terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Opinião do dia: Rubens Bueno*

Se este governo der certo é porque todo o resto está errado.


*Rubens Bueno, deputado federal (PPS-PR), Blog do Noblat, 19/2/2019

Vera Magalhães: Episódio levou presidente à capitulação pública

- O Estado de S. Paulo

Carlos Bolsonaro pode cantar vitória e se vangloriar de ter derrubado um desafeto. Mas o filho mais ativo do presidente da República tratou de criar a primeira fissura importante no casco da popularidade do pai, o forçou a uma capitulação pública em vídeo para evitar (ou tentar) que Gustavo Bebianno falasse o que viu no tempo em que foi um aliado da família e bagunçou o coreto da política às vésperas de o governo enfrentar sua principal batalha, a da reforma da Previdência.

O vídeo em que, visivelmente constrangido, Bolsonaro fala nada com nada a respeito da saída de seu secretário-geral da Presidência e diz que “tem de reconhecer” a dedicação, o empenho, o esforço, o comprometimento (só faltou falar dos belos olhos) de um de seus apoiadores de primeira hora é uma confissão pública de que o presidente tem o que temer.

Nada disso teria sido necessário se não fosse o afã de Carlos de derrubar um desafeto – que só o é por conta da paranoia ideológica que guia a leitura de mundo e de política dos filhos do presidente. Conseguiu seu intento, mas a que preço?

Corroeu parte da credibilidade do pai junto aos militares, que se assustaram com a presença tóxica da família em assuntos de Estado, escancarou o telhado de vidro do clã com o que Bebianno pode saber e queimou todo o seu próprio crédito logo na primeira mesada como filho do presidente.

Sim, porque se Bebianno caiu, Carluxo também terá de sair de cena publicamente, ao menos por um tempo. Foi com isso que Bolsonaro se comprometeu diante dos muitos bombeiros que tentaram apagar o fogo que ele mesmo acendeu.

Eliane Cantanhêde: Quem é o ‘oponente’?

- O Estado de S.Paulo

Bebianno é lutador de jiu-jítsu, conhece e treina técnicas para golpear os ‘oponentes’

O governo Jair Bolsonaro repete os governos de Lula e Dilma Rousseff: quando alguma coisa vai mal, a culpa é da mídia. Os presidentes fazem tudo certo, os ministros são impecáveis, as coisas vão sempre às mil maravilhas e só quem não reconhece isso são tevês, rádios, jornais, revistas. Os “inimigos do Brasil”.

É como se houvesse um complô midiático pronto a derrubar qualquer governo, coitado, tão frágil, tão desprovidos de canais de comunicação e propaganda. Mas o pior de tudo isso é que tem muita gente que acredita. Ou quer acreditar.

Esse script da vitimização, usado com muito êxito por Lula nos seus oito anos, passa por jogar eleitores, eleitoras e incautos em geral contra a mídia que divulga informações – na maioria oficiais –, relata fatos muitas vezes desagradáveis sobre os poderosos, publica entrevistas de adversários e de antigos aliados cheios de mágoa.

A virulência dos bolsonaristas equivale à dos petistas e Bolsonaro repete Lula, só que não se limita a jogar sua tropa contra a mídia e usa diretamente um instrumento poderoso nessa guerra: as redes sociais, um mundo virtual com uma “verdade” própria, uma realidade paralela entre “bons” e “maus”.

A novela Gustavo Bebianno tem esse script. O presidente da República grava entrevista chamando o ministro de mentiroso e dizendo que ele pode “voltar às origens”. O filho do presidente, vereador Carlos Bolsonaro, reafirma que o ministro é mentiroso e divulga o áudio de um “não” do pai para ele. E, a partir daí, Bebianno vira uma fera ferida, cheio de ameaças.

E de quem é a culpa? Do presidente? Não. Do filho? Não. Do ministro? Não. Do PSL? Não. A culpa, gente, é da imprensa, que divulgou todas essas etapas sem retoque, a verdade como ela é.

Circulam textos falando que a imprensa faz uma “defesa apaixonada” de Bebianno porque tem uma ideia fixa: derrubar o presidente Bolsonaro. Seria cômico, não fosse trágico, que muita gente “esclarecida” acredite e divulgue esse tipo de coisa. É jogar os fatos fora, tampar bocas, olhos e ouvidos para não enfrentar a realidade e poder engolir qualquer coisa que o “Grande Irmão” diga ou mande dizer.

Merval Pereira: Uma questão pessoal

- O Globo

Presidente Bolsonaro demonstra uma maneira de lidar com as crises políticas que não o ajuda a governar

Ao definir como “de foro íntimo” os motivos para a demissão do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, seu ex-amigo Gustavo Bebianno, o presidente Bolsonaro revela muito mais do que parece, não se sabe se intencionalmente. Pelo depoimento gravado divulgado no final da noite, onde diz que continua acreditando na seriedade de Bebianno, o uso da expressão “foro íntimo” pode ter sido apenas um vício de linguagem.

Colocando a demissão no campo pessoal (“julgamento da consciência acerca de coisas morais”), Bolsonaro confirma, porém, que não houve razão funcional para descartar Bebianno com 50 dias de governo. O presidente Bolsonaro demonstra, assim, uma maneira de lidar com as crises políticas que não o ajuda a governar. A decisão de ir pessoalmente ao Congresso para entregar a reforma da Previdência, porém, mostra que o presidente procura reconstruir a confiança abalada entre os políticos.

Dizia-se, e Fernando Henrique assumiu essa definição, que as crises saíam menores de seu gabinete. Com Bolsonaro, é o contrário até o momento. Embora tenha dado sinais, esta semana, de que não pretende atear mais álcool na fogueira de vaidades que sempre cerca um presidente, Bolsonaro saiu menor desse episódio, seja pelo bate-boca com seu ministro, humilhando-o publicamente, seja pela demora de uma decisão.

Temos exemplos ultimamente de presidentes que demitiram ministros sem dó nem piedade, desde Dilma, que bateu recorde em quantidade, mas não em rapidez, marca que fica com Bolsonaro, passando por Lula e Fernando Henrique. Lula demitiu José Dirceu e Palocci, quando estes passaram a ser um fardo político. Fernando Henrique não hesitou em demitir seu amigo Clóvis Carvalho, para avalizar posições do ministro da Fazenda, Pedro Malan.

José Casado: Uma disputa pelo poder

- O Globo

A crise tem nome, Jair Bolsonaro é o sobrenome do clã político que molda um projeto de poder desde a chegada do patriarca à Presidência. Um dos objetivos é a preparação do terreno para a próxima temporada eleitoral. Dentro de 20 meses acontecem eleições em 5,6 mil municípios e, desta vez, sem coligação partidária. O clã prevê concentrar interesses no Rio e mais 30 dos maiores colégios eleitorais.

Requisito elementar é controlar o partido, decidira partilhados fundos públicos e as alianças regionais.

O PSL tinha um par de votos na Câmara. Agora possui a segunda maior bancada, com 52 deputados. O “efeito Bolsonaro” se refletiu no caixa: o PSL terá 18 vezes mais dinheiro do Tesouro Nacional. Era empresa com faturamento anual de R$ 6 milhões, alcançando R$ 15 milhões nas safras eleitorais. Se tornou um negócio de R$ 110 milhões por ano, com chance de chegar a R$ 200 milhões.

Há um ano, o clã abandonou subitamente o Patriota/ PEN, ligado à Assembleia de Deus, e migrou para o PSL, do advogado Luciano Bivar, autor de “Psicoses socialistas”.

Numa “convergência de pensamentos”, como definiu Bivar, a família de políticos obteve “garantias reais” — na definição do vereador Bolsonaro — sobre controle do caixa e dos diretórios em 23 estados.

Bivar se contentou coma presidência do partido e domínio de 15% do fundo eleitoral.

Míriam Leitão: A exoneração que desvia o foco

- O Globo

Briga foi criada para tirar o foco de um caso de desvio de fundo eleitoral, acontece na pior hora para a Previdência e tira do governo um aliado íntimo

Se o governo estava pensando em atrapalhar a reforma da Previdência, fez tudo certo até agora. Esses dias que precedem a entrega oficial da proposta foram de fratura exposta nas hostes governistas. A escolha desse estilo de exoneração, com humilhação e em câmera lenta, só faz sentido se o objetivo era ampliar ao máximo o tempo da exposição negativa do governo e alimentar a dispersão da base que ainda nem se formou adequadamente. A decisão foi anunciada três dias depois de tomada, com a única explicação de que era “de foro íntimo do presidente”.

A briga Bebianno-Bolsonaros foi em torno de uma espuma e não sobre o centro do problema. Isso foi deliberado. A reportagem da “Folha de S. Paulo” mostrou um caso claro de candidatura laranja. Para não se falar nisso, criou-se outro foco de atenção. A discussão passou a ser sobre se Bebianno havia falado ou não com Bolsonaro, se era mentiroso ou não. Permanece sem explicação o dinheiro enviado para uma candidatura laranja de Pernambuco, pelo PSL. Bebianno era presidente do partido e coordenador da campanha do presidente. Isso é o relevante. E não os maus modos de Carlos Bolsonaro, ou mesmo o fato de ter sido apoiado pelo pai presidente em suas ofensas ao ex-aliado. Desviar a atenção é truque tão velho quanto usar de forma tortuosa dinheiro do fundo eleitoral. A demora da exoneração de Bebianno e as ofertas de prêmios de consolação, que foram de cargo em estatal a embaixada, só aumentaram os indícios de irregularidade.

Uma crise política antes de uma reforma complexa é o pior que existe porque drena forças quando o governo deveria estar fazendo o movimento oposto: acumulando forças. Ao mesmo tempo, informa-se que o presidente e sua família pensam em se mudar para um novo partido, a UDN. E isso antes de se costurar qualquer coisa parecida com unidade dentro do PSL, partido que é capaz de se meter numa discussão pública sobre uma missão à China, ou expor uma disputa de egos, como a que houve entre os deputados Eduardo Bolsonaro e Joyce Hasselmann. O PSL virou o partido de passagem dos Bolsonaros enquanto não se ressuscita a UDN.

Bernardo Mello Franco: A nova UDN e a pipoca sem milho

- O Globo

O criador do novo partido que espera receber a família Bolsonaro confessa não saber muito sobre a velha UDN: ‘Puxei muito pela internet, entendeu?’

O Brasil tem 75 partidos políticos à espera de registro. Um deles já planeja nascer grande. É a nova UDN, que tenta ressuscitar uma sigla extinta há meio século para abrigar a família Bolsonaro.

O fundador da legenda, Marcus Alves de Souza, está animado. Ele diz que o clã ficou sem clima no PSL depois do escândalo do laranjal. A negociação foi noticiada pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, mas o dirigente evita comemorar as filiações ilustres. “Não posso fazer a pipoca sem ter o milho”, explica.

Souza tem planos imodestos. Quer filiar 35 deputados, o que transformaria a nova UDN na quarta maior bancada da Câmara. Também planeja atrair 12 senadores e 12 governadores, mas se recusa a revelar seus nomes. “Não fica de bom tom, né?”, desconversa.

O dirigente confessa saber pouco sobre a velha UDN. “Era um partido conservador, de direita, né? A gente vai continuar com esse DNA”, promete. Ele disse ter lido sobre a história da sigla, mas não soube citar nenhum livro a respeito. “Puxei muito pela internet, entendeu?”. O bolsonarista se surpreendeu ao constatar que ninguém havia tido a ideia antes. “O nome estava lá guardadinho, esperando eu pegar”, festeja.

Hélio Schwartsman: PSL e PT, tudo a ver

- Folha de S. Paulo

Além do discurso, os dois partidos chegaram ao poder prometendo revolução

Bolsonaristas e petistas têm muito mais em comum do que imaginam e gostariam. Eles se valem de racionalizações idênticas para tentar afastar o que os psicólogos chamam de dissonância cognitiva, que é o sofrimento mental experimentado quando identificamos uma incoerência entre as atitudes que consideramos corretas e a maldita realidade.

Nessas situações, o cérebro faz o que pode para apa ziguar a contradição. Vale fingir que não viu, torcer as definições, buscar argumentos fajutos. Mesmo que o resultado seja logicamente inconsistente, nós não desistimos de tentar, já que fazê-lo parece funcionar como uma espécie de anestesia.

Nos últimos dias, fui agraciado com um experimento natural que escancara esse mecanismo. Na sexta-feira, publiquei uma coluna em que destacava a picaretagem do PSL, o partido do presidente, que patrocinou candidaturas de fachada para pôr as mãos em verbas reservadas para a cota de mulheres. Ato contínuo, leitores me escreveram para dizer que eu estava sendo injusto ao falar só do PSL, já que outros partidos se valem do mesmo expediente.

Ricardo Noblat: Humilhação com humilhação se paga

- Blog do Noblat / Veja

O troco de Bebianno

Fala-se muito, e com, razão, da humilhação imposta pelo presidente Jair Bolsonaro, com a cumplicidade do seu filho Carlos, ao ex-ministro Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da presidência da República, antes seu motorista, advogado e coordenador de campanha.

Bebianno ficou cinco dias insepulto entre o momento em que foi chamado de mentiroso pelo pai e o filho, e o momento em que o porta-voz de Bolsonaro, à falta do que realmente portar, anunciou sua demissão. O motivo? Ora, questão de foro íntimo do “nosso presidente”.

Mandam os fatos que se diga, porém, que a humilhação foi recíproca. Nem todo esse tempo transcorreu unicamente devido ao desejo perverso do capitão de ver Bebianno se decompondo. O ex-ministro fez Bolsonaro suar de raiva.

Uma vez que Bebianno recusou-se a pedir demissão como desejava Bolsonaro, e disse não ao convite para ser diretor de Itaipu ou embaixador do Brasil em Roma, começou a procura para uma saída menos desonrosa para ele. E aí foi Bebianno que estava no controle.

Exigiu que Bolsonaro gravasse um vídeo pedindo desculpas. E fez inúmeros reparos ao texto a ser lido pelo presidente. O texto final só ficou pronto depois de muitas idas e vindas, intermediadas pelo ministro Onyx Lorenzoni, chefe da Casa Civil.

Por último, Bolsonaro fez uma molecagem com seu ministro: prometeu que postaria o vídeo em sua página no Twitter, mas faltou com a palavra. Mandou que vazassem o vídeo para a imprensa. Missão dada, missão cumprida. Foi ela que o divulgou.

Nas redes sociais, ouviu-se o brado dos devotos exultantes: O capitão é fogo! Bolsonaro espera que Bebianno não cometa a molecagem de falar como havia insinuado.

A milícia ganhou mais uma

Onde Bebianno foi se meter...

A demissão relâmpago de um ministro com direito a gabinete no Palácio do Planalto e assento nas reuniões diárias do presidente da República foi creditada a uma decisão de foro íntimo de quem pode mais.

Ou seja: o presidente não reconhece o direito dos seus governados de saber os motivos que o levaram a chamar de mentiroso um dos seus principais ministros, demitindo-o cinco dias depois.

Uma questão de Estado foi reduzida a uma questão de foro íntimo – do presidente que preferiu não dar explicações, e do ex-ministro que prometeu falar grosso, mas que acabou mudo.

Que o presidente não se queixe, pois, de informações de boas fontes que tentam iluminar uma crise política que ainda não tem data para acabar e que poderá comprometer o destino do seu governo.

Luiz Carlos Azedo: Arrivederci, Bebianno!

- Correio Braziliense

“A embaixada em Roma foi a última oferta feita pela turma do deixa-disso ao ministro Gustavo Bebianno, então secretário-geral da Presidência, para que deixasse o cargo sem estrilar”

O Palazzo Pamphilj, sede da embaixada do Brasil em Roma, no bairro Parioni, é um luxo. Localizado na Piazza Novona, começou a ser construído em 1630 pela poderosa família Pamphilj, à qual pertenceu o papa Inocêncio X. Em 1644, ganhou estruturas projetadas pelos arquitetos Girolamo Rainaldi e Francesco Borromini, que trabalhou também na construção da Basílica de San Pietro. E foi decorado com afrescos de Pietro da Cortona. Na reforma feita em 2000, restauradores brasileiros descobriram afrescos do século XVII, de Andrea Camassei, Gaspar Dughet e Giacinto Brandi. Mas a grande atração ainda é a Galeria Cortona, cujo teto tem um afresco de 33 m de Pietro Cortona, concluído em 1654. Com 12 portas de acesso, a galeria tem vista para a Piazza Navona e a famosa Fontana del Moro.

O núcleo originário do Palácio, na Praça Pasquino, foi adquirido em 1470 por Antônio Pamphilj, procurador fiscal da Câmara Apostólica, cujo filho, Angelo, casou-se com Emilia Millini, rica aristocrata romana. O dote dela incluía diversas casas na Praça Navona, o que possibilitou a junção das propriedades. A família Pamphilj morou no Palácio até meados de 1700, quando a última descendente, Anna Pamphilj, casou-se com Giovanni Andrea III Doria e se transferiu para outra luxuosa residência, na Via deI Corso. Desde então, as dependências do Palácio Pamphilj foram alugadas para intelectuais, cardeais e diplomatas. O grande salão do primeiro andar, consagrado ao compositor Pier Luigi da Palestrina, foi palco de apresentações da Academia Filarmônica Romana, depois de restaurado pelo arquiteto romano Andrea Busiri Vici. No andar térreo, havia lojas, garagens, oficinas de restauração e armazéns diversos.

Em 1920, parte do Palácio foi alugada ao governo brasileiro pela Princesa Orietta Doria Pamphilj. Em 1960, o contrato foi transformado em ato de venda. O embaixador do Brasil em exercício, Hugo Gouthier de Oliveira Gondim, foi o responsável pela compra, por 900 milhões de liras, o que gerou muita polêmica no Brasil e na Itália. No ano seguinte, foi concluída a restauração completa do Palácio, em conformidade com a orientação da Superintendência das Belas Artes da Itália, o que custou mais 350 milhões de liras. Desde então, é um dos postos mais cobiçados do Itamaraty.

Perde-perde
A embaixada em Roma foi a última oferta feita pela turma do deixa-disso ao ministro Gustavo Bebianno, então secretário-geral da Presidência, para que deixasse o cargo sem estrilar. A proposta anterior, uma diretoria na Itaipu Binacional, outro cargo muito cobiçado, também foi recusada. Ao presidente da República, Jair Bolsonaro, não restou alternativa a não ser encerrar a novela e exonerar o ministro, com os agradecimentos de praxe. A última conversa entre ambos, na sexta-feira passada, havia tornado a situação insustentável. No fim de semana, um festival de plantações na mídia, de ambos os lados, com troca de ameaças e farpas, inviabilizou as negociações de bastidor. Nas conversas com interlocutores, o ministro mostrava-se inconformado; nas declarações lacônicas à imprensa, mandava recados para Bolsonaro.

Pablo Ortellado: Punitivismo não é discurso de ódio

- Folha de S. Paulo

É preciso separar consequência de intenção e reconhecer a demanda por justiça imanente ao 'populismo penal'

É preciso separar consequência de intenção e reconhecer a demanda por justiça imanente ao “populismo penal”.

As controvérsias em torno da execução de 13 homens no morro do Fallet, a morte de Pedro Henrique Gonzaga por um segurança no supermercado Extra e a proposta de Sergio Moro de ampliar o conceito de legítima defesa mostram a relevância política crescente dos debates sobre punitivismo penal no Brasil.

Como a última campanha eleitoral deixou claro, não se tratam de discussões pontuais sobre medidas legislativas, mas conflitos fundamentais sobre visões de mundo que estão polarizadas.

A combinação de endurecimento de leis criminais e leniência com o abuso de força policial ou parapolicial tem sido chamada pela literatura acadêmica de “populismo penal” ou "punitivismo".

Os estudos sobre populismo penal, promovidos por defensores do sistema de direitos humanos e de abordagens de políticas públicas baseadas em evidências, têm tentado explicar o crescimento do fenômeno por dinâmicas políticas e eleitorais, por distorções na percepção do crime nos meios de comunicação ou por dificuldades da sociedade contemporânea em lidar com o risco.

Segundo essas análises, o punitivismo penal seria um discurso demagógico e irresponsável porque exploraria uma posição muito equivocada, mas que é de forte e fácil apelo.

Ranier Bragon: Até quando?

- Folha de S. Paulo

STF deve decidir nesta quarta se lava as mãos ou se toma alguma atitude

O Supremo Tribunal Federal retoma nesta quarta (20) o julgamento que pode tornar a homofobia crime específico, por omissão do Congresso em legislar sobre o tema.

Há bons argumentos segundos os quais o STF, por mais Supremo que seja, não pode fazer leis no lugar de deputados e senadores —o que é, nesse caso, um infortúnio lastimável.

Isso porque o Congresso não tem sido exatamente omisso nesses mais de 30 anos desde a promulgação da Constituição. Tem sido homofóbico.

Por obra e graça da bancada religiosa —que diz falar em nome de um ser superior que a todos ama, sem distinção—, nenhum projeto que criminaliza as manifestações e atos de ódio contra homossexuais virou lei.

Cabeças que parecem ainda pensar como há 2.000 anos teimam em acreditar que as pessoas “optam” por ser homossexuais. E basta não falar mais no assunto ou recorrer ao pastor da igreja, ou mesmo a uma boa e velha sova, para que esse “mal” seja banido do mundo.

O que mais dói é que milhões de crianças e adolescentes que se descobriram ou se descobrirão gays em determinado ponto da vida serão cruelmente afetados por esse lixo de pensamento, por essa infame cruzada rumo à idade das sombras.

Joel Pinheiro da Fonseca: Nacionalismo liberal?

- Folha de S. Paulo

Tenta-se criar diferença entre globalização e globalismo; só que ambos andam juntos

A eleição de Bolsonaro e a ascensão de políticos de extrema direita na Europa e EUA (Trump, a vitória do brexit, Orban na Hungria, Salvini na Itália) têm algo a ver. Todos refletem um movimento que é ao mesmo tempo uma guinada conservadora, nacionalista na política externa e a rejeição das elites e do "sistema": classe política tradicional, universidade, mídia.

Ao mesmo tempo, guardam uma diferença importante no plano econômico: Bolsonaro se elegeu abraçando a bandeira do liberalismo econômico, doutrina rejeitada pelas suas contrapartes no "mundo desenvolvido", que a veem como contrária à soberania nacional e ao bem-estar dos trabalhadores. A diferença faz sentido. Apesar das semelhanças, vivemos momentos diferentes.

Nos EUA e na Europa, economias já globalizadas, as elites ficaram cada vez mais ricas nas últimas décadas. Já a classe trabalhadora viu sua renda estagnar e o futuro de seus filhos ficar mais incerto. Ela é, em termos relativos, a perdedora da globalização, pois agora concorre com milhões de trabalhadores pobres na Ásia e na América Latina (e, em breve, na África).

É importante lembrar que não foram só as elites que ganharam nesse processo: centenas de milhões de trabalhadores pobres do mundo em desenvolvimento, especialmente na Ásia, deixaram a miséria rural e, graças ao aumento de renda, hoje têm acesso a bens e serviços modernos.

O chinês que hoje tem carro e smartphone em vez de passar fome no arrozal, contudo, não vota nas eleições europeias e americanas. Politicamente, portanto, temos um problema, para o qual duas possíveis soluções se apresentam. Ou o país se fecha numa tentativa de reverter a globalização (a saída nacionalista) ou aposta na distribuição de renda para repartir melhor internamente os ganhos da globalização.

Andrea Jubé: O quarto poder

- Valor Econômico

Generais despontam como o quarto poder no governo

Desde a transição democrática, há 34 anos, a articulação política não se concentrava tão ostensivamente nas altas patentes militares. A demissão do ministro Gustavo Bebianno isola o ministro Onyx Lorenzoni no quarto andar do Palácio do Planalto, ante a ascensão do general Floriano Peixoto à Secretaria-Geral da Presidência. Considerando-se o vice-presidente, Hamilton Mourão, e o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, são cinco generais e um civil no primeiro escalão do palácio, elevando as Forças Armadas ao patamar de quarto poder da República.

Na última semana, foi uma dupla de generais que entrou em campo com a espinhosa missão de aconselhar o presidente, apaziguar as relações no entorno familiar e político e evitar a demissão de Bebianno, vista como um gesto temerário neste começo de governo. Por acaso, um desses generais exibe no currículo um curso de combate na selva, que talvez faça a diferença neste início bélico, com o abate do primeiro ministro em 50 dias de gestão.

Essa dupla é formada pelos ministros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto Santos Cruz, que integram o núcleo mais próximo a Bolsonaro. Eles se reuniram quase diariamente com o presidente desde o seu retorno a Brasília, na fase aguda da turbulência, quando o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) foi a público chamar Bebianno de "mentiroso". Naquela hora, Bolsonaro já havia gravado entrevista para a televisão endossando as acusações do filho.

Heleno recebeu Bolsonaro na Base Aérea, e o acompanhou até o Alvorada, de onde saiu horas depois. No dia seguinte, uma quinta-feira, o general Santos Cruz chegou às 8 horas para despachar com Bolsonaro no Alvorada, e uma hora depois foi a vez do general Heleno. Na sexta-feira, a reunião que selou o destino de Bebianno contou com Heleno e Mourão, que foi acionado quando estava a caminho do Palácio do Jaburu, retornando de uma agenda no Mato Grosso. Era o segundo despacho de Heleno com Bolsonaro naquele dia.

No entorno de Bolsonaro, a intervenção dos generais na gestão da crise política foi comparada ao exercício do poder moderador, a principal novidade da Constituição do Império, outorgada por dom Pedro I em 1824. Tratava-se de um quarto poder que se sobrepunha e arbitrava eventuais divergências entre o Executivo, Legislativo e Judiciário. Era a "chave de toda a organização política", dispunha o texto constitucional.

Almir Pazzianotto Pinto*: O governo e as classes laboriosas

- O Estado de S. Paulo

Oxalá em 1.º de Maio o presidente anuncie investimentos públicos que criem empregos

Um dos mistérios do governo de Jair Bolsonaro consiste na fórmula - se é que existe - do enfrentamento do desemprego. Entre os estragos causados pelo governo Dilma Rousseff, o mais grave consistiu na recessão, com falência da economia e desaparecimento de milhões de postos de trabalho. “2018 poderia ter sido o ano da consolidação da recuperação. Não o foi” - é a constatação feita pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), publicada na edição 906, de 11/2.

Sabemos que o desemprego se tornou epidemia transcontinental. Segundo dados conservadores da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o número de desempregados alcança a cifra de 193 milhões. No Brasil chegou a atingir, em 2016, o patamar de 14 milhões. A lenta recuperação da economia, sob o governo de Michel Temer, provocou o retrocesso da desocupação a 12,2 milhões neste início de 2019. Observa-se, entretanto, o alargamento do mercado informal, ou seja, de trabalhadores por conta própria, sem registro em carteira. Registra o Estado na edição de 1.°/2 que, “apesar de haver uma média de 1,2 milhão de pessoas ocupadas a mais em relação ao ano anterior, o desemprego ainda atingiu 12,836 milhões de brasileiros. No total, faltou trabalho para um montante recorde de 27,401 milhões de pessoas, sendo que 6,619 milhões delas subocupadas, por trabalharem menos do que gostariam, e outros 4,736 milhões de desalentados, fenômeno que ocorre quando as pessoas deixam de procurar emprego por acreditar que não conseguiriam uma vaga, por exemplo” (pág. B4).

Bolsonaro perde confiabilidade em acertos políticos: Editorial | O Globo

Interferência de filho do presidente na demissão de ministro coloca sob risco negociações do governo

A demissão do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, sob pressão de Carlos, ou “02”, filho do presidente Jair Bolsonaro, envenena o início do governo do pai com incertezas. E pior, dissemina insegurança nos escalões elevados da administração, colocando sob risco a confiabilidade de entendimentos políticos feitos pelo governo. Por exemplo, em torno da reforma da Previdência.

Criou-se o precedente de que intrigas florentinas semeadas na família presidencial podem traçar o destino de autoridades. É catastrófico para qualquer administração, pública ou privada, quando fatores externos, ainda mais devidos à consanguinidade, interferem no trabalho. Poucos exemplos são tão antirrepublicanos como a atuação de “02” neste caso. Que sequer chegou a surpreender, dadas as demonstrações de agressividade e arroubos, não só dele, exibidas em redes sociais durante a campanha.

Carlos também é chamado pelo pai de o “pit-bull” da família, como se isso fosse um predicado. Não é, pois qualquer presidente da República tem parcela ponderável de seu êxito no Planalto na dependência de sua capacidade, e do seu grupo, de negociar com o Congresso. Espaço em que não há lugar para agressões.

O ensaio que fizeram na campanha indicou que os filhos de Bolsonaro — Flávio, Carlos e Eduardo — poderiam ser um dos maiores problemas para o governo do pai. Respectivamente, senador pelo Rio, vereador carioca e deputado federal por São Paulo, os três têm seu espaço institucional de atuação política. Temia-se, porém, que poderiam atingir o presidente ao serem acusados de algo. Ou usarem os laços familiares para interferir no Planalto.

Flávio carrega a história de Fabrício Queiroz, seu braço direito na Alerj, que recolheria parte dos salários de outros assessores do ainda deputado estadual.

Crise e agenda: Editorial | Folha de S. Paulo

Em meio à turbulência política, governo Bolsonaro começa a dar concretude a sua pauta legislativa, que tem potencial para gerar desgaste e disputa interna

Não se sabe ao certo o que fazia Gustavo Bebianno na Secretaria-Geral da Presidência. Tampouco se entende por que a inexpressiva pasta do Turismo, comandada por Marcelo Álvaro Antônio, foi preservada na reforma ministerial.

Entregaram-se os dois postos aos representantes do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, no Executivo federal. Os contemplados se envolveram em uma crise de primeiro escalão das mais precoces de que se tem notícia no país.

Nem Bebianno nem Álvaro Antônio nem seus ministérios são decisivos para o sucesso deste governo. O que importa é como se pretende superar a turbulência.

A clássica receita brasiliense para tais ocasiões é o que se convencionou chamar de agenda positiva, ou seja, a criação de uma sequência de boas notícias para disputar as atenções da opinião pública. Os hábitos de comunicação do presidente, assíduo nas redes sociais, prestam-se, aliás, a tais propósitos.

Muito ajuda quem não atrapalha: Editorial | O Estado de S. Paulo

Não tem a menor importância, para o País, o desfecho da crise envolvendo o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno. Sem qualquer predicado que o tornasse especialmente relevante para o processo de tomada de decisões do governo, sua permanência ou não no Ministério de Jair Bolsonaro só interessava de fato aos filhos do presidente, publicamente empenhados em escolher os ministros e governar no lugar do pai. Já o presidente Bolsonaro, seja porque é despreparado para exercer o cargo para o qual foi eleito, seja porque não consegue impor limites aos filhos, seja por uma combinação dessas duas características, revela-se incapaz de colocar ordem na casa e concentrar energias naquilo que é realmente necessário para o País.

Assim, não tendo o presidente a necessária condição técnica e administrativa para substituir Bebianno a tempo e a hora, e muito menos coragem para enquadrar seus meninos, comete o pecado capital de deixar o Brasil ser governado por um quadrunvirato.

E fez isso às vésperas do início da tramitação de projetos de extrema relevância para o conjunto dos brasileiros, como a reforma da Previdência e o plano de segurança pública, perdendo-se o governo em futricas e picuinhas palacianas, cujo poder de causar confusão e desgaste é multiplicado pela onipresença da criançada.

Dívida dos Estados se agrava e exige uma solução rápida: Editorial | Valor Econômico

Mergulhado no esforço de definir e aprovar a reforma da Previdência, o governo terá de se voltar também para um problema igualmente importante - a crise fiscal dos Estados. Desde o início do ano, uma romaria de governadores tem ido a Brasília procurar a ajuda do presidente Jair Bolsonaro e da equipe econômica; e sete Estados já decretaram calamidade financeira. Tudo indica que o Palácio do Planalto vai aproveitar a situação de aperto para barganhar apoio dos governadores junto ao Congresso a favor das mudanças na aposentadoria.

Previdência é também um grave problema para os governadores e a solução dada pelo governo federal pode abrir caminho para o ajuste dos Estados. Levantamento do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) apurou que, para cada 100 funcionários públicos na ativa nos 26 Estados e Distrito Federal havia, em média, 88 aposentados e pensionistas, em 2017 (Valor 18/2). Em alguns Estados, o número de aposentados e pensionistas já supera o contingente na ativa, cujas contribuições, teoricamente, pagariam os benefícios dos primeiros. Vantagens do servidor como aposentadoria integral e tempo de serviço menor do que o do INSS agravam o problema.

Certamente os Estados se ressentiram da queda da arrecadação causada pela recessão de 2015 e 2016 e pela fraca atividade dos últimos dois anos. Mas os gastos subiram aceleradamente, com diversos tipos de consequências. O Tesouro acaba de informar que teve que honrar R$ 565,05 milhões em dívidas atrasadas de Estados, em janeiro. No ano passado inteiro, a União quitou R$ 4,803 bilhões de dívidas em atrasos de Estados; em 2017 foram R$ R$ 4,059 bilhões, de Estados e municípios; e, em 2016, R$ 2,377 bilhões.

Ministro de Bolsonaro cai por escândalo de laranjas do PSL

Caso dos laranjas do PSL leva à primeira queda de ministro do governo Bolsonaro

Esquema de candidaturas que derrubou Bebianno foi revelado pela Folha e envolve também ministro do Turismo

Camila Mattoso , Ranier Bragon , João Valadares , Igor Gielow , Gustavo Uribe e Talita Fernandes | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA , RECIFE E SÃO PAULO - A crise política causada pela revelação de um esquema de candidaturas laranjas do PSL levou à primeira queda de ministro do governo de Jair Bolsonaro.

A exoneração de Gustavo Bebianno do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência foi confirmada na tarde desta segunda (18) pelo porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, naquilo que Bolsonaro já havia sinalizado nos bastidores. O general da reserva Floriano Peixoto, secretário-executivo da pasta, foi anunciado como substituto no posto, em caráter definitivo.

Bebianno se tornou o centro de uma crise instalada no Palácio do Planalto depois que a Folha revelou a existência de um esquema de candidaturas laranjas do PSL para desviar verba pública eleitoral. O partido foi presidido por ele durante as eleições de 2018, em campanha de Bolsonaro marcada por um discurso de ética e de combate à corrupção.

Como presidente do PSL nas eleições, Bebianno foi o homem forte da campanha vitoriosa de Bolsonaro e responsável formal pela liberação de verba pública para todos os candidatos do partido. Sua ligação próxima com o presidente o alçou a um ministério instalado dentro do Palácio do Planalto.

A queda do ministro decorre da maior turbulência política enfrentada pelo governo Bolsonaro, que completou 49 dias de existência nesta segunda-feira.

O porta-voz Rêgo Barros disse que a decisão de Bolsonaro é de "foro íntimo". "O presidente agradece sua dedicação à frente da pasta e deseja sucesso na nova caminhada", afirmou, em relação ao ministro demitido.

O general disse desconhecer a informação de que Bolsonaro ofereceu outros postos no governo a Bebianno. Questionado pela Folha, disse que não há decisão do presidente em exonerar Marcelo Álvaro Antonio, ministro do Turismo, também envolvido no escândalo do PSL. "Não cabe avançar qualquer suposição nesse caso", afirmou.

A exoneração de Bebianno deve ser publicada nesta terça-feira (19) no Diário Oficial da União.

A saída precoce de Bebianno do Planalto preocupa aliados do presidente pelo potencial explosivo de supostas ameaças que ele estaria fazendo nos bastidores.

Bolsonaro demite, mas grava vídeo com elogios a Bebianno

Presidente adota tom ameno para encerrar crise com ex-ministro e evitar que ele se volte contra o governo

Jair Bolsonaro demitiu o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, após crise que começou na quarta-feira. Para tentar amenizar o mal-estar e evitar que ele aja contra o governo, o presidente gravou vídeo em que agradece a “dedicação” e o “comprometimento” do ex-ministro. No fim da noite, porém, fonte próxima a Bebianno disse que ele estava insatisfeito porque o presidente não publicou o vídeo nas redes sociais, conforme teria sido combinado. Sobre a demissão, Bolsonaro diz que houve divergências a respeito de “questões relevantes”. Bebianno cai após embate público com Carlos Bolsonaro, que o chamou de “mentiroso”. Antes disso, seu nome foi citado em denúncias sobre esquema de desvio de dinheiro do Fundo Partidário do PSL para candidaturas laranjas. O temor é de que a crise envolvendo o ex-ministro contamine votações importantes, como a reforma da Previdência. O general da reserva Floriano Peixoto substituirá Bebianno e será o oitavo ministro militar.

Após demissão, Bolsonaro sugere trégua a Bebiano

- O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Às vésperas de enviar a proposta de reforma da Previdência ao Congresso, o presidente Jair Bolsonaro tentou ontem encerrar a grave crise que há quase uma semana abala o governo e anunciou a demissão do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno. A queda de um de seus principais auxiliares, no entanto, está longe de representar o fim da turbulência no momento em que o Palácio do Planalto precisa fortalecer a articulação política no Congresso.

Em uma tentativa de amenizar o impasse, o presidente gravou um vídeo e combinou de postá-lo nas redes sociais, agradecendo a “dedicação e o comprometimento do senhor Bebianno”. Foi uma estratégia acertada na última hora, para evitar que o ex-auxiliar saísse “atirando”. A mensagem, porém, não havia sido publicada nas contas de Bolsonaro até a noite de ontem, o que irritou o agora ex-ministro, segundo uma fonte próxima a ele.

Como revelou o Estado, o general da reserva Floriano Peixoto substituirá Bebianno, que era até hoje o único interlocutor do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no Planalto. Atual secretário executivo da pasta, Peixoto será agora o oitavo ministro militar na Esplanada.

Na mensagem divulgada para aliados, Bolsonaro usou um tom apaziguador, de trégua, para se referir ao ex-auxiliar, a quem chamou de “senhor Gustavo Bebianno”. “Comunico que desde a semana passada diferentes pontos de vista sobre questões relevantes trouxeram a necessidade de uma reavaliação”, afirmou o presidente no vídeo, sem especificar as divergências. “Avalio que pode ter havido incompreensões e questões mal entendidas de parte a parte, não sendo adequado prejulgamentos de qualquer natureza”, completou ele, ao desejar a Bebianno “sucesso em sua nova jornada”. Antes, o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, disse que a exoneração do ministro ocorrera por “razões de foro íntimo.”

Ex-coordenador da campanha de Bolsonaro e responsável por levá-lo para o PSL, Bebianno caiu após um ruidoso embate público com o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Na semana passada, Carlos chamou o então chefe da Secretaria-Geral de “mentiroso” por ele ter dito que havia conversado três vezes com Bolsonaro. Bebianno tentava com isso negar que estivesse isolado por causa de uma crise, mas foi desmentido por Carlos e pelo próprio presidente.

O clima azedou de vez após Bolsonaro ser informado de que o ministro deixara vazar para interlocutores mensagens de áudio com conversas privadas entre os dois. Antes disso, o nome de Bebianno também havia sido citado em denúncias sobre um esquema de desvio de dinheiro do Fundo Eleitoral do PSL para patrocinar candidaturas laranjas, em 2018.

Bolsonaro tenta encerrar crise com demissão e afago

Porta-voz diz que saída de Bebianno foi por questão de ‘foro íntimo’ do presidente

Depois de chamar o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência de mentiroso e abrir uma crise no Planalto às vésperas do envio da reforma da Previdência ao Congresso, o presidente Jair Bolsonaro oficializou a demissão de Gustavo Bebianno. O imbróglio começou no dia 12, quando Bebianno disse ter falado com o presidente acerca de denúncia sobre o caixa de campanha do PSL e foi desmentido por Carlos Bolson aro. Ontem, o presidente destacou a “seriedade” doe x-auxiliar. O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, afirmou que a demissão de Bebianno foi uma questão de “foro íntimo”. O general Floriano Peixoto, secretário executivo da pasta, vai comandá-la. Ele será o8º militar no primeiro escalão do governo.

Da fritura à demissão

Bolsonaro exonera Bebianno e tenta encerrar a primeira crise do governo

Karla Gamba e Jussara Soares | O Globo

BRASÍLIA - Com a crise agravada no governo, após chamar o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência de mentiroso, o presidente Jair Bolsonaro tentou colocar um ponto final no caso ao oficializar a demissão de Gustavo Bebianno. Sua equipe de comunicação distribuiu um vídeo no qual o presidente ressalta a “seriedade” do ex-auxiliar, acrescentando que o rompimento ocorreu devido a “diferentes pontos de vista sobre questões relevantes”.

A gravação não foi publicada nas redes oficiais do governo nem do presidente. No vídeo, Bolsonaro adotou tom bem mais ameno que o da semana passada, quando Bebianno foi chamado de mentiroso pelo filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro, e pelo próprio presidente em seu Twitter.

— Agradeço ao senhor Gustavo pelo esforço e empenho quando exerceu a direção nacional do PSL e continuo acreditando na sua seriedade e na qualidade do seu trabalho — afirmou o presidente no vídeo.

“FORO ÍNTIMO”
Segundo o porta-voz da Presidência da República, Otávio do Rêgo Barros, o general Floriano Peixoto Vieira Neto, que ocupava o cargo de secretário-executivo do ministério, será o novo ministro da Secretaria-Geral. Com a nomeação dele, Onyx Lorenzoni, que ocupa a Casa Civil, será o único ministro sem patente militar a despachar do Palácio do Planalto. Floriano Peixoto será o oitavo militar no primeiro escalão do governo.

Obama aconselha democratas, mas não endossa pré-candidatos à Casa Branca

Ex-presidente americano se reuniu com vários políticos do partido que já se lançaram ou pretendem se lançar na disputa presidencial de 2020; doadores democratas também tentam decidir quais candidatos apoiar nas primárias do partido

Alexander Burns, The New York Times | O Estado de S. Paulo

WASHINGTON - Neste mês, apoiadores financeiros do ex-presidente americano Barack Obama tiveram uma série de encontros secretos com vários pré-candidatos democratas à presidência dos EUA. As reuniões foram organizadas por David Jacobson e John Phillips, embaixadores no Canadá e na Itália durante a gestão Obama.

O ex-presidente não teve nenhum papel no evento que aconteceu, no entanto, sob a sombras de sua personalidade: enquanto aspirantes à presidência como Kamala Harris, Cory Booker, Amy Klobuchar e Sherrod Brown se apresentavam, os doadores questionavam em voz alta se o ex-presidente poderia sinalizar uma preferência na disputa, segundo três pessoas ouvidas sob condição de anonimato pelo The New York Times.

David Axelrod, ex-estrategista-chefe de Obama, afirmou que o grupo não deveria esperar tal diretiva. "Eles me perguntaram sobre o endosso de Obama e eu respondi: 'não imagino que ele o fará'", explicou. Axelrod ressaltou, no entanto, que essa trata-se de sua opinião sobre a situação e não de uma declaração como porta-voz de Obama.

Ela está em sintonia, porém, com o que o líder democrata tem dito para amigos e para os próprios pré-candidatos: que ele acha que não deve envolver-se nas primárias do partido e prefere que haja uma disputa de ideias.

A ex-primeira-dama Michelle Obama também não pretende apoiar qualquer um dos candidatos democratas na disputa interna do partido, segundo uma pessoa próxima a ela. Essa posição do casal Obama valeria até mesmo para o ex-vice-presidente Jor Biden.

Senador Bernie Sanders lança campanha à Presidência dos EUA

Nova tentativa do político de 77 anos testa apelo antiestablishment que o fez despontar entre progressistas em 2016

- O Globo e New York Times

NOVA YORK — Bernie Sanders, o senador independente de Vermont cuja agenda política ajudou a empurrar o Partido Democrata para a esquerda, anunciou nesta terça-feira que vai concorrer à Presidência dos Estados Unidos novamente. A nova aposta do político de 77 anos testará se ele conseguiu manter o apelo antiestablishment que o fez despontar em 2016, quando acabou derrotado por Hillary Clinton na disputa pela candidatura democrata para enfrentar o republicano Donald Trump nas urnas.

Autointitulado socialista democrático, Sanders advoga por um salário mínimo nacional de US$ 15 por dia, um sistema de saúde universal e ensino superior gratuito, pautas que se tornaram pilares da ala mais progressista do Partido Democrata. Ele é uma das mais proeminentes figuras de Washington a se lançarem na já engarrafada disputa do partido contra a reeleição de Trump, a quem repetidamente chamou de "mentiroso patológico" e "racista".

"Estou concorrendo à Presidência. Eu peço a vocês que se juntem a mim hoje como parte de um campanha de raiz sem precedentes e histórica que vai começar com ao menos um milhão de pessoas por todo o país", escreveu Sanders no Twitter, ao anunciar a candidatura com um vídeo sobre seu histórico na política e suas principais propostas.

Bertold Brecht: Elogio do aprendizado

Aprenda o mais simples!
Para aqueles cuja hora chegou
Nunca é tarde demais!
Aprenda o ABC; não basta, mas
Aprenda! Não desanime!
Comece! É preciso saber tudo!
Você tem que assumir o comando!

Aprenda, homem no asilo!
Aprenda, homem na prisão!
Arenda, mulher na cozinha!
Aprenda, ancião!
Você tem que assumir o comando!
Frequente a escola, você que não tem casa!
Adquira conhecimento, você que sente frio!
Você que tem fome, agarre o livro: é uma arma.
Você tem que assumir o comando.

Não se
envergonhe de perguntar, camarada!
Não se deixei convencer
Veja com seus olhos!
O que não sabe por conta própria
Não sabe.
Verifique a conta
É você que vai pagar.
Ponha o dedo sobre cada item
Pergunte: O que é isso?
Você tem que assumir o comando.