quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Marco Aurélio Nogueira*: Quando o despreparo dá o tom

- O Estado de S. Paulo

Carta do ministro da Educação é uma exorbitância autoritária e um claro desvio de função

Se alguma bobagem adicional precisasse ser cometida para que ficássemos preocupados com o futuro da nação, o ministro da Educação Vélez Rodriguez se encarregou de pô-la na mesa.

Não se tratou de uma bobagem qualquer. Antes de tudo, por ter sido forjada numa área estratégica, que alcança diretamente o conjunto da população, os jovens e crianças que, dentro de alguns anos, serão a base intelectual, moral e operacional da sociedade. Se o responsável pela Educação se dá ao luxo de propor uma absurda intervenção ideológica e político-partidária nas escolas do País, então é porque estamos carentes de limites e critérios.

É difícil imaginar o que passou pela cabeça de Sua Excelência ao pedir aos dirigentes escolares e professores que lessem aos alunos um besteirol como esse: “Vamos saudar o Brasil dos novos tempos e celebrar a educação responsável e de qualidade a ser desenvolvida na nossa escola pelos professores, em benefício de vocês, alunos, que constituem a nova geração”. Não satisfeito, acrescentou: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!”, um mero slogan de campanha.

O ministro pediu, ainda, que após a leitura, alunos, professores e funcionários deveriam, compenetrados e com os olhos marejados de fervor patriótico, entrar em ordem unida para cantar o Hino Nacional. Alguns filmariam o rito e enviariam as imagens para controle dos órgãos governamentais.

Merval Pereira: Escolas com (outro) partido

- O Globo

E as escolas públicas? Terão seus diretores segurança para recusar a proposta do ministro de cantar o Hino?

Está tudo errado na “sugestão” do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, para que as escolas coloquem seus alunos cantando o Hino Nacional, o que foi mantido ontem, apesar da polêmica que provocou. E indica que o governo que denuncia a partidarização das escolas no governo petista quer apenas trocar de partido.

Retirar o slogan político da campanha de Bolsonaro é o de menos, mas colocá-lo na mensagem oficial indica que o novo ministro da Educação tentou infiltrar nas escolas do país uma propaganda política do governo a que serve. Só não conseguiu porque seu abuso de poder foi denunciado.

Mandar pedir autorização dos pais para que seus filhos sejam filmados, também, é só uma questão de cumprir a legislação em vigor. Mas indica que o governo estava se preparando —e pelo visto continua com a ideia — para promover campanhas “educativas” utilizando-se dos alunos e professores. O problema maior é o subterfúgio usado para implementar uma promessa de campanha do presidente eleito.

Durante a campanha eleitoral, tanto Jair Bolsonaro quanto seus filhos prometeram que o Hino Nacional voltaria a ser cantado nas escolas brasileiras.

O Ministério da Educação (MEC) afirma que se trata de um “pedido de cumprimento voluntário” e que os diretores que quiserem seguir a recomendação do ministro devem ler a carta aos alunos no primeiro dia letivo deste ano.

Vera Magalhães: Fim da lua de mel

- O Estado de S.Paulo

Na falta de um alerta, Jair Bolsonaro recebeu dois nesta terça-feira de que a lua de mel pós-eleitoral chegou ao fim e a hora é, como venho dizendo aqui, de arregaçar as mangas e cuidar da política se quiser avançar com a pauta de seu governo – reforma da Previdência à frente.

O primeiro recado foi a pesquisa CNT/MDA, que mostrou que é de apenas 39% o contingente dos brasileiros que avaliam seu governo como ótimo ou bom. Bem abaixo dos índices de largada dos primeiros mandatos dos presidentes que o antecederam, inclusive Dilma Rousseff, que tinha a aprovação de 49,1% na mesma pesquisa em fevereiro de 2011.

O segundo sacolejo veio da lúcida fala do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na conferência do BTG Pactual. Ele, um insuspeito defensor da reforma da Previdência, disse sem meias palavras que Bolsonaro é “refém do discurso da campanha”. Que prometeu que o País mudaria rapidamente, e as coisas não se dão desta maneira na democracia. E que “não dá para continuar nessa discussão do que é nova e velha política”. “Existe A POLÍTICA”, ensinou. As maiúsculas são minhas, mas a ênfase foi dele.

Há elementos à mesa de Bolsonaro para que ele dê um freio de arrumação em seu governo antes dos 100 dias: se dedicar mais à política e menos à propaganda ideológica passadista como a que fez ontem, ao louvar ditadores, eleger a reforma como pauta a ser defendida por todos os ministros e entender que comunicação de um presidente da República, para atingir efetivamente o conjunto da sociedade (e não as macacas de auditório das redes sociais), tem de ser institucionalizada.

Monice De Bolle*: Educando bolsonaristas

- O Estado de S.Paulo

A má comunicação do governo e a desarticulação da base podem comprometer seriamente a reforma

Na semana passada, o governo apresentou uma boa proposta para a reforma da Previdência. Mais ambiciosa do que a de Temer para resolver os problemas de médio prazo das contas públicas, mais progressista do que a de Temer ao incluir alíquotas que aumentam de acordo com os salários, mais abrangente do que a de Temer ao incorporar Estados e municípios. Evidentemente, como em qualquer reforma dessa envergadura, há pontos para discussão e aprimoramento. Há também o receio de que o governo não tenha o traquejo necessário para evitar que a reforma seja substancialmente diluída. É sobre isso que pretendo tratar.

Bolsonaristas são um grupo heterogêneo dentro e fora do governo. Dentro há militares, ideólogos-religiosos e tecnocratas – mistura esquisita. Fora há ultraconservadores de direita, alguns religiosos outros não, gente que continua a ver fantasmas petistas por toda parte ainda que o partido esteja completamente desarticulado, e pessoas que simplesmente esperam do novo governo o necessário e urgente rumo para o País. Difícil achar muitos pontos em comum entre esses grupos, assim como é complicado encontrá-los dentro do governo. Dessas dificuldades e complicações surge, inevitavelmente, a necessidade de educar alguns – não todos – bolsonaristas.

Comecemos pelos ministros. O do Turismo tentou intimidar a Folha de S. Paulo após revelações comprometedoras, mas a liminar do cala a boca foi derrubada pela Justiça. Eis um bolsonarista cuja educação veio diretamente de um dos três Poderes da República. O ministro da Educação tentou emplacar o mote de campanha de Bolsonaro na cartilha das escolas, a ser repetido pelos alunos como autômatos todos os dias. Também tentou forçar a barra para que crianças e professores fossem filmados no ato de cantar o Hino Nacional. Nada contra o Hino Nacional – apesar do positivismo retumbante de sua letra, considero nosso hino belíssimo.

Hélio Schwartsman: Eu me orgulho de não saber o hino

- Folha de S. Paulo

Nacionalismo, em doses baixas, pode ajudar, mas, em doses altas, torna-se produto tóxico

SÃO PAULO - Eu não sei cantar o Hino Nacional Brasileiro e tenho orgulho disso. Na hierarquia do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, isso provavelmente me coloca numa categoria não muito elevada de cidadãos, mas, como vivemos numa democracia, posso dar uma banana para os valores propugnados por qualquer autoridade e ficar com os meus.

Minha rejeição aos símbolos augustos da pátria tem uma explicação lógica. Cresci nos anos 70. Uma das escolas que frequentei obrigava a garotada a hastear a bandeira e entoar o hino diariamente. Meus pais, quando souberam disso, fizeram questão de me dizer que o governo militar era uma porcaria, mas acrescentaram que eu não deveria repetir isso na escola. “Porcaria” foi o termo que eles encontraram para explicar para um menino de seis anos que os governantes de então haviam chegado ao poder por meio de um golpe e que torturavam e matavam presos políticos.

Meu cérebro infantil resolveu a dissonância cognitiva desenvolvendo uma espécie de alergia ao hino e ao nacionalismo. É claro que isso só faz sentido para mim e talvez para outros que tenham vivido histórias parecidas. Para a imensa maioria dos brasileiros, não há nada de essencialmente errado em conhecer e cantar o hino, até com entusiasmo, se assim desejarem.

Bruno Boghossian: Governo de mentirinhas

- Folha de S. Paulo

Ao tentar apagar bobagens com lorotas, Bolsonaro e auxiliares ofendem os próprios eleitores

BRASÍLIA - O chanceler Ernesto Araújo achou que poderia apagar uma bobagem com uma lorota. Depois de soltar uma besteira quando afirmou não saber se o regime da Coreia do Norte age com a mesma brutalidade de Nicolás Maduro, o ministro tentou colocar a culpa na imprensa.

Em uma postagem, Araújo reclamou que os jornais só passaram a chamar os líderes norte-coreanos de ditadores depois que o americano Donald Trump passou a negociar com Kim Jong-un. O chanceler talvez tenha achado que escaparia ileso com essa desonestidade flagrante. A verdade é que ele mentiu.

Há três gerações, a imprensa trata o governo norte-coreano como um regime autoritário. Em julho de 1994 os jornais noticiavam que o corpo de Kim Il-sung, “ditador que governou a Coreia do Norte por 46 anos” e avô de Kim Jong-un, seria carregado pelas ruas de Pyongyang. Araújo fingiu que não viu e só tentou limpar sua barra com aquela fantasia.

Rosângela Bittar: Atalhos e Desvios

- Valor Econômico

Bolsonaro rendeu-se à óbvia força política dos partidos

Quem está atento à política percebeu um ainda leve movimento de fortalecimento dos partidos. Caídos no fundo do poço até o ano passado, começaram a respirar aos poucos. Ainda não foram içados à superfície. Quando se insinuam para a vida a Operação Lava-Jato os coloca na lâmina da guilhotina, anunciando novas investigações e denúncias de corrupção. Apesar disso, se movem para cima, sutilmente.

Um exemplo de que não se conseguiu substituí-los como instrumento político de negociação no Congresso é a guinada estratégica que o presidente Jair Bolsonaro está tendo que dar, agora, para fazer andar a reforma da Previdência com o apoio de uma maioria ainda não consolidada, de diferentes partidos.

O presidente percebeu que não iria longe tentando construir sua base com as bancadas temáticas. Tanto na transição, quanto nos primeiros enunciados do novo governo no campo da articulação política, afirmou-se o propósito de reunir uma base de apoio parlamentar com as bancadas de cada setor de atividade. A interlocução seria com o conjunto dos ruralistas de todos os partidos que, inclusive, ganharam um ministério e muitos outros cargos afins na feira de trocas.

A bancada da bala, robustecida nesta legislatura por um grande número de militares e policiais eleitos, foi recebida e considerada em todas as negociações; a bancada da saúde, também com ramificações em vários partidos, ganhou força e poder em cargos-chave, e assim outras menos presentes nas exigências de vantagens.

Cristiano Romero: O papel dos militares no governo Bolsonaro

- Valor Econômico

Ministros são mais realistas que o rei na agenda conservadora

Durante a recente campanha eleitoral, o consultor de um grande fundo de investimento britânico indagou aos convivas, num almoço em São Paulo, o que achavam da anunciada presença de militares no provável governo Bolsonaro. A resposta, quase em uníssono, foi rápida: "Será boa para o país". Surpreso, o executivo questionou: "Por quê?". Porque ninguém sabia quem é realmente Bolsonaro e, portanto, como ele governaria - a dúvida remanesce depois de dois meses de mandato, apesar do aparecimento de algumas pistas. Tudo indica, prosseguiu o interlocutor do consultor, que os militares serão o "fator de estabilidade" da nova gestão.

A preocupação e o espanto do consultor eram justificáveis. Basta conhecer um pouco da história recente do Brasil para entender que a longa ditadura militar (1964-1985) deixou marcas profundas. Não há nada que possa relativizar os efeitos nocivos da supressão das liberdades civis, nem mesmo o progresso econômico, como sugerem alguns em defesa do regime de 64.

O golpe tinha dois objetivos claros: conter o getulismo, que desde 1930 era a maior força política do país, e afastar, no auge da Guerra Fria, a suposta ameaça comunista. O ambiente econômico, com inflação fora do controle (em torno de 100% ao ano), facilitou a ação militar, que, por pouco, não sucedera dez anos antes. Nos dois casos, a ousadia amparava-se em interesses de grupos políticos antagonistas ao getulismo.

Pausa para o "House of Cards" tupiniquim, onde a vida imita a arte e faz do original inglês e de sua versão americana uma espécie de "Sessão da Tarde": durante o predomínio de Getúlio e seus discípulos (de 1930 a 1964), apenas um presidente - Jânio Quadros, eleito em 1961 - não era getulista. Eurico Gaspar Dutra foi eleito em 1946 com o apoio de Getúlio, deposto no ano anterior, e dos dois partidos (PSD e UDN) da órbita do ditador. Dutra ajudou Getúlio a instaurar o Estado Novo, a ditadura que nos governou de 1937 a 1945, e foi seu ministro da Guerra até a deposição. Depois de oito anos de autoritarismo, o povo, dizia-se, ansiava por democracia, mas elegeu um prócer do regime que a suprimiu por quase uma década. Na eleição seguinte, Getúlio voltou ao poder eleito pelo voto popular...

Com o fim da ditadura, em 1985, a instituição Forças Armadas estava, obviamente, com a imagem destroçada. A participação num movimento de interrupção do processo constitucinal é indefensável, afinal, a missão constitucional das três corporações é defender a soberania da nação contra a ameaça estrangeira. O uso da força internamente, admitida em casos como o da intervenção no Rio, é uma exceção.

Míriam Leitão: A economia depois da Previdência

- O Globo

Reforma da Previdência evita o pior cenário na economia, mas governo e Congresso terão que fazer mais reformas para acelerar o PIB

A aprovação da reforma da Previdência pode evitar o pior, mas ela sozinha não garante o cenário que está sendo vendido por alguns integrantes do governo e os mais entusiastas do mercado financeiro. Alguns economistas, mais realistas, calculam que mesmo com a aprovação da reforma o teto de gastos não se sustentará nos próximos anos. Outras medidas no campo fiscal terão que ser implementadas para aumentar a competitividade e acelerar o crescimento do PIB. Mas antes disso será preciso aprovar a reforma. Não será fácil.

Há uma tendência entre defensores da reforma de apresentá-la como uma panaceia. Ela é absolutamente indispensável, mas é o primeiro passo de uma difícil caminhada para resolver problemas crônicos do país. O economista Pedro Schneider, especialista em política fiscal do Itaú Unibanco, fez um cálculo a pedido da coluna. Mediu o impacto da reforma sobre a despesa primária do governo. Hoje, a Previdência consome 58% do Orçamento e, mesmo com a economia prevista de R$ 1,1 trilhão em 10 anos, esse percentual subirá 17 pontos percentuais, até alcançar 75% no fim desse período. Por causa desse forte crescimento, o teto de gastos aprovado pelo governo Temer, e que congela as despesas em termos reais, não ficará de pé. A Previdência continuará drenando recursos da saúde, educação, dos investimentos e de várias outras áreas cruciais para o país.

— A reforma da Previdência não é suficiente nem para o teto de gastos, nem para o reequilíbrio fiscal. O teto de gastos precisa de medidas além da Previdência, já em 2020, dado que o impacto da reforma é mais de médio prazo. As medidas principais, além da reforma, são a redefinição da regra de reajuste do salário mínimo e o controle de reajustes do funcionalismo público — disse Schneider.

José Eli da Veiga*: Qual será o sucessor do PIB?

- Valor Econômico

Proposta mais avançada traz nova contabilidade, centrada na renda e no consumo, e incorpora avaliações de bem-estar

Não poderia ter sido mais decepcionante a resposta dada a tal pergunta pela professora Diane Coyle (Cambridge), em artigo, com título idêntico, no Valor da lua cheia (19/2). Até começou bem, ao constatar o já amplo consenso de que o PIB "deixou de ser medida útil do progresso da economia". Mas, a partir daí, só classificou as origens teóricas de quatro possíveis saídas, sem nem dizer qual delas seria a melhor e/ou qual teria mais chances de suceder o PIB. Em vez disso, contentou-se em vaticinar que ainda "há um longo caminho a percorrer até que outro indicador composto seja coroado em seu lugar".

É inacreditável que Coyle tenha ignorado a proposta mais avançada e pragmática para a superação do PIB (ou "sucessão", como prefere). A que certamente emergirá do seguinte tripé: 1- uma nova contabilidade nacional, centrada na renda e no consumo (em vez de produto); 2- a incorporação das avaliações subjetivas de bem-estar entre as dimensões de um novo índice sintético de qualidade de vida; e 3- a escolha de alguns poucos indicadores para medir a sustentabilidade, mas que sejam físicos, em vez de monetários.

No tocante à primeira perna - a mais voltada ao desempenho econômico propriamente dito - há ao menos outras quatro diretrizes: considerar renda e consumo em conjunção com a riqueza; enfatizar a chamada "perspectiva domiciliar"; realçar a 'distribuição' (de renda, de consumo e de riqueza); e estender as medidas de renda às atividades não mercantis.

De forma quase telegráfica, é esta a essência do recado proposto, em 2010, pelo livro "Mismeasuring our lives" (The New Press), que consolidou o relatório final da célebre Comissão Stiglitz-Sen-Fitoussi (SSF).

Por quase um decênio, tais mensagens parecem ter sido solenemente desprezadas pelas grandes organizações internacionais mais envolvidas e desafiadas a ir além do PIB: o FMI, o Banco Mundial (Bird) e a Divisão Estatística da ONU (UNSD). Porém, a ótima notícia é que, há poucos meses, coube à OCDE fazer avançar a receita Stiglitz-Sen-Fitoussi com quinze recomendações suplementares, todas no sentido de orientar os órgãos nacionais de estatísticas a se engajarem no hercúleo trabalho exigido pelas substituições do PIB e do IDH por trindade que também inclua avaliação da sustentabilidade.

São quinze diretrizes em favor de painéis de indicadores sobre o que realmente importa: quem é beneficiado pelo crescimento; se tal crescimento é ambientalmente sustentável; como as pessoas avaliam as próprias vidas; e quais fatores mais contribuem para o sucesso de um indivíduo ou de um país.

Vinicius Torres Freire: Mistérios e conflitos da reforma

- Folha de S. Paulo

Projeto da Previdência permite alterar valor e reajuste futuros de benefícios

O que sair por uma porta tem de entrar pela outra, diz o governo sobre as possíveis mudanças em seu projeto de reforma da Previdência. Isto é, se o Congresso fizer emendas que diminuam a contenção de despesas em um item, teria de haver alguma compensação.

Em tese, parece óbvio, esperado e compreensível. Na prática, haverá problemas grandes.

Primeiro, ainda não temos como estimar a contenção de despesas que resultaria da reforma Bolsonaro-Guedes.

Segundo, pelo andar da carruagem, a compensação teria de vir das aposentadorias, das pensões e dos demais benefícios do INSS, por assim dizer (do Regime Geral de Previdência Social, que cobre trabalhadores do setor privado).

O governo apresentou estimativas genéricas de contenção de despesas com o RGPS, com os servidores, com os benefícios para idosos muito pobres (BPC) e com o abono salarial. Mais não disse ou especificou.

Por exemplo, interessa saber quanto seria poupado com o talho nas pensões por morte, item que costuma periclitar nas reformas. Mas o problema maior nem está aí.

O projeto Bolsonaro-Guedes tira da Constituição normas relativas ao cálculo de valores dos benefícios previdenciários e assistenciais, entre outras. A emenda constitucional da reforma da Previdência determina que uma lei complementar vai tratar dos valores mínimo e máximo dos benefícios, do modo de calculá-los inicialmente e suas fórmulas de reajuste, como já se escreveu por aqui, nestas colunas.

Luiz Carlos Azedo: A força de Bolsonaro

- Correio Braziliense

“Bolsonaro cobrou apoio do Congresso para aprovar a reforma da Previdência: “Nós contamos com o patriotismo e o entendimento do Parlamento”

Dois meses após tomar posse e às vésperas do debate sobre a reforma da Previdência no Congresso, o presidente Jair Bolsonaro tem uma avaliação positiva de 57,5% da população e seu governo conta com a confiança de 38,9%, segundo pesquisa do instituto MDA divulgada ontem pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT). A distância entre seu desempenho pessoal e o do governo, da ordem de 18,6%, corrobora as avaliações de que precisa descer do palanque e cuidar mais da gestão para atender as expectativas da população. Avaliaram o governo como regular 29% dos entrevistados; como ruim ou péssimo,19%.

Em palestra para empresários, em São Paulo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi ao xis da questão: “A sociedade pós-eleição gerou muita expectativa do governo do presidente Bolsonaro de que nós teríamos aí um novo país. Só que as mudanças não são tão rápidas em um país democrático”. A pesquisa mostra as prioridades da população: saúde (42,3%); segurança (34,3%); educação (31,6%); corrupção (29,2%); emprego (23,7%); economia (14,3%); combate à pobreza (13,3%); meio ambiente (1,5%); saneamento (1%); energia (0,9%); transporte (0,8%). São demandas objetivas, que não se encaixam no discurso de ordem ideológica.

Em compensação, Bolsonaro leva grande vantagem na comparação com os antecessores: para 55,4%, seu governo é melhor do que o de Michel Temer; para 55,9%, do que o de Dilma Rousseff. Lula e Dilma, porém, estavam melhor no começo de seus governos: 56,6% e 49,2%, respectivamente. Já o governo Temer tinha apenas 11,3%. O grande desafio do novo governo é corresponder ao otimismo popular gerado pelo resultado das eleições: 51,3% avaliam que o emprego vai melhorar; 51,2%, a saúde; 47,2% a educação; 53,3%, a segurança pública; e 48,3%, a corrupção. Todas essas tarefas do governo estão a cargos de ministros civis e dependem da aprovação da reforma da Previdência para ter mais recursos, com exceção do combate à corrupção. É aí que entra a política, como deixou claro Maia na conversa com empresários.

Dora Kramer: Podia ser pior

- Blog Dora Kramer / Veja

Dada a rejeição no pleito e o início desordenado, Bolsonaro até que não está mal na pesquisa

Menos de 40% de aprovação para um governo que ainda não completou dois meses não é um bom patamar de largada se considerarmos o número em termos absolutos. Posto sob a lente da relatividade, no entanto, até que Jair Bolsonaro não está tão mal na primeira pesquisa de opinião (CNT/MDA) desde a posse.

Poderia ser bem pior. Aliás, tinha tudo para ser pior se considerado o índice de rejeição com que atravessou a campanha, a quantidade de “não votos” (abstenções, nulidades e escolhas pautadas apenas na rejeição ao PT) e principalmente a barafunda desses quase 60 dias iniciais envolvendo os filhos, interferência da família, declarações estapafúrdias de auxiliares e do próprio presidente, desempenho titubeante do governante, necessidade de afastamento para tratamento de saúde, demissão de ministro ainda sem explicação convincente, desarrumação completa no Congresso.

Não foram poucos os revezes, a maioria de produção caseira que pelo visto ainda tem longa trajetória a cumprir. Portanto, no cotejo com a realidade, Bolsonaro não poderia exigir muito mais que os 38,9% de aprovação ao governo e 57,5% de boa aceitação no campo pessoal. Ainda no campo da comparação, Luiz Inácio da Silva tinha 56% e Dilma Rousseff 49% em pesquisas realizadas com tempo semelhante de governo. Nenhum dos dois contava com rejeição igual à do atual presidente.

Ricardo Noblat: O capitão voltou!

- Blog do Noblat | Veja

Em grande estilo

E 14 dias depois de livrar-se “em definitivo do risco de morte”, como disse ao receber alta no hospital Albert Stein, o presidente Jair Bolsonaro fez sua primeira reaparição pública longe de Brasília – mais exatamente em Foz de Iguaçu, no Paraná, para empossar o general Joaquim Silva e Luna como novo diretor da Usina de Itaipu.

Foi uma reaparição em grande estilo. Recusou-se a responder a uma pergunta sobre o escândalo das falsas candidaturas lançadas no ano passado pelo seu partido, o PSL. E ao discursar, foi pródigo em elogios a governos do período da ditadura militar de 64 que se envolveram diretamente na construção da usina.

O ponto alto de sua fala foi a referência feita ao general paraguaio Alfredo Stroessner, a quem chamou de “estadista”. Stroessner era o presidente do Paraguai quando Itaipu foi inaugurada. Não faltou uma menção à “esquerda nunca mais”. Devotos de Bolsonaro, cheios de entusiasmo, saudaram nas redes sociais a volta do capitão.

Stroessner governou o Paraguai durante 35 anos. No período, houve 59 execuções extrajudiciais, 336 desaparecidos, 18.772 torturados e 3.470 exilados. Admirador do nazismo, ele deu abrigo ao médico Josef Mengele, responsável pela morte de milhares de judeus no campo de concentração de Auschwitz durante a 2ª Guerra Mundial.

Deposto em 1989, Stroessner fugiu para o Brasil e aqui morreu em 2006. Ele se junta, portanto, à galeria das pessoas reverenciadas por Bolsonaro da qual faz parte o coronel Carlos Alberto Ustra, o primeiro militar brasileiro condenado pela prática de tortura de presos políticos.

Reforma emagrece
Seja o que o Congresso quiser

Elio Gaspari*: A lição do barão Anton von Magnus

- O Globo | Folha de S. Paulo

Uma diplomacia que se preza age sempre pensando no dia seguinte; Maduro está frito, e depois?

O barão Anton von Magnus era o embaixador da Prússia no México em 1867. As tropas do presidente Benito Juárez haviam aprisionado e condenado à morte o príncipe austríaco Maximiliano de Habsburgo, que se intitulara Imperador do México. Todo mundo pedia pela vida do monarca deposto, do papa aos reis da Europa. O barão era o depositário de todas as esperanças de uma negociação com Juárez, reuniu-se com ele e transmitiu os apelos. Para horror da mulher de um general, quando Von Magnus voltou à cidade onde Maximiliano estava preso, trouxe consigo um embalsamador.

O barão era um diplomata. Devia pensar na vida do príncipe, mas também cuidava do dia seguinte, o do embarque de seus restos mortais para Viena. (Se ele fez algo errado foi contratar um mau embalsamador, pois o corpo de Maximiliano chegou em péssimo estado.)

Nicolás Maduro come todo dia e engordou na Presidência, mas está frito. A questão venezuelana depende do dia seguinte. O oposicionista Juan Guaidó pediu aos chanceleres do Grupo de Lima que considerassem "todos os cenários internacionais possíveis". Depois, esclareceu que no seu "todos" não incluía a hipótese de uma intervenção militar estrangeira. Já o vice-presidente americano, Mike Pence, lembrou as palavras de Trump, para quem "todas as opções estão sobre a mesa". A intervenção militar seria uma aventura que faria o gosto do governo americano. Felizmente, o governo de Jair Bolsonaro dissociou-se dessa possibilidade, juntando-se ao Chile, Peru, México e à União Europeia.

Mark Lilla*: Dois caminhos para a direita francesa

- Revista Piauí /Fevereiro

Marion Maréchal e a vanguarda do conservadorismo europeu

Em fevereiro de 2018, ocorreu em Washington D.C. a convenção anual da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês). É uma espécie de Davos da direita, em que iniciados e interessados se reúnem para inteirar-se das novidades. O orador da abertura, que estava longe de representar algo novo, foi o vice-presidente americano Mike Pence. A segunda pessoa a falar, esta sim, foi uma grande novidade: uma elegante francesa de 28 anos, chamada Marion Maréchal-Le Pen.

Marion, como é amplamente conhecida na França, vem a ser neta de Jean-Marie Le Pen, o fundador do partido de extrema direita Front National (Frente Nacional), e sobrinha de Marine Le Pen, atual presidente da agremiação. Os franceses conheceram Marion ainda criança, sorrindo no colo do avô nos cartazes da campanha presidencial deste, e ela nunca mais sumiu das vistas do público. Em 2012, aos 22 anos, tornou-se a pessoa mais jovem a se eleger para a Assembleia Nacional [equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil] desde a Revolução Francesa. Decidiu, porém, não concorrer à reeleição em 2017, a pretexto de dedicar mais tempo à família. Na verdade, vem cuidando de projetos bem ambiciosos.[1]

Seu desempenho na CPAC foi fora do comum – imagina-se qual terá sido o impacto na plateia daquela manhã. À diferença de seu avô e de sua tia, conhecidos pelo temperamento exaltado, Marion se mostra sempre calma e contida, transmite sinceridade e demonstra inclinações intelectuais. Com um leve e encantador sotaque francês, começou o discurso em inglês contrastando a independência dos Estados Unidos com a “sujeição” da França à União Europeia. Na qualidade de país-membro da UE, afirmou ela, a França não pode escolher as próprias políticas econômica e externa nem defender suas fronteiras contra a imigração ilegal e a presença de uma “contrassociedade” islâmica em seu território.

A partir daí, porém, seu discurso tomou um rumo inesperado. Falando para uma plateia republicana de absolutistas da propriedade privada e fanáticos do porte de armas, atacou o princípio do individualismo, proclamando que o “primado do egoísmo” estava na base de todos os males da nossa sociedade. Exemplo disso, apontou, é a economia global que escraviza estrangeiros, roubando empregos de trabalhadores locais. Encerrou louvando as virtudes da tradição e invocando uma frase geralmente atribuída a Gustav Mahler: “A tradição não é o culto das cinzas, mas a transmissão do fogo.” Nem é preciso dizer que essa foi a primeira vez que um orador da CPAC fez alusão a um compositor austríaco da passagem do século XIX ao XX.

Há algo de novo na direita europeia e envolve mais que rompantes de populistas xenófobos. Ideias vêm tomando corpo, com a criação de redes transnacionais para a sua disseminação. Os jornalistas tendem a encarar como arroubos exibicionistas de Steve Bannon os esforços que ele vem fazendo no sentido de congregar os partidos e pensadores populistas da Europa no que chama de “O Movimento”. Mas a intuição de Bannon, tanto em relação à política europeia como à americana, está bem sintonizada ao nosso tempo. (E, de fato, um mês depois do pronunciamento de Marion na CPAC, Bannon viria a discursar na convenção anual da Frente Nacional.) Em países tão diferentes quanto França, Polônia, Hungria, Áustria, Alemanha e Itália, registram-se esforços no sentido de desenvolver uma ideologia coerente capaz de mobilizar os europeus contrariados com a imigração, as grandes mudanças econômicas, a União Europeia e a liberação dos costumes, e então recorrer a essa ideologia para governar. É tempo de começarmos a prestar atenção às ideias do que parece ser uma Frente Popular de direita em evolução. E a França é um bom lugar para isso.

A esquerda francesa, aferrada ao secularismo republicano, nunca teve muita sensibilidade para a vida católica e às vezes nem percebe que cruzou uma linha divisória. No início de 1984, o governo do presidente François Mitterrand [do Partido Socialista] propôs um projeto de lei que pretendia aumentar o controle do Estado sobre as escolas católicas privadas, pressionando seus professores a se tornarem funcionários públicos. Em junho daquele ano, quase 1 milhão de católicos marchou nas ruas de Paris em protesto, e muitos outros no resto do país. O primeiro-ministro de Mitterrand, Pierre Mauroy, foi forçado a renunciar, e retiraram a proposta. Foi um momento importante para os católicos laicos, que puderam perceber o quanto continuavam a ser, a despeito do secularismo oficial do Estado francês, uma força cultural e às vezes política.

Em 1999, o governo do presidente gaullista Jacques Chirac aprovou uma lei criando uma nova situação jurídica chamada Pacto Civil de Solidariedade (PaCS, na sigla em francês), que beneficiava casais que estavam juntos havia muito e pediam proteção legal ao direito de herança e a outras questões relacionadas ao fim da vida, mas não queriam se casar formalmente. Adotado pouco depois da epidemia de Aids, o PaCS foi concebido sobretudo em apoio à comunidade gay, mas logo se tornou popular entre casais heterossexuais interessados numa relação que poderia ser dissolvida com maior facilidade. Entre os casais heterossexuais, o total de pacsés, ou seja, dos que aderiram ao PaCS, aproxima-se hoje do número dos que se casaram. Para gays e lésbicas, a lei foi uma conquista inquestionável.

Decidido a capitalizar esse sucesso, o socialista François Hollande, durante a sua campanha à Presidência em 2012, prometeu legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e facultar o direito de adoção, entre outros, aos casais homossexuais. O slogan que usava era Mariage pour tous – Casamento para todos. Hollande tentou cumprir a promessa de campanha assim que se tornou presidente, mas repetiu o erro de Mitterrand ao não antever a forte reação da direita. Pouco depois de sua posse, começou a se formar na França uma rede de leigos apoiada fortemente em grupos de oração de católicos carismáticos. Essa rede foi chamada La Manif pour tous – A manifestação para todos.

Bolsonaro chama ditador de estadista e se irrita com pergunta sobre laranjas

Em Itaipu, o presidente não quis responder sobre tentativa de censura do jornal pelo ministro do Turismo

Estelita Hass Carazzai | Folha de S. Paulo

FOZ DO IGUAÇU (PR)- O presidente Jair Bolsonaro (PSL) elogiou os presidentes da ditadura militar brasileira (1964-1985) e atribuiu a eles o mérito pela construção da hidrelétrica de Itaipu, onde esteve nesta terça-feira (26) para participar de uma cerimônia.

“Eu queria relembrar aqueles que realmente foram os responsáveis por essa obra. Isso tudo, as primeiras tratativas, começaram ainda lá atrás, no governo do marechal Castelo Branco”, afirmou, destacando que o militar, que governou de 1964 a 1967, foi eleito presidente "à luz da Constituição vigente naquele momento".

Castelo Branco foi eleito de forma indireta pelo Congresso em 11 de abril de 1964, dias após o golpe militar que depôs o então presidente João Goulart.

Ao final do evento em Itaipu, em entrevista, Bolsonaro não quis responder a um questionamento da Folha sobre a tentativa do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, de censurar reportagens do jornal sobre o caso dos laranjas do PSL --a Folha revelou a ligação do ministro com o esquema.

A reportagem indagou se Bolsonaro sabia da ação judicial que o ministro moveu contra o jornal, mas o presidente se irritou e não quis responder. “Eu peço, por favor! Estamos tratando de uma questão de extrema importância para o nosso país. Outra pergunta, por favor”, disse o presidente.

DITADOR ESTADISTA
Em discurso durante a solenidade, ao lado do presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, Bolsonaro citou os outros presidentes militares brasileiros e ainda celebrou o ditador paraguaio Alfredo Stroessner, a quem chamou de estadista.

“Isso tudo não seria suficiente se não tivesse, do lado de cá [paraguaio], um homem de visão, um estadista, que sabia perfeitamente que seu país, o Paraguai, só poderia prosseguir, progredir, se tivesse energia. Aqui também a minha homenagem ao nosso general Alfredo Stroessner”, declarou, sob palmas da plateia.

Bolsonaro exalta militares, elogia ditador do Paraguai e se irrita com pergunta sobre laranjas

Segundo presidente, governos militares foram responsáveis por construção de Itaipu

Bruno Soares / O Globo

FOZ DO IGUAÇU (PR) — Durante a cerimônia de posse do novo diretor-geral da usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), na manhã desta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro exaltou os presidentes da ditadura militar brasileira, elogiou o general Alfredo Stroessner , ditador que governou o Paraguai entre 1954 e 1989, e se irritou com uma pergunta sobre o esquema de candidaturas laranja em seu partido, o PSL.

Em seu discurso, Bolsonaro enalteceu o papel dos militares no processo de construção da usina e afirmou que o ex-presidente militar Castello Branco foi eleito presidente do Brasil — ele foi escolhido numa eleição indireta feita pelo Congresso Nacional.

— A Itaipu é o símbolo da amizade de nossos países. Eu quero recordar, relembrar aqueles que realmente são os responsáveis por essa obra. Isso tudo nas primeiras tratativas começaram ainda lá traz, no governo do Marechal Castello Branco, o homem que foi eleito presidente da República do Brasil, no dia 11 de abril de 1964 —, disse Bolsonaro.

Ao falar dos outros presidentes da ditadura, referiu-se ao período como "nosso governo". O discurso pró-militar marcou praticamente todo o pronunciamento, que terminou com elogios ao ditador paraguaio Alfredo Stroessner.

Bolsonaro cita e homenageia presidentes militares em discurso

Em posse do novo diretor da Itaipu Binacional, presidente fez homenagem aos generais que comandaram as ditaduras militares do Brasil e do Paraguai

Anne Warth / O Estado de S.Paulo

FOZ DO IGUAÇU - O presidente Jair Bolsonaro fez uma homenagem aos generais que comandaram as ditaduras militares do Brasil e do Paraguai. Em discurso de posse do novo diretor da Itaipu Binacional, general Joaquim Luna e Silva, Bolsonaro disse que a usina só saiu do papel devido ao papel dos militares.

O tratado que deu origem à usina foi assinado em 1974, e a hidrelétrica começou a produzir energia em 1984. "Eu queria, se me permitem, recordar, relembrar aqueles que realmente foram responsáveis por essa obra. Isso tudo, as primeiras tratativas começaram ainda lá atrás, no governo do marechal Castelo Branco", disse o presidente.

Em seu discurso, Bolsonaro disse que Castelo Branco foi eleito em 11 de abril de 1964 e que tomou posse em 15 de abril daquele ano, "tudo à luz da Constituição vigente naquele momento". O presidente não mencionou o fato de que, depois do golpe militar, em 31 de março de 1964, os presidentes eram escolhidos pela cúpula do regime e, somente depois disso, eleitos indiretamente por um colégio eleitoral. Além disso, a Constituição de 1946 não previa ruptura democrática.

Bolsonaro mencionou ainda tratativas que continuaram durante o governo dos presidentes Costa e Silva, que sucedeu Castelo Branco, e Garrastazu Médici. A obra, na avaliação de Bolsonaro, "realmente saiu do papel e tomou corpo" durante o governo de Ernesto Geisel. Ao "saudoso e querido" João Figueiredo, último presidente do regime militar, Bolsonaro disse que coube a inauguração da primeira turbina. Nenhum presidente civil foi mencionado no discurso.

Bolsonaro aproveitou ainda para homenagear o general Alfredo Stroessner, ditador que governou o Paraguai entre 1954 e 1989. O pai do atual presidente do Paraguai, Mario Abdo Benitez, conhecido como Marito, foi secretário particular de Stroessner.

"Mas Marito, isso tudo não seria suficiente se não tivesse do lado de cá um homem de visão, um estadista, que sabia perfeitamente que o seu país, Paraguai, só poderia prosseguir e progredir se tivesse energia. Então aqui também a minha homenagem ao nosso general Alfredo Stroessner", disse.

Bolsonaro citou ainda trecho da Bíblia e disse que Marito é cristão, conservador e um homem de família. "Esses valores nos trouxeram até aqui e com a graça de Deus continuaremos juntos para o bem dos nossos povos", afirmou. "Esquerda, nunca mais", disse.

Discurso antipolítica de Bolsonaro emperra aprovação da reforma, diz Rodrigo Maia

Para presidente da Câmara, governo só tem o PSL na sua base e perderia na CCJ se a votação fosse hoje

Joelmir TavaresFlavia Lima | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse nesta terça-feira (26) que um dos obstáculos para o presidente Jair Bolsonaro aprovar pautas como a reforma da Previdência é o seu discurso antipolítica. Segundo ele, se a votação da reforma ocorresse hoje na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), o governo perderia.

“O problema é que o presidente está refém do discurso dele de campanha”, disse Maia em seminário do banco BTG Pactual, na capital paulista.

Para o deputado, é improdutivo o discurso de contrapor “nova política” e “velha política”, que contribui para uma erosão das relações com os congressistas.

“A questão é construir uma aliança. A gente não pode menosprezar a política, criminalizar a política em todos os momentos”, continuou.

Segundo Maia, até o início de junho ou a primeira quinzena de julho, os parlamentares estarão prontos para votar a proposta, mas para isso é preciso uma boa articulação.

“Se a gente sabe que é um processo de construção, por que pressa em instalar a comissão se vou ter isso organizado lá para a segunda quinzena de março? Vamos dar tempo ao tempo para que as coisas se organizem e para que 15 dias não representem derrota da reforma da Previdência”, afirmou.

Segundo ele, o movimento de olhar um assunto de longo prazo com uma ansiedade de curto prazo é coisa do mercado financeiro. “Talvez a pressa possa derrotar a reforma, daí não tem dez anos de economia”, disse.

De acordo com Maia, não é possível saber quantos votos o governo teria hoje para aprovar a reforma porque a sua base está em formação.

“Hoje eu digo que o governo tem o PSL na sua base e não tem mais partido algum”, afirmou. A articulação do governo precisa melhorar, comentou.

Para Maia, não adianta querer colocar o DEM nessa base sem compreender que o partido sozinho não resolve o problema do governo —seria preciso trazer mais 10 ou 12 partidos para aprovar a Previdência.

“Ir sozinho para a base do governo, como sugeriu o Caiado [Ronaldo Caiado, governador de Goiás], é uma precipitação, um erro de avaliação de como forma a base no parlamento brasileiro”, disse.

Maia falou que atender a agenda das bancadas temáticas não significa que eles vão votar a reforma da Previdência e alertou que a nova formação da Câmara tem uma oposição mais forte ao governo do que a existente na gestão passada, de Michel Temer. “O governo precisa olhar o Parlamento com um cuidado grande.”

Bolsonaro é refém de discurso de campanha, diz Rodrigo Maia sobre aprovação da reforma

Presidente da Câmara dos Deputados avaliou que articulação do governo na Casa 'tem o PSL na base e não tem mais partido', reforçando que mudanças 'não são tão rápidas'

Gustavo Porto, Francisco Carlos de Assis e Cynthia Decloedt / O Estado de S.Paulo

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), avaliou nesta terça-feira, 26, que o presidente da República, Jair Bolsonaro, é refém do discurso de campanha no qual pregou mudanças rápidas no País. Segundo ele, a sociedade tinha essa “expectativa de um novo País, mas as mudanças não são tão rápidas numa democracia, o que é bom”, ponderou.

Maia disse que a política precisa entender a forma com que o presidente Bolsonaro quer fazer e dialogar com o Parlamento em um contexto de necessária aprovação da PEC da Nova Previdência. 

“Não tem velha e nova política, tem a política. O problema é a governabilidade da Casa em conjunto. A Reforma da Previdência vai ter um peso positivo para o governo em 2022 e os deputados querem compreender como isso será dividido”.

O presidente da Câmara evitou comentar quantos votos o governo teria hoje para aprovar a PEC da Nova Previdência, mas admitiu que o projeto hoje não passaria nem pela admissibilidade da Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) sem a articulação necessária do governo. Para Maia, o governo “tem o PSL (partido de Bolsonaro) na base e não tem mais partido” algum. “Precisamos trazer uns 10, 12 partidos para a base para ter musculatura. Nós que acreditamos na reforma, vamos ajudar o governo a construir sua base”.

O secretário especial de Previdência e Trabalho do governo, Rogério Marinho, defendeu hoje a importância de que o Congresso mantenha a 'espinha dorsal' do projeto de reforma apresentado pelo Executivo.

Maia citou o apoio de 70% da população à aposentadoria rural, mas, ao ser indagado sobre as bancadas temáticas, o presidente da Câmara afirmou que a agenda da bancada do agronegócio não é a da reforma. “A agenda ideológica está nos partidos, onde está a agenda da reforma da Previdência”, explicou.

O deputado disse ter um bom diálogo com a oposição e se dispôs a ajudar com esses parlamentares contrários à PEC da Nova Previdência na aprovação da proposta. Ele calculou que o projeto possa tramitar nas comissões da Casa e estar pronto para a votação em plenário entre o final de maio e o começo de junho.

A líderes na Câmara, Onyx promete cargos e verba

Em reunião com Bolsonaro e deputados, ministro-chefe da Casa Civil se comprometeu a liberar nomeações políticas em órgãos federais nos estados. Joice Hasselmann foi anunciada líder do governo no Congresso

Bruno Góes, Daniel Gullino e Eduardo Bresciani | O Globo

BRASÍLIA - Na primeira reunião do presidente Jair Bolsonaro com os líderes na Câmara, destinada a debater a proposta de reforma da Previdência, coube ao ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, iniciar o movimento de aproximação com os parlamentares. Responsável pela articulação política do governo, Onyx prometeu liberar nomeações políticas em órgãos federais nos estados e garantiu que não haverá contingenciamento das emendas parlamentares individuais por parte do governo.

Bolsonaro focou sua fala na reforma da Previdência, mas aproveitou o encontro para anunciar a escolha da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) para o cargo de líder do governo no Congresso e se comprometeu a manter contato frequente com os líderes, além de repetir esse tipo de evento. De acordo com os deputados, o presidente adotou um tom de humildade e reafirmou em algumas oportunidades a importância do Parlamento para o sucesso do governo, em especial neste tema.

Apesar do tom cordial do presidente, a reunião foi marcada por críticas dos líderes à articulação política do governo. Líderes reclamaram que ministros não têm atendido deputados e nem prefeitos indicados por eles. Houve protestos também sobre “falta de atenção” da Caixa, banco que firma os convênios de prefeituras com o governo federal e acompanha a execução das emendas. O secretário de Assuntos Fundiários, Nabhan Garcia, foi chamado de “truculento” por um dos presentes e criticado por outros.

Após derrota na Câmara, governo revoga decreto sobre sigilo de documentos

Decisão ainda precisava passar por votação no Senado, mas presidente Jair Bolsonaro decidiu antecipar a revogação para evitar segunda derrota no Congresso

Julia Lindner, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O governo recuou nesta terça-feira, 26, e decidiu revogar o decreto que amplia o número de servidores autorizados a impor sigilo a documentos públicos. A revogação, assinada nesta terça pelo presidente Jair Bolsonaro, será publicada na edição de quarta-feira do Diário Oficial da União (DOU).

A decisão ocorre uma semana após a Câmara dos Deputados aprovar um projeto que suspende os efeitos do decreto presidencial assinado pelo então presidente interino, Hamilton Mourão, para alterar regras da Lei de Acesso à Informação (LAI). A votação ainda teria que ser confirmada pelo Senado. Bolsonaro, porém, se antecipou a fim de evitar uma nova derrota.

Mais cedo, Bolsonaro recebeu informações de que o Senado votaria nesta quarta-feira (27) um requerimento para incluir na pauta de votações da Casa a matéria que suspende decreto presidencial assinado por Mourão. Por iniciativa da senadora Eliziane Gama (PPS-MA), o documento teria apoio de pelo menos 25 assinaturas, inclusive de aliados do governo.

O secretário especial da Casa Civil para o Senado Federal, Paulo Bauer, justificou que o governo possui outras prioridades no momento e por isso decidiu revogar o decreto. Ele negou que a derrota na Câmara sinalize perda de apoio da base no Congresso. Segundo ele, o requerimento apresentado por Eliziane Gama entraria na pauta do Senado sem caráter de urgência, o que arrastaria a votação para a segunda quinzena de março.

MEC exorbita ao tentar usar escolas em propaganda: Editoria | O Globo

Ministro Ricardo Vélez admite ‘erro’, numa ação que lembrou os aparelhos lulopetistas

O ministro da Educação, o professor Ricardo Vélez Rodríguez, filósofo de origem colombiana, sofre de surtos de incontinência verbal. Em menos de dois meses de poder, Vélez se notabiliza mais por comentários bizarros do que por sugestões de políticas na área educacional, uma das mais carentes na administração pública.

Já fez citação equivocada, em entrevista à “Veja”, do poeta e compositor Cazuza, e precisou pedir desculpas à mãe dele, Lucinha Araújo; teve de fazer o mesmo ao dizer que o brasileiro viajando é um “canibal, rouba coisas do hotel (...), acha que sai de casa e pode carregar tudo”.

Acaba de voltar atrás em mais uma trapalhada, o envio de mensagem oficial para diretores de escolas, a fim de que fosse lida para alunos e funcionários na abertura do ano letivo. O texto traz, no fim, o lema da campanha eleitoral do seu chefe, presidente Jair Bolsonaro: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!”.

Não basta pedir desculpas, reconhecer o erro. Não se pode passar uma borracha na gravidade da óbvia intenção de usar a máquina do Estado para fazer proselitismo político-eleitoral e ideológico. Ricardo Vélez repetiu, com sinal trocado, o comportamento de militantes do lulopetismo instalados em aparelhos na administração federal, nos governos Lula e Dilma.

Vélez, nas partes que compõem o governo Bolsonaro, está no grupo mais ideológico dele, em que se encontram a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, e o chanceler, Ernesto Araújo. Cada um deles já produziu excentricidades.

Ficou evidente a intenção do novo responsável pelo MEC de aproveitar a volta às aulas para infundir o conceito cívico de pátria e, de quebra, fazer uma louvação ao governo. Como se não houvesse objetivos de fato estratégicos a serem perseguidos pela educação brasileira.

O disparate do MEC: Editorial | Folha de S. Paulo

Após pedir a escolas que cantassem hino e repetissem slogan bolsonarista, ministro volta atrás

O grupo de ministros mais ideológicos do governo Jair Bolsonaro (PSL) dá a impressão de competir, dia a dia, pela produção de estultices. Nessa acirrada contenda, que envolve áreas relevantes, o titular da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, tem merecido destaque.

Já em seu discurso de posse, deixou claro o tipo de preocupação comezinha e paranoica que nortearia sua atuação. Atacou uma fantasiosa ideologia de gênero que estaria a conspurcar a formação dos jovens do país e disparou contra o fantasma do marxismo cultural.

No posto, o ministro pouco deixou ver, até agora, de seus planos para aspectos centrais do ensino do país —como elevar a qualidade do aprendizado e superar o gargalo do nível médio, para citar alguns.

Em vez disso, envolveu-se em decisões questionáveis, caso da nomeação de ex-alunos sem nenhum traquejo em gestão pública para postos relevantes da pasta. Num episódio constrangedor, acabou por exonerar um funcionário após a publicação de um edital que estabelecia critérios deficientes para a compra de livros didáticos.

Preservar o BC que deu certo: Editorial | O Estado de S. Paulo

Manter a vitoriosa política seguida no Banco Central (BC) por quase três anos, sob a liderança do presidente Ilan Goldfajn, foi a melhor promessa dos três novos diretores aprovados ontem pelo Senado. Transparência, cautela, serenidade e perseverança formaram a base da política monetária nesse período, disse o economista Roberto Campos Neto, indicado para a presidência da instituição. Será preciso, acrescentou, preservar esses valores e, se for possível, aprimorar a política. Ao citar aqueles valores, ele repetiu, com acréscimo da palavra transparência, o lema contido na ata da reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom), a última conduzida sob a chefia de Goldfajn.

Igualmente significativa foi a referência, no começo da exposição, à dupla missão legalmente atribuída ao BC: assegurar o poder de compra da moeda, conduzindo a inflação à meta oficial, e garantir a solidez e a eficiência do sistema financeiro. A referência a essa dupla função, definida em lei, está longe de ser mera redundância. É a reafirmação de uma política sensata e bem-sucedida, com a rejeição implícita da inovação defendida, há muitos anos, por políticos autointitulados desenvolvimentistas.

Tensão continua no comércio, mesmo com trégua EUA-China: Editorial | Valor Econômico

O presidente americano Donald Trump recuou de sua intenção imediata de aumentar tarifas para 25% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses, programado para sexta-feira. Na noite de domingo adiou a medida porque, houve "progressos substanciais" na rodada de negociações encerrada em Washington. Os entendimentos envolveram temas como proteção à propriedade intelectual, transferência de tecnologia, agricultura, serviços e moeda. A trégua interessa a Trump que se encontra ainda nesta semana com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong Un, aliado da China.

O suspense permanece no comércio global, porém, uma vez que um acordo somente será selado entre Trump e o líder chinês, Xi Jinping, em data ainda não marcada, se mais progressos forem feitos. Além disso, o presidente americano patrocina uma onda de tensão em outra frente, depois de ter apresentado uma proposta que pode excluir mais de duas dezenas de países emergentes do tratamento "especial e diferenciado" nas negociações comerciais, ao mesmo tempo em que ameaça taxar em 25% as importações de automóveis e autopeças, alegando questão de segurança nacional.

Washington propôs à Organização Mundial do Comércio (OMC) apertar os critérios para determinar se um país pode receber tratamento especial em negociações comerciais no âmbito da OMC, em mais um de seus movimentos para reformar a organização. Os EUA não apontaram países individualmente, embora frequentemente acusem a China e a Índia de se colocarem como emergentes para obterem vantagens e escapar da aplicação de certas regras negociadas na OMC. Mas os critérios foram talhados para abranger também Brasil, África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Brunei, Cingapura, Chile, Coreia do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos Filipinas, Hong Kong, Indonésia, Israel, Kuwait, Malásia, México, Nigéria, Qatar, Tailândia, Taiwan, Turquia e Vietnã.

Charles Baudelaire: Ao Leitor

A tolice, o pecado, o logro, a mesquinhez
Habitam nosso corpo e o espírito viciam,
E adoráveis remorsos sempre nos saciam,
Como o mendigo exibe a sua sordidez.

Fiéis ao pecado, a contrição nos amordaça;
Impomos alto preço à infâmia confessada,
E alegres retornamos à lodosa estrada,
Na ilusão de que o pranto as nódoas nos desfaça.

Na almofada do mal é Satã Trismegisto
Quem docemente nosso espírito consola,
E o metal puro da vontade estão se evoca
Por obra deste sábio que age sem ser visto.

É o diabo que nos move e até nos manuseia!
Em tudo que repugna, uma jóia encontramos;
Dia após dia, para o Inferno caminhamos,
Sem medo algum, dentro da treva que nauseia.

Assim como um voraz devasso beija e suga
O seio murcho que lhe oferta uma vadia,
Furtamos ao acaso uma carícia esguia
Para espremê-la qual laranja que se enruga.

Espesso, a fervilhar, qual um milhão de helmintos,
Em nosso crânio um povo de demônios cresce,
E, ao respirarmos, aos pulmões a morte desce,
Rio invisível, com lamentos indistintos.

Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada
Não bordaram ainda com desenhos finos
A trama vã de nossos míseros destinos,
É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.


Em meio às hienas, às serpentes, aos chacais,
Aos símios, escorpiões, abutres e panteras,
Aos monstros ululantes e às viscosas feras,
No lodaçal de nossos vício ancestrais,


Um há mais feio, mais iníquo, mais imundo!
Sem grandes gestos ou sequer lançar um grito,
Da Terra, por prazer, faria um só detrito
E num bocejo imenso engoliria o mundo;


É o Tédio! - O olhar esquivo à mínima emoção,
Com patíbulos sonha, ao cachimbo agarrado.
Tu o conheces, leitor, ao monstro delicado
- Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão.