Ex-governador rejeita apelos para se candidatar e impulsionar palanque tucano
Maria Lima | O Globo
-BRASÍLIA- Abalado pelo escândalo da delação da JBS, o grupo político do senador Aécio Neves (PSDB-MG) revive o fantasma de 2014, quando o mineiro perdeu em seu estado a eleição para o Palácio do Planalto. Na reta final para a formação de alianças e da construção de palanques para sustentar os presidenciáveis, os tucanos perdem terreno e põem em risco uma rede de apoio competitiva para o pré-candidato Geraldo Alckmin no segundo maior colégio eleitoral do país.
A tábua de salvação para unir o PSDB, segundo os tucanos de Minas, seria o senador Antônio Anastasia aceitar concorrer novamente ao executivo no estado. Mas o ex-governador resiste aos apelos de Alckmin, Aécio e outros emissários tucanos mais próximos. Na lista de argumentos, o senador é lembrado que pode ser responsabilizado mais tarde por uma eventual derrota dos tucanos. Também pesa o fato de Anastasia ter se projetado politicamente a partir do apoio de Aécio.
Irredutível, Anastasia diz que, desde o ano passado, o partido sabe da sua posição “definitiva” de não concorrer ao governo de Minas novamente. Ele diz que já fez sua parte.
— Ser governador foi uma grande honra. Acredito que já colaborei com meu estado e meu partido naquele momento, fazendo um governo sério, com planejamento, que apresentou resultados concretos que melhoraram a vida dos mineiros — disse Anastasia, ao GLOBO, após encontros com Alckmin, Aécio e dirigentes tucanos em Minas. — Tenho um compromisso com o governador Geraldo Alckmin de, na medida de minhas possibilidades, colaborar para a sua vitória e para a vitória do nosso candidato em Minas Gerais. Vou trabalhar muito para isso, porque acredito na capacidade do governador de São Paulo.
ALIADO CLAMA POR “SACRIFÍCIO"
Apontado como um dos nomes para substituir o senador na chapa majoritária, o secretário geral do PSDB, deputado Marcus Pestana (MG), diz que a candidatura do senador mineiro é uma questão “de vida ou morte” para o partido.
— Está em jogo o futuro de Minas e do país. Temos que respeitar suas razões pessoais, mas o momento é extremamente delicado, e o senador Anastasia tem que fazer sacrifícios. Quem entra na vida pública entrega um quinhão da sua vida para a sociedade. O governador Fernando Pimentel está extremamente fragilizado, mas precisamos de uma oposição unida, e o único nome que une é o de Anastasia. Qualquer outro nome não teria o poder de agregação que ele teria — apela Pestana, que ainda acredita em uma reviravolta.
Enquanto permanece o impasse sobre o candidato a governador, para reduzir o impacto negativo da Lava-Jato, Aécio percorre o estado em reuniões com prefeitos e lideranças locais. Ele já decidiu que disputará a reeleição ao Senado e diz que as pesquisas o colocam em primeiro e segundo lugares em todas as consultas.
Em 2014, o PSDB disputou o governo com o ex-ministro Pimenta da Veiga, que, afastado da política mineira, foi derrotado por Pimentel, do PT, e deu à ex-presidente cassada Dilma Rousseff a vitória em Minas. Aécio diz que a candidatura de Anastasia ainda não está 100% descartada. Outro argumento usado é que o PSDB tem um desempenho péssimo no Nordeste e, no Sul, o eleitorado tucano tem migrado para a candidatura do ex-tucano Álvaro Dias (Podemos). Então, o paulista tem que tirar essa diferença no Centro-Oeste e Sudeste, que abrigam os três mais importantes colégios eleitorais.
O grupo político de Aécio faz a seguinte avaliação do quadro eleitoral: se Anastasia for candidato, pode vencer no primeiro turno. No segundo turno, Alckmin teria chances de uma vitória “avassaladora” em Minas, já que os prefeitos vão querer se aliar ao governador eleito.
— Todos respeitamos a posição do senador Anastasia, mas sabemos que ele tem consciência de sua responsabilidade nesse momento delicado em relação à eleição de Minas e à candidatura presidencial. Vamos dar tempo ao tempo — diz Aécio, afirmando que tem feito um “esforço hercúleo” para manter unido o grupo com os aliados tradicionais.