sábado, 23 de dezembro de 2017

Opinião do dia: Gilvan Cavalcanti

A esquerda não deve contemplar com receio a globalização. Ela favorece o desenvolvimento econômico e a conquista de qualidade de vida mais elevada.

Aproxima mercados, mas também povos e culturas. É verdade que despontaram novas desigualdades e as antigas voltaram a superfície. É verdade que a insegurança é o novo sentimento que afeta os indivíduos e a sociedade como um todo. Adicione-se a dúvida com relação ao trabalho, ao futuro da aposentadoria, às transformações da estrutura familiar, o perigo com o aumento da marginalidade e da criminalidade. É uma circunstância nova na qual é necessário virtù para agir e lutar.

A esquerda brasileira deve saber apreender as promessas contidas na força liberada pela revolução dos fenômenos e saber reformular seus novos valores: igualdade entre sexos, etnias e grupos sociais; maior abertura possível da experiência existencial, concebida em seus aspectos individuais e coletivos; defesa do trabalho, de sua dignidade, da valorização dos recursos humanos; valorização dos méritos: valorização profissional, a inovação social, a criatividade cultural com responsabilidade social; equilíbrio ecológico: a sustentabilidade das técnicas, a proteção da natureza, o valor cultural do meio ambiente; integridade do ser humano, o respeito pela vida, a laicidade do Estado, sua democratização e a liberdade de opções com base nas convicções éticas individuais; valorização da cultura, da história e da memória; ética política: os direitos mas também os deveres da cidadania, as responsabilidade morais dos representantes. Se a esquerda quiser reavaliar a cultura política como expressão dos interesses coletivos, cabe travar a luta contra o indeterminismo de um lado e contra todos aqueles que preferem conceber a política como jogo do poder, instrumento de ambições pessoais e interesses corporativos; novo internacionalismo: à luta contra a fome e pobreza, a mundialização dos direitos humanos, base para a unificação dos povos.

Concluindo, a história ensinou de forma clara e trágica que justiça e liberdade são valores inseparáveis. Não pode haver igualdade e justiça sem liberdade, sem democracia."
------------------------
Gilvan Cavalcanti é membro efetivo do diretório nacional do PPS e do Conselho Consultivo da Fundação Astrojildo Pereira. ‘Democracia e reforma’, Blog Democracia Política e novo Reformismo. 30/6/2008.

Cristovam Buarque: O Brasil não vota

- O Globo

Brasileiros elegerão novo presidente sem eleger novo Brasil

Ao olhar ao redor, percebemos que o presente não está bem; olhando para frente, é o futuro que não parece bem. A sensação é de caminharmos sem coesão nem rumo para uma desagregação social e para o atraso econômico, científico e tecnológico. Mesmo assim, tudo indica que no próximo ano os brasileiros elegerão um novo presidente da República sem eleger um novo Brasil.

Estamos paralisados pela vergonha da corrupção, da concentração de renda, da baixa produtividade e consequente pobreza, da violência sob tantas formas. Estamos em dívida com os pobres, idosos e jovens, crianças e mulheres, com os índios e os negros.

Junte a isso um país sem instituições sólidas; um sistema judiciário bipolar; um Estado sem eficiência e privatizado política e sindicalmente; ciência e tecnologia deficientes; um sistema educacional precário e desigual; e, sobretudo, imenso descrédito nos políticos devido à corrupção generalizada. Reafirmo: o Brasil precisa eleger não apenas um novo presidente, mas também um novo Brasil.

Mas o eleitor não parece preocupado com o país de todos, apenas com o seu próprio presente ou de seu grupo social. Votará com raiva dos atuais políticos, e não com esperança nos que virão. Preocupado apenas com a vitória nas urnas, e não com o país. Em consequência, o candidato mira cada corporação e diz o que o eleitor quer ouvir, não o que ele precisa ouvir.

Marco Aurélio Nogueira*: A polarização está na política

- O Estado de S.Paulo

Nossos políticos se dividiram em tribos sem identidade, cada qual com suas taras

O Brasil não é um país polarizado. No chão duro da vida, há mais consenso que dissenso. Diferenças de opinião e de visões do mundo convivem lado a lado, mas a base é uma só.

Todos querem viver em paz, tocar a vida, criar os filhos, trabalhar e se divertir. Torcem para que surjam governos vocacionados para fazer as coisas melhorarem, na economia, no emprego, no cotidiano. Vive-se na expectativa de que o Brasil consiga deixar de ser injusto e desigual, ainda que um conformismo fatalista ande de mãos dadas com o ceticismo e com uma enorme dificuldade de saber que providências tomar para que a desigualdade desapareça ou ao menos seja atenuada a ponto de curar a chaga que mantém 50 milhões de brasileiros na miséria, enquanto 30% da renda se concentra nas mãos de apenas 1% dos habitantes do País.

A maioria despreza a corrupção. Mas são muitos os que pensam que ela é intrínseca aos políticos e aos poderosos. Os brasileiros aprenderam a ver o corrupto como símbolo de um país que não consegue sair do lugar, onde a lei não vale para todos e o “malfeito” nasce como erva daninha adubada pela arrogância e pela certeza de impunidade dos que têm poder. A relação dos brasileiros com a corrupção é confusa. Há quem aceite o “rouba, mas faz” e tenha pena dos corruptos “bonzinhos” vitimizados por terceiros. É crescente, porém, o número de pessoas que deploram a inocência fingida dos acusados. Aplaudem por isso intervenções como a Lava Jato, que pela primeira vez está pondo na cadeia gente que se achava inatingível, acima do bem e do mal.

Merval Pereira: A busca do nome

- O Globo

Partidos articulam nomes alternativos para disputar as eleições. Uma eleição sem favoritos viáveis, já que Lula depois do julgamento em segunda instância pelo TRF-4 pode ficar inelegível, faz com que os partidos políticos lancem mão de planos alternativos. Não apenas o PT se prepara para ter que trocar seu candidato, que lidera as pesquisas eleitorais, como também o grupo aliado ao governo tenta encontrar uma candidatura viável para manter-se no poder.

Como disse outro dia o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), sem Lula, a disputa “vai ter político, outsider, artistas, malucos”. Fora os “outsiders, artistas e malucos”, os bastidores políticos estão movimentados.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já avançou várias casas em dias recentes, aparecendo na propaganda eleitoral do PSD como defensor do governo Temer. O problema maior dele não é nem a falta de carisma. Ele só se viabilizará se a economia melhorar a tal ponto que reverta a impopularidade do governo. Nesse caso, porém, o próprio presidente Temer se consideraria habilitado à disputa.

João Domingos: Nada a se perdoar

- O Estado de S.Paulo

Lula se arrependeria se o encontro com Maluf não tivesse sido fotografado?

É muito fácil para qualquer um dizer que não se perdoa por algo que fez cinco, dez, quinze, ou sabe-se lá quantos anos antes em sua vida. O arrependimento é próprio da natureza humana, pois, motivado por razões que o presente explicita, cutuca e fere em relação ao passado. Nada mais natural, portanto, que Lula diga que não consegue se perdoar por ter posado para uma foto com Paulo Maluf (PP-SP) em 2012, na mansão deste, tendo ainda ao lado Fernando Haddad, então candidato a prefeito de São Paulo pelo PT. Mas será um arrependimento sincero?

A fotografia, da qual Lula agora diz que se arrepende de ter permitido que fosse feita, celebrou a aliança de dois adversários históricos, aliança fundamental para a vitória de Haddad na eleição de 2012. Sem o acordo, que deu maior tempo de TV para Haddad, e fez de Maluf importante cabo eleitoral petista na periferia e entre categorias de trabalhadores que sempre estiveram a seu lado, como os taxistas, o PT teria dificuldades para vencer a eleição.

Julianna Sofia: Clima de campanha

- Folha de S. Paulo

"Lamentavelmente se antecipou muito a campanha. Acho que temos que seguir o calendário legal, e o calendário legal exige que a partir do ano que vem se pense na campanha. Lamentavelmente é um clima de campanha, e eu não acho útil isso", reagiu Michel Temer.

Na época vice-presidente da República, o emedebista comentava, em 27 de novembro de 2013, o embate público que PSDB e PT travavam sobre o caso do cartel de trens e metrô delatado pela empresa alemã Siemens ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

Sob impacto do acordo de leniência da multinacional, que jogara suspeitas de fraude sobre as gestões Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, tucanos buscavam erigir uma cortina de fumaça. Empenhavam-se em desqualificar a denúncia e acusavam o governo petista de Dilma Rousseff de criar um roteiro para prejudicar adversários políticos.

Ao então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, era atribuída uma tentativa de reeditar o "escândalo dos aloprados" —quando petistas foram flagrados comprando dossiê contra Serra nas eleições de 2006.

José Murilo de Carvalho: 2018 o ano da incerteza

- O Globo

Tentar prever como será 2018 é uma fria e correr o risco de dizer bobagem. Mas como recusar um pedido da coluna? Vou para o sacrifício.

A incerteza sobre 2018 está concentrada, sobretudo, na política, mais precisamente no resultado das eleições presidenciais. Há três cenários plausíveis. O candidato mais forte até agora, Lula, pode ou não concorrer, pendendo decisão judiciária. Se puder, terá alta probabilidade de chegar ao 2º turno.

Nessa hipótese, poderá enfrentar com vantagem seu principal concorrente atual, Bolsonaro. Sua eleição reabrirá feridas geradas pelo impeachment e, se a tendência de 2016 se repetir, será acompanhada da redução da bancada de seu partido na Câmara e no Senado. Ele terá de exercer ao máximo sua capacidade de negociação, buscando alianças até com os defensores do impeachment.

O 2º cenário será disputar o 2º turno com Alckmin. É difícil fazer qualquer previsão.

O 3º cenário será uma eleição sem Lula. Assim, Bolsonaro também sairá enfraquecido porque sua força depende da polarização com o petista: suas campanhas alimentam-se mutuamente.

Murillo de Aragão: O lado certo do muro

- IstoÉ

Ainda que os atuais resultados das pesquisas eleitorais preocupem, existe um exército de homens “mornos” no País que ainda não tomaram sua decisão

Em sua obra célebre, Dante Alighieri previa a existência de um “Anteinferno” após a morte, onde ficariam os “mornos”, ou seja, aqueles que viveram sem infâmia, mas também sem louvor. Que passaram a vida diante de um largo muro sem tomar posição e foram parar nesse “Anteinferno” exatamente por isso. No momento, a maior parte do eleitorado brasileiro não está correndo o risco de ir para o “Anteinferno”. Está correndo o risco que ir para o Inferno mesmo.

Isso porque quando olhamos as pesquisas de intenção de voto para 2018, vemos uma maioria tomando posição a favor do ex-presidente Lula (PT) ou do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Esses dois líderes das pesquisas de opinião representam alegorias justamente do que não devemos desejar para o País. Representam faces distintas do mesmo conservadorismo populista e demagógico que devemos repudiar. Conservadorismo radicalizado por uma narrativa demagógica e teatral poluída de meias verdades e de verdades mambembes.

Míriam Leitão: Voo solo

- O Globo

Embraer já tem maioria do capital com estrangeiros. O voo da Embraer para ser parte da indústria global será sempre turbulento, seja qual for a rota. Se virar parte da Boeing, não será em uma simples “combinação dos negócios”, mas sim um processo no qual a grande engolirá a pequena. Se ficar isolada em um mercado, hoje dominado por um duopólio, mas ameaçado pela China, pode ser pequena demais para competir. Para o país, o dilema também não é fácil.

Não se trata apenas da velha divisão entre nacionalistas e globalistas. O Estado foi a grande alavanca que permitiu o voo da Embraer de São José dos Campos para o mundo. Nasceu estatal com vantagens e subsídios, explícitos ou camuflados, de grande valor. Foi privatizada com financiamento estatal. Continuou voando graças aos benefícios e financiamentos do Estado. É um caso de sucesso empresarial, e de desenvolvimento de tecnologia, mas sem o incentivo do dinheiro coletivo não teria chegado onde chegou.

Demétrio Magnoli: Trump no Peloponeso

- Folha de S. Paulo

Sob Trump, potência dominante vandaliza sistema que ela esculpiu

A "armadilha de Tucídides" ressurgiu num editorial da revista "The Economist" que alerta para as agressivas táticas usadas pela China para estender sua influência externa. Trata-se de conceito oriundo da Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.): a ascensão de uma nova potência curva a geometria do sistema internacional até que a tensão explode na forma de guerra com a potência tradicional. O voto da Assembleia Geral da ONU, na quinta (21), indica que, sob Trump, a potência dominante vandaliza o sistema que ela mesma esculpiu, acelerando a tendência de colapso.

"Anotaremos os nomes dos países que votarem contra nós", ameaçou Nikki Haley, a embaixadora americana na ONU, referindo-se à resolução de condenação ao reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel por Washington. "Economizaremos bastante", completou Trump, sugerindo que os EUA retaliarão por meio de cortes generalizados de ajuda financeira e militar. A resolução aprovada por aplastante maioria na Assembleia Geral inspirou-se em texto vetado pelos EUA no Conselho de Segurança que recebeu o apoio dos outros 14 membros, inclusive Reino Unido e França, aliados na Otan.

Foi patrocinada pelo Egito, aliado crucial no mundo árabe e recipiente de ajuda militar anual de US$ 1,3 bilhão, e pela Turquia, peça-chave da Otan no Mediterrâneo Oriental. Ao "anotar nomes", os EUA cartografam seu próprio isolamento.

Entrevista / FHC: ‘Lula não é imbatível. Eu ganhei dele duas vezes’

Por Germano Oliveira / IstoÉ - Edição 21.12.2017 - nº 2506

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, 86, não está entre os milhares de brasileiros que querem a prisão de Lula. Ele diz não ser sádico para querer ver um ex-presidente preso. O líder tucano prefere que o petista dispute a eleição e seja derrotado nas urnas. “Se o Lula for candidato, não é imbatível. Eu ganhei dele duas vezes. Tá bom, eram outras circunstâncias. Mas naquele momento ele tinha uma aura de restabelecer a moralidade, que hoje não tem mais”, frisa ele. Para ele, Lula não deve voltar ao poder porque foi um dos responsáveis pela institucionalização da corrupção na vida partidária. “Lula e Bolsonaro são dois extremos indesejáveis”. Embora tenha sido um dos que defendeu a saída do PSDB do governo, o ex-presidente diz que Temer está fazendo mais do que ele esperava. E trabalha para que os deputados do PSDB votem em peso a favor da reforma da Previdência. “Se não resolvermos o déficit da Previdência, podemos virar uma Grécia”, onde os aposentados tiveram seus proventos ameaçados. Nesta entrevista, ele fala sobre a discriminação aos negros, o retrocesso no aborto, a liberação das drogas, violência e pena de morte. “Aqui, temos a pena como morte”.

Com a população desiludida, descrente nos políticos, como o senhor vê as perspectivas para 2018, quando teremos eleições?

Não é só no Brasil. Há desilusão com o modo de como a política é feita em todos os países onde há democracia representativa. Nos países autoritários não, porque as pessoas nem sabem, mas onde há liberdade há um sentimento de mal-estar. Há várias razões. Aqui se agrega a essas razões a enorme corrupção que foi destampada e isso produziu um sentimento do que é isso? Estou fora. Vocês não me representam. Isso vai ter conseqüências sobre aqueles que se dispõem a votar. Aconteceu no Chile recentemente. Houve uma queda na participação.

De acordo com as pesquisas, estaríamos hoje entre Lula e Bolsonaro. Qual é sua avaliação?

Eu acho que esse quadro é hoje. Ainda estamos longe do quadro real que vai se colocar nas eleições. Hoje isso reflete um pouco a desilusão da população. Por que Lula? Se pode entender porque as pessoas podem se lembrar dos bons momentos do governo Lula e vão esquecer os maus momentos e a responsabilidade grande que ele teve na aceleração da desarticulação do sistema partidário. Por que Bolsonaro? Porque as pessoas querem ordem. O crime está muito grande, desordem e tal, então tem esse apelo. Eu não creio que esse seja o quadro que vai se configurar nas eleições. É preciso se organizar um setor que seja democrático, popular, não de elite, progressista, que entenda qual é o papel do mundo e como o Brasil pode se engajar nisso. Para mudar o quadro, tem que ir pelo exemplo. Os políticos precisam voltar a tocar no coração dos brasileiros.

Na busca desse novo político, o senhor lançou o governador Geraldo Alckmin. A questão é que ele também está sendo investigado pelo STJ por ter recebido dinheiro de caixa dois. Esse não é um problema?

As acusações existentes sobre o Geraldo são frágeis. Não são alegações pessoais. Alegações sobre recursos de campanha. Isso não é o suficiente para desqualificar uma pessoa. O Geraldo tem história. Será que ele é o melhor brasileiro para ser presidente da República? Talvez não. Existem outros que têm tanto ou melhor qualificação do que ele. Ele tem melhores condições. Por que? Ele é governador de São Paulo. O PSDB governa São Paulo há 20 anos. Tem um caso aqui e outro ali de corrupção, mas não existe uma organização, uma máquina feita pelo partido para roubar. O Geraldo todo mundo sabe que é uma pessoa honesta e tem estilo de vida mais simples. É o que eu digo da exemplaridade. As pessoas já cansaram de gente com muita pompa e muita retórica.

Temer se vê como ‘substancioso’ cabo eleitoral em 2018

Marina Dias / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer disse nesta sexta-feira (22) que será um cabo eleitoral "substancioso" para 2018 e aproveitou para perguntar diretamente ao chefe de sua equipe econômica, Henrique Meirelles, se ele é candidato à Presidência da República no ano que vem.

Bem-humorado durante café da manhã com jornalistas no Palácio da Alvorada, Temer foi questionado sobre o fato de uma eventual candidatura de seu ministro da Fazenda prejudicar a votação da reforma da Previdência, marcada para fevereiro.

Respondeu prontamente que não acreditava em qualquer tipo de prejuízo em relação à reforma para, em seguida, dirigir-se a Meirelles, que estava sentado a seu lado: "Você é candidato?". O ministro sorriu e afirmou que, como tem repetido "diversas vezes", que essa decisão só será tomada no ano que vem.

Temer fez uma espécie de balanço de seu ano e meio à frente do Palácio do Planalto e admitiu que as denúncias de corrupção prejudicaram seu governo e sua popularidade –hoje em torno de 5%.

Segundo o presidente, que citou frase do publicitário Nizan Guanaes, "a popularidade é uma jaula" e seus baixos índices de aprovação devem ser usados para que ele faça "o que o Brasil precisa". Apesar disso, acredita que os números vão melhorar até o início do ano que vem, permitindo que ele seja uma "grande cabo eleitoral" em 2018.

Presidente vê dificuldade para candidato ‘extremado’

Em café com jornalistas, Temer diz que eleitorado deseja alguém moderado, ‘que não seja guiado por um certo mal-estar’

Igor Gadelha / O Estado de S. Paulo.

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer descreveu ontem, em café da manhã com jornalistas no Palácio da Alvorada, o cenário que prevê na disputa presidencial de 2018. Sem citar nomes, disse que candidatos “mais extremados” enfrentarão dificuldades.

“Haverá candidatos mais extremados e um candidato de centro. O que as pessoas querem é uma política de resultados. E, quando se fala em política de resultados, o que as pessoas querem é alguém moderado, alguém que saiba compor as várias correntes políticas do País, alguém que não seja guiado por um certo mal-estar”, afirmou. “Acho que os que se extremarem, tenho impressão de que terão dificuldade.”

Apesar da baixa popularidade, Temer disse acreditar que seu governo será um cabo eleitoral “substancioso” na eleição. Ele afirmou ainda que só apoiará o candidato que defender o legado das reformas.

Temer admitiu que as denúncias de corrupção prejudicaram “muito” o governo e sua popularidade, mas disse que a situação vai mudar até a eleição. “Seja o (ministro da Fazenda, Henrique) Meirelles, seja quem for, nós, em março, abril, maio, junho, julho, agosto, que é época eleitoral, o governo estará sendo reconhecido pelo desmascaramento daqueles que se mascararam para urdir o que urdiram (...) Vamos ser eleitores substanciosos.”

Temer quer um candidato único dos partidos que integram a base aliada para defender o legado de seu governo, principalmente na área econômica. Hoje, disputam o posto o ministro da Fazenda e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

Ladeado por Meirelles, o presidente disse que aquele que for contra as reformas “não terá o apoio total do eleitorado”. “Evidentemente, não poderá ter o apoio do governo. Se ele está se opondo ao que o governo fez, como é que governo vai apoiá-lo?”

Sem reforma da Previdência, inflação sai do controle, diz Temer

Presidente volta a afirmar que aprovar projeto não atrapalha eleições

Leticia Fernandes / O Globo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer afirmou ontem que, se a reforma da Previdência não for aprovada, a inflação e os juros sairão do controle. Em café da manhã com jornalistas que acompanham o Palácio do Planalto, Temer também rebateu os argumentos de que votar a favor da proposta em ano eleitoral pode tirar votos dos deputados.

— A inflação está sob controle, os juros, sob controle. O que pode ocorrer (se não se aprovar a reforma da Previdência) é a quebra desse controle que hoje existe. Seria péssimo para a economia, além do descrédito de natureza nacional e internacional — disse o presidente.

Temer também afirmou que já foi relator da Previdência e que acabou sendo reeleito como deputado federal com mais votos do que antes. O governo tenta convencer deputados de que aprovar a reforma não vai representar menores votações nas eleições de 2018, apesar de já ter dito que entende o temor dos parlamentares.

— Alguns colegas nossos parlamentares tendem a votar contra a reforma ao fundamento de que vem aí o ano eleitoral. Eu vou contar o meu exemplo, que fui relator da reforma da Previdência. Eu fui eleito em 1994 com 71 mil votos. Depois, eu fui relator da Previdência, vieram as eleições, e eu fui eleito com 206 mil votos. As pessoas perceberam que a reforma não era o bicho papão, ao contrário — afirmou Temer.

Devagar, o crédito melhora: Editorial/O Estado de S. Paulo

Com o consumo puxando a recuperação dos negócios, os empréstimos a pessoas físicas continuam liderando o crédito acumulado em 12 meses, como acabam de confirmar os últimos números publicados pelo Banco Central (BC). Em novembro os financiamentos a pessoas físicas, no valor de R$ 169,2 bilhões, foram 2,8% maiores que no mês anterior. Em 12 meses a expansão foi de 8,1%. A concessão de recursos às pessoas jurídicas, no total de R$ 123,6 bilhões, aumentou 3,3% em outubro, mas ainda diminuiu 5,7% no acumulado de dezembro do ano passado a novembro. Esse recuo reflete, entre outros fatores, a redução das operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os próprios empresários têm sido cautelosos na contratação de novas dívidas. Mas há sinais de substituição do financiamento bancário pela captação de dinheiro no mercado de capitais, segundo o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha. Por enquanto, o movimento em busca dessa outra forma de financiamento é característico de grandes empresas.

A concessão total de crédito pelo sistema financeiro cresceu 1,7% em 12 meses, mas o estoque do crédito concedido – o valor acumulado nas carteiras das instituições – diminuiu nesse período. O saldo das operações, de R$ 3,06 trilhões em novembro, aumentou 0,4% em novembro, mas encolheu 1,3% em 12 meses. A economia brasileira voltou a crescer em 2017, com a produção puxada pelo consumo. A inflação em queda proporcionou alguma folga aos consumidores, preservando sua renda real, e além disso as condições de financiamento ficaram um pouco mais suportáveis. Mas, de modo geral, a recuperação ainda lenta ocorreu com escassa contribuição de novos empréstimos.

País precisa mudar a escandalosa situação educacional

O fracasso de um sistema educacional com quase 12 milhões de analfabetos é o legado da persistência em um modelo falido adotado por todos os governos

São 11,8 milhões de analfabetos, com mais de 15 anos de idade, representando 7,2% da população, segundo o IBGE.

Esse é, em síntese, o atestado de um clamoroso fracasso de gerações na governança do país. Não há atenuante para a situação educacional desoladora do Brasil. A culpa é, sim, de governos — no plural, em sucessão cronológica e na plena acepção do termo. E não é de um especificamente, mas de todos que se revezaram no último século com a promessa de estabelecer a Educação como prioridade, com destaque para líderes do período recente, pós-ditadura.

É o legado de fracasso da persistência em um modelo falido de administração do Estado brasileiro, no qual os Poderes republicanos se mantêm inertes, sem cumprir a obrigação constitucional de zelar por objetivos fundamentais como a construção de uma sociedade livre, justa e solidária; a garantia do desenvolvimento nacional; a erradicação da pobreza e da marginalização; a promoção do bem coletivo, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Parceria aérea: Editorial/Folha de S. Paulo

A hipótese de venda da Embraer para a Boeingcausou excitação e celeuma, em boa parte por mexer com os nervos nacionalistas brasileiros. Entretanto as reações de pretensos guardiões dos interesses estratégicos pátrios parecem, nesse caso, ainda mais desinformadas que de costume.

Há interesse nacional envolvido, de fato. Convém ao país que a fabricante de aeronaves tenha sucesso, cresça e continue a desenvolver sua capacidade de competir e desenvolver tecnologia.

É necessário ainda resguardar o fornecimento de equipamento de defesa e, talvez, o desenvolvimento futuro de material aeroespacial, uma competência possível da empresa que pode ser explorada pelo Estado, por exemplo.

No mais, trata-se de negócios. Quanto à suscetibilidade nacionalista mais primitiva, note-se que o controle da Embraer está pulverizado, sendo suas ações na maior parte de propriedade de investidores institucionais estrangeiros.

A empresa já tem fábricas nos Estados Unidos e, de resto, parcerias cruciais com a própria Boeing e com a sueca Saab, entre outras.

Coluna do Estadão: Janela partidária deve mudar 10% da Câmara

A janela partidária, que vai permitir a parlamentares trocar de partido em março, deve alterar de forma significativa a composição das bancadas na Câmara dos Deputados. A avaliação de líderes é que cerca de 50 deputados vão trocar de sigla, 10% da Casa Legislativa. O PMDB admite que deve perder oito nomes, mas está na expectativa de ganhar até dez. DEM, PP, PSD e PR têm prometido recursos dos fundos eleitoral e partidário como atrativo, além de tempo de TV na eleição de 2018, algo precioso com a redução da campanha de 90 para 45 dias.

» Carta na manga. Os partidos que não vão lançar nome próprio ao Planalto levam vantagem na disputa por deputados porque poderão concentrar os recursos do Fundo Eleitoral na reeleição dos parlamentares. Com mais verba, fica mais fácil atrair novas adesões.

» Leva tudo. Uma eventual candidatura do ministro Henrique Meirelles ao Planalto prejudica o plano de crescimento do PSD. A sigla teria de usar boa parte dos recursos do fundo com a campanha dele.

» Bolo. O plano do PSD é aumentar a bancada na Câmara. Motivo: 95% dos recursos do Fundo Partidário são distribuídos conforme a proporção dos votos obtidos na última eleição para a Casa Legislativa.

» Reserva. Apesar de ter descartado disputar o Planalto, Luciano Huck voltou às rodas políticas como opção caso Geraldo Alckmin não decole. No dia 10, Huck ofereceu jantar para seu “grupo político”, com a presença de Armínio Fraga e Marcos Lisboa.

» Banho de sol. Um mês antes de ser mandado à prisão pelo ministro Edson Fachin, do Supremo, o deputado Paulo Maluf se hospedou no hotel Gran Marquise, em frente à praia de Meireles, em Fortaleza. Ele passou dois dias no hotel no início de novembro.

» Cinco-estrelas. Entre os hóspedes que já ficaram no Gran Marquise, estão Bill Clinton e a cantora Shakira.

» Com a palavra. Ao pedir a suspensão da prisão à presidente do STF, a defesa alegou que Maluf tem “limitação severa de mobilidade”. O criminalista Kakay disse que não vai comentar.

Tô chegando. O ministro Dias Toffoli já tem planos para dinamizar o Supremo Tribunal Federal (STF) a partir de setembro do ano que vem, quando sucederá à ministra Cármen Lúcia no comando da Corte.

» STF.com. Toffoli quer aumentar a utilização do plenário virtual da Corte, plataforma digital onde os ministros se manifestam sobre alguns casos.

» Triagem. Uma das ideias é levar ações que contestam normas estaduais, desafogando o plenário “real” e evitando longos debates.

» Feliz Natal! O governador de Sergipe, Jackson Barreto, decidiu exonerar 2,2 mil cargos comissionados para conter gastos.

» Na própria pele. O peemedebista determinou que o próprio salário, de R$ 30,4 mil brutos, só caia na sua conta depois que for regularizado o pagamento atrasado de aposentados.

» Com licença. No café da manhã de Michel Temer com a imprensa, a primeira-dama Marcela interrompeu o marido para desejar boas-festas aos repórteres.

Painel/Folha de S. Paulo: Construtora Andrade Gutierrez vai ao Supremo para tentar proibir TCU de declará-la inidônea

A última fronteira A construtora Andrade Gutierrez entrou com um mandado de segurança no Supremo contra o Tribunal de Contas da União. A ação corre em sigilo e está nas mãos do ministro Ricardo Lewandowski. A empreiteira tenta convencer o STF a interferir no TCU e suspender o processo que pode deixá-la inidônea por desvios em Angra 3. Pede que o caso pare de tramitar enquanto seu acordo de leniência com o MPF for válido ou que a corte de contas seja proibida de declarar sua inidoneidade.

Pegar em armas O Supremo vai ouvir a AGU e o TCU sobre a ofensiva da Andrade. O tribunal de contas viu a iniciativa da construtora como declaração de guerra.

Prepare o arsenal Ministros do TCU lembram que, hoje, existem cerca de dez ações em andamento que podem levá-los a classificar a Andrade como inidônea.

É o fim O impasse começou em março. O TCU deu às empreiteiras que fizeram leniência com a Lava Jato um prazo para que pudessem reconhecer superfaturamento nas obras de Angra 3, apontar responsáveis e negociar a devolução de valores. As novas informações não chegaram.

Pioneira A Andrade, que já negociou multa de R$ 1 bilhão com a Lava Jato, é a primeira construtora a levar o impasse ao STF. A Odebrecht está na mesma situação –fez leniência com o MPF, mas está na mira do TCU– e também cogita recorrer ao Supremo.

Oiapoque ao Chuí O PT estimula militantes e movimentos sociais a promoverem atos por todo o país no dia 24 de janeiro, quando o recurso do ex-presidente Lula será julgado pelo TRF-4.

Menos é mais Para a mobilização in loco, em Porto Alegre, o partido contará com militantes da região Sul.

Bons tempos Fernando Collor, que ostentou boa relação com Carlos Menen, da Argentina, durante seu período no Planalto, matou a saudade dos hermanos no encontro do Mercosul, em Brasília, na quinta-feira (21).

Relembrar é viver Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Collor foi convidado pelo presidente Michel Temer a participar da cerimônia. Sentou-se ao lado de Maurício Macri e conversou longamente com o atual mandatário do país vizinho.

Estica e puxa O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), discute na próxima semana com o Secretário da Previdência, Marcelo Caetano, opções para amenizar a regra de transição para servidores que ingressaram antes de 2003 no funcionalismo.

Acelerado O ministro da articulação política do governo, Carlos Marun (MDB), por sua vez, quer fechar com o presidente Michel Temer uma estratégia de atuação pró-reforma da Previdência durante o recesso parlamentar.

Terra, mar e ar Um dos pontos já está fechado: a partir do dia 15 de janeiro, Marun fará uma série de viagens pelos Estados para conversar com deputados da base.

Prenúncio As duas legendas que discutiram filiar Jair Bolsonaro para a eleição de 2018 racharam: PSL e PEN, que mudaria de nome para Patriota pelo presidenciável.

Deu pra mim O deputado queria 51% dos cargos do diretório nacional do PEN. Ofereceram, em contraproposta, a presidência da sigla. Ele recusou. Agora, o dono do PEN, Adilson Barroso, decidiu que vai destituir todos os aliados de Bolsonaro que já havia alocado nos diretórios estaduais da legenda.

Arapuca No PSL, Bolsonaro provoca atritos. A ala da sigla ligada ao Livres controla 12 diretórios estaduais e não quer negociar com ele. O presidente da legenda, quer. Em entrevista à Gazeta do Povo, Bolsonaro disse que o grupo opositor vai “deixar de existir”.

Fernando Pessoa: É Dia de Natal

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
-------------
Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'