sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Opinião do dia - Montesquieu

Quando na mesma ou no mesmo corpo de magistratura o poder legislativo está reunido ao poder executivo, não existe liberdade, pois pode-se temer que o mesmo monarca ou o mesmo senado apenas estabeleçam leis tirânicas para executá-las tiranicamente.

Não haverá também liberdade se o poder de julgar não estiver separado do poder legislativo e do executivo. Se estivesse ligado ao poder legislativo, o poder sobre avida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário, pois o juiz seria legislador. Se estivesse ligado ao poder executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor.

Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou povo, exercesse esses três poderes o de fazer as leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos.

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Montesquieu, “Do espirito das leis”, p. 202, Editora Nova Cultura, 2005.

Nota fora do tom – Editorial | O Estado de S. Paulo

Em vez de esclarecer cabalmente o que ocorreu nas tratativas do acordo de delação premiada com integrantes da JBS, a Procuradoria-Geral da República (PGR) preferiu o caminho fácil de desmerecer os pertinentes questionamentos sobre possível atuação de procuradores da República fora dos trâmites legais. Depois que veio a público relatório da Polícia Federal sobre o caso, a PGR emitiu uma nota que, longe do natural tom de defensora da ordem jurídica, mais se assemelha às habituais respostas de pessoas investigadas em crime de corrupção, interessadas tão somente em não prestar contas à Justiça. O Ministério Público disse apenas que se tratava de “conversas de terceiros fazendo suposições”.

As mensagens encontradas pela Polícia Federal no celular de Wesley Batista, preso na quarta-feira passada, são, no entanto, muito mais que simples suposições, e reforçam a necessidade de uma pronta investigação sobre o que de fato ocorreu. Há fortes indícios de que pessoas do gabinete do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tinham conhecimento de que o ex-procurador Marcelo Miller atuava de “forma indireta” nas tratativas que resultaram no acordo de colaboração premiada firmado por executivos da JBS.

Há, por exemplo, uma mensagem de 5 de abril, dia em que foi publicada no Diário Oficial da União a exoneração de Marcelo Miller do Ministério Público Federal (MPF), sobre a viagem que ele faria no dia seguinte para tratar do acordo de leniência da JBS nos Estados Unidos. Na mensagem, uma das advogadas do grupo manifesta surpresa por, naquele dia, o chefe de gabinete de Janot, Eduardo Pelella, já saber que Miller atuaria para a JBS no exterior.

Denúncia põe Temer no conjunto da obra do PMDB – Editorial | O Globo

Segunda e última ‘flechada’ de Janot acusa presidente por ato cometido no mandato, obstrução de Justiça, e amplia muito o leque no item da organização criminosa

A segunda denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer, apresentada na véspera do último dia útil de expediente do procurador, volta à gravação feita nos porões do Palácio do Jaburu, pelo empresário Joesley Batista, do grupo JBS, da já famosa conversa com o presidente Michel Temer.

A primeira denúncia, de corrupção, cujo envio ao Supremo foi rejeitado pela Câmara, se baseou na referência, feita naquela conversa, a Rocha Loures, indicado por Temer para o empresário resolver problemas do grupo JBS no governo. Houve o flagrante de Loures às pressas, nas ruas de São Paulo, puxando uma maleta com R$ 500 mil, propina que seria do presidente.

Agora, é a vez do crime de obstrução de Justiça. No entender da PGR, ele está configurado, também naquela conversa, quando Temer e Joesley tratam da situação de Lúcio Funaro e Eduardo Cunha, presos, cujo silêncio interessa muito ao presidente e à cúpula do PMDB. O empresário deixa claro que cuida dos dois, momento em que Temer afirma: “é preciso manter isso, viu?”

Lula e a simulação – Editorial | Folha de S. Paulo

Difícil imaginar como aquele senhor crispado, irritadiço, poderia se dirigir ao eleitorado na disputa de 2018 ao Palácio do Planalto.

Nos vídeos do depoimento de duas horas ao juiz Sergio Moro, nesta quarta-feira (13), viu-se Luiz Inácio Lula da Silva em posição defensiva rara na impressionante carreira do cacique petista.

Ali estava um ex-presidente já condenado, em julho, a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro —Moro o considerou culpado de receber propina da construtora OAS, na forma do célebre apartamento tríplex no litoral paulista.

Respondendo desta feita à acusação de ter sido beneficiado de modo ilícito com outros mimos imobiliários, pela Odebrecht, Lula teve de contestar, pela primeira vez, um relato feito à Justiça por um nome da cúpula do partido.

Defesa de Lula é frágil diante de tantas denúncias – Editorial | O Valor Econômico

O ex-presidente Lula entrou em uma roda-viva judicial na qual pode perder a liberdade. Com o novelo da corrupção já em grande parte desenrolado, deixaram há muito de ser críveis as alegações de Lula - na verdade, uma só, repetida à exaustão, a da perseguição política. Hoje esse é o mesmo argumento do presidente Michel Temer para tentar se desviar da pilha de suspeitas que se acumula à porta do Planalto, na qual sobressai seu círculo íntimo: Geddel Vieira, Moreira Franco e Eliseu Padilha.

O ex-presidente Lula, sempre pródigo em discursos, foi por todo o tempo em que tem sido investigado pela Lava-Jato muito parcimonioso com os assuntos que podem levá-lo à cadeia. Quando se explicou, explicou-se pouco e mal, sempre alegando desconhecer a roubalheira generalizada que progrediu em seus governos. Uma pequena parte da história já fora revelada com o mensalão, e Lula também não se moveu com coerência no episódio. A princípio negou, depois se disse indignado por ter sido traído pelos "companheiros" e por fim prometeu escrever um livro comentando a verdadeira farsa do "mensalão", mais um capítulo da história da conspiração das elites que tratava com especial deferência como presidente.

Destinos cruzados | Merval Pereira

- O Globo

As situações do presidente Temer e do ex-presidente Lula são muito semelhantes, e eles dependem da desmoralização do Ministério Público e da Polícia Federal para manterem-se em condições políticas estáveis. Ambos alegam serem perseguidos políticos. Lula já sofreu revés com o depoimento de seu ex-homem de confiança, hoje um mentiroso, Antonio Palocci. Temer corre o risco de ser atingido por delação premiada de seu ex-ministro Geddel Vieira Lima, amigo de 30 anos, mesma duração da amizade de Palocci com Lula.

Foram carreiras políticas montadas conjuntamente que chegam a um desfecho trágico para todos. O problema para eles é que não há indícios de que o sistema judiciário caminhe para uma direção oposta à de hoje, como ficou demonstrado no julgamento de quarta-feira do Supremo Tribunal Federal, cujo plenário apoiou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

A nova denúncia da PGR contra Temer aborda dois objetos: obstrução de justiça e formação de quadrilha, essa última baseada na investigação da Polícia Federal já apresentada e reforçada pela delação premiada do doleiro Lúcio Funaro. É também com base nela que é feita a denúncia de obstrução da Justiça, pois Funaro confirma que recebeu de Joesley Batista R$ 100 milhões para manter seu silêncio.

As últimas flechas | Míriam Leitão

- O Globo

A denúncia que recaiu ontem sobre o presidente Temer e membros da cúpula do seu governo não se refere apenas a crimes cometidos nesta administração, mas também nos governos Lula e Dilma. Rodrigo Janot, saindo em meio ao tiroteio, pegou suas flechas e atacou. Na despedida, ontem no STF, ele disse que a história saberá identificar o lado que cada um tomou e defendeu a luta contra a corrupção.

A acusação geral de serem membros de organização criminosa é à cúpula do PMDB da Câmara. Sobre Temer, recai ainda a de obstrução de Justiça. Nesse segundo caso, Janot se refere aos crimes relatados por Joesley Batista e Ricardo Saud, que passam a serem também denunciados. Janot está usando as provas que os executivos mesmos entregaram. Como considera que eles quebraram o acordo, ele pediu a anulação do acordo e os incluiu na denúncia.

A fragilidade das delações sem provas | *Aloísio de Toledo César

- O Estado de S.Paulo

O órgão acusador tem a obrigação legal de fundamentar o inquérito corretamente

O Estado brasileiro vem sofrendo um prejuízo bastante expressivo decorrente de denúncias que são aceitas como válidas e jogadas ao vento pela Procuradoria-Geral da República (PGR), sem que as pessoas envolvidas sejam ouvidas ou tenham oportunidade do exercício de plena defesa.

Essa conduta é extremamente grave porque causa a impressão de que nem sempre há empenho em realizar investigações necessárias para comprovação das denúncias feitas pelos delatores, aceitando-se quase tudo como verdadeiro.

Da forma com que são admitidas algumas dessas delações, é como se o delator entregasse um prato já pronto para o agente do Estado comer. Este, após encher a barriga, satisfeito por ter recebido informações que por si sós poderiam a seu juízo permitir a denúncia, sente-se tentado a admitir como verdadeiro o que foi afirmado, deixando de correr atrás das provas necessárias para a comprovação do delito e permitir uma denúncia séria, digna, honrada.

O inegável | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Michel Temer já levou tantas flechadas que está parecendo são Sebastião. Além de ele próprio ter estrelado um diálogo comprometedor com Joesley Batista, o presidente viu a metade do seu núcleo de colaboradores principais ser arrastada para trás das grades. 

Um deles, Geddel Vieira Lima, foi apanhado com R$ 51 milhões em dinheiro vivo escondidos num apartamento. A outra metade segue livre mais por ter foro privilegiado do que por poder exibir atestado de bons antecedentes.

A proximidade entre Temer e uma série de esquemas de corrupção narrados em inquéritos e denúncias é tamanha que torna-se inevitável a conclusão de que ou ele participou das maracutaias, ou as tolerou, ou não foi capaz de perceber o que se passava debaixo de seu nariz. Qualquer das três hipóteses deveria bastar para que ele, de moto próprio e sem depender de trâmites judiciais, se afastasse da Presidência da República. O líder peemedebista continua, porém, protestando inocência e denunciando supostos complôs para desacreditá-lo.

Janot, Lula, Moro e o fundo do poço | Reinaldo Azevedo

O que se tem hoje é a proliferação de atos atrabiliários tendentes a produzir mais desordem

Rodrigo Janot é hoje um "cadáver adiado que procria". Quando eu voltar a publicar neste espaço, no dia 22, ele já será um ex-procurador-geral. Estará, então, ainda que em férias, aboletado em algum órgão público, provavelmente o STJ - que o homem tentou fazer seu refém -, para conservar o foro especial, que seus soldadecos com cérebro de chumbo chamam "privilegiado". Vai que um juiz de primeira instância mais espevitado resolvesse mandar o doutor para a cadeia. Está morto, sim, mas renderá frutos perversos por muito tempo.

Ao se despedir do Conselho Nacional do Ministério Público, no dia 5, o doutor evidenciou ser capaz de ir além das flechas de bambu nas metáforas da autolisonja. Comparou-se a Dom Duarte, um dos reis portugueses (1433-1438) homenageados por Fernando Pessoa no livro "Mensagem". E citou: "Cumpri contra o Destino o meu dever. / Inutilmente? Não, porque o cumpri." Sei lá se colheu a coisa nesses apanhados de frases pós-Google. Uma coisa é certa: ignora o papel desempenhado pelo soberano de tão curto reinado. E não! Janot, definitivamente, não veio de D. Filipa de Lencastre, a "Princesa do Santo Graal", cujo seio "só gênios concebia".

O perigo da atuação "esquiva e dissonante" | César Felício

- Valor Econômico

Temer deve escapar da flechada e Janot está sob névoa

Janot imaginava sair de cena esta semana como o anjo exterminador do complexo empresarial-político que comandou o país nos últimos 32 anos. Da futurista construção espelhada em Brasília que lembra um cilindro e uma engrenagem denunciou-se Michel Temer, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Fernando Collor e José Sarney. Implodiu-se um esquema de prospecção e irrigamento de cofres na maior empresa do país. Foram para a cadeia os capitães das campeãs nacionais.

É a apuração do maior escândalo de corrupção do mundo como o conhecemos. Janot cumpriria assim uma de suas promessas feitas na sabatina pelos senadores da Comissão de Constituição e Justiça, ao ser indicado para a Procuradoria-Geral da República pela então presidente Dilma Rousseff, em agosto de 2013: o de canalizar para o Ministério Público o sentimento das ruas. Janot foi sutil na ocasião, mas inequívoco:

2018 a.D | José de Souza Martins

- Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Entre prisões e bravatas, entre muitas incertezas quanto ao presente e poucas certezas quanto ao futuro, o país, anestesiado pelo cansaço, mais se arrasta do que caminha rumo à incógnita da eleição presidencial do Ano do Senhor de 2018. Não falo de pessoas. Os tradicionais entes invisíveis do processo político brasileiro vão dando sinais do protagonismo que terão na mentalidade que presidirá nossos rumos no dia da eleição. A manipulação publicitária e anticidadã do voto e o messianismo antidemocrático já estão na coxia do teatro eleitoral.

Mesmo que uma parte não decisiva da sociedade brasileira acredite que o processo eleitoral é racional e que a política pode ser compreendida e decidida de modo objetivo, aqui a política é regulada por irracionalidade e misticismo. Não pode ser interpretada se não se leva em conta o milenarismo e o messianismo crônicos que a regulam, dependendo de crises e incertezas. Mas o oposto também pode ocorrer. Lula messiânico foi eleito em sucessão ao professor Fernando Henrique Cardoso e ao ciclo de democracia e estabilidade que ele protagonizou. Não só o desespero chama o messias para rever rumos. A esperança mística também o faz.

Janot faz 2ª denúncia contra Temer e anula benefício de delação de Joesley

Procurador aponta presidente como ‘líder de organização criminosa’ Empresário foi denunciado por obstrução da Justiça e teve prisão • preventiva decretada pelo STF Propina ao ‘quadrilhão’ foi de R$ 587 milhões, diz PGR Planalto critica Janot e vê ‘realismo fantástico

- O Estado de S. Paulo.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou pela segunda vez o presidente Michel Temer ao STF. Temer é acusado de liderar organização criminosa formada por integrantes do PMDB na Câmara e de tentar obstruir a Justiça. A nova denúncia também envolve ministros, ex-ministros, ex-deputados e os delatores Joesley Batista e Ricardo Saud, do Grupo J&F. Ambos tiveram o benefício da delação rescindido, prisão preventiva decretada e podem ser julgados por Sérgio Moro. Os peemedebistas foram acusados de integrar um “núcleo político” com o objetivo de arrecadar propina em órgãos públicos. Janot aponta que no caso do PMDB da Câmara as ações ilícitas envolveram Petrobrás, Furnas, Caixa Econômica Federal, Ministério de Integração Nacional, Ministério da Agricultura, Secretaria de Aviação Civil e a própria Câmara. Pelo esquema, os acusados teriam recebido “pelo menos” R$ 587,1 milhões em propina. 

Janot acusa Temer de obstruir a Justiça; presidente refuta denúncia

Janot denuncia Temer sob acusação de organização criminosa e obstrução

Reynaldo Turollo Jr., Letícia Casado, Bela Megale, Camila Mattoso e Ângela Boldrini | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou ao STF (Supremo Tribunal Federal) o presidente Michel Temer sob acusação de obstrução da Justiça e participação em organização criminosa que teria recebido ao menos R$ 587 milhões de propina.

A denúncia foi apresentada na tarde desta quinta-feira (14). Os delatores Joesley Batista, um dos donos da JBS, e Ricardo Saud, executivo do grupo, também foram denunciados, acusados dos mesmos crimes. O procurador-geral pede ao STF que o caso deles seja desmembrado e julgado em primeira instância pelo juiz federal Sergio Moro, já que os acusados não têm foro privilegiado.

Presos temporariamente em Brasília, Joesley e Saud perderam a imunidade penal, acordada com a PGR (Procuradoria-Geral da República) em maio, quando assinaram a delação, porque Janot entendeu que agora surgiram indícios de que eles omitiram informações relevantes –o que era vetado em uma cláusula do acordo.

Foram acusados ainda os ex-deputados do PMDB Eduardo Cunha (RJ), Henrique Alves (RN), Geddel Vieira Lima (BA), Rodrigo Loures (PR) e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral). Segundo a denúncia, eles cometeram crimes em troca de propina vinda de vários órgãos públicos como Petrobras, Furnas, Caixa Econômica Federal, Ministério da Integração Nacional e Câmara dos Deputados. Temer é apontado como o líder da organização criminosa desde maio de 2016.

Janot denuncia Temer por organização criminosa e cancela acordos de delação

- Valor Econômico

BRASÍLIA E SÃO PAULO - Primeiro presidente denunciado à Justiça no exercício do mandato, Michel Temer sofreu ontem a segunda acusação em menos de três meses. Desta vez, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o denunciou por supostamente liderar organização criminosa e obstruir a Justiça. Em sua despedida do cargo, que exerceu por quatro anos, Janot incluiu na denúncia seis aliados políticos de Temer, todos do PMDB, além do empresário Joesley Batista, dono da JBS, e o executivo da J&F, holding da família Batista, Ricardo Saud - que tiveram seus acordos de delação premiada cancelados e perderam direito à imunidade penal.

Na denúncia, apresentada 72 horas antes do fim do mandato, Janot acusa Temer e os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, além dos ex-deputados Geddel Vieira Lima, do ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures e os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil) de terem arrecadado cerca de R$ 587 milhões em propinas.

Presidente diz que denúncia é peça de 'realismo fantástico em estado puro'

Por Andrea Jubé e Bruno Peres | Valor Econômico

BRASÍLIA - Em reação à segunda denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o presidente Michel Temer divulgou ontem uma nota dura onde questiona a atuação do chefe do Ministério Público Federal, aponta a fragilidade das provas e define o documento como uma peça de "realismo fantástico em estado puro".

Hoje, após avaliar a repercussão das acusações e voltar a se reunir com aliados e advogados, Temer cogita fazer um pronunciamento à imprensa no Palácio do Planalto para reforçar a contestação ao ato de Janot.

O Planalto não foi surpreendido, porque a segunda denúncia era considerada há dias fato consumado, sendo que a dúvida era quanto ao conteúdo e robustez.

Janot quer fim de todos os acordos da J&F

Murillo Camarotto e André Guilherme Vieira | Valor Econômico

BRASÍLIA E SÃO PAULO - A Procuradoria-Geral da República (PGR) oficializou ontem a rescisão dos acordos de colaboração premiada de Joesley Batista e do executivo da J&F Ricardo Saud. A tendência, no entanto, é de que os demais delatores do grupo também percam os benefícios do acordo, o que pode representar cadeia para todos eles.

Oficialmente, a PGR informou ainda que o colocou em revisão o acordo do diretor jurídico da JBS, Francisco de Assis e Silva. Janot explicou que ainda não há elementos suficientes para decidir sobre a manutenção ou a anulação do compromisso e que vai aguardar avaliação conclusiva sobre eventual descumprimento.

A procuradoria não se manifestou oficialmente sobre a situação de Wesley Batista e dos outros três delatores da empresa. Fontes afirmam, no entanto, que esses acordos também estão em revisão e que um procedimento oficializando a revogação deve ser anunciado em breve.

Em nova denúncia, Temer é acusado de chefiar organização criminosa

Janot inclui Padilha, Moreira, Geddel, Rocha Loures e Joesley, entre outros

Rescisão de benefícios da delação da JBS dependerá do STF; presidente reage e acusa PGR

Em sua mais forte “flechada” antes de deixar o cargo, o procurador-geral, Rodrigo Janot, enviou nova denúncia contra o presidente Temer ao STF, desta vez por organização criminosa e obstrução de Justiça. Pela acusação, a quadrilha atuava desde os governos Lula e Dilma, com PT, PMDB e PP, mas em maio de 2016, quando Temer assumiu a Presidência, houve um rearranjo e o peemedebista passou a comandar o esquema. Também foram denunciados os ministros Padilha e Moreira Franco, os ex-ministros Geddel e Henrique Alves, os ex-deputados Cunha e Rocha Loures, além de Joesley Batista e Ricardo Saud, da JBS. Janot encaminhou ao STF a rescisão dos benefícios dos delatores da JBS. Em nota, Temer afirmou que o procurador usou depoimentos falsos, instituiu a “delação fraudada” e tenta “encobrir as próprias falhas”, ignorando suspeitas sobre delações e o exprocurador Miller. O relator no STF, Edson Fachin, vai esperar decisão do plenário, na quarta, antes de enviar a denúncia ao Congresso.

O COMANDANTE
‘O homem corrompe o poder’

Janot denuncia Temer e sustenta que presidente chefia grupo criminoso de dentro do Palácio do Planalto

Vinicius Sassine e Renata Mariz | O Globo

-BRASÍLIA- Michel Temer passou a liderar uma organização criminosa desde o primeiro momento em que se sentou na cadeira de presidente da República, ainda como interino, e o grupo que ele comanda continua praticando crimes. A acusação é do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na segunda denúncia apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra um presidente no exercício do cargo. A primeira também alvejou Temer, que, na ocasião, contou com um dos pontos fortes de seu governo para sair ileso da acusação de corrupção passiva: a blindagem no Congresso Nacional. A nova denúncia, para prosperar, terá de contar, mais uma vez, com o aval de dois terços dos deputados federais.

‘FRAUDE’ Para Temer, acusações são ‘realismo fantástico’

Em nota, Presidência afirma que denúncia é ‘rechada de absurdos’; defesa busca adiar tramitação

Eduardo Barretto, André de Souza e Cristiane Jungblut | O Globo

BRASÍLIA- Dez minutos depois de chegar ao gabinete, voltando da viagem ao Tocantins e ao Pará, o presidente Michel Temer foi denunciado criminalmente pela segunda vez. Ele preferiu deixar um possível pronunciamento para hoje, enquanto sua defesa pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que pare a tramitação da denúncia, evitando que a peça de acusação da ProcuradoriaGeral da República (PGR) seja enviada logo à Câmara.

Em nota, Temer fugiu à tradição de comunicados sóbrios do Palácio do Planalto e partiu para o ataque direto ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acusando o chefe do Ministério Público Federal de irresponsabilidade, incompetência e de arriscar o mecanismo de delação premiada, ironizado pelo Planalto como “delação fraudada”.

A segunda denúncia contra o presidente — desta vez por organização criminosa e obstrução à Justiça — foi qualificada pelo Palácio como “recheada de absurdos” e “realismo fantástico em estado puro”. Temer diz ter “certeza” de que “versões, fantasias e ilações” darão lugar à “verdade”. “O governo poderá então se dedicar ainda mais a enfrentar os problemas reais do Brasil”, conclui a nota.

A estratégia contra a denúncia tem quatro frentes. O objetivo do Palácio do Planalto é paralisar a peça acusatória o máximo possível no âmbito do Judiciário. No plano político, a ordem é que os aliados defendam esse adiamento e ainda redobrem os ataques a Janot, destacando que ele mesmo se desgastou ao admitir “omissões gravíssimas” no processo de delação da JBS — o objetivo é montar cerco a Janot, à JBS e ao ex-procurador Marcello Miller dentro da CPI da JBS. E o Planalto fará ainda um “pente-fino” na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), para ver se há risco de traições. A expectativa é que o caso não chegue à Câmara antes da próxima quarta-feira.

Fachin só avaliará caso após posição do Supremo

Ministro espera posição do STF sobre delação da J&F para encaminhar acusação à Câmara; ‘Não vamos ter duas agendas’, diz Rodrigo Maia

Rafael Moraes Moura, Breno Pires, Beatriz Bulla / O Estado de S. Paulo.

BRASÍLIA - O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, atendeu a um pedido da defesa de Michel Temer e vai aguardar uma posição da Corte sobre a validade das delações da J&F, na próxima quarta-feira, para então decidir sobre a tramitação da nova denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

A denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer e peemedebistas do grupo político dele por participação em organização criminosa no “quadrilhão do PMDB da Câmara” não será encaminhada imediatamente pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para a análise da Câmara dos Deputados, por decisão do ministro Edson Fachin.

A pera | Vinicius de Moraes

Como de cera
E por acaso
Fria no vaso
A entardecer

A pera é um pomo
Em holocausto
À vida, como
Um seio exausto

Entre bananas
Supervenientes
E maçãs lhanas

Rubras, contentes
A pobre pera:
Quem manda ser a?
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Los Angeles, 1947