domingo, 10 de junho de 2018

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

Na quadra atual, entre o desemprego e a violência cada vez mais assustadora do crime organizado, a perda de confiança nas instituições é um incentivo ao autoritarismo. O bloco proposto deve se opor abertamente a isso. Não basta defender a democracia e as instituições, é preciso torná-las facilitadoras da obtenção das demandas do povo, saber governar, não ser leniente com a corrupção e entender que, sem as novas tecnologias, não há como atender às demandas populares crescentes. E, principalmente, criar um clima de confiança que permita investimento e difundir a noção de que, num mundo globalizado, de pouco vale dar as costas a ele.

Tudo isso requer liderança e “fulanização”. Quem, sem ser caudilho, será capaz de iluminar um caminho comum para os brasileiros? “Decifra-me ou te devoro”, como nos mitos antigos.
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Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República. “Decifra-me ou te devoro”, O Globo e O Estado de S. Paulo, 3/6/2018.

Vera Magalhães: Teatro eleitoral

- O Estado de S.Paulo

Candidatos de si mesmos povoam a eleição sem dizer nada a um eleitor enojado com o espetáculo

Um dos fenômenos mais bizarros e extemporâneos da eleição de 2018 é a profusão de candidatos de si mesmos. Eles sabem que, no fim do dia, não serão candidatos. O eleitor não os conhece e não dá a mínima para sua existência.

A imprensa sabe que, mais cedo ou mais tarde, eles vão cair fora, mas cumpre o constrangedor dever de entrevistá-los, convidá-los para sabatinas, pedir a suas assessorias seus planos de governo (!) para esta ou aquela área.

Os partidos sabem que só estão usando os não-candidatos para ganhar algum cacife na negociação das alianças de sempre. Em off, caciques assumem a estratégia, pouco se lixando se estão gastando o parco dinheiro do Fundo Partidário para promover uma farsa.

Mais do que isso: a permanência desses candidatos fake no páreo impede que se dê um mínimo de nitidez ideológica e programática à campanha, que se meça o potencial dos verdadeiros candidatos e que se tenha clareza sobre quem tem chances de avançar na disputa para a cada vez mais inglória tarefa de governar o Brasil a partir de 2019.

Alguns deles já se preparam para tirar o time de campo. Perceberam que o prolongamento dessa estratégia cafona e de eficácia duvidosa não lhes ajudou em nada, a não ser a pagar mico em público.

Não porque tenham traço ou quase isso nas pesquisas. Há candidatos que, mesmo tendo esses índices, são identificados com ideias, grupos de representação ou propósitos, à esquerda e à direita, e, assim sendo, têm uma postulação legítima.

Quando falo do teatro de postulações me refiro àqueles que estão no jogo ou porque têm dinheiro suficiente para bancar o capricho, ou porque são teimosos e não aceitam que seu partido esteja prestes a apoiar um adversário pessoal e político, ou porque querem se projetar para a disputa real que vão travar e fazer seu partido abocanhar uma vice aqui, uma candidatura ao Senado ali.

Eliane Cantanhêde: Quem ri por último...

- O Estado de S.Paulo

Com o impeachment, Dilma está numa boa e a vida de Temer virou um inferno

Se arrependimento matasse, talvez Michel Temer já estivesse mortinho da Silva depois de deixar sua eterna zona de conforto, articular meticulosamente o impeachment de Dilma Rousseff e assumir a Presidência em meio à maior crise política e econômica da história. Temer virou o principal alvo do País, Dilma vive (quase) em paz.

Ela caiu ao perder as condições de governabilidade, diante da certeza de que o Brasil não suportaria mais dois anos de Dilma Rousseff. O que não se sabia é que, ao assumir, Temer viraria o maior vilão nacional. Deputado federal desde 1987, presidente da Câmara três vezes, presidente nacional do PMDB e vice-presidente da República por seis anos, ele sempre tinha passado incólume por investigações e denúncias.

Durante essas décadas, conviveu tranquilamente com o fantasma de suspeitas e maledicências sobre suas relações com o Porto de Santos. Um fantasma que nunca se materializara, até que... Bastou subir a rampa do Planalto e tudo mudou, a vida de Temer virou um inferno de denúncias, acusações, investigações. Sua biografia, que parecia condizente com um professor de Direito Constitucional, esfarelou. Até sua saúde sai abalada.

Não bastasse a gravação sorrateira de Joesley Batista e duas denúncias de Rodrigo Janot, Temer viu Romero Jucá despencar do Planejamento e Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima e Henrique Alves irem em fila para a prisão, com quase todos os seus assessores políticos. O que dizer de Rocha Loures e sua mala?

Bruno Boghossian: Eleição na bolha

- Folha de S. Paulo

Candidatos apelam a grupos cada vez mais homogêneos e estimulam guerra política

A nova pesquisa Datafolha sugere que candidatos e eleitores se concentram em bolhas cada vez mais isoladas a caminho da campanha. Presidenciáveis atraem grupos homogêneos em vez de expandir suas plataformas, empurrando a disputa para um cenário de segregação.

A aglomeração do eleitorado em nichos aponta para o risco de divisões regionais e sociais ainda mais intensas do que a polarização entre PT e PSDB que marcou a política nos últimos 24 anos.

Jair Bolsonaro (PSL), por exemplo, tem os votos de 26% dos homens, mas é a opção de apenas 12% das mulheres. No Centro-Sul, o militar atinge 21%, contra 12% no Nordeste. Pontua 25% entre eleitores com curso superior, mas só 11% entre brasileiros com ensino fundamental.

De outro lado, Lula (PT) atrai 38% dos eleitores de baixa renda e s ó 23% da população mais rica. Bate 49% no Nordeste, mas se limita a 22% no Centro-Sul. O ex-presidente não deve ser candidato, mas os dados revelam o perfil do espólio petista.

Ricardo Noblat: Temer e Lula sequestraram as próximas eleições

- Blog do Noblat | Veja

Abstenção, voto nulo ou em branco, um fenômeno em gestação

Michel Temer e Luiz Inácio Lula da Silva sequestraram as eleições de outubro próximo. Temer, pelo péssimo governo que faz. Lula, por ter sido condenado, preso e estar impedido de ser candidato. É o que mostra a mais recente pesquisa de opinião e de intenção de votos do Instituto Datafolha.

A grave dos caminhoneiros, a lenta recuperação da economia e as denúncias de corrupção que pesam contra ele promoveram Temer à condição de o mais impopular presidente da República desde o fim da ditadura militar de 64 em 1985. Simplesmente 82% dos brasileiros consideram seu governo ruim ou péssimo.

Sem Lula candidato, mais de um terço dos eleitores se dizem sem opção. Nesse caso, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) lidera com 19% das intenções de voto, seguido de perto por Marina Silva (REDE) com 15%, Ciro Gomes (PDT) com 11% e Geraldo Alckmin (PSDB) com 7%.

A impopularidade de Temer respinga no grau de confiança dos brasileiros nas instituições. Em abril último, 43% afirmaram confiar muito nos militares. Agora, 37%. Não confiam nos partidos políticos 68%, no Congresso 67%, na presidência 64%, no Supremo Tribunal Federal 39% e na imprensa 37%.

Mais de 40% dos eleitores de Lula dizem que não sabem em quem votar. Quando testados, Fernando Haddad e Jaques Wagner que poderão substituir Lula como candidato do PT alcançam apenas 1% das intenções de voto. Continua recorde o percentual dos que pretendem anular o voto ou não votar.

Sérgio Besserman Vianna: Meio ambiente não existe

- O Globo

A escolha do tamanho do estrago e dos prejuízos ao bem-estar da humanidade ainda está em nossas mãos

Terminando a semana do meio ambiente, vale a pena bagunçar um pouco a mente e pensar fora da caixa. Em primeiro lugar, não existe isso de “meio ambiente”. Ou mesmo “ambiente”. Ou environment em inglês e o mesmo em todas as línguas ocidentais. Todas essas palavras expressam “ao redor”, isto é , nós, os humanos e o “ao redor”, a natureza.

Essa separação não existe. Nós somos parte da natureza e vivemos na biosfera com o mesmo grau de dependência do fato de vivermos na atmosfera. Apenas como exemplo, dentro de cada um de nós, há centenas de trilhões de outros seres vivos, e nossa saúde, humor e até capacidades mentais dependem dessa interação.

Cada um de nós é um ecossistema e para muitos pesquisadores essa é uma fronteira da medicina moderna tão promissora quanto as células-tronco, a engenharia de tecidos orgânicos.

Em segundo lugar, embora a humanidade tenha logrado obter imensos poderes, ao ponto de a ciência estar a discutir denominar a nossa era geológica de antropoceno (sobre isso, vale muito uma visita ao Museu do Amanhã, na Zona Portuária do Rio de Janeiro), isso é verdade apenas no nosso tempo, o tempo humano, insignificantemente curto frente à imensidão do tempo da natureza. Estamos degradando severamente a natureza do nosso tempo. Crises e custos muito elevados decorrentes das mudanças climáticas, da crise de biodiversidade e outros “Limites do Planeta” já estão contratados. Já não são mais evitáveis mesmo nos cenários mais otimistas.

Vinicius Torres Freire: Recaída na crise e nojo de reformas

- Folha de S. Paulo

Quinto ano de sofrimento e Temer empesteiam ideia de reformas na campanha eleitoral

Na média, o desemprego em 2018 não deve ser muito diferente do que se viu em 2017. Algo em torno de 12,5%, dizem chutes informados de boas casas do ramo de previsões. Desemprego alto e persistente é uma draga de salários.

Reajustes mais baixos e inflação um tico mais alta devem jogar pelo ralo mais um tanto do aumento do renda média real de 2018, que não deve chegar à metade do ritmo do ano passado (que havia sido de alta de 2,4%).

O nível de precarização do emprego deve ser igual ou maior. Pesquisas indicam mais receio de piora no mercado de trabalho, desde fevereiro.

Como o povo que leva esta vida vai julgar programas de governo que preguem reformas? Claro que, posta assim, a expressão “reformas” não quer dizer grande coisa.

As mudanças propostas poderiam, por exemplo, até fazer parte de um plano amplo e inteligente de acordo nacional, de uma candidatura que inspirasse esperança e o sentimento de que haverá redistribuição mais justa de perdas.

Mas não temos inteligência, ideias de acordo social e candidaturas que inspirem confiança, pelo menos até agora.

A palavra “reformas” está associada a Michel Temer, politicamente pestilencial. A estagnação econômica deve aumentar a antipatia pela ideia, ao menos no pacote em que vinha sendo apresentada até agora.

Samuel Pessôa: Não estamos nos anos 1990

- Folha de S. Paulo

O mercado opera como se estivéssemos no passado; hoje, o Estado é credor em dólar

Até algumas semanas atrás os investidores acreditavam que a sociedade elegeria um presidente centrista e estariam dadas as condições para a aprovação da reforma previdenciária e outras medidas necessárias para reconstrução do equilíbrio fiscal. Aparentemente, o mercado não acredita mais nessa tese.

Os investidores têm produzido forte processo de desvalorização da moeda e a aposta de que o Banco Central terá de subir os juros. Gestores do mercado entendem que os juros estão muito baixos, o que produz pressão pela saída de recursos.

A lógica dos gestores é que o regime cambial vigente no Brasil é de câmbio fixo ou administrado, e, portanto, a política monetária deve ser empregada para defender a moeda.

Diferentemente, operamos no regime de metas de inflação.

A taxa de juros é o instrumento regulador da demanda agregada. Se há excesso de demanda e, portanto, pressão inflacionária, os juros devem ser elevados. Se há carência de demanda agregada e, portanto, pressão desinflacionária, os juros devem ser reduzidos. Caso contrário, os juros devem ser mantidos.

A taxa de câmbio é livremente determinada pelo mercado. O papel do Banco Central é reduzir a variabilidade da cotação do câmbio. Em ano eleitoral, em que é natural maior incerteza quanto aos rumos futuros da política econômica, a necessidade de suavizar esses movimentos é maior.

O processo inflacionário está bem-comportado. Há dois choques externos, desvalorização de todas as moedas com relação ao dólar e elevação do preço internacional do petróleo, e o choque doméstico produzido pelo movimento dos caminhoneiros. Esses três choques adicionarão, provavelmente, um ponto percentual na inflação de 2018. Em vez de o IPCA fechar o ano na casa de 3%, fechará em torno de 4%.

José Roberto Mendonça de Barros*: O desmonte da recuperação

- O Estado de S.Paulo

Não veio a esperada difusão positiva sobre os segmentos que estavam mais atrasados

Desde o segundo trimestre do ano passado assistimos a uma recuperação da atividade que parecia bastante robusta. Embora o crescimento no ano tenha sido de apenas 1%, a evolução ao longo do tempo projetava algo como 3% a 3,5% para 2018.

Essa era minha expectativa, e ela se revelou um erro. De fato, durante o primeiro trimestre os números foram seguidamente frustrantes, o que levou a uma redução nas projeções de crescimento feitas pela maior parte dos analistas, inclusive pela MB, para a faixa de 2,5%.

O que foi específico deste ano é que os setores que puxaram a recuperação continuaram a performar bem no início do ano.

Falo de segmentos da indústria de transformação, como bens de consumo duráveis e bens de capital, cujos resultados no primeiro quadrimestre foram bastante bons. Os primeiros indicavam crescimento tanto em veículos quanto em utilidades domésticas e bens de consumo eletrônicos, nesse caso estimulados também por uma importante expansão no crédito para as famílias.

Em máquinas, mencionamos mais de uma vez, uma situação também peculiar no mercado interno: apesar da ausência de grandes projetos novos, muitas companhias estavam repondo parte dos equipamentos desgastados e não substituídos nos últimos anos. Além disso, as exportações de equipamentos foram muito boas até abril. Ainda no lado da produção, mineração e petróleo andam bastante bem, como atesta o bem-sucedido leilão na última semana.

Finalmente, o setor agropecuário conseguiu manter e até aumentar um pouco o elevado patamar de produção obtido em 2017. Do lado da demanda, exportações e consumo das famílias davam suporte a esse desempenho.

Rolf Kuntz: Um governo sem rumo e sem autoridade

- O Estado de S.Paulo

O presidente preferiu dialogar a assumir sua responsabilidade e jogou o Brasil no caos

Incompetência, fraqueza, ignorância e despreparo. Pode haver palavras mais duras, mas nenhuma expressão mais suave, para explicar os erros cometidos pelo governo, sob responsabilidade do presidente Michel Temer, em reação à crise no transporte rodoviário. É enorme a lista de barbaridades: piso para o frete, subsídio bilionário a transportadores, tentativa de regular preços nas bombas, fiscalização anacrônica, desordem no Orçamento da União, aumento de custos para os setores produtivos, ampliação da incerteza econômica e, naturalmente, riscos novos para a Petrobrás, ainda em recuperação dos estragos causados pela gestão petista. Ao deixar-se acuar, o presidente cedeu rapidamente às imposições dos caminhoneiros grevistas e, segundo autoridades federais, de empresas culpadas de locaute. Prevaleceu, segundo Temer, a vocação do governo para o diálogo. Mas a explicação apenas confirma um erro deliberado. Ao escolher esse caminho, ele renunciou à autoridade, abandonou a responsabilidade correspondente, depreciou o próprio cargo e se curvou a criminosos – porque o bloqueio de estradas é crime, assim como o locaute.

Poderia ter recebido as queixas até com simpatia, mas só deveria discutir soluções depois do retorno à legalidade – fim da interrupção do tráfego rodoviário e de qualquer manobra de locaute. Até a trégua encenada, com o estacionamento dos caminhões nos acostamentos, foi irregular, por ser uma evidente violação das normas de trânsito e dos princípios de segurança. Acostamento é só para emergências, como sabe qualquer motorista licenciado honestamente.

A precipitação e o despreparo do presidente e de seus auxiliares e conselheiros mais próximos ficaram escancarados, até para os mais distraídos, quando produtores e exportadores começaram a reclamar dos novos fretes, impostos por decisão do governo.

As operações com grãos foram interrompidas enquanto empresários protestavam. A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) pediu em ofício ao presidente da República a suspensão da tabela de preços mínimos para o transporte rodoviário, mencionando alta de 51% a 152% no frete.

Marcos Lisboa: A boa política

- Folha de S. Paulo

Cabe a políticos dialogar para respeitar o Estado de direito e não ceder a pressões

Há muito com o que se preocupar nos tempos atuais, sobretudo a rejeição da boa política.

O país enfrenta dificuldades para conciliar interesses divergentes em meio a uma economia que não tem como atender a todos os pedidos. Já há muito se sabe que os benefícios concedidos pelo governo não cabem no Orçamento.

Apesar disso, grupos organizados se mobilizam para pedir novos benefícios ou impedir a revisão dos seus privilégios.

A lista é longa. Servidores públicos fazem greve branca para garantir reajustes salariais apesar da perda de renda do restante da população. O bolo ficou menor depois da recessão, mas as dificuldades são irrelevantes para quem demanda seu butim.

Setores produtivos privilegiados com desonerações se recusam a pagar impostos como o restante da sociedade. Outros, como a agricultura recentemente, conseguem novos benefícios. Dane-se a restrição fiscal.

Sem propostas claras, candidatos aumentam o risco político: Editorial | O Globo

Faltam 15 semanas para as eleições gerais. Até agora, no entanto, os 146,6 milhões de eleitores brasileiros não têm a menor ideia do que pensam os candidatos sobre o futuro do país.

Predomina a retórica da rejeição, do negativismo e da desqualificação dos adversários potenciais, como se participassem de concurso para escolha do “menos ruim”. Insistem na alienação da realidade, conflituosa, marcada pela profunda desigualdade social e regida por um estado inflado, disfuncional e em crise fiscal.

Os desequilíbrios nas contas públicas aumentam, com consequências visíveis nas ruas. Estão evidentes nas filas nos hospitais, na baixa qualidade educacional, no alto desemprego, na estagnação dos negócios, no declínio da produtividade e na decadência da infraestrutura.

Na desvalorização do real, que impôs ao Banco Central a oferta imediata de US$ 20 bilhões para conter o dólar em alta, está outro indicador dos custos desse grave impasse político. A pouco mais de 100 dias da eleição, no entanto, candidatos a presidente, governador, senador e deputado seguem sonegando aos eleitores suas propostas de rota para saída da crise e retomada do desenvolvimento.

A fórmula foi usada intensivamente na última década e meia. Desenvolve-se a campanha com slogans fúteis, agressões verbais e, às vésperas do primeiro turno, ideias são esboçadas no rádio e na televisão. Se eleito, as intenções são divulgadas em fascículos. No início do governo, o eleitor percebe que avalizou um programa que, em geral, o decepciona. Abre-se um novo ciclo de crise de confiança.

Protecionismo pouco visível atrasa o país: Editorial | O Globo

Há erros na condução da macroeconomia, mas existem falhas cometidas por meio de regulações e normas setoriais que também causam grandes estragos

O campo minado da economia à frente do próximo presidente da República não se limita ao espaço fiscal, onde estão montadas armadilhas conhecidas. Além da Previdência, a maior delas, há a indexação de gastos ditos sociais, existe um Orçamento engessado em despesas carimbadas, que limitam quase todo o poder de decisão do administrador público, entre tantas outras. Mas as distorções acumuladas por políticas econômicas enviesadas não se esgotam na macroeconomia. Incontáveis regras setoriais também geram resultados negativos importantes para o país.

Há um conjunto delas no comércio exterior. Isoladas, podem não dizer muito, mas juntas apontam na direção do atraso, porque estão invariavelmente contaminadas da ideologia do protecionismo, da substituição de importações, que acompanha o Brasil desde sempre.

Pratica-se, às vezes de maneira escamoteada, a ideia equivocada de que barreiras à importação estimulam a produção interna daquilo que se quer comprar no exterior. Não se questiona se é viável, em custos e qualidade, a substituição do bem ou serviço importado. Na maioria dos casos, é melhor, para o conjunto da sociedade, importar.

Os avestruzes: Editorial | O Estado de S. Paulo

A maioria absoluta dos eleitores brasileiros (61%) não votaria em candidatos a presidente que propusessem a privatização da Petrobrás, mostra pesquisa da Ipsos veiculada pelo jornal Valor. O porcentual de rejeição chega a 62% quando a pergunta é sobre a privatização do Banco do Brasil. Também é bastante significativo – 57% – o índice dos que descartam votar em quem defende a reforma da Previdência.

Os resultados não diferem de algumas outras enquetes feitas a propósito dos mesmos temas – todas apontaram uma considerável objeção às privatizações e à reforma do sistema previdenciário. Esta última pesquisa explicita esse componente da intenção de voto do entrevistado – e, com isso, aponta a dificuldade que candidatos de centro podem ter para sustentar a bandeira da redução do tamanho do Estado.

No entanto, paradoxalmente, a mesma pesquisa indica que 68% dos entrevistados dizem que pretendem apoiar candidatos que prometerem reduzir os gastos públicos. Trata-se de uma evidente contradição, pois é justamente a manutenção de gigantescas estatais, cuja simples existência distorce as relações de mercado, que contribui substancialmente para estropiar as contas públicas. A contradição fica ainda mais gritante quando se compara esse apoio ao corte de gastos com a rejeição a candidatos que defenderem a reforma da Previdência – crucial para amainar a crise fiscal no País. Não se pode querer uma coisa sem levar em conta a outra.

O d. Sebastião de Curitiba: Editorial | O Estado de S. Paulo

O PT anunciou o lançamento da pré-candidatura presidencial de Lula da Silva, como se fosse a volta de d. Sebastião – o rei português que desapareceu numa batalha em 1578 e cujo retorno era esperado para salvar o reino da crise que se estabeleceu após sua partida, “quer ele venha, quer não”. Mas o sebastianismo petista é uma deliberada tapeação. Enquanto o corpo de d. Sebastião nunca reapareceu, todo mundo sabe muito bem onde está Lula: numa cela em Curitiba, cumprindo pena por corrupção e lavagem de dinheiro.

A anunciada “candidatura” de Lula, portanto, precisa de aspas. A Lei da Ficha Limpa impede que o ex-presidente tenha sua postulação deferida pela Justiça Eleitoral. O PT insiste que seu chefão é preso político, pois nada teria sido provado contra ele, razão pela qual a defesa de Lula acredita que, no momento do registro, sua candidatura terá de ser aceita, ainda que em caráter liminar. O partido não esconde que pretende causar o máximo possível de confusão legal até a eleição para que o nome de Lula esteja na urna eletrônica, com consequências imprevisíveis para o resultado formal do pleito.

Enquanto isso, o PT preparou material de campanha no qual, além de insistir na libertação de Lula, explora a crise atual para dizer que somente com a eleição do ex-presidente “o Brasil vai ser feliz de novo”. Há até uma imagem em que alguém recoloca o retrato de Lula na parede, com faixa presidencial e tudo, lembrando a marchinha de 1950 cujo refrão “bota o retrato do velho outra vez” embalou a volta de Getúlio Vargas, o “pai dos pobres”, ao poder naquele ano.

No jingle lulopetista, o refrão é “chama que o homem dá jeito”, depois de imagens que retratam o desemprego e a greve dos caminhoneiros, embaladas por uma letra que diz: “Meu querido Brasil, o que fizeram com você?”. Nos “braços do povo”, Lula então se apresenta como o único capaz de enfrentar os “poderosos” e fazer “chegar a primavera”.

É evidente que, em campanhas eleitorais, não se deve esperar que partidos deixem de exaltar qualidades de seus candidatos, mas no caso da campanha de Lula o que há é pura e simples fraude.

Menos cenários: Editorial | Folha de S. Paulo

Com desempenho pífio de nomes identificados com a renovação, Datafolha mostra postulantes conhecidos em destaque na corrida presidencial

Embora não tenha apresentado mudanças mais drásticas em relação ao levantamento anterior, a apuração das intenções de voto para a Presidência da República pela mais recente pesquisa Datafolha sugere a decantação de um quadro de candidaturas menos incerto e mais tradicional.

Em que pese a presença de Jair Bolsonaro (PSL) na liderança, com 19% das preferências nos cenários sem o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), são postulantes experimentados em pleitos passados que aparecem nas demais posições de destaque.

Estes são Marina Silva (Rede), com 14% ou 15%, Ciro Gomes (PDT), com 10% ou 11%, e Geraldo Alckmin (PSDB), com 7%. Dos três, só o pedetista apresenta alguma oscilação positiva em relação aos números de abril, mas dentro da margem de erro de dois pontos percentuais.

A saída do páreo de outsiders mais cotados —como Joaquim Barbosa (PSB), ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal— e o desempenho insignificante de pré-candidatos que buscam se identificar com a ideia de renovação política contribuem para o delineamento de uma disputa relativamente menos imprevisível.

Ainda há, contudo, incógnitas importantes a considerar, além da recomendável cautela em prognósticos a quatro meses —e uma Copa do Mundo— da eleição.

A principal incerteza diz respeito ao candidato petista. No único cenário com seu nome, Lula lidera, com 30% das intenções. Mas a insistência do partido em sustentar a pré-candidatura, quando se sabe que o ex-presidente será vetado pela Lei da Ficha Limpa, deixa uma lacuna num jogo em que o lulismo é fator relevante.

O preço da manipulação: Editorial | Folha de S. Paulo

Planalto adota estratégia discutível e reedita alguns dos piores momentos da história econômica do país

Para fazer cessar a paralisação dos caminhoneiros, o governo Michel Temer (MDB) fez mais do que ceder a exigências que precarizam o equilíbrio orçamentário.

O Planalto também prometeu o que não tem condições de entregar —a saber, que o desconto de R$ 0,46 aplicado no preço do litro do óleo diesel nas refinarias chegará ao consumidor final.

Agora, no afã de cumprir o acordado, adota estratégia de discutível juridicidade e que reedita alguns dos piores momentos da história econômica do país.

O ponto central é que a livre iniciativa está consagrada em nosso ordenamento legal, de modo que a intervenção do Estado no mercado —o que inclui interferir em preços praticados por agentes privados— só pode ocorrer em casos autorizados pela Constituição e definidos em lei. A legislação, acrescente-se, acumula falhas e vícios.

O Brasil perdeu o centro?

Um centro fora do eixo?

Os partidos tradicionais seguem na contramão dos anseios da população, ao apresentar alternativas eleitorais que representam velhos e surrados métodos de fazer política. O resultado é o desalento do eleitor, hoje em busca de um candidato que personifique o novo

Rudolfo Lago, Ary Filgueira, Tábata Viapiana | Revista IstoÈ

Os brasileiros já deram caudalosas demonstrações de que estão em busca de um candidato capaz de encarnar a renovação política. Alguém dotado de credibilidade, sobre o qual não pese qualquer suspeita, e que personifique o tripé “eficiência, modernidade de gestão e sensibilidade social”. São exatamente os predicados que os ungidos pelos partidos tradicionais não conseguiram apresentar até agora. Pelo contrário, insistem no jogo surrado de velhas práticas e fórmulas. Ensaiam uma espécie de teatro do “mais do mesmo”, que, em vez de empolgar, provoca fastio no eleitor. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Idea Big Data entre os dias 8 e 13 de maio explicita esse sentimento de desalento.

De acordo com o levantamento, 56% dos entrevistados não têm vontade de reeleger político algum nas próximas eleições. E 64% não pretendem votar em ninguém indicado até agora pelas agremiações clássicas e que esteja de alguma forma envolvido com a Operação Lava Jato ou qualquer outra das investigações sobre corrupção em curso, ainda que inocentes. Se as pesquisas eleitorais indicam tal situação, as urnas mostraram o efeito concreto dessa sensação na eleição extraordinária ocorrida no Tocantins no domingo 3. Nada menos que 43,5% dos eleitores anularam o voto, votaram em branco ou não compareceram aos postos de votação. O cenário de abatimento, que impõe ao eleitor uma prostração preocupante, se reproduz pelo País. Já quando são apresentadas caras novas, prevalece o reverso da moeda. Foi assim entre novembro do ano passado e abril deste ano, quando surgiram rumores de que o apresentador de TV Luciano Huck e o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa poderiam se lançar na disputa.

Mesmo sem confirmarem oficialmente suas candidaturas, ambos largaram na corrida eleitoral com dois dígitos, índices que a maioria dos candidatos ainda sua a camisa e gasta sola de sapato para alcançar. “Há um claro sentimento de renovação por parte do eleitorado que as opções atuais não explicitam”, atesta Murilo Hidalgo, do Instituto Paraná Pesquisas. Em outubro do ano passado, uma pesquisa realizada por ele já exibia esse quadro. De acordo com o levantamento, àquela altura 59,4% dos entrevistados diziam querer votar “em um candidato novo”, mesmo que não fosse muito conhecido – um perfil que se convencionou chamar de “outsider”. “Um candidato outsider, de fora, teria naturalmente muita chance de sucesso nestas eleições”, avalia Hidalgo.

Doria ressurge como opção
Resta cada vez mais claro que parcela expressiva da população persegue um nome de centro, na acepção da palavra. Um postulante centrado que inspira confiança e traduza o equilíbrio, em contraposição ao extremismo que floresce à esquerda e à direita. De um lado, o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro (PSL), um político capaz de comparar a autorização dos ditadores do regime militar para executar opositores com mera “palmada no bumbum”. Do outro, o aspirante do PDT, o temperamental Ciro Gomes, que destila números equivocados sobre a economia e morde e assopra no reduto de Lula, como quem troca de abadá no carnaval. E em outra trincheira, mais próxima de Ciro, um PT que insiste em manter a candidatura de alguém que está preso, barrado pela Lei da Ficha Limpa e condenado a mais de 12 anos de detenção.

A opção mais lembrada para reaglutinar o centro é a de João Doria, prefeito de São Paulo, hoje pré-candidato ao governo do Estado. Foi o que revelou uma consulta às bases de MDB, DEM e PSDB. Além de personificar o “novo” que o eleitorado tanto procura e exibir currículo ainda imaculado, ao contrário do atual candidato tucano ao Planalto, Geraldo Alckmin, Doria é identificado como um político com “punch” e retórica contundente, alguém talhado para enfrentar na campanha os aspirantes situados nos extremos, hoje donos de discursos cáusticos. Na última semana, pesquisa do site Poder 360 colocou a alternativa na mesa. Em um dos cenários, Doria aparece empatado com Alckmin, mesmo estando fora da campanha presidencial. Um levantamento realizado pelo PSDB vai além: indica que Doria teria muito mais potencial de crescimento, caso entrasse na corrida eleitoral para valer. Não por acaso o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso permanece como um dos entusiastas da opção Doria. Nos últimos dias, confidenciou o desejo a pelo menos dois interlocutores. Para o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, o PSDB deveria arriscar a troca. “Minha opinião é que o PSDB está perdendo o bonde da história. Alckmin foi governador quatro vezes. E as pesquisas mostram que Bolsonaro ganha dele em São Paulo. Como pode isso? Doria poderia unificar esse centro. Só não sei se o PSDB teria cabeça fria suficiente para trocá-lo”.

Pólo democrático
Em princípio, parece que não. O tucanato, aparentemente à exceção de FHC, articula-se como se tivesse compromisso com o erro. Na última semana, os chamados partidos do espectro político de centro, PSDB incluído, voltaram a bater cabeça. Há entre eles quem acerte em cheio no diagnóstico, mas falhe gravemente na busca pela solução. “Nos últimos anos, tivemos a polarização de uma disputa entre o PSDB e o PT. Só que isso provavelmente não vai se repetir este ano. Diante desse sentimento novo, é nossa obrigação evitar que o País caia nas mãos de um aventureiro”, disse a ISTOÉ o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG). Pestana é um dos articuladores do Manifesto por um Pólo Democrático, que nos últimos dias começou a ganhar força ao tentar unir as candidaturas de centro. “O quadro parece repetir o que aconteceu em 1989, quando ninguém do campo democrático teve força para ir ao segundo turno. O resultado nós sabemos qual foi”, prossegue ele. Em 1989, Fernando Collor elegeu-se presidente. Como uma de suas primeiras medidas, confiscou o dinheiro nas contas bancárias e de poupança do brasileiro. Não conseguiu conter a hiperinflação e acabou caindo em um processo de impeachment, quando desvendou-se o esquema de corrupção em seu governo.

Bolsonaro contradiz passado estatizante

Pré-candidato do PSL a presidente, o deputado Jair Bolsonaro adotou discurso liberal, acenando para o mercado. É uma guinada radical em relação a seu histórico no Congresso, onde votou a favor de pautas estatizantes.

Ao sabor do vento

Pré-candidato, Bolsonaro acena ao mercado, deputado votou a favor de pautas estatizantes

Igor Mello e Marco Grillo | O Globo

O deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) foi contra a reforma da Previdência, a favor da participação obrigatória da Petrobras na exploração dos campos do pré-sal e defendeu a criação de mais estruturas do Poder Judiciário. Já o pré-candidato a presidente Bolsonaro é um entusiasta da redução do número de estatais, quer menos interferência do Estado nas atividades empresariais e é contrário à expansão dos gastos públicos.

Na tentativa de se tornar mais palatável ao empresariado e ao mercado financeiro, Bolsonaro tem suavizado a retórica estatizante e intervencionista que marca sua atuação na Câmara dos Deputados. Na última semana, O GLOBO analisou a votação do deputado em 20 projetos de lei relacionados a temas econômicos que tramitaram no Congresso nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). Os votos, frequentemente, entram em contradição com o viés liberal que tenta exibir em sua pré-campanha à Presidência — Jair Bolsonaro incorporou à equipe o economista Paulo Guedastro identificado com a corrente econômica.

Os contrastes mais aparentes surgem nos assuntos relacionados à Previdência. Além de ter sido contra a reforma feita no governo Lula, votou a favor da flexibilização do fator previdenciário e contra a criação de um fundo complementar para os servidores públicos. As decisões são contrárias à agenda de redução de gastos públicos.

“A reforma da Previdência, como está sendo proposta pelo governo do PT, visa apenas a duas coisas: fazer a alegria dos empresários do segmento da Previdência privada a longo prazo e conseguir economia de caixa a curto prazo para fazer superávit primário; ou seja, retirar dos já miseráveis aposentados para pagar juros a banqueiros”, disse, na tribuna da Câmara, em março de 2003.

A análise das votações mostra ainda uma oscilação entre posições econômicas ortodoxas, associadas à direita, e desenvolvimentistas, à esquerda. Um exemplo é o posicionamento em relação à Petrobras. Em 2010, no fim do governo Lula, Bolsonaro votou com o PT a favor do projeto que instituiu o regime de partilha no pré-sal e a participação obrigatória da estatal na exploração dos campos. Seis anos depois, já no governo Temer, se alinhou com PMDB e PSDB na aprovação da proposta que acabava com a participação obrigatória da Petrobras.

“BOLSONARO NÃO TEM CONVICÇÃO NA ECONOMIA”
Para André Perfeito, economista-chefe da corretora Spinelli, a disparada do dólar e a queda da bolsa de valores nos últimos dias mostram que o mercado vê como forte a chance de um segundo turno entre Bolsonaro e Ciro Gomes (PDT) — outro pré-candidato associado a medidas pouco ortodoxas na economia. Ele avalia que Bolsonaro tem um perfil “estatista”.

— Bolsonaro não tem nenhuma convicção na economia. Vai ao sabor do vento. Quem vota no Bolsonaro não está votando no Paulo Guedes — alerta. — Essa atitude bastante irregular do Bolsonaro em relação às reformas faz sentido. Um homem que defende a ditadura vai ser a favor do “petróleo é nosso”, por exemplo.

Número de nanicos na disputa cairá à metade

Pré-candidatos com 1% nas pesquisas mantêm discurso, mas partidos já ensaiam desistência após a Copa

Jeferson Ribeiro e Fernanda Krakovics | O Globo

O cenário político incerto, as ambições pessoais e a estratégia dos partidos ainda alimentam o quadro fragmentado da disputa presidencial, que deve persistir até o começo de julho. Até lá, dirigentes partidários e concorrentes que se anunciam pré-candidatos a presidente não veem motivos para abrir mão da possibilidade de concorrer. Quando passar a Copa do Mundo, porém, ao menos seis dos atuais 13 pré-candidatos com no máximo 1% das intenções de voto nas pesquisas farão os primeiros movimentos de desistência.

Devem sair da disputa, nas próximas semanas, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), o empresário Flávio Rocha (PRB), o economista Paulo Rabello de Castro (PSC) e o ex-ministro Aldo Rebelo (SD). Outros virtuais candidatos, como Valéria Monteiro e o cirurgião plástico Dr. Rey, já estão fora da disputa, seja por decisão pessoal ou do partido.

Como as convenções partidárias neste ano só começam a partir de 20 de julho, os partidos dos quatro últimos vão manter as pré-candidaturas mesmo que eles não melhorem seu desempenho nas pesquisas. As legendas do centrão (PP, PRB, DEM, PSC, Solidariedade e PR) adotaram essa estratégia e querem caminhar juntos para uma decisão que só deve ser conhecida depois de 10 de julho, segundo o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho da Força, um dos porta-vozes do grupo.

— Agora em junho, todos ainda vão tentar se viabilizar. Não tem por que o Aldo retirar a pré-candidatura nesse momento, com todo muito confuso. Ele está viajando o país todo. Vai continuar assim neste mês — disse Paulinho.

A estratégia do centrão, porém, tem limitações. Manter a coesão até julho é uma delas. PP e PR, que não anunciaram pré-candidatos à Presidência, são alvo de investidas de presidenciáveis como Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Jair Bolsonaro (PSL). Os três estão mais bem colocados nas pesquisas e tentam formar alianças. Se essas legendas se aliarem a essas candidaturas antes de julho, a coesão sofre abalos e aí o ritmo das desistências deve aumentar.

No DEM, já há um consenso para retirar a pré-candidatura do presidente da Câmara, mas esse anúncio só será feito quando o partido fechar apoio a outra legenda. Hoje, o partido está dividido entre apoiar Alckmin ou Ciro, desde que ele concorde em conduzir sua postura mais para o centro.

— Queremos ganhar um pouco mais de tempo. No caso do Alckmin, não tem nem clima para a gente anunciar apoio agora, com a campanha dele cheia de problemas — disse uma liderança do DEM.

Por barganha, centrão vai adiar ao máximo apoio a presidenciáveis

Partidos como o PP esperarão cenário mais claro para definir alianças

Maria Lima e Bruno Góes | O Globo

-BRASÍLIA- O pragmatismo vai ditar os rumos do PP na disputa para presidente da República. Principal e mais forte partido do centrão, o PP só irá jogar suas fichas no cavalo ganhador e vai esperar até o último minuto para medir a temperatura e farejar o candidato com mais chances de chegar ao Planalto. Não hesitará, por exemplo, em abandonar a articulação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tenta comandar um blocão formado por DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade para atuar de forma conjunta na eleição presidencial e ter influência também na próxima legislatura do Congresso Nacional.

O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), se define como homem pragmático e diz que não há nada decidido nem em relação ao blocão de Maia, nem sobre o candidato a presidente que terá o apoio e o tempo de TV do partido. O mais provável é apoiar um candidato, mas liberar o partido para alianças com outras siglas nas eleições estaduais. Foi a fórmula bemsucedida empregada pelo PP em 2010, quando a legenda integrou oficialmente a chapa do PT que elegeu Dilma Rousseff para o Palácio do Planalto.

Pelo levantamento informal feito por integrantes do PP, hoje são 11 os diretórios estaduais mais propensos a apoiar, nacionalmente, o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin (RS, ES, RJ, SC, GO, DF, MT, PR, SP, PA, AC).

Como o PP é bem forte no Nordeste, em segundo lugar nas preferências vem o précandidato do PDT, o cearense Ciro Gomes, com oito diretórios a seu favor (PI, PB, SE, CE, PE, MS, RN, AL). O pré-candidato do MDB, Henrique Meirelles, tem a preferência de três executivas estaduais (MG, RO, RR). Com o pré-candidato do PT, seja ele o ex-presidente Lula ou outro, estão os diretórios da Bahia e do Maranhão.

Apesar da divisão interna, o PP mantém conversas frequentes com DEM, PR, PRB e Solidariedade. Essas legendas ora sinalizam um caminho em comum, ora indicam que se separarão. O DEM decidiu sepultar a candidatura de Rodrigo Maia à Presidência e se mostra dividido entre Ciro, Alckmin e Josué Gomes (PR).

Pré-candidatos antecipam horário eleitoral na internet

Eleições. Pré-candidatos ao Planalto produzem para redes sociais programas políticos no estilo usado na TV; propaganda em rede nacional só vai começar no dia 31 de agosto

Adriana Ferraz | O Estado de S. Paulo.

Presidenciáveis usam as redes sociais para divulgar programas políticos nos mesmos moldes daqueles veiculados no rádio e na TV, numa antecipação do horário eleitoral, que só começa em 31 de agosto. Com produções caprichadas e até jingles, eles fazem posts patrocinados, novidade desta eleição, para ampliar o alcance.

O horário eleitoral só começa no dia 31 de agosto, mas na internet pré-candidatos se antecipam a esse prazo e veiculam em suas redes sociais programas políticos no estilo usado para pedir votos na TV e no rádio. Em busca da confirmação de suas candidaturas, em meio à pulverização de postulantes ao Planalto, a maioria dos presidenciáveis tem apelado para filmes bem produzidos que ainda viram posts patrocinados para ampliar o alcance ou atingir públicos específicos.

Pagar anúncios em redes sociais é mais uma novidade desta eleição. A ferramenta está liberada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desde que registrada somente por candidatos, partidos ou coligações – medida que visa a combater fake news por meio de páginas anônimas ou perfis falsos. Faltam regras, no entanto, quando o assunto é prestação de contas. Como se trata de um investimento de pré-campanha, os custos não precisam ser obrigatoriamente revelados.

Se antes a fórmula usada em posts com ou sem patrocínio era mostrar falas dos pré-candidatos em entrevistas ou palestras, captadas sem uma prévia produção, agora a regra é divulgar filmes com roteiro, ilustrações, legendas, locução e até jingles. Flávio Rocha (PRB), por exemplo, convocou a dupla sertaneja Mateus & Cristiano para gravar seu slogan: “Com Flávio Rocha tudo vai ser novo, é a esperança, a vontade do povo”.

Adepto do discurso que prioriza a gestão e não a política, Rocha abusa de temas como o empreendedorismo e nacionalismo em seus vídeos. Em linguagem popular e com narrativa dinâmica, as produções são repletas de ilustrações que retratam as principais bandeiras do pré-candidato, como o combate aos privilégios e ao alto custo do Estado.

O PT, que tem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – condenado e preso pela Lava Jato – como pré-candidato à Presidência, também já encomendou um jingle para impulsionar a campanha nas redes sociais. Com qualidade de TV, o filme expõe o caos gerado no País pela crise financeira para vender o nome de Lula como a salvação – para o “Brasil ser feliz de novo.” Nenhuma citação às acusações que envolvem o nome do petista ou à origem da crise econômica.

‘Maioria força a barra’, avalia cientista político

- O Estado de S. Paulo.

Narrativas que apelam à emoção, que fogem da realidade e que não necessariamente relevam características dos políticos que pleiteiam ver seus nomes nas urnas em outubro. Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV-SP, os vídeos divulgados pelos presidenciáveis são peças publicitárias, feitas apenas para valorizar a figura dos pré-candidatos e não necessariamente informar o eleitor sobre o contexto político do País.

“A maioria força a barra. Qualquer avaliação mais crítica revela as diferenças entre o que se mostra e a realidade dos fatos. O vídeo da pré-candidatura do Lula, por exemplo, é quase um documentário. Um filme para apaixonados, que relaciona a crise que vivemos apenas ao governo de Michel Temer. É como se Lula, Dilma e o PT não tivessem nada a ver com isso”, diz Teixeira.

Após atos de 2013, desgaste da política se acentua

Para analistas, atos que tomaram o País há 5 anos impulsionaram a Lava Jato, enfraqueceram os partidos e levaram a descrédito generalizado

Fabio Leite, Luiz Raatz e Alex Tajra | O Estado de S. Paulo.

Mais de um milhão de pessoas tomaram as ruas de 75 cidades do País em 20 de junho de 2013, no ápice de uma crise que começou com uma série de protestos contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo. Com o reajuste revogado na véspera, aquela noite viu os gritos “Sem partido!” tornarem-se a marca do movimento difuso, numa inédita rejeição à política tradicional que rende consequências cinco anos depois, às vésperas de uma eleição presidencial.

Analistas ouvidos pelo Estado avaliam que a ruptura entre a sociedade e os políticos que explodiu em 2013 criou um descrédito generalizado com a política, que, em outubro, pode beneficiar candidatos com personalidade forte, com a imagem ligada à autoridade e à ordem, como Jair Bolsonaro (PSL) e, em menor medida, Ciro Gomes (PDT).

Para o cientista político Marco Aurélio Nogueira, partidos e governos, à direita e à esquerda, perderam com as jornadas de junho. Eventos subsequentes, como a Lava Jato, as promessas do segundo governo Dilma e seu impeachment ampliaram esse processo de descrença. A popularidade do discurso anticorrupção, por sua vez, aprofundou a rejeição à política tradicional.

“O Bolsonaro é quem tira mais vantagem dessa situação. Ele se apresenta acima dos partidos e suas soluções para os problemas do País passam pela força e pela autoridade para garantir a ordem”, diz Nogueira. “No caso do Ciro, há elementos parecidos. Eles representam um centralismo, a figura do presidente forte.”

Elio Gaspari: 26 de junho de 1968: a alvorada da treva

- O Globo

Daqui a duas semanas serão lembrados os 50 anos da “Passeata dos Cem Mil", a bonita jornada durante a qual o Centro do Rio foi tomado por milhares de pessoas que defendiam as liberdades públicas. No chão, marchava-se ao lado de intelectuais e artistas. Do alto dos edifícios choviam papéis picados. Será um momento de doce nostalgia para os septuagenários que viveram aquela tarde.

Numa época em que a democracia brasileira vive a tensão dos radicalismos do século XXI, convém que se revisite aquele dia, embebido nos radicalismos da ditadura. A passeata tomou conta da história de 1968, mas ela foi um crepúsculo. A treva amanhecera horas antes, durante a madrugada, quando um caminhão com 50 quilos de dinamite explodiu diante do portão do QG do II Exército, matando o soldado Mário Kozel Filho e ferindo cinco outros militares.

O atentado foi obra da Vanguarda Popular Revolucionária e nele estiveram dez terroristas. Dias antes, a VPR havia roubado fuzis num hospital militar e o general que comandava a tropa do Exército em São Paulo lançara um desafio infantil: “Atacaram um hospital, que venham atacar meu quartel". Vieram. O motorista do caminhão saltou, o veículo bateu num muro, Kozel foi ver se havia alguém na boleia e a dinamite explodiu.

Ruy Castro: A morte do Paissandu

- Folha de S. Paulo

Sai a cultura de ideias e entra a dos bíceps e tanquinhos

Agora é definitivo: sai uma cultura de ideias na cabeça e câmeras na mão e entra a dos bíceps e tanquinhos. O cine Paissandu, um dos redutos mais vitais da juventude carioca dos anos 60, cede seu espaço na rua Senador Vergueiro, no Flamengo, para uma academia de ginástica. Não é que um cinema esteja sendo fechado e outro ramo tome o seu lugar. O Paissandu já estava fechado há anos e, como cinema de rua, condenado à morte. Nenhum exibidor se empenhou em ocupá-lo. Mesmo porque —perdão, leitores—, o Paissandu não era mais um cinema. Era uma ideia.

Em seu apogeu, tínhamos de frequentá-lo pelo menos uma vez por semana, para assistir a filmes esnobados pelos grandes circuitos, como os da Nouvelle Vague francesa e demais vagas europeias —“Pierrot le Fou”, de Godard, ficou meses em cartaz em 1968. E, se não fosse por isto, havia as imperdíveis sessões de sábado à meia-noite, programadas por Fabiano Canosa, em que assisti desde os filminhos de Lumière e Méliès a “O Cangaceiro”, de Lima Barreto. Os figurões do Cinema Novo, com Glauber Rocha à frente, iam àquelas sessões e faziam comentários em voz alta.

Os garotos do Paissandu só queriam mudar o mundo —alguns pela luta armada, outros pela revolução sexual e ainda outros pelos filmes de Pasolini. Era a “Geração Paissandu”, a única a aplaudir ou vaiar coadjuvantes, fotógrafos e roteiristas quando seus nomes apareciam na tela. Mas, então, veio o AI-5. O mundo acabou e aquela turma se desfez. Uns foram tratar da vida; outros, de coisa mais séria.

Não tenho moral para lamentar a morte do Paissandu. A partir dos anos 90, só estive nele uma vez, para rever “O Processo”, de Orson Welles. Mas também quase não fui mais a cinemas de qualquer espécie.

Não concordo, mas entendo. Para seus proprietários, o Paissandu, para sobreviver, teria de voltar a ser cinema. Ideias não pagam o IPTU.

'Aprender a viver no caos pode não ser tão nocivo', afirma Manuel Castells

Leia trecho de 'Ruptura', novo livro do sociólogo espanhol, no qual ele analisa a crise da ordem política

- Folha de S. Paulo | Ilustíssima

[RESUMO] O texto abaixo integra ‘Ruptura’, novo livro do sociólogo espanhol que a Zahar lança neste mês. Nele, o autor sustenta que a antiga ordem político-institucional foi superada e afirma que aprender a viver no caos talvez não seja tão nocivo.

No lo que pudo ser:
es lo que fue.
Y lo que fue está muerto.
Octavio Paz, "Lección de Cosas", 1955

Em tempos de incertezas costuma-se citar Gramsci quando não se sabe o que dizer. Em particular, sua célebre assertiva de que a velha ordem já não existe e a nova ainda está para nascer. O que pressupõe a necessidade de uma nova ordem depois da crise.

Mas não se contempla a hipótese do caos. Aposta-se no surgimento dessa nova ordem de uma nova política que substitua a obsoleta democracia liberal que, manifestamente, está caindo aos pedaços em todo o mundo, porque deixa de existir no único lugar em que pode perdurar: a mente dos cidadãos.

A crise dessa velha ordem política está adotando múltiplas formas. A subversão das instituições democráticas por caudilhos narcisistas que se apossam das molas do poder a partir da repugnância das pessoas com a podridão institucional e a injustiça social; a manipulação midiática das esperanças frustradas por encantadores de serpentes; a renovação aparente e transitória da representação política através da cooptação dos projetos de mudança; a consolidação de máfias no poder e de teocracias fundamentalistas, aproveitando as estratégias geopolíticas dos poderes mundiais; a pura e simples volta à brutalidade irrestrita do Estado em boa parte do mundo, da Rússia à China, da África neocolonial aos neofascismos do Leste Europeu e às marés ditatoriais na América Latina.

E, enfim, o entrincheiramento no cinismo político, disfarçado de possibilismo realista, dos restos da política partidária como forma de representação. Uma lenta agonia daquilo que foi essa ordem política.

De fato, a ruptura da relação institucional entre governantes e governados cria uma situação caótica que é particularmente problemática no contexto da evolução mais ampla de nossa existência como espécie no planeta azul. Isso no momento em que se questiona a habitabilidade deste planeta a partir da própria ação dos humanos e de nossa incapacidade de aplicar as medidas corretoras, de cuja necessidade estamos conscientes.

E no momento em que nosso extraordinário desenvolvimento tecnológico entra em contradição com nosso subdesenvolvimento político e ético, pondo nossas vidas nas mãos de nossas máquinas.

As esquerdas e a democracia

Apresentação

No momento de crise de valores republicanos ou mesmo numa época de adversidades políticas, protagonismo necessário, entendemos, deve ser atribuído às forças de esquerda que tem como norte uma práxis democrática e projeto(s) reformista(s) revigorado(s) – capazes de superar desafios para ultrapassagem de obstáculos que travam o processo de ampliação contínuo da democracia e expansão, lato sensu, dos direitos e cidadania e a socialização de suas prerrogativas.

Esta coletânea de artigos, como indicado no título, tem por objetivo analisar e aquilatar programas e convicções da esquerda, ou parte dela, no país e sua associação aos ideais e práticas democráticas. Congrega textos de intervenção – alguns inéditos, outros já publicados em órgãos da imprensa – de autores diversos, mas que têm em comum concepções embasadas na defesa do estado de direito democrático laico e republicano, da liberdade e da igualdade, da justiça e da dignidade etc.

Sem pretensões grandiloquentes, nosso intuito foi bem modesto: reunir análises e/ou manifestações de intelectuais públicos objetivando contribuir para a compreensão e o (re)direcionamento de organizações e movimentos de esquerda com ideais e valores, práticas e pleitos democráticos.

Paulo César Nascimento: As esquerdas e a democracia (prefácio)

A coletânea As Esquerdas e a Democracia, organizada por José Antonio Segatto, Milton Lahuerta e Raimundo Santos, é uma importante contribuição para um debate que tem sido imprescindível para a reconstituição do pensamento de esquerda no Brasil e no mundo: como avançar agendas de reformas sociais e econômicas, e, ao mesmo tempo, expandir as instituições democráticas?
A ligação entre democracia e socialismo sempre foi um tema incômodo para as esquerdas. neste centenário da revolução russa, podemos relembrar várias experiências de construção do socialismo que terminaram gerando burocracias despóticas e ideias políticas que desprezaram a importância da democracia e suas instituições.

Por outro lado, onde a esquerda abraçou a democracia, como é o caso da Social-Democracia europeia, o ímpeto revolucionário acabou arrefecido por uma visão hegemônica que, se construiu em estado de Bem-Estar social e favoreceu a moderação na política, por outro lado, há décadas vem apresentando visíveis sinais de estagnação e esgotamento. Como então navegar entre a tentação de instrumentalizar os processos democráticos e, ao mesmo tempo, resistir ao apelo à acomodação vindo do ethos das democracias contemporâneas? E mais: como incorporar certos elementos tradicionais do discurso liberal – como os direitos civis e políticos – e manter a identidade de esquerda, sem render-se à lógica triunfante dos mercados globalizados?

São tais desafios que os textos que compõem As Esquerdas e a Democracia ajudam a enfrentar, ao iluminarem especificamente o caso brasileiro. a escolha por “as esquerdas” no título, ao invés de “a esquerda”, não é um mero detalhe. a diversidade de esquerdas, antes entendida como um problema, agora se torna um incentivo para um debate que não se volta mais para definir quem é a “verdadeira esquerda”, mas para reconstituir o pensamento da esquerda em sua pluralidade.

Fazem parte desta coletânea temas cruciais para esta reconstrução. Basta pensarmos na questão da modernização do estado brasileiro, que envolve a superação da nossa tradicional cultura patrimonialista, a definição de fronteiras mais visíveis entre o público e o privado, e o próprio papel do estado enquanto estimulador do desenvolvimento econômico e social do país. se antes qualquer questionamento do estado, de seu “tamanho” ou funções, era tido como anátema, atualmente tal discussão tornou-se mais que imprescindível nas esquerdas brasileiras.

O futuro político dos partidos políticos da esquerda brasileira é outro tema central abordado nesta coletânea. os dois principais partidos que disputavam a hegemonia no campo da esquerda e da centro-esquerda brasileira, e que se revezaram no poder nas últimas duas décadas, mostram sinais de declínio político. tanto o Partido dos trabalhadores (PT), como o Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB) cederam à corrupção e a práticas patrimonialistas tradicionais, o que colocou suas identidades em xeque e abriu espaço para um possível protagonismo de outras correntes de esquerda que vierem a surgir no horizonte político brasileiro.

Daí a indagação que perpassa vários textos da coletânea: como evitar que uma esquerda renovada repita a tradicional forma de se fazer política no Brasil? em tempos de polarização política, crise econômica e descrença nos políticos, como os que estamos vivendo atualmente no Brasil, a reflexão empreendida em As Esquerdas e a Democracia certamente contribuirá para o debate sobre o papel que as esquerdas devem desempenhar no cenário político nacional.

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Paulo César Nascimento, professor associado do Instituto de Política da UnB

Graziela Melo: Menina triste

Triste olhar
e uma dor
sem nome...

menina pobre
que não conhece
o amor

mas dia
após dia,
sente a dor
da fome!!!

Todos
os dias
a vejo
na esquina!

Volto
para casa
e não consigo
esquecer

o olhar
da menina!!!