quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Opinião do dia: Geraldo Alckmin

O que que a pesquisa mostra? Ela mostra que, no segundo turno, o Bolsonaro perde. Perde para mim, para o Ciro, perde para o PT. Então, na realidade, é um passaporte para a volta do PT e esse é o grande problema, porque tudo o que estamos vivendo hoje é resultado do período do PT.

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Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à presidência da República

Marco Aurélio Nogueira: Além da solidariedade

- O Estado de S. Paulo

A rápida recuperação de Bolsonaro antecipou o fim da trégua solidária e as campanhas devem voltar a mostrar suas diferenças

Uma coisa é ser solidário. Outra, bem diferente, é deixar a solidariedade borrar o fundamental.

Afastado temporariamente Jair Bolsonaro, ficaram suas ideias e o movimento que ele representa. As estrelas diziam que o bolsonarismo ganharia alento e visibilidade com o atentado. Não foi o que indicaram as primeiras sondagens (DataFolha). As campanhas adversárias, porém, ficaram desarvoradas.

Acontece que o candidato está em franca e rápida recuperação. Posa à vontade no hospital, simulando armas em punho. Já ensaia os primeiros passos e está a cada dia melhor. O repouso forçado, em vez de atrapalhá-lo, parece que o ajuda, ao poupá-lo de alguns debates e dar-lhe gás para o segundo turno. Poderá fazer campanha do hospital, do mesmo modo que Lula faz da cadeia.

O fim da trégua solidária ficou desse modo antecipado. A troca de pancadas entre os candidatos terá de ser recalculada. Impossível atacá-lo como se fez antes. A beligerância será reduzida, em nome da democracia e da “paz social”. Em decorrência, espera-se que surjam mais espaços para a apresentação de propostas e diálogos equilibrados.

Nesse caso, poderemos ver melhor o que não aparece tanto: há mais convergências que divergências entre os postulantes à Presidência, indicação de que existe uma ampla zona de entendimento no campo democrático reformista. Agora é ver se isso passa para o plano prático e consegue ser assumido pelos próprios candidatos, de modo a eliminar o que há de personalismo e intransigência entre eles.

O fim do mundo não está chegando, que há um futuro possível mais à frente, pedindo para ser politicamente decifrado e projetado. Ideias compartilhadas podem dar ensejo a uma ideia mais articulada de país. A solidariedade e o repúdio à violência valorizam o diálogo, a racionalidade e a generosidade, elementos básicos de uma sociedade democrática.

Merval Pereira: Tendências

- O Globo

Alckmin parece ser o candidato com mais problemas para crescer, pois perde votos para todos os de centro-direita

Embora não seja correto tecnicamente comparar as pesquisas do Datafolha e do Ibope, que usam métodos diferentes, e são divulgadas em dias distintos, é possível fazer-se uma análise das tendências apontadas por elas.

A pesquisa do Ibope divulgada ontem mantém as mesmas posições dos candidatos que ado Data folha, mas tem divergências fundamentais. Bolsonaro conserva a liderança da corrida presidencial, e cresceu fora da margem de erro, embora não de maneira conclusiva, como esperavam seus aliados.

Para o Datafolha, o crescimento de Bolsonaro, após o ataque, foi dentro da margem de erro. Tudo indica que esse crescimento menor se deveu à exploração política do atentado, tanto que ontem o general Mourão, seu vice, deu um apalavra de ordem: “Esse atentado já deu o que tinha que dar. Vamos continuar a campanha”.

No Datafolha, a rejeição a Bolsonaro até aumentou, e no Ibope houve uma redução, embora continue tendo um índice que é praticamente o dobro, ou mais que isso, dos demais candidatos. Na intenção de voto espontânea, Bolsonaro aparece em primeiro lugar, subindo seis pontos em relação à última pesquisa do Ibope.

Lula tem uma queda semelhante nas duas pesquisas, o que mostra uma tendência de o ex-presidente ser esquecido pelos eleitores. Como Haddad não teve um aumento que equivalesse à lembrança de Lula quando liderava as pesquisas também no quesito espontâneo, é sinal de que o eleitor já se adequou à realidade eleitoral.

Tanto que os votos inválidos (nulos e em branco), que pareciam dominara disputa, hoje já decresceram muito, entrando quase que no índice das eleições passadas. A disputa pelo segundo lugar continua empatada, embora em condições diferentes das do Datafolha: a ascensão do candidato do PDT Ciro Gomes registrada na pesquisa Datafolha transforma-se em queda na pesquisa do Ibope, embora mínima.

Bernardo Mello Franco: A corrida de Haddad

- O Globo

A eleição presidencial costuma lembrar uma maratona. Para Haddad, será uma corrida de tiro curto. Ele larga com 9%, mas tem uma raia aberta para acelerar

A eleição presidencial costuma lembrar uma maratona. Os candidatos mais precavidos largam com quatro anos de antecedência. Cruzam o país, disputam convenções, constroem alianças. Quando a torcida se dá conta, já venceram a maior parte do percurso.

Para Fernando Haddad, a campanha será uma corrida de tiro curto. A partir de hoje, ele terá apenas 25 dias para se apresentar ao eleitor. Sua vantagem está nas sapatilhas. Elas têm o retrato de Lula, o Usain Bolt das últimas eleições brasileiras.

Se não fosse barrado, o ex-presidente ainda venceria com um pé nas costas. No fim de agosto, ele liderava com 39% das intenções de voto. Nas simulações de segundo turno, batia todos os adversários com pelo menos 20 pontos de vantagem. Como o favorito está preso, o bastão foi passado a um velocista de primeira viagem.

Haddad largou sob a sombra do padrinho. Depois de encenar o papel de vice, voltou a se fantasiar de poste. Já deu certo em 2012, quando ele superou o tucano José Serra e se elegeu prefeito de São Paulo.

Quatro anos depois, o petista tentou a reeleição e foi atropelado por João Doria. Ele atribui a derrota ao impeachment e e ao desgaste do partido com a Lava-Jato. Esquece de dizer que sua gestão era considerada ruim ou péssima por 48% dos paulistanos.

Míriam Leitão: Candidato tutelado

- O Globo

Haddad precisou da autorização de Lula para dar cada passo que deu. Será um candidato tutelado a partir de uma cela da PF em Curitiba

Terminou ontem o ato que todos sabiam como iria acabar. O ex-prefeito Fernando Haddad foi anunciado como candidato do PT à Presidência da República para, se vencer, exercer o poder em nome de Lula e com o Lula. O ex-presidente continua sendo a primeira pessoa, agora na chapa encabeçada por Haddad. Na carta, o próprio ex-presidente definiu: “Haddad é meu representante nessa batalha.” Ele fica assim numa situação inusitada, só comparável ao que aconteceu com Héctor Cámpora na Argentina.

Cámpora assumiu em maio de 1973, depois de ter vencido as eleições como representante de Juan Domingo Perón. Ficou dois meses no cargo, permitiu a volta do ex-presidente, renunciou e convocou novas eleições, que elegeram Perón. A diferença entre os dois casos é que Cámpora tentava contornar o veto militar ao ex-presidente. Aqui, o que impede Lula de ser candidato é uma lei que ele mesmo sancionou, e em cuja tramitação o PT teve papel central. A impugnação de Lula é decorrência de uma lei democrática e não uma conspiração das elites, como disse ontem o candidato Fernando Haddad.

Só havia pessoas brancas no campo de visão da imagem transmitida pelo PT, quando Haddad relacionou, entre os vários motivos pelos quais Lula estaria sendo impedido, o de ter permitido a ascensão dos negros. “Será que é porque eles tiveram que se sentar com um negro no avião?” perguntou. Outro motivo teria sido a reação da elite ao fato de o partido ter tirado o Brasil do mapa da fome.

Demagogias assim são comuns em período eleitoral. Normalmente, elas se chocam com os fatos. A Pnad de 2015 mostrou que, no último ano que o PT governou o Brasil, nos 12 meses, a renda dos 10% mais pobres caiu 7,1%. A recessão provocada pelo próprio PT levou à inflexão no movimento virtuoso de redução da pobreza, que havia começado com o Plano Real e se acentuado com os programas sociais da era Lula.

Rosângela Bittar: Sequelas de um vale-tudo

- Valor Econômico

Os petistas estiveram divididos desde sempre

Há uma porção de condicionantes nessa história, entre elas uma que se destaca: se Lula tivesse indicado Fernando Haddad como seu candidato há mais tempo e não optado por levar a própria candidatura até o fim dos prazos legais, a transferência de votos já teria sido muito maior? A campanha estaria mais avançada e com menos atritos em tribunais? Provavelmente sim. Uma pesquisa do Ipespe para a XP há dois meses já fazia um ensaio sobre a candidatura Haddad em que ele, naquele momento, já saltava de 3% para 14%.

O desgaste do candidato que não é candidato (tanto Lula quanto Haddad) sempre existiu, embora tenha feito parte da estratégia desconhecer a possibilidade disso ocorrer, apostar em seu contrário e descumprir determinação do TSE para apresentar Lula de forma dúbia na propaganda eleitoral. Era o que servia ao plano.

De qualquer forma, não se pode dizer que os caminhos traçados por Lula deram errado. Ao contrário, os estragos foram menores do que se poderia esperar de praticamente um drama que se desenrolou por dois intensos meses. Com consequências visíveis para dois grupos que circulam em torno do ex-presidente: os petistas e os advogados.

Os petistas estiveram divididos desde sempre, muitos não queriam Haddad como candidato a vice com chance de assumir a candidatura a presidente, nem mesmo Lula, que preferia o baiano Jaques Wagner. A controvérsia persistiu e ainda persiste: anteontem e ontem Haddad saiu emburrado da reunião com Lula, silencioso e agastado, e não terá sido porque Gleisi Hoffmann, presidente do seu partido, foi um agente apaziguador dos males que sua candidatura provoca no partido. Gleisi acirra.

Isso permanece ao longo da campanha, mesmo a partir de agora. Mas um foco de tensão deve arrefecer: a briga dos três grupos de advogados que tomam decisões sobre o que fazer com o cliente.
Um dos grupos, segundo reportagem de Isadora Peron e Luísa Martins, é chefiado por Cristiano Zanin e Valeska Teixeira Martins, sua mulher e filha de um compadre de Lula. Nesse esteve Sepúlveda Pertence por uns dias. Amigo de Lula, com grande acesso aos tribunais superiores por já ter presidido o STF, Pertence promoveu, a determinada altura da defesa do ex-presidente, a ideia de conseguir sua prisão domiciliar, para que tivesse mais conforto e se preservasse física e moralmente. Perdeu para os advogados que queriam manter a campanha de vitimização do ex-presidente, preso numa cela da Polícia Federal em Curitiba. Desde então, Pertence afastou-se da linha de frente da defesa em questões criminais.

Vera Magalhães: Voto útil chegou antes

- O Estado de S.Paulo

O quadro mostrado pelas últimas pesquisas, com Jair Bolsonaro (PSL) consolidado em primeiro lugar e Fernando Haddad (PT) em ascensão mesmo antes de oficializado, antecipou a pregação do voto útil nas demais campanhas que têm alguma chance de ir ao segundo turno.

Geraldo Alckmin (PSDB) foi o primeiro a indicar este caminho, ainda na sabatina Estadão/Faap, antes de ter a estratégia suspensa temporariamente pela facada em Bolsonaro. “Votar em Bolsonaro é um passaporte para a volta do PT”, disse ele na ocasião. O mantra foi repetido por sua vice, Ana Amélia (PP), ontem em entrevista.

Agora, é a vez de a defesa do voto útil chegar à campanha de rua e à propaganda de TV, no fim definitivo da trégua concedida ao candidato do PSL.

A ordem é não bater pesado em Haddad, que a campanha tucana acredita que crescerá naturalmente agora que foi indicado como sucessor oficial de Lula. Alckmin e aliados vão tratar de associar o petista a Dilma Rousseff e ao desastre econômico de seu governo, mas acreditam que sua cristalização como herdeiro de Lula pode ajudar a assustar o eleitor antipetista e forçar o voto útil no tucano. “Haddad ainda não é o adversário”, me disse ontem um coordenador da campanha alckmista.

Nessa pesca por alguns pontos nas pesquisas também haverá um ataque especulativo no eleitorado do bloco dos 3%, composto por Alvaro Dias (Podemos), João Amoêdo (Novo) e Henrique Meirelles (MDB).

A esperança do estafe de Alckmin é que a eleição tome o que eles chamam de “curso natural”, com Bolsonaro, Haddad e Alckmin disputando até o fim para ir à fase final.

Mas a boia do voto útil não será unilateral. Ciro Gomes (PDT) e mesmo a sempre comedida Marina Silva (Rede) já se lançaram a ela diante da evidência de que os votos que tinham ou têm podem estar apenas fazendo uma escala até desaguar em Haddad. Ciro parece ter mais massa muscular para ser enxergado pelo eleitor que já foi petista ou lulista, mas teme a vitória de Bolsonaro e está disposto a encontrar alguém capaz de derrotá-lo – o medo oposto ao que o PSDB tenta incutir em relação à volta do PT.

Eliane Cantanhêde: Dia de festa para Bolsonaro no hospital

- O Estado de S.Paulo

O Ibope deu uma grande notícia para Jair Bolsonaro (PSL), que cresceu seis pontos, de 20% para 26%, entre agosto e setembro, reduziu sua ainda altíssima rejeição de 44% para 41% e, em vez de perder, agora está em empate técnico com os adversários no segundo turno.

O campo da pesquisa foi sábado, domingo e segunda-feira, capitando toda a perplexidade e a solidariedade do eleitorado depois da facada contra Bolsonaro, na quinta-feira, dia 6. E, assim, ele vai cristalizando seus votos e se consolidando na dianteira da eleição.

Na outra ponta, Fernando Haddad finalmente assumiu a candidatura pelo PT, tendo Manuela d'Ávila, do PCdoB, na vice. Quanto mais ele cresce – dobrou de 4% para 8% de um mês para o outro -, mais Marina Silva (Rede) cai.

Ela recuou de 12% para 9% e perdeu o segundo lugar para Ciro Gomes (PDT), que oscilou de 9% para 12% e depois para 11%. Se Marina cai e Haddad sobe, Ciro e Geraldo Alckmin (PSDB) estão estáveis. O tucano em 9%.

Bolsonaro está isolado no primeiro lugar e todos os demais têm chances de disputar o segundo turno contra ele: Ciro, Marina, Alckmin e Haddad. Mas a novidade da campanha e a trajetória mais animadora, por ora, é a do petista, que entra no vácuo da popularidade do ex-presidente Lula.

Enquanto Alckmin perde votos para Bolsonaro, Amoêdo (Novo), Meirelles (MDB) e Alvaro Dias (Podemos), Haddad perde para Ciro. O petista tem mais tempo na TV, seguidores nas redes sociais e estrutura partidária, além de Lula. Em desvantagem técnica, Ciro vai ter que disputar a esquerda no “gogó”, que, aliás, é o seu forte.

Elio Gaspari: Haddad põe o pé na estrada

- O Globo

O PT entrará na campanha com sua história e sua incapacidade de reconhecer erros
Fernando Haddad tem pouco mais de um mês para mostrar que não é o “Andrade”. Sua unção aconteceu aos 45 minutos do segundo tempo, quando a vitimização de Lula já tinha rendido tudo o que podia render. É até provável que o PT tenha perdido uma semana de propaganda ao esticar desnecessariamente a corda.

Haddad entra em campo com o patrimônio dos bons tempos de Lula e com a bola de ferro das malfeitorias do petismo. Seus adversários negam que ele tenha presidido um país com emprego, crescimento e olho na redução das desigualdades sociais. Perdem tempo, pois o sujeito que perdeu o emprego lembra da vida que teve. Já os petistas, inclusive Haddad, embrulham o mensalão e as petrorroubalheiras numa delirante teoria da conspiração. Também perdem tempo, pois o resultado está aí e chama-se Jair Bolsonaro.

A cenografia que o PT armou em Curitiba foi exemplar. O comissariado, reunido num hotel, anunciou que sua Executiva Nacional decidiu, por unanimidade, colocar Haddad na cabeça da chapa. Teriam feito melhor se dissessem que carimbaram uma decisão de Lula, coisa que até as grades da carceragem da Federal já sabiam. Há dias Haddad fez-se fotografar sorrindo atrás de uma máscara de Lula. A partir de hoje começa a ser testada a cena real, com Lula sorrindo atrás de uma máscara de Haddad.

O PT e Bolsonaro têm o mesmo sonho: chegar ao segundo turno tendo o outro como adversário. Talvez esse seja o único projeto comum à senadora Gleisi Hoffmann e ao general Hamilton Mourão.

Bruno Boghossian: Pedalando com rodinhas

- Folha de S. Paulo

Candidato cede autonomia e mantém vínculo para absorver votos do ex-presidente

O PT trocou seu registro no TSE, mas Fernando Haddad não saiu de Curitiba como candidato autônomo. Lula unge o afilhado no 12º parágrafo da carta lida à militância do partido, autorizando sua substituição na corrida presidencial. Algumas frases à frente, acrescenta: “ele será o meu representante”.

A ambiguidade remanescente na chapa petista é o trunfo final da sigla para chegar às urnas em outubro numa posição competitiva. A menos de quatro semanas do primeiro turno, Haddad ganha velocidade, mas ainda aparece com 9% nas pesquisas. Para chegar ao segundo turno, precisará cruzar a linha de chegada numa bicicleta com rodinhas.

Um retrato do eleitorado cativo do PT revela por que a figura de Lulaserá crucial até o último dia de campanha. O ex-presidente tinha 49% das intenções de voto entre eleitores com renda de até dois salários mínimos. Haddad tem 10% —mas, ali, 3 de cada 4 eleitores não sabem que é ele o candidato lulista.

A fidelidade de muitos brasileiros ao ex-presidente faz com que as projeções de transferência de votos nesse segmento e em outros nichos tradicionalmente petistas não sejam tão absurdas quanto parecem.

Maria Herminia Tavares de Almeida: Sem bravatas nem ameaças

- Folha de S. Paulo

Presidencialismo de coalizão só funciona quando o chefe consegue coordenar sua base

Os eleitores que pretendem votar em Jair Bolsonaro não são todos farinha do mesmo saco. Há os que se identificam com as ideias do candidato e acreditam, como ele, que os problemas de segurança se resolvem pela violência com a participação de cidadãos armados; que é natural mulheres ganharem menos que os homens pelo mesmo trabalho; que os negros são indolentes, os homossexuais, pervertidos (ou doentes); que os torturadores são heróis e que a “petralhada” deve ser combatida a disparos de fuzil.

Decerto há também aqueles cujo antipetismo visceral os leva a considerar o capitão o mal menor. Alguns, otimistas, afirmam até que a sua eventual vitória não colocaria a democracia em risco, pois trata-se de um candidato como os outros que joga dentro das regras, e, eleito, governará com elas. Entre estes, por sinal, parece aumentar o contingente dos que invocam o seu guru ultraliberal para reforçar tal expectativa.

Com a candura dos justos e a soberba de quem confia cegamente no próprio taco, o economista Paulo Guedes declarou à repórter Malu Gaspar, da revista Piauí (edição de setembro): “Todo mundo trabalhou para o Aécio, ladrão, para o Temer, ladrão. Aí chega um sujeito completamente tosco, que pode mudar a política. Amansa o cara! Acho que Bolsonaro já é outro animal.”

Ao economista e àqueles que com ele compartilham a ilusão de “amansar o animal”, recomenda-se a leitura de dois textos que, na semana passado, agitaram a elite da opinião pública nos Estados Unidos: o artigo anônimo de um alto funcionário da Casa Branca, publicado na terça feira pelo New York Times, e trechos de “Fear: Trump in the White House” (Medo: Trump na Casa Branca) novo livro do jornalista Bob Woodward, que, em parceria com Carl Bernstein, revelou o escândalo de Watergate, sepultando a carreira política de Richard Nixon, lá se vão quatro décadas.

Hélio Schwartsman: Atentado a mando de Deus?

- Folha de S. Paulo

Adélio Bispo de Oliveira disse ter atacado Bolsonaro por orientação divina

Adélio Bispo de Oliveira, autor do atentado contra Jair Bolsonaro, diz que o ataque foi “a mando de Deus”. Como sabemos que não foi?

Para mim, que sou ateu desde criancinha, não é difícil contornar a dificuldade. No paradigma materialista, qualquer um que afirme receber ordens diretas do Criador ou está mentindo ou é vítima de algum tipo de ilusão mental, muito provavelmente um problema no funcionamento dos lobos temporais.

A vida dos crentes não é tão fácil. Se existe mesmo um Deus pessoal, onipotente e cujos desígnios são insondáveis, como descartar que Ele atue inspirando fiéis a realizar certas ações? No plano puramente lógico, é impossível fazê-lo.

O caminho que resta, então, é apelar à raridade desse tipo de evento. Deus, a crer nas Escrituras, de fato mandou gente como Abraão e Moisés fazerem coisas incomuns, incluindo uma tentativa de homicídio contra o próprio filho. Mas isso não ocorre todos os dias nem com qualquer um. A maior parte dos religiosos, afinal, não sai por aí dizendo que age como procurador de Deus.

Ricardo Noblat: Ibope ou Datafolha – quem está certo?

- Blog do Noblat | Veja

Faça sua escolha
A pesquisa Ibope divulgada ontem não foi encomendada por ninguém. Foi feita por conta e risco do Ibope, certamente interessado em avaliar o impacto do atentado de Juiz de Fora na evolução das intenções de voto. É meritório que tenha sido assim, afinal pesquisa custa caro.

Ao Ibope não importa que os resultados da pesquisa tenham reanimado os bolsonaristas, antes abatidos com a pesquisa Datafolha que deixara seu ídolo em maus lençóis. Instituto sério como são os dois deve se preocupar apenas em fazer bem o seu trabalho, e ponto.

Uma pesquisa não está certa e a outra errada. O Ibope foi à campo no sábado dia 8, domingo dia 9 e segunda-feira dia 10 quando Bolsonaro estava no auge de sua exposição depois do atentado do dia 6. O Datafolha foi a campo somente na segunda-feira dia 10. Nesse mesmo dia tabulou e divulgou os resultados.

Os dois institutos entrevistaram cerca de 2 mil eleitores – o Datafolha em um único dia, o Ibope em três dias. Uma cláusula pétrea no mundo das pesquisas de opinião pública diz que só se pode comparar resultados de pesquisas feitas por um mesmo instituto, porque os métodos podem ser diferentes.

São parecidos, mas não são iguais, os métodos de aplicação de pesquisas do Ibope e do Datafolha. E são radicalmente diferentes dos métodos de pesquisas de institutos que preferem ouvir os entrevistados por telefone. O Ibope os entrevista em suas casas. O Datafolha, nas ruas (ou é o contrário?).

No essencial, as pesquisas Ibope e Datafolha coincidem. Bolsonaro lidera, apesar da resistência das mulheres ao seu nome; Ciro Gomes, Marina Silva e Geraldo Alckmin estão embolados na disputa pelo segundo lugar; e Fernando Haddad começa a crescer à base de votos transplantados de Lula.

Nesta sexta-feira, o Datafolha dará à luz uma nova pesquisa contratada pela Folha de S. Paulo e a TV Globo. Emoção na veia para quem gosta de eleição.

Em breve, Lula livre!

Luiz Carlos Azedo: Os erros de Lula

Correio Braziliense

“A estratégia eleitoral do PT está centrada na “infalibilidade” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no culto à sua personalidade”

Uma das características do culto à personalidade é a crença na infalibilidade do líder. Faz parte da estratégia de manutenção do poder e foi utilizada por políticos de todas as tendências, de Adolf Hitler, na Alemanha, e Benito Mussolini, na Itália, a Josef Stálin, na União Soviética, e Mao Tse Tung, na China. Na América Latina, Getúlio Vargas, no Brasil; Juan Domingos Peron, na Argentina; Fidel Castro, em Cuba; e até Augusto Pinochet, no Chile, recorreram ao expediente, que funciona com eficácia nos regimes autoritários, onde não existe liberdade de imprensa e a oposição é duramente reprimida. O problema do culto à personalidade é que os líderes viram uma espécie de “burro operante” quando erram, pois suas principais qualidades aumentam o tamanho do desastre. Bem ao nosso lado, aqui na Venezuela, temos o exemplo do desastre provocado pelo culto a Hugo Chávez, que escolheu a dedo o seu sucessor, o presidente Nicolás Maduro.

A estratégia eleitoral do PT está centrada na “infalibilidade” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no culto à sua personalidade. A campanha do PT se assenta na ideia de que seu governo foram “anos dourados”, sem levar em conta que seu primeiro mandato se beneficiou de condições excepcionais: estabilidade do Real, que herdou do governo Fernando Henrique Cardoso; expansão da economia chinesa, que alavancou nossas exportações; e o “bônus demográfico”, que reduziu o número de dependentes (crianças e idosos) em relação às pessoas economicamente ativas (com renda) no âmbito familiar. Quando a situação mudou, principalmente depois da crise econômica mundial de 2008, Lula acreditou num canto de cigarra de sua então chefe da Casa Civil Dilma Rousseff e do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, optando pela “nova matriz econômica” e não pelo ajuste que a situação exigia quanto ao deficit público. Fez o sucessor, mas deu errado: a bolha estourou e veio a recessão do governo Dilma e seu impeachment.

FHC em debate: Sentimento de medo abre espaço para narrativas autoritárias no país

Ex-presidente tratou de corrupção e moralidade na política em evento em São Paulo

Marco Rodrigo Almeida | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Há no país um sentimento de medo que abre espaço para narrativas autoritárias, disse Fernando Henrique Cardoso nesta terça-feira (11) em São Paulo.

“Essa narrativa vai ganhar? Não sei. Depende das outras narrativas na disputa. Não quero entrar nessas especificidades.”

Sem citar nomes, o ex-presidente fez alguns comentários a respeito da corrida eleitoral durante palestra no evento Thomson Reuters Risk Summit, na capital paulista. O tema da conversa foi moralidade na política e combate à corrupção.

“Acusações de corrupção sempre houve na política. A indistinção do público e do privado é um traço cultural no país. Poder que não abusa não é poder, se dizia antigamente.”

Agora, diz ele, instituições e sociedade passam por transformações que a classe política ainda não compreendeu.

“A Constituição de 1988 conferiu independência ao Ministério Público. Desde então seus membros se capacitaram para servir a sociedade. E a partir desse trabalho as pessoas perceberam que as bases partidárias não eram saudáveis.”

Sobretudo com a Lava Jato revelou-se uma relação promíscua entre empresários, partidos e políticos, um “sistema de financiamento que se mostrou corrupto”.

“Vivemos um a fase desagradável, a população já não sabe mais em quem acreditar. E vivemos uma situação paradoxal. Os políticos presos continuam populares. Isso mostra que há um respaldo que vai além da classe política”

Promotores que movem ação contra candidatos podem ser investigados

Órgão deve apurar se iniciativas contra Haddad, Alckmin e Beto Richa foram aceleradas para terem impacto eleitoral

Mônica Bergamo| Folha de S. Paulo

A corregedoria do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), o órgão que fiscaliza e controla as atividades de procuradores e promotores, deve apurar eventuais irregularidades na atuação de alguns deles contra políticos que disputam a campanha eleitoral.

Luz, câmara 
Em um memorando encaminhado ao órgão, Luiz Fernando Bandeira de Mello, conselheiro do CNMP, cita ações propostas contra os presidenciáveis Fernando Haddad, do PT, Geraldo Alckmin, do PSDB, e a prisão do ex-governador e candidato ao Senado pelo Paraná, Beto Richa (PSDB-PR).

Marcha 
Mello quer que sejam analisados “o tempo decorrido entre a suposta prática dos crimes delituosos e a propositura das ações”, para saber se elas foram aceleradas para causar “eventual impacto nas eleições”.

Holofote 
No pedido de averiguação, o conselheiro diz ser “evidente” que um promotor deve ajuizar uma ação se ela, “por acaso”, estiver concluída “à época da eleição”. “Mas também não pode reativar um inquérito que dormiu por meses ou praticar atos em atropelo apenas com o objetivo de ganhar os holofotes durante o período eleitoral”, afirma.

Com aval de Lula, Haddad é confirmado como candidato à Presidência pelo PT

Petistas falam em particpação do ex-presidente em novo governo e possibilidade de libertação

Luiza Dalmazo / Sérgio Roxo | O Globo

CURITIBA - O PT confirmou nesta terça-feira o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como novo candidato do partido na corrida presidencial. Ele substitiu definitivamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vinha sendo mantido como o cabeça de chapa enquanto sua defesa tentava reverter a sua inelegibilidade decretada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O nome de Haddad foi aprovado por unanimidade pela executiva nacional do PT, que se reuniu em um hotel de Curitiba, cidade onde Lula está preso desde 7 de abril. Na reunião, foi lida uma carta do ex-presidente endereçada à direção do partido, em que ele sugeria que a sigla indicasse Haddad como seu substituto.

Lula escreveu mais duas cartas, uma para o povo brasileiro e outra para o próprio Haddad, até então candidato a vice na chapa. O ex-prefeito chegou à reunião da Executiva após visitar o ex-presidente na PF durante a manhã. Ele já havia passado boa parte da segunda-feira reunido com o líder petista e advogados.

Após a reunião, petistas tentaram indicar que Haddad vai governar junto com Lula e que uma vitória do candidato petista pode ajudar o ex-presidente a deixar a prisão. Em vídeo divulgado nas redes sociais, o líder do PT no Senado, Lindbergh Farias, afirmou:

- Lula continua candidato pelo nome do Haddad. O Haddad vai governar junto com o Lula. Vai montar o ministério junto com o Lula.

Márcio Macedo, um dos dos vice-presidentes do PT, acrescentou no mesmo vídeo que Lula "orientou" ao partido a prosseguir na lluta e disputar a eleição.

- Queria dizer aos meus companheiros que é fundamental a eleição do Haddad inclusive para a libertação do Lula - afirmou Marcio Macedo, um dos vice-presidentes do PT, no mesmo vídeo.

Desaprovado em SP, Haddad venderá ideário de Lula para alcançar o Nordeste

Ex-prefeito de SP dependerá mais uma vez das articulações do padrinho político que o lançou

Flávio Freire | O Globo

SÃO PAULO — Foi à sombra de Lula que FernandoHaddad chegou ao fim de uma corrida de obstáculos até ser confirmado o candidato do PT à Presidência. E será, com a benção de Lula, que o ex-prefeito de São Paulo terá de convencer eleitores do ex-presidente ser, agora, merecedor desses votos. Será pouco tempo, apenas 26 dias, até o primeiro turno, no próximo dia 7. Enquanto isso, dependerá mais uma vez das articulações do padrinho político que o lançou como um dos postes que ajudariam a iluminar o país. Lula é quem fará a sua campanha, a despeito do discurso do PT de que Haddad percorrerá o caminho com as próprias pernas.

Não haverá para Haddad outra alternativa a não ser colar a sua imagem a de um cabo eleitoral preso por corrupção após uma derrota épica na tentativa da reeleição em São Paulo, quando sequer chegou ao segundo turno. A considerar o tanto que o paulistano desaprovou sua gestão - 48% consideraram seu governo ruim ou péssimo, outros 35% o classificaram como regular, os piores índices desde a administração de Celso Pitta, afilhado de Paulo Maluf —, caberá a Haddad transformar em realidade a transferência de votos de Lula que, em tese, está referendada nas pesquisas.

O último Datafolha informa que 30% dos brasileiros votariam no candidato indicado por Lula. Boa parte deles, numa rápida avaliação das intenções de voto, no Nordeste, reduto eleitoral do petista que acompanharam muito à distância a gestão de Haddad na capital paulistana. Paradoxalmente, 40% dos eleitores dizem que não votariam em Haddad se ele fosse escolhido pelo PT para substituir Lula na disputa pela sucessão de Michel Temer. Era esse um dos obstáculos para  ainda na condição de vice de um candidato que tentava reverter sua situação empurrando o processo eleitoral para o campo judicial, Haddad conseguiu fôlego.

Com aval de Lula, Haddad é oficializado pelo PT candidato ao Planalto

Ex-presidente chamou de injustiça decisão do TSE que barrou sua candidatura

Marina Dias | Folha de S. Paulo

CURITIBA - A cúpula do PT aprovou por unanimidade o nome de Fernando Haddad como substituto do ex-presidente Lula na chapa do partido ao Planalto.

Em reunião nesta terça-feira (11), em Curitiba, a executiva nacional do PT chancelou, após carta enviada por Lula, Haddad como candidato oficial da sigla.

Na mensagem, Lula escreveu sobre o que chama de injustiça que vem sofrendo para deixá-lo fora da eleição, se disse indignado, mas ressaltou a importância da continuidade de seu projeto político com Haddad como candidato.

A mensagem do ex-presidente serviu para arrefecer qualquer resistência interna que ainda pudesse haver na sigla ao nome do ex-prefeito de São Paulo. A carta foi lida pelo próprio Haddad a portas fechadas.

Uma ala do partido, ligada à presidente da sigla, Gleisi Hoffmann (PR), ainda queria adiar a troca para o dia 17 de setembro, o que desagradava aos aliados de Haddad.

Os dirigentes do PT farão uma pausa para o almoço e, à tarde, vão fazer um ato na frente da sede da Polícia Federal, onde Lula está preso, para oficializar a decisão.

O ex-presidente foi condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Com base na Lei da Ficha Limpa, o TSE barrou a candidatura do petista no dia 1º de setembro e determinou que o PT teria dez dias para substituir Lula na chapa.

Ao final da reunião, o governador de Minas Gerais e candidato a reeleição Fernando Pimentel disse que o partido está sendo forçado a trocar o candidato.

"Nosso candidato era Lula, mas diante desse bloqueio, dessa violência que está sendo cometida contra a democracia, nós vamos trocá-lo. O presidente Lula foi consultado e está indicando o companheiro Haddad", afirmou.

PT confirma Fernando Haddad como candidato à Presidência

Em carta, ex-presidente Lula afirmou que ex-prefeito de São Paulo é o nome escolhido para substitui-lo nas eleições 2018

Katna Baran | O Estado de S.Paulo

CURITIBA - A Executiva Nacional do PT confirmou em reunião nesta terça-feira, 11, em Curitiba, o nome do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como o candidato do partido à Presidência da República e Manuela d'Ávila (PCdoB) como vice na chapa. Haddad vai substituir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja candidatura foi barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com base na Lei da Ficha Lima, por causa de sua condenação em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

A decisão foi tomada no prazo final de dez dias estipulado no dia 1º pelo ministro Luís Roberto Barroso, para que o partido promovesse a substituição do nome do cabeça da chapa petista. Participaram da reunião em um hotel no centro de Curitiba, além de Haddad, a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), a ex-presidente cassada Dilma Rousseff, o senador Lindbergh Farias (RJ) e os governadores Fernando Pimentel, de Minas Gerais, e Wellington Dias, do Piauí, além de outros dirigentes petistas.

O advogado eleitoral Luiz Fernando Casagrande Pereira também participou para fechar a ata do partido com Haddad como candidato. Segundo ele, as mídias de propaganda do PT devem ser substituídas imediatamente para deixar claro que Haddad é o candidato do partido à Presidência.

Um dos primeiros petistas a deixar a reunião em Curitiba, o governador de Minas disse que a substituição de Lula por Haddad na chapa não é uma decisão a ser comemorada. "Nosso candidato era o Lula e deveria ser o Lula porque é o candidato que o povo gostaria. Diante dessa nova violência que está sendo cometida contra a democracia, nós vamos trocar (o candidato)", afirmou Pimentel.
"A transferência de votos (de Lula para Haddad) está acontecendo. As pesquisas indicam isso e vai daqui para a frente acelerar", declarou.

Após a reunião, a cúpula petista seguiu para a vigília pró-Lula montada em frente ao prédio da Superintendência da Polícia Federal, onde o ex-presidente está preso desde 7 de abril. No local, foi montada uma estrutura para o anúncio do futuro do PT nas eleições presidenciais. A militância do partido, convocada para o ato, que inicialmente estava previsto para 15h, se aglomera em frente ao prédio aos gritos de "Haddad presidente".

'Parou a enganação', diz Alckmin sobre confirmação de Haddad como substituto de Lula

Na avaliação do candidato do PSDB, PT tentou se vitimizar e proteger ex-prefeito de críticas ao longo da campanha

Marcelo Osakabe | O Estado de S.Paulo

A confirmação do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, como o substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na chapa do PT nas eleições 2018 põe fim à "enganação" que o partido vem fazendo há meses, afirmou nesta terça-feira o candidato à Presidência do PSDB, Geraldo Alckmin.

"Parou a enganação. É inacreditável o que o PT fez, esse tempo todo sabendo que o Lula não ia ser candidato, ficou com essa enganação com dois objetivos: primeiro, vitimização; segundo proteger o Haddad, porque quando vira candidato, fica sujeito à transparência absoluta."

Questionado sobre se Haddad é um candidato difícil a ser batido, o tucano disse que não existe adversário difícil ou fácil. "O que tem que fazer, que faço cotidianamente, é dialogar com a sociedade. Esta é uma campanha fria, de grande desencanto. E, portanto, o interesse é crescente daqui para a frente."

Repetindo um comentário que fez mais cedo, durante uma sabatina na capital, Alckmin afirmou ainda que Ciro Gomes (PDT), assim como Haddad, Marina Silva (Rede) e Henrique Meirelles (MDB), faz parte dos "adoradores de Lula". "Todo mundo foi do time de Lula", disse sobre os presidenciáveis, todos ex-ministros do líder petista.

O tucano fez ainda uma ligação entre Jair Bolsonaro (PSL) e o governo petista. "Temos, de outro lado, candidatos que sempre votaram com Lula, caso do Bolsonaro. Então, se pegarmos os votos dele, vamos ver toda aquela coisa corporativa, atrasada, contra a quebra do monopólio do petróleo, o cadastro corporativo", enumerou.

Os comentários foram feitos está tarde, durante a entrega do relatório Novas Medidas Contra a Corrupção, um compilado de 70 propostas elaborada pela Unidos contra a Corrupção, grupo que reúne a Transparência Internacional e outras entidades. Além do tucano, receberam o relatório os candidato Marina Silva (Rede) e Guilherme Boulos(PSOL).

Sobre a prisão de seu aliado, o ex-governador do Paraná, Beto Richa, Alckmin disse apenas que ele vai prestar contas à sociedade e que a Justiça vai ser feita.

Em sabatina, Alckmin anuncia que vai melhorar rendimento de FGTS do trabalhador

Reportagem Shirley Loiola

O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, detalhou nesta terça-feira, em sabatina promovida pelo jornal Folha de S. Paulo, UOL e SBT, sua proposta para aumentar o rendimento do FGTS dos trabalhadores. “Vamos valorizar o dinheiro do trabalhador, não fazer subsídio para empresário”, assegurou.

“O Fundo de Garantia é a poupança do trabalhador. Hoje, como o governo aplica muito mal esse dinheiro, o patrimônio do trabalhador é dilapidado. O que eu vou fazer: metade do dinheiro depositado na conta do trabalhador vai ser corrigida pela TLP [Taxa de Longo Prazo] mais juros.”, continuou: “A outra metade, o trabalhador decidirá onde quer aplicar, se em poupança, em CDI, naquilo que achar que trará maior rendimento. O saque continuará sendo somente para os casos previstos em lei”.

O ex-governador de São Paulo também garantiu que o salário mínimo será corrigido acima da inflação. “Os ganhos da economia e do PIB ajudarão a crescer o salário. Piso é piso. Para todos”.

Alckmin reforçou que quer ser o presidente da mudança: da mudança política, da mudança tributária, da mudança previdenciária. “Nós vamos reduzir o imposto corporativo para atrair mais empresas para o Brasil. Vejam quantas estão hoje indo para o Paraguai. O mundo é globalizado. Queremos trazer mais empresas para o Brasil e fazer com que as que estão aqui reinvistam. Isso vai gerar emprego.”, avaliou o tucano.

Marina endurece críticas para conter sangria

Por Cristian Klein e Rodrigo Carro | Valor Econômico

RIO - No dia seguinte à pesquisa Datafolha que mostrou queda das intenções de voto em sua candidatura presidencial, Marina Silva (Rede) foi contundente nas críticas. Disse, por exemplo, que o atentado contra Jair Bolsonaro desmoralizou a proposta do candidato do PSL de liberar a posse de armas. "É uma demonstração concreta de que distribuir armas para a população não funciona. A proposta do Bolsonaro não foi desmoralizada por um discurso. Foi desmoralizada pelos fatos", disse ela, usando um tom pouco habitual, durante a primeira sabatina com presidenciáveis organizada por "O Globo", Valor e "Época", no Rio.

Quanto à proposta de Ciro Gomes (PDT) de "limpar o nome" dos inadimplentes, afirmou que não fará "nenhum tipo de promessa para depois os outros pagarem". Marina foi sabatinada poucas horas antes da confirmação de Fernando Haddad como candidato do PT. Para ela, o partido estava escondendo o candidato para evitar que ele tivesse que dar explicações sobre corrupção nos governos petistas.

Queda nas pesquisas faz Marina subir o tom
Num tom acima do usual, no dia seguinte à pesquisa Datafolha que confirmou a queda de intenções de voto para a eleição ao Planalto, a ex-senadora Marina Silva (Rede) participou ontem da primeira sabatina com presidenciáveis organizada por "O Globo", Valor e "Época", no Rio. Marina foi contundente com os adversários.

Sobre o atentado contra Jair Bolsonaro (PSL), a ex-senadora disse que a facada levada pelo concorrente, durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG), na quinta-feira, desmoralizou a proposta do deputado de liberar o porte de armas. Marina lembrou que Bolsonaro estava sob a proteção de "vários policiais federais armados", de policiais militares, de seguranças particulares, e isso não evitou a agressão. "É uma demonstração concreta de que distribuir armas para a população não funciona. Inclusive não funcionou para proteger a ele mesmo. A proposta do Bolsonaro não foi desmoralizada por um discurso. Foi desmoralizada por um ato", afirmou. Em entrevista depois da sabatina, a candidata disse que ficou "estarrecida" ao ver o parlamentar, "depois de ter passado uma situação dramática, "quase perder a sua vida", fazendo um gesto de tiro de dentro da UTI do hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Marina foi sabatinada poucas horas antes da confirmação da substituição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como cabeça de chapa da coligação do PT ao Planalto. Disse que o partido estava escondendo o seu candidato, para evitar que Haddad tivesse que dar explicações sobre escândalos de corrupção nos governos petistas. Afirmou que não tem relação de ódio com Haddad, mas que agora ele "vai ter que vir para a disputa". Quanto à proposta de Ciro Gomes (PDT) de limpar o nome dos brasileiros do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), Marina disse que não fará "nenhum tipo de promessa para depois os outros pagarem". Ao sair da sabatina, afirmou que vai "debater propostas que sei que terão factibilidade", e que dependam das ações de seu eventual governo, e não de terceiros. "É uma proposta com nível de complexidade muito alto", disse.

Monica De Bolle*: Dez anos depois

- O Estado de S.Paulo

Pedido de falência do Lehman Brothers marcou o início da maior crise financeira desde a Grande Depressão

O fim dessa semana marca o aniversário de 10 anos da maior crise financeira desde a Grande Depressão. Em 15 de setembro de 2008, a empresa de serviços financeiros Lehman Brothers entrou com pedido de falência, marcando o início da turbulência que levaria à paralisação dos mercados de crédito em todo o mundo e às recessões sincronizadas em todas as principais economias maduras e algumas economias emergentes. Na ocasião, os países emergentes foram poupados do pior: não estavam expostos aos ativos tóxicos que propeliram a crise e estavam protegidos pela solidez macroeconômica que os anos anteriores de bonança os ajudara a conquistar.

Um ano antes da crise de 2008, o economista Sebastian Edwards escrevera interessante artigo sobre as crises e a América Latina em que antevia que “menos países estarão sujeitos às crises catastróficas que caracterizaram a região”. Arrematara afirmando que “o futuro da América Latina será de ausência de crises, embora com crescimento modesto”. Entre 2008 e 2018 – salvo algumas turbulências aqui e ali e a maior recessão da história brasileira – Edwards parecera ter acertado. Como a recessão brasileira não veio acompanhada, ou fora proveniente, de uma crise financeira, até esse dramático episódio pode ser excluído como contraponto à sua tese.

Contudo, a lua de mel acabou. Desde abril deste ano estão os mercados emergentes sendo duramente atingidos por períodos de violenta turbulência. A mudança da política monetária nos EUA, a guerra comercial entre os Estados Unidos e boa parte do mundo, o dano colateral das incertezas, tudo isso tem trazido temores de que os países emergentes estejam entrando em fase parecida com o tumultuado fim dos anos 90.

Vinicius Torres Freire: Pacto da eleição, além do mercado

- Folha de S. Paulo

Mais que agradar ao dinheiro, candidatos terão de buscar eleitor com ideias diversas

Os "mercados" reagem a trocas de guarda no poder. Candidatos reagem aos "mercados", enfatizando ou alterando seus programas, como no caso exemplar de Lula em 2002. São clichês, no Brasil e no mundo.

É inevitável prestar atenção ao assunto, até porque o clima esquenta entre os mercadores de dinheiro, em particular depois da facada em Jair Bolsonaro (PSL).

Dadas as características críticas em que ocorre esta eleição, drama econômico e divisão política, ciristas, marinistas, petistas, tucanos e liberais menos votados talvez se vejam logo pressionados a ter uma conversa sobre seus programas, entre si e com os povos do mercado.

Óbvio, mas pouco lembrado, mais que "mercados", candidatos e seus eleitores podem influenciar o programa de adversários, a depender de pactos e coalizões, mesmo as de última hora, como no caso extremo da tentativa de ganhar o "voto útil".

É assunto de vida e morte na disputa de 2018.

Primeiro, porque se trata da campanha eleitoral mais fragmentada da República. A passagem para o segundo turno e a vitória dependem de coalizão, tácita ou explícita.

Segundo, porque candidatos com programas econômicos díspares talvez tenham de dialogar. Ou, ao menos, tenham de tranquilizar e conquistar eleitores com ideias econômicas diversas. Os donos do dinheiro são só parte da conversa.

Terceiro, porque a situação das contas públicas é tão dramática que os candidatos a presidente, a administrar tamanha crise, têm de fazê-lo mesmo antes de tomarem posse. Sendo rigoroso, precisam administrar expectativas mesmo durante a campanha.

As taxas de juros têm subido bem nos mercados. Quanto maior a percepção de que o governo vá se endividar sem limite, mais caro será financiar a dívida pública. Governos sem crédito têm de promover cortes ainda mais brutais de gasto ou recorrer à inflação a fim de pagar as contas (como no Brasil dos anos 1980, da Argentina e, no caso teratológico terminal dos infernos, da Venezuela).

Cristiano Romero: Brasil, um país partido

- Valor Econômico

Mudar educação esbarra na elite: a universidade pública

Durante campanhas eleitorais, candidatos não avisam que vão aumentar impostos e cortar despesas. Os discursos dos presidenciáveis mostram que há consenso, porém, quanto à grave situação das finanças públicas e à necessidade de se fazer algo. Não se tenha dúvida: a vida de uma boa parcela dos brasileiros vai piorar antes de melhorar, e isso ocorrerá mesmo que o eleito seja o mais consciente, bem-intencionado e preparado dos postulantes. Haverá elevação de impostos, apesar de o país já ter carga tributária elevada - quase 34% do PIB - para nações em desenvolvimento, e redução de gastos. Mas quem vai pagar a conta? Por que a sociedade brasileira está tão dividida em meio a uma crise que aflige a todos há cinco anos?

Crise fiscal é um tema etéreo para a maioria da população, não só para a faixa menos instruída, mas para todos os viventes deste imenso território. Aqui, é arraigada a ideia, absolutamente equivocada, de que o governo, o Estado, tem capacidade infinita para fabricar dinheiro e, assim, bancar toda e qualquer despesa. Não tem não. Quando o faz, as consequências são conhecidas: inflação galopante (que pune especialmente os mais pobres); corte de investimentos; arrocho salarial para o funcionalismo (os servidores deveriam ser os primeiros a se preocupar com a saúde das finanças do Estado); precarização dos serviços públicos; elevação da taxa de juros administrada pelo Banco Central e do custo de financiamento do Tesouro Nacional; redução do ritmo de crescimento da economia; escalada do desemprego; aumento exponencial da desigualdade e da pobreza.

John Kennedy, um dos presidentes mais populares da história dos Estados Unidos, se notabilizou quando disse ao povo de seu país: "Meus companheiros americanos, perguntem não o que seu país pode fazer por vocês, mas o que vocês podem fazer pelo seu país". Dita entre nós, a frase de Kennedy seria criticada com ferocidade por quase todo o espectro político.

O candidato postiço: Editorial | O Estado de S. Paulo

A apenas quatro semanas do primeiro turno da eleição presidencial, o PT finalmente sacramentou Fernando Haddad como seu candidato. Na versão oficial do partido, o candidato deveria ser seu guia supremo, Lula da Silva, mas este, de acordo com a martiriologia lulopetista, foi impedido pelo “golpe” – uma descomunal articulação entre políticos, juízes, banqueiros, imprensa e até o governo norte-americano para sabotar o projeto de fazer o Brasil ser “feliz de novo”, conforme diz o slogan da atual campanha do PT.

Está claro desde sempre, e muito mais agora, que Haddad é apenas um preposto que concorrerá ao mais alto cargo do Executivo nacional não porque deseja administrar o País segundo suas ideias ou as de seu partido, mas para fazer as vontades de um presidiário, condenado a mais de 12 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. A já conhecida desfaçatez lulopetista parece ter atingido seu estado da arte.

Mais uma vez, Lula demonstrou que o PT deixou de ser um partido político e passou a servir como mero instrumento para os jogos de poder do ex-presidente. Todas as decisões a respeito da campanha foram tomadas depois de exaustivas consultas ao líder encarcerado, que transformou sua cela em Curitiba em escritório político, mais uma de suas tantas afrontas ao sistema judiciário. Como se estivessem diante de uma divindade, os petistas dobraram-se aos desígnios de Lula – que, segundo suas próprias palavras, não é mais um ser humano, e sim “uma ideia”.

Lula mais uma vez impõe sua vontade ao PT: Editorial | O Globo

Ao retardar a definição de Haddad como vice, ex-presidente testa capacidade de transferir votos

A enorme resistência do ex-presidente Lula a aceitar determinações legais — facilitada pela possibilidade absurda de recursos que a Justiça brasileira permite —chegou ao limite. Na verdade, já atingira um ponto capaz de criar divisões no PT, mesmo que Lula seja tratado na legenda como divindade.

Com a ajuda de Gleisi Hoffmann, presidente do partido, e de criativos advogados, Lula conseguiu estender para além da sensatez a negação à clareza com que a Lei da Ficha Limpa estabelece que condenado em segunda instância — logo, por colegiado de juízes —fica inelegível por um mínimo de oito anos.

Usando conexões externas, o partido e advogados descobriram um comitê administrativo na ONU, na área de “direitos humanos”, e nele conseguiram que dois funcionários atestassem que o Brasil deveria permitir que o ex-presidente registrasse a candidatura. O truque não deu certo, mas, como é do seu feitio, Lula e PT não recuaram.

Mas o ex-presidente, afinal, não teve alternativa a não ser abrir espaço para o vice Fernando Haddad —o que não é o forte do carismático e centralizador ex-presidente da República. Seu estilo de conduzir o partido com mão de ferro, de maneira cesarista e vertical, continua sendo seguido da prisão. Consta que sequer o vice tinha apoio unânime

Imprudência fardada: Editorial | Folha de S. Paulo

Declarações confusas de Villas Bôas em nada contribuem para o apaziguamento dos ânimos

Os maiores protestos desde a redemocratização, uma recessão profunda e extensa como não se via desde 1983, o impeachment da presidente da República e uma operação anticorrupção em escala inédita no mundo. Nesse quadro de múltiplas excepcionalidades está mergulhado o Brasil desde 2013.

Pode-se discutir a tese segundo a qual as instituições nacionais não se mostraram suficientemente fortes a ponto de prevenir a explosão de tantos petardos simultâneos. Está fora de questão, no entanto, que o dique da legalidade democrática resiste bem aos testes extremos a que tem sido submetido.

As derrapagens de atores importantes para a sustentação da estabilidade não chegaram a ser graves, embora pudessem quase todas ter sido evitadas mediante um exercício de disciplina e autocontenção.

É imprudente, por exemplo, que o comandante do Exército externe suas interpretações acerca da possibilidade de as eleições serem questionadas após o atentado que vitimou Jair Bolsonaro (PSL). O general Eduardo Villas Bôas, contudo, fez mais que isso em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

'Esqueletos' jogam bilhões nas contas de energia: Editorial | Valor Econômico

A previsão de que a energia elétrica vai subir no mínimo 15% neste ano já assusta. Se a estimativa se confirmar, será uma alta superior à dos planos de saúde que, por menos, conquistaram manchetes e atraíram a atenção dos institutos de defesa do consumidor. O pior é que as tarifas de energia devem ficar ainda mais caras no próximo ano, diante da perspectiva de que vários esqueletos do setor vão ser desenterrados e demandarão uma solução inevitavelmente custosa da parte do futuro presidente.

Em agosto, o preço da energia elétrica subiu 0,96%, sob efeito da vigência da bandeira tarifária vermelha, depois de ter saltado 5,33% em julho, e foi o que mais puxou para cima o IPCA. Mas, por influência de outros fatores, o IPCA teve queda de 0,04% no mês passado. No acumulado em 12 meses, a conta de luz acumula alta de 16,85%, quatro vezes mais do que a inflação de 4,19% no período, contribuindo com 0,61 ponto percentual para o índice, e acima dos 12,67% dos planos de saúde.

O custo não deve parar por aí. De acordo com levantamento da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace), o futuro presidente vai se deparar com quase R$ 90 bilhões em "bombas" tarifárias e esqueletos, em janeiro. Se for adotada a saída tradicional de jogar os problemas para a conta de luz, que o consumidor acaba pagando porque nem sabe o que está incluído por trás de siglas como Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), os passivos em potencial exigiriam um aumento de espantosos 50%.

Carlos Drummond de Andrade: Composição

E é sempre a chuva
nos desertos sem guarda-chuva,
e a cicatriz, percebe-se, no muro nu.

E são dissolvidos fragmentos de estuque
e o pó das demolições de tudo
que atravanca o disforme país futuro.
Débil, nas ramas, o socorro do imbu.
Pinga, no desarvorado campo nu.

Onde vivemos é água. O sono, úmido,
em urnas desoladas. Já se entornam,
fungidas, na corrente, as coisas caras
que eram pura delícia, hoje carvão.

O mais é barro, sem esperança de escultura.