sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Opinião do dia: José de Souza Martins

Muitos supõem que o país deu uma guinada para a direita. Na verdade, não houve guinada. Houve lenta transformação social e desgaste dos partidos, das ideologias partidárias e dos próprios políticos, que já não correspondem à nova realidade nem compreendem o Brasil de agora. A população adquiriu novas identidades e a nova identidade política, especialmente das novas gerações, é de direita até mesmo quando se dizem de esquerda. Foram consumidas pela sociedade de consumo.

A população em transição social, que vem perdendo a segurança de suas referências comunitárias e de classe, tem dificuldade para entender o mundo da sociedade de consumo, na sua versão de sociedade do espetáculo, pelo abismo que abre entre as gerações. É o da exibição pública de comportamentos e de identidades que em sua cultura de origem ficavam devidamente ocultados e protegidos no escurinho da vida íntima e privada. Para ela e para um número crescente de pessoas, a sociedade sem ordem é inconcebível pois é um sinal de morte social.

Quando fala em violência, está falando em falta de ordem representada pelas violações de conduta que caracterizam a vida moderna. Sobretudo numa sociedade que chega a 13 milhões de desempregados, confinados em agrupamentos familiares e comunitários que se regem, ainda, pelos padrões da sociedade tradicional. O negativo do programa de Bolsonaro lhes parece a rude e necessária defesa da ordem, a segurança de que o mundo não deve mudar.
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José de Souza Martins é sociólogo. Membro da Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, autor de “A Sociologia como Aventura” (Contexto). ‘A margem de erro’, Eu & Fim de Semana/Valor Econômico, 11/10/2018.

Alberto Aggio: Dias de espanto

- O Estado de S.Paulo

Entre a catástrofe e o desastre, nossa frágil democracia terá de resistir para sobreviver

Aos homens é facultada, sob determinadas circunstâncias, a escolha de como viver e, surpreendentemente, de experimentar também formas de como morrer. Mais precisamente, de como morrer num sentido especulativo resultante de escolhas no transcurso da vida.

No final da década de 90 do século passado, o antropólogo mexicano Roger Bartra escreveu um pequeno artigo que toca nesse tema. A partir do contexto latino-americano, Bartra sugere quatro formas de experimentar a morte intelectual. A primeira é buscar a fama a qualquer custo, num campo específico de atuação ou na mídia. A segunda é tornar-se um especialista e conselheiro profissional. A terceira é o que ele chama de “morte mercantil”, uma opção assumida pelos escritores dos best-sellers do momento. Em todas se verifica a presença do vírus democrático (ou a massificação da cultura) na causa mortis. Por fim, a morte lenta, que ataca os intelectuais de esquerda que perderam seus referenciais depois do colapso do “comunismo histórico”. Eles continuam sua pregação utópica, mas demarcada por um pragmatismo cada vez mais explícito. Sem condescendência, Bartra termina o artigo brincando com os leitores a respeito da “sua morte intelectual”. Diz ele: “Eu já escolhi a minha... Mas não direi qual é!”.

Evidentemente, existem outras formas de vivenciar a morte intelectual. Há de tudo, desde a voz solitária do tribuno republicano pregando a refundação do Estado até os velhos líderes estudantis que se tornam gourmets famosos e apreciam viajar pelo mundo. Embora no campo da esquerda quase todos os intelectuais vivenciem, de alguma maneira, essa experiência, há situações drásticas como, por exemplo, a de Fernando Haddad, que decidiu experimentar a sua morte intelectual de maneira explícita e em praça pública quando assumiu, na atual campanha eleitoral, o papel de fantoche de Lula, preso em Curitiba por corrupção e com mais processos a serem julgados de gravidade similar à daquele que o condenou.

Em nosso tempo, não só os intelectuais experimentam a diversidade de formas de se aproximar ou consumar a “sua morte”. Hoje sabemos, pelo livro de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt Como as Democracias Morrem (Zahar, 2018), que também as democracias morrem não apenas por golpes de força, como antigamente. Embora as críticas feitas ao livro por Marcus André Melo em artigos recentes mereçam atenta leitura, especialmente sua crítica a respeito do desconhecimento da situação brasileira pelos autores, notadamente do papel desestabilizador da democracia promovido pelo PT.

Eliane Cantanhêde: Quase lá

- O Estado de S.Paulo

De onde Haddad pode tirar votos para tentar virar o jogo no segundo turno?

As últimas pesquisas foram recebidas com alívio, até com discreta comemoração, na campanha de Jair Bolsonaro, do PSL, que não só continua liderando com folga como mantém a diferença do fim do primeiro turno. Era de 17 pontos, agora é de 16. Ou seja, ele e Fernando Haddad, do PT, cresceram praticamente a mesma coisa, 12 um, 13 o outro, o que cristaliza o favoritismo de Bolsonaro. Só o “imponderável”, ou uma “hecatombe”, tiraria a vitória do capitão.

O pior já passou. Esse é o clima entre os bolsonaristas, que esperavam ansiosamente as primeiras pesquisas, temendo uma transferência maciça de votos de Ciro Gomes (PDT) para Haddad. Ciro ficou em terceiro lugar, com 12%, e isso poderia reduzir significativamente a distância entre o capitão e o petista. Mas não aconteceu e Ciro está voando para o exterior.

No PT, a conta é a seguinte: com 16 pontos de diferença, basta mudar oito pontos para um empate. Aritmeticamente está certo, porque, se um voto sai de um para o outro, a diferença entre eles cai dois pontos. Mas a questão não é aritmética, é político-eleitoral. E, aí, a conta não fecha. Numa eleição radicalizada como a atual, dificilmente haverá uma migração de votos de Bolsonaro para Haddad ou de Haddad para Bolsonaro. Quem votou num não vota no outro de jeito nenhum.

Logo, o desafio do PT para dar a volta por cima não é tirar voto do adversário, mas pescar votos dos candidatos derrotados. O principal deles é Ciro, porque teve mais votos e porque 70% dos seus eleitores, segundo o Datafolha, tendem a votar em Haddad.

Em seguida vem Geraldo Alckmin, do PSDB, que chegou em quarto lugar, com menos de 5% dos votos. Para piorar, 54% dos seus eleitores, segundo a pesquisa, preferem Bolsonaro a Haddad. O resto é o resto, inclusive Marina Silva, que tem peso simbólico, mas perdeu relevância eleitoral, ao cair do segundo para o oitavo lugar, com 1%.

Merval Pereira: A boca do jacaré

- O Globo

PT aceitou uma derrota simbólica de relevância, permitindo que Haddad apagasse de sua propaganda o rosto de Lula

No jargão dos institutos de pesquisa, quando os gráficos mostram um desenho que distancia dois competidores de maneira clara, diz-se que “abriu a boca do jacaré”. E quando ela abre, é difícil ser fechada. O fato é que uma vitória de Haddad seria mudar em 15 dias tudo o que o eleitorado brasileiro fez no último domingo, quando varreu figuras tradicionais da política brasileira, apartidariamente, mas atingindo, inclusive, políticos do PT ou seus aliados mais explícitos, com uma ou outra exceção devida a peculiaridades da política local.

A situação é tão grave que o PT aceitou uma derrota simbólica de relevância, permitindo que Haddad apagasse de sua propaganda o rosto de Lula e, mais que isso, trocasse a cor vermelha da propaganda, pelo verde-amarelo típico da campanha de Bolsonaro.

É interessante notar que desde 2013, quando das manifestações populares difusas contra “tudo o que está aí”, e depois nas passeatas a favor do impeachment de Dilma, os manifestantes que usavam o verde-amarelo, geralmente com a camisa da seleção brasileira de futebol, eram ridiculamente acusados pelos petistas de serem “coxinhas” coniventes com a corrupção da CBF.

Agora, os cartazes do petismo que quer se esconder mostram moças e rapazes com a camisa da seleção, com a mão no peito em sinal de respeito, e olhando para o horizonte, dignos do realismo socialista do tempo de Stálin na União Soviética. E o desaparecimento da figura de Lula dos cartazes lembra muito o hábito stanilista de apagar das fotos os que caíam em desgraça no regime comunista, muito antes de aparecer o Photoshop.

Míriam Leitão: A democracia em momento extremo

- O Globo

Após período de lua de mel, tanto Bolsonaro quanto Haddad devem enfrentar grandes dificuldades nas negociações com o Congresso

Qual dos dois candidatos do segundo turno teria melhores condições de governabilidade? Como a composição do Congresso é mais de centro-direita, seria Jair Bolsonaro, diz o cientista político Carlos Pereira, da FGV. Carlos Ranulfo, da UFMG, discorda, lembrando que o PT governou com a mesma coalizão. Pereira acha que Bolsonaro está avisando que tentará governar sem passar pelos partidos, como Collor fez. Isso traz sucesso, no primeiro momento, e conflito, depois. Já o PT, lembra Ranulfo, se aprisionou no discurso do golpe e Fernando Haddad teria que mudar essa postura.

Não será fácil para ninguém, na verdade. A entrevista que fiz com os dois cientistas políticos mostra visões diferentes sobre o que acontecerá na sempre difícil relação entre Executivo e Congresso no Brasil. O primeiro momento é o da lua de mel, no qual todos os presidentes tiveram sucesso, mas depois pode haver grandes dificuldades. Carlos Ranulfo acha “um erro enorme” colocar o PT como extrema-esquerda.

— Isso não existe, ninguém jamais colocou o PT como extrema-esquerda, a gente faz entrevistas com parlamentares e pergunta como eles posicionam os partidos. Ele se moderou brutalmente, como todos os partidos de esquerda — diz Carlos Ranulfo, mas Carlos Pereira discorda.

— Acho que o antipetismo não surge por acaso, foi por erros dramáticos do PT nos últimos anos. O PT namorou muito tempo o iliberalismo. A própria campanha de Haddad não reconhece as instituições judiciais que puniram Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. E aí é que está o meu receio. De ele não conseguir ofertar compromissos críveis de respeitar as instituições de controle. O partido vai sofrer uma pressão interna muito grande no sentido de controlar a PF, o MP, a mídia — diz Carlos Pereira.

Ranulfo define como “retórica” as críticas do PT às instituições democráticas e acha que a ameaça vem de Bolsonaro:

—Não há comparação em riscos à democracia. Numa escala de 1 a 10, Bolsonaro é 8, e o PT é 1, na minha opinião.

Hélio Schwartsman: Bolsonaro é neofascista?

- Folha de S. Paulo

Há mais de uma resposta possível para a pergunta

Afinal, Jair Bolsonaro se qualifica ou não como um neofascista? Se por “neofascista” você entende alguém que dá declarações que fazem pouco da democracia e dos direitos humanos, então não há dúvida de que o capitão reformado é um. Seu histórico nesse quesito é implacável.

Se, entretanto, você colocar o sarrafo um pouco mais alto e reservar o termo “neofascista” para líderes eleitos que tomam medidas que erodem as instituições, desfigurando a democracia, aí a resposta intelectualmente honesta é “não sabemos”. E não sabemos porque o futuro é contingente. Bolsonaro nem sequer foi eleito ainda e não há meio de saber de antemão como ele se comportaria.

Como não temos a bola de cristal, só o que podemos fazer é consultar os ditos e os feitos dos candidatos e estimar riscos. Não é uma ciência exata. O presidente turco Recep Erdogan, hoje um dos mais ativos autocratas do planeta, foi por mais de uma década universalmente saudado como campeão da democracia e exemplo a ser seguido pelo mundo islâmico.

Bruno Boghossian: Força da gravidade

- Folha de S. Paulo

Adesões aos candidatos moldam programas e alianças de futuros governos

A movimentação dos atores políticos neste início de segundo turno permite medir a intensidade dos campos gravitacionais dos dois nomes da disputa. As adesões às chapas de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) nas próximas semanas dará uma pista das alianças que podem moldar seus governos.

Quanto mais forte está um candidato, menor a necessidade de fazer concessões, ajustar discursos e moderar plataformas. Ao abrir vantagem sobre seu principal adversário, Bolsonaro atraiu o apoio de políticos interessados em se beneficiar de sua imagem ou derrotar o PT.

João Doria, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, apostou nos dois prêmios. No próprio domingo do primeiro turno, declarou voto no presidenciável. O tucano até afirmou que não concorda com todas as posições de Bolsonaro, mas depois se orgulhou em dizer que deu seu apoio sem pedir “contrapartida”.

A onda que empurra o candidato do PSL nesta eleição colocou sua campanha em posição confortável. Políticos de diversos partidos decidiram se colar a sua candidatura sem a exigência de qualquer mudança em seu programa, por exemplo.

Dora Kramer: Fragilidade ideológica

- Revista Veja

Nem direita nem esquerda: o eleitor escolhe o que lhe é vantajoso

A onda direitista que varreu o Brasil junto com os efeitos do “antipetismo” arraigado nas almas brasileiras é a explicação recorrente e quase unânime para o desempenho exitoso de Jair Bolsonaro nesta eleição. Realmente é o que fazem supor as aparências. Mas não necessariamente é o que está depositado sob camadas menos aparentes da realidade ainda no aguardo de ser desvendadas.

Não tenho notícia de que o país fosse esquerdista em 2002 e assim tivesse se mantido pelos seguintes doze anos em que elegeu e reelegeu governantes do PT. Pelo critério das análises correntes, o brasileiro seria um povo muito volúvel. Foi de direita ao escolher Fernando Collor, aderiu ao centro quando elegeu Fernando Henrique duas vezes em primeiro turno, inscreveu-se na esquerda nas eleições e reeleições de Luiz Inácio da Silva e Dilma Rousseff, e voltou-se de novo para o direitismo ao levar Bolsonaro agora à condição de campeão do primeiro turno em situação numérica e politicamente difícil (para dizer pouco) de ser modificada.

Em nenhuma dessas ocasiões esteve em jogo a ideologia. Na maioria, o eleitor é antes de tudo um pragmático. Não é esquerdista nem direitista, é governista quando isso evoca a obtenção de benefícios, e daí faz a escolha que lhe parece mais vantajosa como demonstra a fidelidade do Nordeste ao PT — misto de gratidão e crença de que o Brasil possa ser “feliz de novo” mediante a mágica de um toque na tecla da urna.

Minoritários, os eleitores ideológicos habitam as extremidades, embora a média possa se comportar de maneira extremada quando pautada por turbulências mentais e emocionais. Duas eleições passadas foram, como esta agora, marcadas por boa dose de irracionalidade, algo comparado a uma “fé de manada” contra a qual não há argumento que dê jeito.

Vinicius Torres Freire: O instável Bolsonaro e o mercado

- Folha de S. Paulo

Declarações sobre capital estrangeiro e privatizações viajaram e pegaram mal lá fora

Líderes políticos, economistas e aliados de Jair Bolsonaro (PSL) mandaram recados de paz a figuras relevantes da finança, a partir da noite de quarta-feira (10), depois da consternação causada por declarações antiliberais da campanha bolsonarista.

Não adiantou muito.

O plano era desfazer a péssima impressão que o candidato e próximos deixaram ao criticar o plano de reforma de Previdência do governo de Michel Temer, de insinuar que qualquer reforma seria aguada e concentrada na mudança na aposentadoria de servidores mais ricos.

Bolsonaro reavivou velhas suspeitas sobre suas convicções ao praticamente negar que haveria qualquer privatização relevante em seu governo, Eletrobras inclusive, e de mostrar "imensa má vontade", no dizer de um grande investidor, com o capital estrangeiro, ao levantar suspeitas sobre o dinheiro vindo da China.

Não foram apenas as ações de estatais que desabaram, em parte por causa do falatório da campanha do líder nas pesquisas. Também voltou a cair a confiança na estabilidade das orientações de um governo bolsonarista.

As afirmações de Bolsonaro sobre a reforma da Previdência juntaram-se a uma série de declarações confusas sobre o assunto, desde que o candidato lançou seu programa.

Não pegou bem, mas não seria assim novidade e, dizem financistas, "há sinais internos" da campanha bolsonarista de que haverá um projeto de reforma relevante já no início do ano que vem.

São eles que estão dizendo.

As críticas de Bolsonaro ao capital estrangeiro e a privatizações tiveram repercussão um pouco pior.

Ricardo Noblat: Os que estão chegando

- Blog do Noblat | Veja

O governo dos melhores

“Quando eu construí estrada, não tinha nem Ministério Público nem o Ibama. A primeira árvore que nós derrubamos, eu estava ali… derrubei todas as árvores que tinha à frente, sem ninguém encher o saco”. (Oswaldo Ferreira, general da reserva, cotado para ser ministro dos Transportes de um eventual governo de Bolsonaro)

“Se Deus permitir que eu ponha a mão nisso, eu viro do avesso. Não vai sobrar pedra sobre pedra. Não é tirar sujeira debaixo do tapete, é virar do avesso, pela raiz”. (Henrique Prata, pecuarista, diretor de hospital, convidado por Bolsonaro em agosto último para ser ministro da Saúde)

“Todo mundo aí trabalhou para o Aécio, ladrão, maconheiro. Trabalhou para o Temer, ladrão. Trabalhou pro Sarney, ladrão e mau-caráter que aparelhou o Brasil inteiro. Aí chega um sujeito completamente tosco, bruto e consegue voto como o Lula conseguiu…”(Paulo Guedes, economista, convidado por Bolsonaro para ser ministro da Fazenda.)

“Comparar o que aconteceu entre 1964 e 1985 a uma ditadura é o fim da picada. Desapareceram 400. Morreram pessoas em que circunstâncias? Hoje morre isso no Carnaval e não se fala nada”. (Jair Bolsonaro)

Elena Landau: Figura oculta

- O Estado de S.Paulo

Regras do setor elétrico estão velhas e órgão regulador assiste pacificamente esse descalabro

Hoje é Dia das Crianças. Há exatamente cinco anos, nesse dia, Dilma enriqueceu o anedotário nacional com uma de suas inesquecíveis pérolas: “Sempre que você olha uma criança há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás”. E completou “O que é algo muito importante”.

A ex-presidente nos deixou muitas heranças, afora sua grande contribuição para o anedotário político. Além da crise fiscal e do desemprego recorde, Dilma, supostamente uma especialista em energia, se empenhou pessoalmente na implementação da Medida Provisória 579, de 11 de setembro de 2012, que levou ao desmonte do setor elétrico.

Foi a mais nefasta interferência do governo no setor da nossa história. Ela nos legou uma Eletrobrás quase falida ao derrubar as receitas da estatal, elevação das tarifas, riscos regulatórios altíssimos e judicialização que interfere nas transações comerciais.

Os aumentos de tarifas deste ano, muito acima da inflação, acenderem finalmente o sinal de alerta para os problemas do setor elétrico. O consumidor, em geral, não sabe como se forma exatamente o valor que aparece na cobrança, por isso, tende a colocar toda a culpa na sua distribuidora de energia. 

Ele não sabe, por exemplo, que 2/3 do que paga são decorrentes de encargos (que carregam os custos de subsídios e as ineficiências decorrentes da desastrosa MP), tributos e da compra de energia. A distribuidora é mera repassadora desses custos.

Ele também não sabe que está consumindo uma energia mais cara porque o governo em vez de fazer uma campanha incentivando o uso eficiente de energia, prefere colocar para operar térmicas caríssimas e disfarçar problemas de oferta. O trauma político decorrente do racionamento de 2001 interditou qualquer iniciativa de redução no consumo, mesmo que seja através de uma campanha esclarecedora. Ao usuário do serviço não é dada muita escolha.

Ele não tem como administrar sua conta porque no Brasil estamos muito atrasados em relação ao resto do mundo em utilizar tecnologia e regulação que permita saber quanto gasta e consome ao longo do dia. Ele só tem certeza de uma coisa: está pagando caro demais.

As regras do setor elétrico estão velhas, ultrapassadas e não dão conta das mudanças que vêm afetando a produção, distribuição e consumo em todo o mundo. Nosso modelo não se preocupa com preços, mas apenas em colocar à disposição energia a qualquer custo. Nunca deu prioridade à eficiência.

O órgão regulador assiste passivamente a esse descalabro como mero ratificador das más ideias que saem da cabeça de políticos de passagem pelo Executivo.

Candidatos têm de ajudar a conter onda de violência: Editorial | O Globo

Bolsonaro e Haddad dão declarações de apaziguamento, mas precisam continuar atentos

A campanha eleitoral já produziu uma sucessão de episódios violentos como o atentado a candidato presidencial, assassinato, agressões, ameaças e tentativas de intimidação à imprensa em geral, e a jornalistas em particular.

Em todas as regiões são listados, diariamente, casos de violência de gênero, ideológica, racial e religiosa com raízes no ambiente de polarização político-eleitoral.

O fenômeno não é inédito, apenas possui maior visibilidade devido a um ativismo extremado que se reflete nas redes sociais.

O núcleo de estudos FGV-DAPP mapeou mais de seis milhões de postagens durante a campanha eleitoral e contabilizou, entre outras, 1,8 milhão de manifestações de discriminação aos nordestinos; 1,4 milhão de apoio ao nazifascismo; 1 milhão contra mulheres; 1 milhão contra minorias LGBT e outro milhão contra evangélicos, comunistas e negros.

Nesse ambiente de polarização, têm-se tragédias como a facada em Bolsonaro, candidato do PSL, em Minas Gerais, e o assassinato de um mestre de capoeira, na Bahia

Casos de agressões a profissionais da comunicação, segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), já somam 137 na temporada eleitoral. Foram 75 ataques por meios digitais, tendo como alvo 64 profissionais, e outros 62 casos físicos, com 60 vítimas.

São fatos sintomáticos de algo muito grave — o embrião de um processo de radicalização social. E isso não é bom para nenhum dos competidores políticos, muito menos para o ambiente que se pretende democrático numa eleição.

Os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), igualmente, têm o dever de repudiar atos dessa natureza e, principalmente, de demonstrar firmeza, de forma absolutamente inequívoca, para conter os seus radicais partidários nas ruas, nas redes, nos palanques, onde for.

Terra de ninguém: Editorial | Folha de S. Paulo

Avanço bolsonarista ameaça partidos tradicionais nos estados

A onda direitista que abalou o sistema político brasileiro nas eleições deste ano teve reflexos importantes nos estados, atingindo com força os principais partidos.

O MDB, que mandou em sete unidades da Federação nos últimos anos, colheu uma única vitória nas urnas no domingo (7), em Alagoas. No segundo turno, a sigla só tem três concorrentes.

O partido do presidente Michel Temer também viu seu domínio se esfacelar no Senado, onde a bancada foi reduzida quase pela metade e até o presidente da Casa, Eunício Oliveira (CE), perdeu a cadeira.

O PT conseguiu conservar parte de sua força no Nordeste, reelegendo três governadores e garantindo vaga na disputa final do Rio Grande do Norte, mas perdeu o Acre e Minas Gerais.

Mas ninguém saiu mais desconcertado do primeiro turno do que o PSDB. Os tucanos não alcançaram vitória em nenhum estado nessa etapa e enfrentam dificuldades nos dois maiores colégios eleitorais em que continuam no páreo.

Em Minas, o ex-governador Antonio Anastasia (PSDB) foi ultrapassado na chegada ao segundo turno por um novato, o empresário RomeuZema (Novo), que se tornou o favorito para vencer o pleito.

Mais um engodo petista: Editorial | O Estado de S. Paulo

O PT planeja lançar uma “frente democrática” no segundo turno, em defesa da candidatura do preposto do presidiário Lula da Silva, Fernando Haddad. Sob a coordenação de Jaques Wagner, a legenda tenta pregar mais uma peça na população brasileira, dizendo que o PT pode ser o bastião da democracia ante o avanço da candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSL).

Com o PT a democracia sempre esteve em risco. Basta ver que, no momento em que Lula ocupava a Presidência da República e o partido desfrutava de expressivo apoio popular, a legenda optou por subverter a democracia representativa, comprando parlamentares por meio do esquema que depois ficaria conhecido como mensalão. Mesmo após a confirmação do caso, o PT não fez nenhuma autocrítica. Os petistas nunca pediram desculpas à população brasileira por terem desrespeitado o princípio constitucional de que todo o poder emana do povo – sob o jugo do PT, o poder emanava do dinheiro periodicamente pago aos parlamentares.

Não satisfeito com o mensalão, o PT instalou outro esquema de corrupção do sistema político, o petrolão, com o uso das estatais para intermediar a compra de apoio político em troca de benesses econômicas. Além de os valores desviados das empresas públicas terem atingido cifras até então inauditas – o escândalo do mensalão ficou parecendo manobra de principiante –, o petrolão representou um novo grau de subversão do poder. Era a apropriação de todo o aparato do Estado por parte de uma causa político-partidária. Evidentemente, esse cenário não é compatível com o que se espera de uma democracia pujante.

Fracassa tentativa de formar frente pró-Haddad

Com a resistência também de Marina Silva, da Rede, fracassou a tentativa de articular “frente democrática” para apoiar o PT.

O primeiro fracasso

Ciro e Marina se afastam, e emperram plano petista por ‘frente democrática

Sérgio Roxo e Bela Megale | O Globo

SÃO PAULO E BRASÍLIA - Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) frustraram, ao menos por ora, o plano do candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, de se apresentar como representante de uma frente democrática no segundo turno contra Jair Bolsonaro (PSL). Os dois presidenciáveis sinalizaram que não vão embarcar de cabeça na campanha petista, como planejava o ex-ministro petista Jaques Wagner.

Ciro disse a aliados que viajaria ontem para a Europa, onde deve ficar por um período de cinco a sete dias. Quando voltar, na semana que vem, faltarão apenas dez dias para a eleição.

A adesão total de Ciro à campanha era tratada como questão de tempo pelos aliados do presidenciável petista. No plano traçado, a construção da frente começaria pelo PDT e seu presidenciável para depois atrair eventualmente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e Marina Silva, candidata da Rede. Anteontem, o PDT declarou apoio crítico à candidatura de Haddad no segundo turno.

—Não há nenhum encontro marcado com a campanha do Haddad. Manteremos nossa posição de ter um apoio crítico —disse o presidente do PDT, Carlos Lupi.

Após reunião que entrou pela madrugada de ontem, Marina Silva e os dirigentes da Rede anunciaram que não apoiam nenhum dos dois candidatos que chegaram ao segundo turno, mas disseram que o eleitor não deve apoiar Bolsonaro. Marina disse que há problemas éticos tanto do lado do PT, quanto do militar:

— A decisão do partido considera que nenhum dos dois projetos representa os anseios políticos econômicos e sociais do Brasil. Ambos têm graves problemas do ponto de vista ético. Recomendamos que nenhum voto seja dado a Bolsonaro pelo que ele representa contrário à democracia e à proteção dos direitos humanos.

Ao responder se estaria dando apoio indireto a Fernando Haddad, respondeu:

— Em relação ao outro candidato, que as pessoas votem de acordo com a sua consciência. Poderão votar nulo, branco ou qualquer que seja o voto.

Bolsonaro pede que aliados evitem falar com imprensa

Presidenciável do PSL se encontra com partidários e parlamentares eleitos pela legenda; coletiva tem clima tenso e vaias a jornalistas

Fernanda Nunes, Vinicius Neder e Constança Rezende | O Estado de S.Paulo

RIO - A imprensa esteve no foco do candidato à Presidência pelo PSL nas eleições 2018, Jair Bolsonaro. Ainda pela manhã desta quinta-feira, 11, no Twitter, o presidenciável divulgou um texto sob o título “Imprensa Lixo!”, no qual comentou o assassinato do mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa após uma discussão sobre política, na Bahia. À tarde, num hotel do Rio, pediu aos aliados para que não falem com a imprensa que, em sua opinião, “é toda de esquerda” e “quer arranjar um meio” de desgastá-lo.

Durante entrevista coletiva, a primeira desde o resultado primeiro turno das eleições 2018, Bolsonaro ainda garantiu que vai defender a liberdade de imprensa e que seu plano não inclui o controle social da mídia. “Pessoal da imprensa, porque não dizer amigos, queremos que vocês sejam realmente independentes e tenham responsabilidade em tudo aquilo que escrevem”. Apesar da afirmação, alguns repórteres foram vaiados e hostilizados por partidários de Bolsonaro.

No texto postado no Twitter, Bolsonaro sugeriu que os jornais tentam prejudicá-lo ao afirmar que o assassino do mestre de capoeira é um eleitor seu. Bolsonaro escreveu que “o assassino não é um eleitor” e que “o crime não teve nada a ver com política”. Costa foi assassinado na madrugada da segunda-feira, num bar de Salvador (BA), após se posicionar contra o candidato do PSL. O assassino, Paulo Sérgio Ferreira de Santana, deixou o bar e voltou com uma faca para matar o mestre de capoeira com 12 golpes.

Bolsonaro anuncia três ministros, critica a mídia e reafirma bandeiras

Durante discurso, presidenciável falou sobre a proposta de 13º para beneficiários do Bolsa Família

Talita Fernandes e Sérgio Rangel | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA E RIO DE JANEIRO - O candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) fez nesta quinta (11) no Rio seu primeiro evento de campanha do segundo turno, no qual anunciou três ministros, criticou a mídia e reafirmou bandeiras polêmicas.

Um dos nomes a compor seu eventual governo já havia sido confirmado anteriormente, o economista Paulo Guedes, que comandará a fusão da Fazenda com o Planejamento.

Os outros dois eram especulados, mas não confirmados. Uma Casa Civil sob Bolsonaro será ocupada pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS).

Ligado à bancada ruralista, Onyx (pronuncia-se oníx) é conhecido por sua retórica anti-PT, exercitada desde os tempos da CPI dos Correios, que apurou o mensalão.

Aproximou-se de Bolsonaro e desde o ano passado ajuda a costurar apoios suprapartidários a ele na Câmara.

A Defesa ficará com o general da reserva Augusto Heleno, seu colaborador que quase ocupou a vice na chapa. Informado pela Folha sobre o anúncio, o militar desconversou: "Não sabia de nada".

Bolsonaro falou por cerca de 20 minutos num salão com integrantes da bancada federal eleita pelo —PSL 52 deputados e 4 senadores. Pediu prioridade à eleição presidencial. Segundo o Datafolha, ele tem 58% das intenções de votos válidos, contra 42% de Fernando Haddad (PT).

O encontro foi transmitido pela internet pela deputada federal eleita Joice Hasselmann (PSL-SP). Nele, o deputado repassou o roteiro de ação.

PPS vai debater em dezembro a troca de nome do partido

- Portal do PPS

Mudança de nome foi decida no 19º Congresso Nacional do PPS, em março

O presidente nacional do PPS, Roberto Freire (SP), afirmou, nesta quarta-feira (10), que o partido irá realizar reunião do Diretório Nacional em dezembro para debater a escolha do novo nome da sigla Ele lembrou que a decisão já havia sido tomada no 19º Congresso Nacional do PPS, em março.

“O PPS já havia decidido no seu Congresso [Nacional] a mudança do nome e a sua nova forma de organização. Uma nova formação política. Isso em função inclusiva da integração de alguns movimentos [sociais]. Dentre eles o Agora!, o Livres e outros que começaram, na sociedade, a buscar partidos para participar do processo político eleitoral”, disse.

Estruturar a nova realidade
Freire destacou que o PPS teve um bom desempenho nas últimas eleições e que conseguiu superar a clausula de barreira, a obtenção 1% dos votos válidos para deputado federal em nove estados e 1,5% em todo País.

Para o dirigente, a reunião que será realizada em dezembro para decidir a mudança da denominação da legenda servirá para estruturar a nova realidade política enfrentada pelo País, levando-se em consideração a longa história do PPS/PCB (Partido Comunista Brasileiro).

“O PPS teve um bom resultado na eleição. Superamos a clausula de barreira e vamos agora implementar essa decisão do Congresso [Nacional]. A partir do primeiro dia de dezembro, o PPS irá marcar, até o dia 15 [de dezembro], uma reunião do Diretório Nacional exatamente para fazer a mudança [do nome], para ver como estruturar essa nova realidade da nossa longa história do novo partido que surgirá a partir do PPS”, afirmou.

Graziela Melo: É a alma

È
a alma
que
entristece

quando
anoitece....

Suas vertentes
inclinadas
derramam
lágrimas
no coração,
em rajadas,
em turbilhão!!!!

È o grito
triste
da solidão...

È o momento
infeliz

quando
os olhos
se calam,

quando
a boca
não diz!!!