil. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), afirmou que a prioridade do Planalto deve ser a recomposição da base, especialmente com a ala dissidente do PSDB, que deu 21 votos contra Temer. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que espera a aprovação da reforma da Previdência até outubro, na Câmara e no Senado.

De volta às contas

Planalto aposta que votos contrários a Temer podem ser revertidos a favor das reformas

-BRASÍLIA E SÃO PAULO- O resultado da votação da denúncia contra o presidente Michel Temer na noite de quarta-feira reacendeu no governo a esperança de retomar a reforma da Previdência até outubro. Além dos 263 votos obtidos pela rejeição da denúncia, o Planalto contabiliza como favoráveis os 19 deputados ausentes e os dois que se abstiveram. Se esse total de 284 parlamentares for somado aos 106 deputados que integram os 11 partidos com ministério na Esplanada mas que votaram contra o presidente, o Planalto parte de um universo de 390 deputados sobre os quais trabalhará em busca dos 308 votos necessários para a aprovação da proposta de mudanças nas aposentadorias.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), alertou ontem, em São Paulo, para a necessidade de o Planalto recompor a ala dissidente do PSDB, que deu 21 votos contra Temer:

— O ponto chave é reorganizar com o PSDB. O PSDB é muito importante para a base do governo.

Entre mortos e feridos | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S.Paulo

Temer recomeça, PSDB perde, DEM ganha, PT sobrevive. O ‘povo’? Sumiu

Balanço da votação da denúncia contra o presidente Michel Temer pela Câmara: o governo ganha um recomeço, o PSDB foi o que mais perdeu, o PT demonstrou que tem sobrevida, o DEM foi o maior vencedor. E o “povo”? Não estava nem aí.

A sensação não só no Planalto como em toda Brasília é que Temer vai enfrentar solavancos, mas conseguirá atravessar a pinguela, avançar na pauta legislativa e concluir o mandato. A questão é saber como Temer fica, com quem e para quê.

Boa parte das respostas está nas planilhas da votação pela qual a Câmara barrou a denúncia da PGR contra Temer por corrupção passiva. Há vitórias e vitórias. Foram 263 votos contra a denúncia, 227 a favor, 19 ausências e duas abstenções, resultado suficiente para manter o mandato, não para garantir as reformas. Não foi um banho.

A (i)lógica dos votos | Merval Pereira

- O Globo

A falta de lógica nos números da votação da denúncia contra Temer. Derrotar Temer é ajudar a fortalecer a volta do petismo, como argumentam muitos apoiadores do governo? Ou será que é o contrário, apoiar Temer ajuda a aumentar a força de Lula? Lula e o PT acham que o melhor é manter Temer no Palácio do Planalto sangrando até o final, embora os parlamentares petistas finjam que querem o presidente da República fora do governo.

O deputado Sílvio Costa (PTdoB-PE) fez um discurso inflamado acusando os oposicionistas que ajudaram a dar quorum para a sessão de votação da denúncia, anteontem, de estarem fazendo uma simulação, pois, no fundo, estavam mesmo é querendo que o governo saísse vitorioso da sessão.

A votação dá algumas indicações interessantes sobre o comportamento de nossos políticos. Temer foi salvo principalmente com os votos de deputados do Nordeste, região na qual Lula lidera com folga as pesquisas.

O PSDB e o governo | Míriam Leitão

- O Globo

Se fosse deputado, o presidente interino do PSDB, Tasso Jereissati, teria votado pela aceitação da denúncia contra o presidente Michel Temer. Por ele, o partido já teria saído do governo, mas não faria oposição sistemática. “Não seríamos do tipo ‘fora Temer’. Votaríamos a favor das reformas”. O PSDB espera ter até o fim do ano um candidato a presidente para 2018.

Tasso Jereissati, em entrevista para o meu programa na Globonews, explicou que votaria a favor da investigação do presidente Temer por coerência, por ter votado assim no caso da ex-presidente Dilma, e por ser a favor da investigação. Quando perguntei sobre o senador Aécio Neves, atingido pela mesma delação, ele disse que Aécio tem o direito de se defender e invocou o princípio da presunção de inocência. Negou que o partido esteja dividido, apesar das cenas explícitas desse racha durante o processo que levou à rejeição da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Temer.

Maus presságios | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Apesar de o desfecho do caso Temer não ser dos mais alvissareiros para os que pensam ser possível conciliar a Presidência da República com rigor ético e governança economicamente responsável, não dá para dizer que o resultado tenha sido inesperado.

O problema é a Constituição. Ela dá ao presidente da República uma blindagem exagerada. Mesmo se existisse um vídeo (periciado) do titular estuprando e estripando uma criancinha durante seu mandato, ele só poderia ser processado por isso se 2/3 dos deputados autorizassem o STF a dar início à ação penal. E, convenhamos, excetuados casos mais extremos como o do estupro, não é muito difícil para o detentor da caneta presidencial fazer com que 172 dos 513 deputados o apoiem ou apenas faltem no dia da votação.

Sobre decentes e vagabundos | Reinaldo Azevedo

- Folha de S. Paulo

Certas vocações morais venderam a seus fanáticos ou a clientes a lorota de que o presidente não resistiria

Michel Temer não se deixou abater como um cordeiro. Sobreviveu, e bem!, à primeira porta estreita que lhe impôs uma forma sem dúvida peculiar de golpe. Os lobos estão chateados com o resultado. Há até os bobos que estão surpresos. Como me alinho com aqueles que acham que a política não é matéria nem para santos nem para demônios –o que exclui rituais sacrificiais–, o que vi foi o triunfo do real sobre projeções mentais pautadas ou pela ingenuidade ou pela má-fé.

A decepção em algumas áreas é compreensível. Afinal, certas vocações morais haviam vendido ou a seus fanáticos ou a seus clientes a lorota de que o presidente não resistiria. No fim de semana em que Temer viajou para a reunião do G20, há um mês, Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi, na prática, nomeado presidente por setores da imprensa. Os mais afoitos já anunciavam seu ministério.

Macron e as eleições de 2018 | Armando Castelar Pinheiro

-Valor Econômico

No Brasil os candidatos que despontaram nas pesquisas têm um discurso populista e apelo nacionalista

A eleição de Emmanuel Macron para presidente da França foi o acontecimento político deste ano, como foi a de Trump em 2016. Ambos eram pessoas públicas, mas emplacaram a imagem de estranhos ao mundo político tradicional, em parte porque nunca tinham concorrido a cargo eletivo. Os dois partiram de baixíssimas taxas de intenção de voto no início da campanha, usaram efetivamente as mídias sociais e fizeram campanhas lastreadas em parte na promessa de recolocar seus países em posição de destaque no cenário global.

O sucesso dos dois teve impactos para além de seus países. Acredito que esses se farão sentir também no Brasil, em especial na eleição de 2018. Essa é uma eleição que já prometia ter vários candidatos e a vitória de Macron energizará ainda mais os potenciais concorrentes, ao indicar que é possível se eleger presidente sem uma grande base partidária. Mas esse não deve ser o único impacto.

E agora, Zé? | Celso Ming

- O Estado de S.Paulo

O presidente Temer ganhou no voto, mas até que ponto sai fortalecido da decisão da Câmara que determinou o arquivamento das denúncias de corrupção?

Para alguns, ficou reforçada a estabilidade política. Para outros, a nova vitória do chamado presidencialismo de coalizão (ou seria de colisão?) melhorou as condições para aprovação das reformas. Mas até que ponto se pode prever o comportamento da economia a partir daí e que efeito terá a quase inevitável deterioração das contas públicas para a política e o resto da atividade econômica?

A afirmação de que Temer saiu fortalecido no processo é de lógica duvidosa. Temer conta com apenas 5% da aprovação da opinião pública, como demonstram as pesquisas. E a safra das denúncias parece longe do fim. A vitória na Câmara foi por margem considerável de votos, mas bem mais modesta do que a esperada pelo governo e por muitos analistas. Sua base política perdeu coesão e os tucanos mostraram desarticulação. São elementos que sugerem um Michel Temer mais enfraquecido do que revigorado.

E agora, Temer? | Fernando Dantas

- O Estado de S.Paulo

Abandonar a agenda de reformas seria erro de enormes proporções

Não é preciso gostar de Michel Temer para fazer uma constatação simples: a vitória governista, por 263 votos, na rejeição da Câmara ao pedido da PGR de que o presidente fosse julgado pelo Supremo aumentou a governabilidade.

Isso não quer dizer que a capacidade de governar de Temer tenha sido restaurada ao nível anterior a 17 de maio, quando foi revelada a existência da gravação da conversa com Joesley Batista. Quem definiu bem o tamanho de Temer como presidente depois do voto desta quarta-feira foi o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia: o titular do Planalto está maior do que estava há cerca de um ou dois meses, mas ainda está bem menor do que sua dimensão anterior ao escândalo.

Assim, Temer se recuperou apenas parcialmente do imenso abalo político sofrido, e sua governabilidade ganhou uma sobrevida. A grande questão é saber o que o presidente vai fazer com isso.

Desemprego na economia dual | José de Souza Martins

- Valor Econômico / Eu &Fim de Semana

Cresce o número dos que estão ocupados, mas não cresce significativamente o número dos que têm emprego estável. Desempregados estão reentrando na economia por meio de ocupações precárias e provisórias. O cenário indica que cresce a importância numérica do trabalhador descartável. O que reflete a maior importância da máquina e da organização em relação ao trabalho humano propriamente dito.

Reflete também a persistência do caráter dual da economia brasileira: uma parte muito desenvolvida e até sofisticada e outra próxima do rústico, aquela em que o capital não tem interesse nem pode ter. Euforia com o crescimento da ocupação graças às transferências de trabalhadores para esse setor primitivo da economia é pura inocência. Apenas atesta que a economia vai mal e a consciência crítica que dela temos vai pior. O próprio conceito de trabalho está sendo alterado. Já estamos longe tanto de Karl Marx quanto de John Maynard Keynes. Quanto de nós mesmos.

A ditadura escancarada e o PT | Roberto Freire

- Diário do Poder

Se a alguém ainda restavam dúvidas sobre qual é a definição mais adequada a respeito do regime comandado por Nicolás Maduro na Venezuela, elas se dissiparam nas últimas horas. A famigerada convocação, nos termos inconstitucionais em que foi feita, de uma nova Assembleia Nacional Constituinte cujo maior objetivo é afrontar um Parlamento legitimamente eleito e de maioria opositora, o recrudescimento da repressão violenta às manifestações populares contra o presidente e as detenções dos líderes oposicionistas Leopoldo López e Antonio Ledezma, que cumpriam prisão domiciliar e agora voltam à cadeia sem qualquer justificativa legal, revelam de forma categórica que já não há margem para relativismos quando se fala sobre o governo venezuelano. Trata-se de uma ditadura escancarada, um regime autoritário e violento, uma tirania que reprime protestos democráticos, censura a imprensa independente, interfere nos demais Poderes da República e prende adversários políticos.

Temer passa à ofensiva | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para mobilizar o apoio dos agentes econômicos, anunciou que o governo pretende aprovar a reforma da Previdência até outubro

Livre da denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, até o fim de seu mandato, o presidente Michel Temer pretende passar à ofensiva no Congresso, com objetivo de aprovar uma extensa pauta legislativa, cujo nó górdio é a reforma da Previdência. O Palácio do Planalto conseguiu mobilizar o apoio de 263 deputados para congelar a investigação, mas precisará de pelo menos 308 votos para aprovar essa reforma, considerada crucial para restabelecer o equilíbrio das contas públicas. Para isso, acena para os dissidentes da base do governo com a promessa de perdão por terem votado a favor de seu afastamento.

Ontem, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para mobilizar o apoio dos agentes econômicos, anunciou que o governo pretende aprovar a reforma da Previdência até outubro. Meirelles minimizou a diferença de votos a ser alcançada. “São decisões diferentes. Acreditamos sim na viabilidade de aprovação”, disse. Na prática, são 45 deputados que precisam ser conquistados se não houver nenhuma defecção na base hoje existente. Mas anunciou também que o governo pretende aprovar a reforma tributária ainda este ano, o que não é fácil.

Vitória da responsabilidade – Editorial | O Estado de S. Paulo

A decisão da Câmara dos Deputados de negar autorização para que o Supremo Tribunal Federal (STF) desse encaminhamento à denúncia contra o presidente da República, Michel Temer, apresentada no final do mês de junho pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, mostra uma vez mais a importância de se cumprir os caminhos institucionais. A condição prevista na Constituição Federal – autorização de dois terços da Câmara dos Deputados para a instauração de processo contra o presidente da República – serviu para impedir que uma denúncia inepta agravasse a crise que assola o País.

Apesar de todo o alvoroço armado em torno da delação do sr. Joesley Batista, a Procuradoria-Geral da República (PGR) não apresentou a tão prometida prova contra Michel Temer. Rodrigo Janot acusou o presidente da República de receber vantagem indevida de R$ 500 mil, mas não apontou um único indício de que Michel Temer teria recebido tal valor – onde, quando, como. Com tal fragilidade probatória, a denúncia apresentada mais parecia um pedido de investigação do que uma acusação formal. Nessas condições, afastar o presidente da República do exercício do cargo seria uma evidente irresponsabilidade, e a Câmara dos Deputados, no cumprimento de suas atribuições constitucionais, rejeitou com acerto tal imprudência.

O povo ficou em casa – Editorial | O Estado de S. Paulo

Muita gente se perguntou e ainda se pergunta onde estava o povo no momento em que o Congresso rejeitou a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer. Afinal, se 81% dos brasileiros disseram defender a aceitação da denúncia, em pesquisa do Ibope divulgada na antevéspera da votação, presumiu-se que uma parte desse contingente se animaria a pressionar os congressistas a fazer valer essa vontade, ou então que iria em massa às ruas protestar contra a atitude dos parlamentares que se recusaram a dar seguimento ao processo contra Temer. Como nada disso aconteceu – salvo pelos dois ou três queimadores de pneus de sempre –, muitos concluíram que o povo está “apático” ou “indiferente”.

O que parece escapar a essas análises é que, para irem às ruas, os cidadãos precisam de uma motivação muito clara. Não se troca um governo como se troca de camisa. A alardeada impopularidade de Michel Temer, que tem apenas 5% de aprovação, de acordo com outra pesquisa do Ibope, não é exclusiva dele. O mundo político em geral é objeto de profundo desencanto por parte dos brasileiros, em razão dos sucessivos escândalos de corrupção e da violenta campanha de descrédito movida por aqueles que se julgam paladinos da purificação nacional. Qualquer outro político que estivesse no lugar de Temer seguramente teria números semelhantes de rejeição. Ou seja, se pesquisa de opinião fosse referência para legitimar movimentos em favor da cassação de detentores de mandatos eletivos, não sobraria um.

O que resta a Temer fazer – Editorial | O Globo

Antes que a PGR encaminhe a segunda denúncia contra ele, o presidente precisa voltar a aglutinar a base para retomar a reforma da Previdência e outras

Vencida a batalha, na Câmara, do pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para seu julgamento pelo Supremo, numa acusação de corrupção passiva, o presidente Michel Temer não deve ficar imóvel. Ontem mesmo, o noticiário político de Brasília foi alimentado pelos desdobramentos da vitória , com destaque para as implicações do placar da votação na retomada da pauta de reformas, em especial a da Previdência.

O governo dava mostras de ter acertado o passo, quando, em meados de maio, o GLOBO revelou que a PGR selara acordo de delação premiada com Joesley Batista, do qual constava a gravação da tal conversa não republicana entre o presidente e o empresário do grupo JBS, altas horas da noite, nos porões do Jaburu.

Os trabalhos no Congresso foram paralisados enquanto a proposta de reforma da Previdência se encaminhava, na Câmara, para passar pela primeira das duas votações em plenário. Na crise que se instalou, só foi possível votar a reforma trabalhista, no Senado, para a qual não era exigido quórum qualificado.

Alheamento – Editorial | Folha de S. Paulo

Contra o desejo de expressiva maioria da população (65%, segundo pesquisa do Datafolha), a Câmara dos Deputados garantiu a permanência de Michel Temer (PMDB) na Presidência.

Recusou-se a levar em consideração os vívidos indícios de seu envolvimento no episódio da propina entregue por representantes do grupo JBS a um nome de sua confiança, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures.

Por grave que seja o afastamento de um chefe de governo —no caso em questão, por até seis meses—, seria esta a consequência a esperar de uma denúncia que, embora não conclusiva, trazia elementos suficientes de plausibilidade e de fundamentação factual.

Fez-se pouco da regra republicana básica que estipula ser a lei igual para todos. Agiu-se, como não é exceção no Congresso brasileiro, a reboque das conveniências fisiológicas e de intensas e dispendiosas negociações de bastidores, em descompasso com o sentimento majoritário da sociedade.

Temer consegue vencer a primeira denúncia na Câmara – Editorial | Valor Econômico

Contra o desejo da maioria dos brasileiros expresso em pesquisas, 263 deputados decidiram não autorizar que o presidente Michel Temer seja investigado por corrupção passiva pelo Supremo Tribunal Federal. Além da cumplicidade entre perseguidos pela Operação Lava-Jato, que já citou mais de uma centena de parlamentares, a vitória governista foi soldada com as moedas correntes em Brasília - cargos, verbas, poder. Temer conseguiu o alinhamento do PMDB com o centrão, siglas fisiológicas que antes davam seus votos aos governos petistas, para obter um pouco mais do que a maioria simples da Câmara dos Deputados e permanecer no Planalto - pelo menos até a próxima denúncia.

As barganhas com o governo, que montou sua barraca de emendas no próprio plenário durante a votação, e a própria sessão do Congresso demonstraram, mais uma vez, a alienação dos partidos e sua ausência de compromissos com o bem público. Com a União às voltas com uma crise fiscal grave, os deputados que votaram com Temer estavam mais preocupados com uma sinecura em terceiro escalão do governo, uma ponte em seu curral eleitoral e a liberação de uma emenda para outros interesses paroquiais.

‘JN’ é cancelado pela primeira vez na história

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O "Jornal Nacional" teve exibição cancelada na última quarta-feira (2) devido à transmissão ao vivo da votação que barrou o avanço da denúncia contra o presidente Michel Temer.

Esta é a primeira vez que isso ocorre na história do telejornal. O "JN" é exibido de segunda a sábado pela Globo desde 1969, quando foi criado.

A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da emissora.

HISTÓRIA
O "Jornal Nacional" entrou no ar em 1969 com Hilton Gomes e Cid Moreira. Em 1972, Sérgio Chapelin passou a dividir a bancada com Moreira. A dupla comandou o programa durante 11 anos.

Em 1983, Celso Freitas substituiu Chapelin e formou dupla com Cid Moreira por seis anos, até a volta de Chapelin ao "JN". Em 1996, começaram a comandar o jornal William Bonner e Lillian Witte Fibe.

Fátima Bernardes entrou em 1998 e ficou na bancada até 2011. Hoje, Bonner segue à frente da atração ao lado de Renata Vasconcellos.

Globo derruba até o 'JN', mas perde a queda de braço com Temer

Nelson de Sá | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A Rede Globo tirou do ar a grade histórica do horário nobre, o sanduíche novela/telejornal nacional/novela que sustenta sua mescla de entretenimento e jornalismo, mas não foi o bastante para constranger os deputados a votar contra Michel Temer.

Um por um, na tela da Globo, única emissora aberta a trocar a programação regular pela transmissão ao vivo da Câmara, os parlamentares deram seus votos, desta vez mais contidos, não só nas declarações e nos gestos, mas até nas roupas.

Desde 17 de maio, quando veio a público o conteúdo da gravação que o empresário Joesley Batista fez no Palácio do Jaburu, a rede aberta e veículos como a GloboNews, que é dirigida pelo jornalismo da Globo, atiram sem intervalo contra Temer.

No dia 9 de julho, organizou um encontro do presidente da Câmara e então provável sucessor, Rodrigo Maia, com o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo, na casa deste, em Brasília.

Temer vê inicio de ‘derrota’ de adversários

Em entrevista, presidente chama denúncia de ‘kafkiana’ e diz que não há ‘provas sólidas’

Carla Araújo | O Estado de S. Paulo.

Michel Temer afirmou ontem que a vitória na Câmara deu início à derrota daqueles que querem afastá-lo, voltou a chamar a denúncia por corrupção de “inepta” e disse que as acusações são de “natureza política”.

O presidente Michel Temer disse ontem que a vitória de barrar na Câmara anteontem a denúncia contra ele por corrupção passiva deu início à “derrota” daqueles que querem afastá-lo.

“É curioso que, ao longo do tempo, o que tem acontecido é exatamente a derrota daqueles que querem ver prosperar essa eventual possibilidade do afastamento do presidente da República”, afirmou, em entrevista à Rádio BandNews. Temer voltou a chamar a denúncia de “inepta” e disse que as acusações são de “natureza política”.

'Perspectivas de outras denúncias são reduzidas', diz historiador

Para historiador, País vive ‘desencanto’ na política e Temer vai continuar ‘sangrando’ até as eleições de 2018

Wilson Tosta | O Estado de S.Paulo

RIO - O sepultamento da denúncia por corrupção passiva apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer aponta um futuro melancólico para o País, afirma o historiador José Murilo de Carvalho, de 77 anos. Sob o “desencanto” que se refletiu nas ruas vazias durante a votação na Câmara nesta quarta-feira, 2, os brasileiros enfrentarão maior probabilidade de Temer encerrar sua gestão sob contestação permanente. “(Temer) Recupera a parte (da governabilidade) perdida com a denúncia. A perspectiva de que outras denúncias prosperem ficam reduzidas.”

No entanto, avalia o historiador, haverá dificuldades para a aprovação das reformas. Entre as consequências de ter obtido 263 votos, insuficientes para aprovar propostas de emendas constitucionais, o presidente terá de recorrer a mais cargos e verbas para vencer votações decisivas. “Será uma batalha caso a caso, o que custará mais cargos, favores e verbas a serem pagos pelos contribuintes”.

José Murilo compara Temer, em impopularidade, ao presidente Campos Sales (1841-1913), o quarto presidente da República (de 1898 a 1902) que fez um ajuste econômico profundo e deixou o cargo sob vaias.

O PT, avalia, não deve estar insatisfeito com a derrota da Procuradoria Geral da República e com a continuidade do presidente em um governo impopular. Observa que o PSDB “se partiu ao meio”, por sua dificuldade em ter “posições claras”. “Ter um presidente sangrando e uma investigação enfraquecida são boas notícias para o PT e o fortalecem para as eleições de 2018”, avalia. A seguir, os principais trechos de sua entrevista ao Estado:

A que atribuir o resultado da votação, com a vitória de Temer?

As duas razões principais foram o cansaço das ruas e a competência de Temer em manipular os recursos fisiológicos de nossa política.

PSDB delega a Temer destino de ministros

Tasso e Aécio definem troca de comando na legenda até o fim do ano e dizem que permanência na Esplanada não é ‘problema’ do partido

Renan Truffi | O Estado de S. Paulo.

Ao fechar um acordo sobre o processo de eleições internas no PSDB, os senadores Aécio Neves (MG) e Tasso Jereissati (CE), presidentes licenciado e interino respectivamente da sigla, delegaram ao presidente Michel Temer o destino de seus ministros tucanos. A legenda saiu rachada do processo de votação na Câmara dos Deputados sobre o prosseguimento da denúncia por corrupção passiva contra o peemedebista.

“Vamos reavivar o partido. Se tem ministro (do PSDB no governo), se não tem ministro, isso é problema do presidente. Não é nosso problema”, afirmou Tasso durante entrevista coletiva no Senado ao lado de Aécio.

PSDB deixa Tasso na presidência do partido

Por Raymundo Costa, Vandson Lima, Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - Após mais de um mês de indefinição, os tucanos decidiram pela permanência do senador Tasso Jereissati (CE) no cargo de presidente interino do PSDB até dezembro, quando será realizada convenção para renovar toda a direção do partido. Na mesma data, deverá ser decidido também quem será o candidato à Presidente da República em 2018.

O arranjo, que mantém o senador Aécio Neves como presidente afastado, se deu na esteira de uma explosão de Tasso, que o substituiu quando foram divulgadas gravações do empresário Joesley Batista. Aécio se afastou formalmente, mas continuou a atuar nos bastidores do partido, cuja máquina controla. O duplo comando irritou o interino.

Para apoiar o arranjo, o governador paulista, Geraldo Alckmin, exigiu que a escolha do candidato à Presidência se dê até dezembro. Essa decisão é talvez o principal motivo da crise interna. Para Alckmin, que teme perder terreno para o prefeito de São Paulo, João Doria, a definição do candidato deveria ser feita o mais rápido possível.

PSDB tenta definir nome para 2018 este ano

Por Vandson Lima, Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - O PSDB quer definir quem será seu candidato a presidente da República ainda este ano, em uma nova convenção nacional para renovar toda a direção do partido, prevista para ocorrer em dezembro, na hipótese de existir consenso partidário. Em caso de disputa, prévias poderão ser realizadas até março. Após mais de um mês de indefinição, os tucanos decidiram pela permanência do senador Tasso Jereissati (CE) no cargo de presidente interino da sigla até o encontro partidário.

Aécio Neves (MG) continuará como presidente afastado, cabendo a Tasso conduzir a sigla. Para os tucanos, a decisão acaba por contemplar, mais ou menos satisfatoriamente, todas as correntes do partido: a Aécio, que abdica do comando, mas sem a pecha de ter sido expurgado por conta de seus problemas com a justiça; a Tasso, que ganha legitimidade para tocar mudanças no PSDB, mas com prazo determinado; e até ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ávido por um horizonte para comandar a máquina partidária e viabilizar sua candidatura ao Planalto.

Sucessão de Temer aprofunda crise interna da legenda

Por Raymundo Costa | Valor Econômico

BRASÍLIA - A escolha do candidato do PSDB às eleições presidenciais de 2018 é um dos motivos, talvez o principal deles, da crise pela qual passa o partido. Se dependesse do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a escolha se daria o mais rápido possível. O governador teme perder terreno para o prefeito da capital, João Doria. Por isso está em campanha aberta para assumir o comando do partido.

Mas outros caciques partidários como Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Aécio Neves preferem que o PSDB espere assentar a poeira da Operação Lava-Jato, antes da definição de um nome, a fim de não ser surpreendido mais adiante.

O ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, por exemplo, acha que se poderia esperar até mesmo a convenção de maio, para a tomada da decisão. O mais provável, no momento, é que a escolha ocorra em dezembro, uma exigência do governador Alckmin para apoiar o arranjo pelo qual Aécio se mantém como presidente licenciado do PSDB e o senador Tasso Jereissati, presidente interino. O projeto de Alckmin é ter ele próprio ou um aliado no comando quando o PSDB escolher o candidato.

Os indícios do que será a nova base do Planalto

Agenda reformista ganha sobrevida com ampliação de apoio na Câmara

Fernanda Krakovics, Gabriel Cariello | O Globo

A divisão de bancadas expressivas da base na votação da denúncia contra o presidente Michel Temer pode esconder, no placar de anteontem, um apoio mais consistente à pauta da Previdência. Rachado quanto à autorização para investigar Temer, o PSDB tem a reforma como uma de suas bandeiras. Pilares da base, DEM e o próprio PMDB também registraram votos dissidentes contra Temer. Em muitas justificativas, parlamentares declararam apoio à agenda econômica, mas votaram pela investigação do presidente por corrupção passiva.

O placar da votação da denúncia deu ao governo indícios do tamanho atual da base aliada, fundamental para fazer avançar a agenda econômica no Congresso, em especial a reforma da Previdência. Na prática, o governo obteve, anteontem, o apoio de 284 deputados, somando os votos a favor de Temer, ausências e abstenções. Embora o número mostre que houve traições na base, o resultado dá ao Planalto um ponto de partida para definir estratégias a fim de obter os 308 votos necessários para aprovação de uma reforma constitucional. E mostrou fôlego do governo para atrair aliados.

— O cálculo de custo-benefício dos parlamentares é distinto (na votação da denúncia e na reforma da Previdência). Portanto, a negociação em torno dos dois temas envolve questões diferentes — avalia o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria.

Votação expõe infidelidade dos partidos da base

Siglas como PPS, PSB e PV tiveram maioria contra o governo

Marlen Couto | O Globo

O presidente Michel Temer pode até ter barrado a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), mas a votação na Câmara expôs uma lista de partidos infiéis, que até pouco tempo viviam em lua de mel com o governo. Levantamento do Núcleo de Dados do GLOBO aponta que 106 deputados filiados a siglas que ocupam algum ministério do governo votaram contra o presidente.

Proporcionalmente, PPS e PSB foram os que mais votaram contra Temer na sessão de anteontem. Dos dez deputados do PPS, sigla do ministro da Defesa, Raul Jungmann, nove acompanharam a oposição.

Temer exonerou temporariamente o ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra, filiado ao PSB, para garantir mais um voto a seu favor na Câmara, mas, na legenda, Bezerra foi minoria. Ao todo, 22 dos 35 parlamentares se manifestaram a favor da continuidade da denúncia.

Na bancada do PSDB, que comanda a Secretaria de Governo e os ministérios das Cidades, Relações Exteriores e Direitos Humanos, o placar ficou dividido: 47% votaram a favor de Temer e 45% contra.

Emendas parlamentares anteriores à votação beneficiam governo e oposição

Daniel Mariani, Fábio Takahashi | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O governo Michel Temer (PMDB) acelerou liberação de verbas para deputados às vésperas da votação contra ele na Câmara. Os recursos, porém, beneficiaram governistas e oposicionistas.

Tabuladas pela Folha, as informações constam no sistema oficial de acompanhamento orçamentário do Senado. Foram consideradas as emendas parlamentares, que são pedidos que os deputados fazem para destinar verbas a seus redutos eleitorais.

A reportagem considerou as emendas "empenhadas", ou seja, as que o governo se compromete a liberar.

Os gastos com emendas foram crescendo à medida que a votação chegava. Foram R$ 768 milhões em maio, R$ 1,6 bilhão em junho (mês que Temer foi denunciado) e R$ 1,9 bilhão em julho. Os dados dos primeiros dias de agosto não estavam disponíveis.

Se por um lado houve aumento de liberação no montante de emendas, a reportagem não encontrou correlação entre mais recursos e benefício maior a governistas.

Cada deputado que votou a favor de Temer havia recebido, em média, R$ 3,4 milhões em julho; os contrários, R$ 3,2 milhões.

Caminho a teu lado mudo | Fernando Pessoa

Caminho a teu lado mudo
Sentes-me, vês-me alheado ...
Perguntas: Sim... Não ... Não sei...
Tenho saudades de tudo...
Até, porque está passado,
Do próprio mal que passei.

Sim, hoje é um dia feliz.
Será, não será, por certo
Num princípio não sei que
Há um sentido que me diz
Que isto — o céu longe e nós perto
É só a sombra do que é ...

E lembro-me em meia-amargura
Do passado, do distante, E tudo me é solidão ...
Que fui nessa morte escura?
Quem sou neste morto instante?
Não perguntes ... Tudo é vão.