terça-feira, 7 de maio de 2019

Opinião do dia: Geraldo Alckmin*

"Vemos no Brasil hoje um clima de ódio. É o PT de ponta-cabeça, da intolerância, dos donos da verdade e do puxa-saquismo.

A economia não anda. Falta confiança. Precisamos de uma agenda de competitividade e de inserção internacional. Somos um país de pequeno comércio exterior e ficamos brigando com a China e mundo árabe, comprando briga à toa, uma ideologização ultrapassada.

Querem distribuir armas à vontade e voltar ao Velho Oeste. O cidadão que é coronel e está instruindo o soldado não pode dizer que ele tem que matar. Quem mata bandido, mata também gente que é inocente.

*Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e presidente nacional do PSDB, na Convenção Estadual do partido, domingo, 5/5/2019.

Eliane Cantanhêde: Paciência tem limite

- O Estado de S.Paulo

Como Bolsonaro prefere ficar ‘quieto’, militares destacam Villas Bôas para falar grosso

Muitos perguntam o que está por trás da guerra entre “olavetes” e militares, ou melhor, de “olavetes” contra os generais do governo. Simples. Trata-se da velha disputa de poder, mas também a disputa pelo coração, a mente e a tutela do presidente Jair Bolsonaro. Quanto mais fraco, mais ele se torna refém dos dois lados.

Segundo Bolsonaro, “não existe grupo de militares nem de olavos. O time é um só”. Isso não é exatamente verdade. Se a mídia tradicional não serve, basta uma busca nas postagens do tal Olavo de Carvalho, dos filhos do presidente e suas tropas nas redes sociais. Os ataques de um time e a defesa do outro são estridentes.

Os militares do Planalto e arredores se contorciam e apanhavam calados, mas tudo tem limite. O vice-presidente Hamilton Mourão reagiu e agora calou. O ministro Santos Cruz também reagiu e entrou no alvo da enxurrada de palavrões como “bosta engomada”.

Ficou claro que a fila de generais agredidos não teria mais fim. Após Mourão e Santos Cruz viriam Augusto Heleno (GSI), Floriano Peixoto (Secretaria Geral), Fernando Azevedo e Silva (Defesa), Edson Pujol (comandante do Exército). Tiro ao alvo.

Foi por isso que o ex-comandante Eduardo Villas Bôas entrou na guerra. Ele tem força e liderança, como várias vezes já dito aqui neste espaço, e ninguém como ele para dar um basta e repor as coisas nos seus devidos lugares, já que o capitão Bolsonaro não faz nada e ainda permite (ou estimula?) o apoio dos seus filhos aos desaforos aviltantes dos olavistas aos generais.

Ana Carla Abrão*: Help!

- O Estado de S.Paulo

As contas em frangalhos dos Estados refletem o desequilíbrio entre as trajetórias de despesas e receitas

O governo divulgou o Plano de Estabilidade Fiscal (PEF) para socorrer Estados em crise fiscal. Batizado de “Plano Mansueto”, o crédito faz jus ao trabalho do secretário do Tesouro Nacional e sua equipe de técnicos, todos muito competentes e profundos conhecedores da deterioração fiscal que assola os entes subnacionais. Mais ainda, conhecedores também do caminho que os levou à atual situação.

O PEF não é exatamente uma novidade. Afinal, desde a década de 90 que Estados e municípios são sistematicamente socorridos pela União. Assunção de dívidas; novos empréstimos; mais empréstimos e ainda mais generosos; revisão do indexador das dívidas com a União (amparando os amigos do rei – ou da rainha, nesse caso); renegociação e repactuação dessas mesmas dívidas; distribuição de receitas extraordinárias para garantir pagamento de salários, e outras tantas ações que se sucederam para amenizar um crise que já se tornou antiga.

Junte-se a isso uma Suprema Corte camarada, que ignora os impactos do desrespeito a contratos e permite que garantias sejam desconsideradas e juros simples considerados, e temos aí os ingredientes de uma crise que também já se tornou crônica. Não é à toa que ações de socorro se tornaram corriqueiras como consequência da romaria de governadores a Brasília e que recomeça a cada novo mandato presidencial.

Ranier Bragon: Ministério à deriva

- Folha de S. Paulo

Gestores aloprados e cruzada contra universidades mostram a real balbúrdia

Dado o conjunto de equívocos e trapalhadas, mal não faria se Paulo Guedes acrescentasse a privatização do Ministério da Educação à sua lista do Estado minimalista.

O que tem sido feito até aqui lembra um elefante em loja de cristais. A ideia é que não sobre caco sobre caco. O primeiro ministro, RicardoVélez, ao menos tinha a qualidade, nesse caso, da inação —mas sua reinação foi breve. O substituto, Abraham Weintraub, comunga dos mesmos ideais. A diferença é que representa maior ameaça de realizá-los.

Não fosse a massa silenciosa de técnicos, o colapso já teria se instalado.

O que Bolsonaro e seus ideólogos produziram até agora? Cartas patéticas a escolas, reedição de tacanhices da ditadura, esvaziamento de mecanismos de avaliação, menosprezo pelas ciências humanas, revisionismos históricos sem pé nem cabeça, estímulo às obscurantistas Escola sem Partido e educação domiciliar.

Uma postura anti-intelectual que afeta toda a gestão, vide o desmonte do imprescindível Censo 2020.

Pablo Ortellado*: Falsa oposição

- Folha de S. Paulo

Ministro propõe transferência de recursos das universidades para ensino fundamental

Nos últimos dias, o ministro Abraham Weintraub começou um processo de estrangulamento financeiro das universidades, aparentemente motivado pela antipatia política que nutre pelas ciências humanas. Seu principal argumento é dizer que o dinheiro gasto com inutilidades como filosofia e sociologia seria mais bem empregado no ensino básico.

Logo que tomou posse, Weintraub deixou claro que não faria qualquer tipo de perseguição ideológica e lembrou que foi perseguido pela esquerda na Unifesp, onde lecionava.

Duas semanas depois, numa transmissão pelo Facebook, sugeriu que estudava retirar recursos das áreas de filosofia e sociologia, copiando iniciativa desastrosa e logo revista no Japão —sugestão que o presidente Jair Bolsonaro em seguida, pelo Twitter, ampliou para todas as ciências humanas.

Na semana passada, o ministro anunciou, em uma entrevista, que havia punido com cortes orçamentários três universidades que não tiveram bom “desempenho acadêmico” e fizeram “balbúrdia”, como “sem-terra dentro do campus” e “gente pelada dentro do campus”.

Hélio Schwartsman: Esquadrilha da fumaça

- Folha de S. Paulo

Reduzir impostos sobre cigarros não é a melhor forma de enfrentar o descaminho

Nem todos os avanços técnicos se traduzem em maior bem-estar para a população. Isso fica especialmente claro no que diz respeito às drogas psicoativas.

Desde que o homem dominou o processo da destilação, que acabou dando uma nova dimensão ao problema do alcoolismo, a ciência não parou de desenvolver formas mais eficientes de explorar a queda que nossos cérebros têm por certas substâncias. Hoje, lidamos com uma plêiade de drogas sintéticas, muito mais potentes do que as moléculas naturais que as inspiraram, que são desenvolvidas por químicos num ritmo mais acelerado até do que aquele em que as autoridades conseguem se mobilizar para bani-las.

Aqui, apesar de um ramo da ciência estar trabalhando contra a saúde pública, nem tudo são más notícias. Ao contrário, ao longo das últimas décadas vários países conseguiram reduzir drasticamente a prevalência do uso de tabaco, uma das drogas mais viciantes e mais prejudiciais à saúde que se conhece. No Brasil, em 1989, 35% das pessoas com mais de 15 anos fumavam; em 2017, o número ficava em torno dos 10% —e tudo isso sem recorrer a medidas autoritárias como a proibição.

Luiz Carlos Azedo: A crise no Estado-Maior

- Nas entrelinhas / Correio Braziliense

“Todas as crises no governo foram criadas pela própria corte de Bolsonaro, pois, desde as eleições, a oposição perdeu a capacidade de iniciativa política”

As tragédias na política costumam acontecer quando os governantes não conseguem formar um estado-maior e deixam se aprisionar numa “jaula de cristal”, na qual pululam os áulicos da corte, que são aqueles que realmente têm acesso à sua personalidade. O presidente Jair Bolsonaro tem um Estado-Maior predominantemente formado por generais acostumados ao planejamento estratégico, a partir de construção de cenários, definição de objetivos e construção de alternativas, mas sua corte é formada pelos filhos e áulicos, com um guru sem papas na língua, o escritor Olavo de Carvalho, que zela pela “pureza” ideológica do governo.

Via de regra, um governante é um homem sem vida privada, na vitrine da opinião pública, que não pode aparecer perante os cidadãos como é realmente nem deixar transparecer seu estado de ânimo. Aparentemente, durante a semana, Bolsonaro não tem muito como fugir dos protocolos, da agenda oficial, da rotina imposta pelos generais que controlam o Palácio do Planalto; no fim de semana, porém, a família e os áulicos se encarregam de “libertá-lo” desse esquema de quartel. E é aí que o circo pega fogo. Na maioria das vezes, o fogaréu é provocado pelo escritor Olavo de Carvalho. Não foi diferente no último fim de semana, quando o amigo e ideólogo do governo novamente direcionou sua metralhadora verbal de baixo calão para o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, aprofundando a disputa entre os militares e o grupo político do clã Bolsonaro.

A diferença, desta vez, foi a reação do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Boas, que hoje ocupa uma discreta assessoria no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, mas é uma eminência parda no governo. Apesar de gravemente enfermo de uma doença degenerativa, com seu estoicismo e capacidade intelectual, Villas Boas ainda é o grande líder das Forças Armadas. Foi duríssimo com Olavo de Carvalho: “Verdadeiro Trotski de direita, não compreende que substituindo uma ideologia pela outra não contribui para a elaboração de uma base de pensamento que promova soluções concretas para os problemas brasileiros. Por outro lado, age no sentido de acentuar as divergências nacionais no momento em que a sociedade brasileira necessita recuperar a coesão e estruturar um projeto para o país”.

A comparação com Trotski é até injusta, pois o líder comunista foi o responsável pela formação do Exército Vermelho e teve um papel na história muito mais relevante, pois rivalizou com Stálin na disputa pelo comando da antiga União Soviética, enquanto Olavo de Carvalho é escritor radicado nos Estados Unidos que ganhou fama e influência com a eleição de Bolsonaro, mas não ocupa nenhum cargo no governo. Com essa declaração nas redes sociais, porém, acentuou a principal contradição do atual governo: como Carvalho, Bolsonaro aposta na divisão ideológica do país, num momento em que a nação precisa de coesão política para enfrentar seus desafios.

Andrea Jubé: Mais do que sublime: perfeito

- Valor Econômico

Bolsonaro não tem compromisso com o erro

Na escola de formação, o soldado aprende que o erro, no limite, pode ser fatal. No mês passado, nove militares foram presos após disparar 80 tiros contra um carro em Guadalupe, zona norte do Rio de Janeiro: o músico Evaldo Rosa, que conduzia a família para um chá de bebê, e o catador de material reciclável Luciano Macedo foram mortos. Ao pleitear a libertação dos militares, o Ministério Público Militar argumentou que, se soubessem que eram inocentes, não teriam atirado. Foi um erro trágico.

Nos anos 80, durante um treinamento de mergulho do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, o soldado Jair Bolsonaro buscava o primeiro lugar na prova de resistência: com dez quilos de chumbo amarrados à cintura, deveria manter-se na superfície por dez minutos. Contrariou ordens do instrutor para desistir, engoliu água, quase se afogou, mas terminou como primeiro colocado. Naquela circunstância, insistir mais uns segundos teria sido uma fatalidade.

Políticos experientes que acompanham o desempenho de Bolsonaro na chefia do Executivo afirmam que uma de suas virtudes é a falta de compromisso com o erro. Uma qualidade singular, já que soldados são treinados para não errar. Nas palavras de um decano do Congresso, Bolsonaro não hesita em recuar diante de uma falha grave, mas passível de retificação.

"Eu tenho que ser mais do que perfeito, eu tenho que ser sublime, senão tudo dá errado", desabafou no dia 2, em um evento no Planalto.

Bolsonaro discursou sob o olhar atento do ministro da Economia, Paulo Guedes. Subiu ao púlpito presidencial para se retratar de uma declaração de cunho intervencionista que afligiu os investidores na semana passada. Ele havia pleiteado ao presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, que reduzisse os juros para os produtores rurais.

Cerca de 24 horas depois, com Paulo Guedes no seu cangote (para usar uma expressão cara ao presidente), Bolsonaro ponderou que não tem poder de interferir em muita coisa, e nem quer. "Apenas dou sugestões e sugestão são como conselho, cada um cumpre se achar que deve cumprir". Um dia depois, reforçou o recado em um pronunciamento no rádio e na televisão: "o compromisso do meu governo é com a liberdade econômica".

Pedro Cafardo: Como cordeiro, economia caminha para a recessão

- Valor Econômico

Para economista, está ficando tarde demais para "salvar 2020"

Será que o título acima retrata a realidade? Estaria a economia caminhando mesmo para uma nova recessão? Os mais pessimistas acham que sim. Os demais balançam a cabeça, preocupados. Fato é que os indicadores mais recentes não animam ninguém. Vamos citar três. O índice IBC-Br, prévia do PIB calculada pelo Banco Central, mostra que a economia apresentou queda de 0,73% de janeiro para fevereiro. No primeiro trimestre, o faturamento da indústria caiu 5,1% na comparação com o mesmo período de 2018, e a produção, 2,2%. Em abril, o índice da CNI que mede a expectativa do consumidor recuou 1,4 ponto em relação a dezembro.

O economista José Luis Oreiro estima que a atual trajetória de recuperação é a mais lenta desde 1981. Ele ataca o Banco Central. Diz em artigo em seu blog que o BC precisa assumir sua responsabilidade com o atual comportamento da economia e reiniciar o processo de redução da taxa Selic. Sugere que essa atitude precisa ser tomada imediatamente, porque pode ficar "tarde demais para salvar 2020".

Oreiro observa que "não é mais possível nem desejável" esperar pela aprovação da reforma da Previdência para dar o estímulo monetário adicional que a economia brasileira precisa para não cair novamente em recessão.

Pelos cálculos desse professor da UnB, a economia brasileira está 4,3% abaixo do produto potencial, ou seja, do nível máximo de produção que pode ser mantido sem que se verifiquem pressões inflacionárias. Isso significa, diz o economista, um desperdício de recursos da ordem de R$ 315 bilhões por ano. Se a economia estivesse hoje operando no seu nível do produto potencial, a receita tributária do setor público consolidado teria um acréscimo de mais de R$ 90 bilhões em relação à previsão para 2019, ou 64% do déficit primário estimado para o ano, de R$ 139 bilhões. O efeito fiscal, portanto, seria de mais de R$ 900 bilhões em dez anos, quase igual ao da reforma da Previdência.

"Hiato de produto" é o nome pomposo que os economistas dão a essa deficiência de produção do país. O hiato de 4,3% é um sintoma de insuficiência grave e crônica de demanda.

Luiz Gonzaga Belluzzo*: A Serpente sai do ovo*

- Valor Econômico

Nos espaços fabricados pelas Novas Crenças não é possível manter conversações porque a norma é a animosidade

Esparrama-se a percepção de que as coisas podem andar para trás, que o progresso individual e coletivo não é uma fatalidade. Esse sentimento é cada vez mais intenso. É a nostalgia do futuro, um sentimento que reflete as angústias que povoam as almas de homens e mulheres, pasmos diante de uma situação econômica e social que ronda ameaçadoramente suas vidas e as de seus filhos.

No mundo açoitado pelo guante da desigualdade e da injustiça, a angústia sem esperança invoca as trevas da anti-razão. Jair Messias e Abraham Wientraub são fiéis pastores de seus crentes. São fiéis a seus fiéis. Para um contingente parrudo de brasileiros, não importam os deslizes de seus Deuses e Messias. Importa, sim, que os Escolhidos insistam e persistam na afirmação das crenças, ideologias, visões do mundo, valores que refletem os ressentimentos dos súditos maltratados pelas frustrações e misérias da vida.

Diante das misérias da vida e de uma vida de misérias, as vítimas dos deuses mundanos buscam refúgio no Incompreensível. Nos tempos de cólera, elas fogem das dúvidas e angústias que as atormentam. Adaptadas, conformadas, até mesmo confortadas e felizes preferem aceitar que sua existência é apenas uma permissão dos deuses e de seus procuradores na Terra.

Nos espaços fabricados pelas Novas Crenças não é possível manter conversações, porque neles a norma não é a argumentação, mas o exercício da animosidade sob todos os seus disfarces, a prática desbragada da agressividade a propósito de tudo e de todos, presentes ou ausentes, amigos ou inimigos.

As redes sociais, prometidas como o espaço do movimento livre de ideias e opiniões, se transformaram num calabouço policialesco em que a crítica é substituída pela vigilância. A vigilância exige convicções esféricas, maciças, impenetráveis, perfeitas. A vigilância deve adquirir aquela solidez própria da turba enfurecida, disposta ao linchamento. Não se trata de compreender o outro, mas de vigiá-lo. "Estranho ideal policialesco, o de ser a má consciência de alguém", diz o filósofo Gilles Deleuze, também suspeito de patrocinar o marxismo cultural.

Andamos na contramão da História ou a História mudou de mão? Na iminência da eliminação da Filosofia e da Sociologia dos currículos, vou arriscar a pele e recorrer ao testemunho de outro filósofo. Na História da Filosofia, Hegel atribui a Descartes a ruptura com todas as filosofias anteriores "principalmente a que tomava como ponto de partida a autoridade da Igreja". Desde então, continua Hegel, "o pensamento deve partir do pensamento mesmo".

O homem do Iluminismo cobrou seus direitos de dominação, reivindicando o poder de suas Luzes, abominando os obstáculos da tradição ou de tudo que lhe figurasse contrário aos princípios de uma ordem natural, desvendada e comandada pela razão.

Sapere Aude! exclama Emmanuel Kant em seu texto, "O Que é o Iluminismo". Para Kant, a ousadia de entender por si mesmo liberta o homem, sua imatura dependência de outrem. A imaturidade é auto infligida. Não resulta da incapacidade dos homens, mas da falta de coragem para usar seu entendimento sem a guia do outro.

Miguel de Almeida*: Comunistas da Quinta Avenida

- O Globo

Em Nova York, a ojeriza ao discurso homofóbico e misógino de Bolsonaro ultrapassou parte da colônia brasileira

No sábado, dia 4, Nova York amanheceu entristecida. Não por causa da garoa fina e dos ventos atlânticos cruzados dos rios, algo comum nesta época. Mas pela notícia — ideológica, sem dúvida, e não prevista no horóscopo — do cancelamento da visita de Jair Bolsonaro à cidade. As nervosas mensagens eletrônicas cruzaram as pontes, rebatiam nos subúrbios (o bolivariano Queens etc.) e espoucaram no Midtown, onde um pequeno aglomerado de pessoas esperava ansiosamente a chegada do Mito, prevista para o dia 14 de maio. Das estantes da gloriosa livraria Strand, na comunista Broadway, às filas para a mostra de Frida Kahlo (amante de Trotski, imagine Carluxo!) no Brooklyn Museum, se ouviam também murmúrios e impropérios de rematado espanto.

A tristeza se explicava. A mais gramsciana das cidades dos Estados Unidos (rivaliza com a leninista São Francisco) se perguntava: o que fazer com tantos ovos de galinhas marxistas?

Ao longo dos últimos dias, em Nova York, a ojeriza ao discurso homofóbico e misógino de Bolsonaro ultrapassou parte da colônia brasileira na cidade (onde ele ganhou sobre Haddad) e foi encorpada por diferentes organizações americanas da sociedade civil e por autoridades poderosas, como o prefeito Bill de Blasio e o senador Brad Hoylman.

Mas os protestos programados escondiam uma silenciosa divisão, capaz de abalar a autoestima da férrea coerência bolsonarista. Sim, muitos dos manifestantes prometiam seus ovos apenas para Ernesto Araújo, o mais disléxico leitor de orelha de livro do atual governo.

A cidade só voltou a sorrir no final do sábado, quando Bill de Blasio humilhou Jair Bolsonaro ao chamá-lo de “valentão que foge da briga”. E ao dizer que os valores de Nova York não comportam um sujeito que não respeita a diversidade.

Juro, ser chamado de covarde em inglês é pior do que tomar facada em Juiz de Fora.

A frustrada viagem nova-iorquina de Bolsonaro talvez rivalizasse na história política com a chegada de Pinochet, ditador chileno (outro local onde nosso herói também foi humilhado, daí em espanhol), a Londres, na distante década de 1980. O sanguinário militar rangeu dentes ao não poder metralhar as dezenas de manifestantes que o chamavam de assassino. Na ocasião, reza a lenda, quem se frustrou foi o escritor Graham Greene. Avistado no aeroporto de Heathrow, depois de anos sem pisar em Londres, os jornalistas quiseram saber o motivo de sua presença. “Vim mijar no pé do ditador”. Não ocorreu o dessexualizado golden shower, mas anos depois o castigo veio a cavalo, e o ídolo bolsonarista amargou cana dura nas masmorras de Londres.

Bernardo Mello Franco: Corte no Censo pode afetar saúde e educação

- O Globo

É grave que Bolsonaro ataque o IBGE por causa dos dados de desemprego. Mas os cortes no Censo são mais preocupantes para o país

O presidente Jair Bolsonaro já deixou clara a sua intenção de intervir no IBGE. Antes da posse, ele disse que pretendia mudar a pesquisa sobre desemprego. “Isso daí é uma farsa”, disparou. No mês passado, voltou a criticar o instituto. Disse que o indicador parecia feito “para enganar a população”.

É grave que o presidente desmereça um órgão de estatísticas porque os números não casam com a propaganda oficial. Mas as declarações impróprias já viraram rotina neste governo, e são menos relevantes que a crise instalada no instituto.

Ontem a presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, demitiu dois técnicos envolvidos no Censo 2020. Ela exonerou os diretores de pesquisas, Cláudio Crespo, e de estatísticas, José Santana Beviláqua.

Os dois integravam um grupo de técnicos preocupados com o corte de verbas para o Censo. A tesoura foi determinada pelo ministro Paulo Guedes, a quem Susana deve o cargo. Ao demitir os subordinados, ela passou a mensagem de que não admite contestação.

Guedes argumenta que o governo precisa economizar, o que é incontestável. Ao mesmo tempo, revela desconhecimento sobre a importância da pesquisa e as consequências de um corte malfeito.

Míriam Leitão: O diálogo que falta ao Censo 2020

- O Globo

Presidente do IBGE precisa dizer quais perguntas sairão do Censo 2020 e que redução de despesas isso trará

Há bons demógrafos e economistas na defesa de que o Censo tenha menos perguntas, mas não há até agora qualquer cálculo claro sobre que tipo de economia essa redução do questionário vai significar. Nesse assunto, está tudo muito confuso e opaco. A presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, precisa explicar o que pretende cortar do questionário e mostrar os cálculos da redução de despesas, que está sendo feita por ordem do Ministério da Economia. Sem isso, será um episódio de intervenção no órgão de estatística do governo.

O Brasil é imenso, o que custa caro é estar em cada ponto povoado do território, e não os minutos a menos ou a mais que o pesquisador ficará dentro da casa. O questionário longo, como todos que lidam com isso sabem, é para apenas 10% da população. O resto responde um número pequeno de perguntas.

Todas as vezes que um governo quis impor ao IBGE mudanças de cima para baixo errou. Na ditadura, houve uma tentativa de expurgo da inflação. Não adiantou, o índice subiu. Na governo Sarney, quando o cruzado fazia água, houve uma manobra clara de intervenção no cálculo de inflação, que foi derrotada pela reação do então presidente do Instituto Edmar Bacha. Em seguida, os ministros da Fazenda fizeram várias trocas de índices e, para azar deles, todas as vezes que havia a mudança o novo indicador era aquele no qual os preços subiam mais. Essa coincidência ficou conhecida como a maldição dos índices.

O governo anunciou um profundo corte orçamentário, ao mesmo tempo em que o ministro Paulo Guedes disse que tinha que reduzir o número de perguntas. Isso já é uma intervenção. Não é o ministro da Economia que deve dizer com quantas perguntas se faz um Censo. O IBGE tem um corpo técnico de qualidade. A única forma correta de a presidente Susana Cordeiro Guerra fazer essa alteração seria envolvendo os funcionários. Só com diálogo. Ontem, ela deu mais um passo para queimar as pontes, ao demitir dois diretores, como informou o colunista Bernardo Mello Franco. O de pesquisas, que trata exatamente do Censo, Cláudio Crespo, e o de informática, José Santana Beviláqua.

José Casado: Ameaças na fronteira

- O Globo

O Exército de Libertação Nacional da Colômbia, a maior organização narcoterrorista em atividade na América do Sul, consolidou o domínio de cidades, áreas de mineração e de agricultura na região sul da Venezuela, num raio de 500 km da fronteira com o Brasil, em zonas próximas dos postos do Exército em Cucui (AM) e Urimatã (RR). Forças Armadas brasileiras tentam reforçar a vigilância numa região de 2,1 mil km, floresta densa e inúmeros rios.

O narcoterrorismo de origem colombiana se expande rapidamente pelo território da Venezuela em meio ao colapso institucional do país. Serviços de informação de Colômbia, Brasil e Estados Unidos têm confirmação de acampamentos de tropas e emissoras clandestinas de rádio (FMs 97.7; 95.5; 90.1; 105.5, e 97.4) em pelo menos dez dos 23 estados venezuelanos.

Ricardo Noblat: Deu a louca no governo

- Blog do Noblat / Veja

Assim não é possível
O presidente Jair Bolsonaro trabalha afincadamente para dar razão aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. Lula disse que este é um governo de malucos. Fernando Henrique, mais contido, que desse jeito não dá.

Não bastasse a quantidade de graves problemas que tem para enfrentar, Bolsonaro decidiu adicionar mais um à sua carregada agenda: dar trela a um doido varrido, no caso o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, o guru dele e de sua família.

No ócio em que vive a milhares de quilômetros daqui, sustentado à distância por uma legião de devotos que pagam para ouvi-lo dizer qualquer idiotice, Olavo resolveu ocupar-se em jogar pedras no governo, mais precisamente nos militares que o integram.

O que ele pretende? Criar confusão, somente isso. Se der, valer-se da confusão para empregar no governo mais um dos seus discípulos. Talvez Carlos Bolsonaro no lugar do general que comanda a comunicação do governo. Ou outro nome qualquer.

E como reage Bolsonaro às pedras atiradas pelo ex-astrólogo, influenciador digital e doido de Richmond, capital do Estado americano de Virgínia? Mima-o. Faz-lhe todas as vênias. Há uma semana, concedeu-lhe a mais alta condecoração do Itamaraty.

O governo desmorona internamente por obra e graça do doido. Diante da inação de Bolsonaro, o general Villas Bôas, ex-comandante do Exército, lotado no Palácio do Planalto, sentiu-se obrigado a responder aos insultos de Olavo.

Fez mal. Se o doido não pode ser recolhido a um manicômio, devolver-lhe as imprecações lançadas é fazer o jogo dele. É tudo o que Olavo quer. Até porque como doido ele não respeita limites. E sempre será muito mais desbocado do que seus desafetos.

Há doidos suficientes em torno de Bolsonaro para que ele tenha de conviver com mais um. Ou não é doido o ministro que compara Bolsonaro a Jesus, ambos, segundo ele, pedras angulares? Ou não é doido o ministro que já viu Jesus no alto de uma goiabeira?

Não será um ato de insanidade cogitar uma viagem ao Texas para receber um prêmio que Nova Iorque recusou-se a entregar? Haverá ato mais insano do que reduzir verbas para Educação e ao mesmo tempo anunciar que o corte poupará os colégios militares?

Há neste governo ilhas de sanidades capazes de atuar melhor em ambiente de menos balbúrdia, mas até quando elas resistirão sem pedir as contas? Enquanto isso, o vice espera, vigia e ultimamente se finge de morto. Vice não é nada, mas pode um dia ser tudo.

Cutucaram a onça e ela acordou

Cristovam Buarque*: Nossa UnB

- Correio Braziliense

Brasília se emocionou com a cirurgia que separou as irmãs siamesas Mel e Lis e se orgulhou com a equipe médica. Isso não seria possível sem o Instituto Hospital de Base e a Universidade de Brasília (UnB), como destacou o professor Antônio Lassance. Nenhuma outra instituição deu maior contribuição ao desenvolvimento científico que as universidades. 

Um governo patriótico, que entenda os rumos da era do conhecimento, deve ampliar recursos para o ensino superior e, ao mesmo tempo, enfrentar a tragédia da educação de base. Precisamos sair da calamidade do analfabetismo e dar um salto para colocar o Brasil entre os países com melhor educação no mundo. A decisão de cortar recursos da UnB e de outras universidades federais mostra um governo cego para os novos rumos da história.

Igualmente grave é que as oposições ao governo Bolsonaro tampouco parecem ter propostas alternativas que assumam a importância da educação para o futuro do país. O governo trata as universidades com desprezo porque elas não pertencem ao seu grupo ideológico, mas na comunidade acadêmica muitos tratam a instituição como se pertencesse a seus alunos, professores e servidores e não ao povo brasileiro que financia seus gastos.

O governo combate as universidades e ameaça sua sobrevivência. E as oposições as defendem, sem perceberem o desastre fiscal que atravessamos, nem indicar tecnicamente de onde tirar recursos necessários para servir ao país, eliminando corrupção, desperdícios, mordomias e privilégios nos três Poderes. Também não deixam mesmo qual é o projeto para a universidade, justificando seu papel na construção do futuro. Mais do que reivindicar, é hora de lutar por recursos, mostrando que tirar da universidade é matar o progresso.

O governo atual não entende qual é o papel das universidades e quer descaracterizá-las; as oposições, com uma visão “neoliberal social”, continuam a vê-las como escada de ascensão para os que nela entram. Não conseguem enxergar as universidades como alavanca para o progresso econômico e social. O ensino superior é um instrumento de ascensão pessoal para quem se forma, mas a formação não é apenas para beneficiar o indivíduo, mas servir ao conhecimento e à formação de profissionais que permitam melhorar o país.

Villas Bôas: ‘Olavo de Carvalho presta enorme desserviço ao País’

Entrevista com Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército

Ex-comandante do Exército afirma que ataques ‘passaram do ponto’ e que escritor ‘se arvora com mandato para querer tutelar País’

Tânia Monteiro, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Um dos nomes mais respeitados nas Forças Armadas, o ex-comandante do Exército general Eduardo Villas Bôas quebrou o silêncio que reina na caserna e entre os generais que despacham no Palácio do Planalto para defender, primeiro no Twitter e depois em entrevista ao Estado, os ministros militares dos ataques do guru bolsonarista Olavo de Carvalho e seus seguidores, incluídos os filhos do presidente Jair Bolsonaro. Villas Bôas, que está na reserva e exerce o cargo de assessor especial do ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), disse ao Estado que Olavo “passou do ponto”, está agindo com “total desrespeito aos militares e às Forças Armadas” e “presta enorme desserviço ao País”.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

• Olavo de Carvalho voltou a atacar os militares pelo Twitter. O sr. rebateu. Qual o tamanho do incômodo dos srs.?

Bolsonaro entendeu que trazer militares para trabalhar em setores do governo seria uma cooperação importante para o restabelecimento da capacidade de gestão e a busca de combate à corrupção. Isso não significa que as Forças Armadas estão participando do governo, mas trazendo consigo seus valores. Portanto, os militares exercem uma natural influência que contribui para a estabilidade do País e do governo. Talvez por isso, o sr. Olavo de Carvalho se sinta desprestigiado e queira disputar espaço com os militares, junto à Presidência da República. Isso não dá direito a ele de traçar comentários desairosos a toda uma classe profissional, que representa uma instituição. Desconheço os tipos de valores que animam o sr. Olavo de Carvalho a tecer tais comentários.

• Olavo passou do ponto?

Sim. Passou do ponto. Aliás, já vem passando do ponto há muito tempo, agindo com total desrespeito aos militares e às Forças Armadas. E, quando digo respeito, é impressionante que ele, como um homem que se pretende culto e inteligente, desconhece normas elementares de educação. É também muito grave a maneira como ele se refere com impropérios a oficiais da estatura dos generais Mourão (vice-presidente da República), Santos Cruz (ministro da Secretaria de Governo) e Heleno (ministro) e aos militares em geral.

• O que fazer diante disso?

Rebater Olavo de Carvalho seria dar a ele a importância e a relevância que não tem e não merece. Ele está prestando um enorme desserviço ao País. Em um momento em que precisamos de convergências, ele está estimulando as desavenças. Às vezes, ele me dá a impressão de ser uma pessoa doente, que se arvora com mandato para querer tutelar o País.

Estudantes protestam contra cortes do MEC

Alunos e professores de instituições de ensino federais como Pedro II, Cefet e IFRJ, atingidos por bloqueio de mais de 30% das verbas, cercaram o Colégio Militar do Rio, onde Bolsonaro participou do aniversário da escola

Ana Paula Blower / O Globo

Centenas de alunos, pais e professores dos colégios Pedro II, Cefet, IFRJ e de Aplicação da Uerj e da UFRJ se reuniram para protestar, na manhã de ontem, em frente ao Colégio Militar do Rio, na Tijuca, Zona Norte da cidade, onde o presidente Jair Bolsonaro participou da comemoração dos 130 anos da instituição.

Os manifestantes estavam munidos de cartazes, livros e cadernos escolares e contestavam os cortes de mais de 30% das verbas dos institutos e universidades federais, anunciados na semana passada pelo Ministério da Educação. No total, o MEC já bloqueou R$ 5,7 bilhões de seu orçamento, e ainda elevará o corte a R$ 7,4 bilhões, seguindo o que foi determinado pela equipe econômica do governo.

Organizado pelos grêmios estudantis, o ato fechou as ruas no entorno do colégio e foi acompanhado por agentes da Polícia do Exército e da Polícia Militar.

O presidente não chegou a ter contato com manifestantes, mas, dentro da escola, foi criticado por uma ex-aluna da instituição, que participou da cerimônia. Maria Eduarda Pontes, de 24 anos, formada na turma de 2013, criticou a promessa de Bolsonaro de implementar colégios militares em todas as capitais do país. Ela disse ter se aproximado do presidente quando ele deixava o local.

— Falei que ele estava se comportando como inimigo da educação. Ele só sorriu e entrou no carro — disse Maria Eduarda. — Tenho muito orgulho de ter estudado aqui, mas acho que ele não tem noção do custo de um colégio militar. Deveria ter vergonha de fazer esse corte lá fora (na educação) e vir aqui dentro falar em mais colégios militares. Poderia investir nas escolas públicas que já existem.

Social-democrata é eleito presidente do Panamá

Laurentino Cortizo teve só 33% dos votos e fez apelo à união; ele pediu mais atenção dos EUA à região, sob risco de abrir espaço à China

Político veterano com formação nos Estados Unidos, Laurentino “Nito” Cortizo venceu a eleição presidencial mais acirrada da História do Panamá, realizada no último domingo, e pediu união nacional depois de receber apenas um terço dos votos (33,2%) em um país claramente dividido sobre sua escolha na votação de turno único. Ele ficou apenas cerca de dois pontos percentuais à frente do segundo colocado, Rómulo Roux, com 31% do eleitorado.

—O Panamá venceu hoje, e hoje, mais do que nunca, o Panamá precisa unir forças — disse o ex-ministro da Agricultura a apoiadores entusiasmados no discurso que fez à meia noite em hotel que serviu de sede da sua campanha.

Durante a campanha, Cortizo prometeu limpar apolítica do país, cuja imagem foi maculada por um escândalo de corrupção envolvendo a empreiteira brasileira Odebrech te pelo caso dos Panamá Papers, o vazamento de milhões de documentos que detalham a sonegação fiscal de algumas das pessoas mais ricas do mundo usando a nação.

Argentina: Diálogo improvável

Acuado pela crise, Macri propõe ‘acordo de estabilidade’ a Cristina e outros rivais

- O Globo

BUENOS AIRES - A apenas seis meses das eleições, o presidente argentino, Mauricio Macri, propôs um “acordo de estabilidade" aos principais líderes da oposição, incluindo a ex-presidente e senadora Cristina Kirchner, sua principal rival política. Macri procura negociar consensos básicos de governabilidade a fim de acalmar os conturbados mercados locais e resgatar o país da grave crise econômica que atravessa, informou ontem o ministro do Interior, Rogelio Frigerio.

Além de Cristina, Macri estendeu o convite aos 24 governadores, aos pré-candidatos à Casa Rosada, à Central Geral do Trabalho (CGT), principal central sindical do país, às igrejas Católica e evangélicas e a setores que representam o empresariado, como a Associação de Bancos Argentinos (ABA), a Câmara Argentina de Comércio e a União Industrial Argentina.

Na carta enviada aos principais atores políticos do país, o presidente propõe dez pontos básicos a serem combinados, como o compromisso de pagar a dívida externa, o respeito à independência do Banco Central, a redução da carga tributária e o cumprimento dos contratos assinados. No foco estão sobretudo o controle da inflação e o equilíbrio fiscal.

“Claramente temos tido problemas para nos pormos de acordo sobre questões básicas do nosso desenvolvimento econômico”, diz Macri na carta enviada, entre outros, aos pré-candidatos opositores Sergio Massa e Roberto Lavagna
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EX-PRESIDENTE EM SILÊNCIO
Sem maioria no Congresso, o presidente governa com apoio da coalizão de centro direita Mudemos e de setores do peronismo. Em sua estratégia para construir um consenso entre os principais setores políticos argentinos, o presidente busca deixar diversos pontos inegociáveis, antes de se sentar para conversar. Macri também deseja acalmar os mercados financeiros e, possivelmente, dividir o peronismo, cooptando os moderados. Há, ademais, outra possibilidade: a de Cristina ser a única parte que s e recuse ao diálogo, o que ai solariano país.

— Cristina Fernández de Kirchner representa uma parte importante do eleitorado da Argentina e tem que ser parte desta mesa —disse Frigerio a uma rádio argentina.

A relação com o Congresso: Editorial / O Estado de S. Paulo

A conturbada tramitação da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados foi mais um sinal da dificuldade que o governo de Jair Bolsonaro tem de se relacionar com o Congresso. “Está péssimo o relacionamento. Muito, muito ruim. De cada 10 deputados, 8 reclamam e 2 ficam quietinhos. Ninguém defende o governo”, afirmou o deputado capitão Augusto Rosa (PR-SP) em entrevista ao jornal Valor.

Em seu segundo mandato na Câmara, o deputado capitão Augusto Rosa é o presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública, a segunda maior bancada temática do Congresso. Durante a campanha eleitoral do ano passado, ele apoiou fortemente o então candidato Jair Bolsonaro e, até o mês passado, era o vice-líder do governo na Câmara. Alegando motivos pessoais, o deputado renunciou, em fins de abril, à vice-liderança. O seu diagnóstico da relação entre Executivo e Legislativo preocupa.

“A estrutura política está completamente errada”, disse o deputado capitão Augusto Rosa, relembrando o histórico do presidente Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Apesar de ter exercido sete mandatos parlamentares, “Bolsonaro sempre teve péssimo relacionamento na Casa. Nunca foi de dialogar, de ter grupos, de relatar projetos, de convencer os outros. Na última vez que tentou a eleição para a presidência teve quatro votos. Eu e mais três”, afirmou o capitão reformado.

Certamente, o cargo de presidente da República exige atitude diferente. O diálogo com o Legislativo é uma necessidade, já que o presidente da República não tem poderes absolutos. “Quando você é dono, você manda, mas quando você é presidente você comanda, compartilha o poder com os outros para se sentirem parte do governo”, lembrou o deputado do PR. “Hoje as pessoas não se sentem governo. Por isso, o PSL está sozinho na base.”

Troca de plumas: Editorial / Folha de S. Paulo

Convenção tucana explicita disputa entre Geraldo Alckmin e João Doria

A convenção estadual do PSDB, que elegeu Marco Vinholi, 34, o novo presidente do partido em São Paulo, explicitou as divisões que vêm se acentuando entre os tucanos desde que João Doria projetou-se como liderança emergente ao assumir a prefeitura da capital, em janeiro de 2017.

Beneficiado pelo apoio do então governador Geraldo Alckmin, o novato não tardou a entrar em competição com seu padrinho. Seu objetivo, desde o primeiro momento, era nada menos do que a conquista da candidatura presidencial da legenda em 2018.

Com apoio de uma estratégia de marketing que visava transformá-lo em figura nacional, o novo alcaide posou de gari, pintou muros da cidade e anunciou um ambicioso programa de privatizações e parcerias com a iniciativa privada.

Suas inclinações pró-mercado o ajudaram a ser apontado como personalidade do ano pela Câmara de Comércio Brasil-EUA, que promoveu encontros com empresários e uma homenagem de gala em Nova York —mesma honraria dispensada ao presidente Jair Bolsonaro, mas provisoriamente suspensa devido a pressões de opositores.

Afoito e determinado a tomar um atalho para a disputa pelo Planalto, atritou-se com Alckmin, que acabou, a duras penas, levando a melhor na disputa pelas simpatias da máquina partidária.

Entretanto o retumbante fiasco do ex-governador na disputa presidencial e a vitória de Doria na corrida pelo Bandeirantes mudaram o equilíbrio de forças.

Hoje, o PSDB perdeu muito de sua projeção e está dividido tanto do ponto vista ideológico quanto geracional. A velha guarda, representada por nomes como o senador José Serra, parece acreditar numa improvável regeneração do partido a partir do reencontro com suas teses e práticas originais. Alckmin assumiu tal pregação.

O Coaf precisa mesmo ficar na Justiça: Editorial / O Globo

Seguir o fluxo do dinheiro é essencial no combate a organizações criminosas

O anúncio feito ontem pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, de que o governo fechou questão para manter o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ) no Ministério da Justiça e Segurança Pública garante um reforço de peso no enfrentamento do crime organizado, grave ameaça enfrentada pelo Estado e a sociedade. Comparável à das máfias na Itália.

Originalmente ligado ao Ministério da Fazenda, o Coaf é essencial para o rastreamento de fluxos de dinheiro ilegal. Com o avanço da tecnologia digital e a elevada informatização do sistema bancário do país, o conselho, criado em 1998, se converteu em ferramenta básica na segurança pública.

A discussão sobre o destino do órgão se deve à sua transferência do Ministério da Economia para a pasta da Justiça e Segurança Pública, nas mãos do ex-juiz Sergio Moro. Políticos temem o poder que o magistrado da operação Lava-Jato possa ter.

Daí as articulações no Congresso para que, na tramitação da medida provisória da reforma administrativa, que redesenhou os ministérios, o Coaf seja devolvido ao Ministério da Economia. O governo apoiar Moro na manutenção do Coaf na Justiçaéa melhor alternativa.

Governo acerta com medidas para eliminar a burocracia: Editorial / Valor Econômico

Enquanto a reforma da previdência passa por sua via crucis no Congresso, a equipe econômica começa a colocar em prática a sua agenda microeconômica - reduzir a parafernália de leis, decretos, regulamentações e papelório, que deu poderes indevidos à burocracia e transformou a vida de quem dela depende em um inferno. Essa agenda é essencial.

No arsenal de propostas, muitas delas idealizadas já na época de formação da equipe de transição de governo, está a Medida Provisória (MP) 881, que cria a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, divulgada na semana passada, não por acaso no Dia do Trabalho. A expectativa do governo é que ela ajude a destravar negócios e a criar emprego. A MP foi apresentada pelo presidente Jair Bolsonaro como iniciativa para restringir "o papel do Estado no controle e na fiscalização da atividade econômica". Segundo o presidente, a MP tem o compromisso de incentivar o desenvolvimento da atividade econômica de baixo risco para o sustento próprio de famílias, a produção e geração de renda e de não restringir a liberdade do empreendedor para definir o preço de produtos e de serviços.

Carlos Drummond de Andrade: Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.