quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Opinião do dia: Rubens Bueno* - "Ataques a democracia"

Reagimos com firmeza contra todos os ataques. A democracia é patrimônio de uma Nação e jamais podemos voltar a flertar com regimes autoritários e ditatoriais. Os avanços de um país são construídos pela busca de consensos, pela harmonia entre os poderes, e com a participação ativa da população nos debates. Jamais pela imposição de um único polo de poder.

Ódio e intolerância não são bons companheiros. As diferenças, tão fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e saudável, precisam ser respeitadas. Não se muda um país por meio de batalha campal nas redes sociais e nas ruas, onde vale desde a desqualificação do adversário até a propagação de mentiras e promoção de campanhas de destruição de reputações”.

*Rubens Bueno, deputado federal (Cidadania-PR) discurso no plenário da Câmara, terça-feira (17).

Merval Pereira - Questão de conceito

- O Globo

O comentário de Toffoli serviu para demonstrar mais uma vez a discordância entre os ministros do Supremo

Nada mais esclarecedor para a polêmica lançada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, do que a entrevista ao Globo de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira. Enquanto Toffoli diz que a Lava-Jato, embora com resultados importantes no combate à corrupção, quebrou empresas brasileiras, Marcelo, o mais importante empresário condenado pela Lava-Jato, pensa diferente.

Perguntado se a Operação Lava-Jato pode ser culpada pela situação financeira da empreiteira, que enfrenta um processo de recuperação judicial, ele diz claramente: “É fácil dizer que o que quebrou a Odebrecht foi a Lava-Jato. Sim, a Lava-Jato foi o gatilho para nossa derrocada, mas a Odebrecht poderia ter saído dessa crise menor, mas mais bem preparada para um novo ciclo de crescimento sobre bases até mais sustentáveis. Só que nós não soubemos conduzir o processo da Lava-Jato. A Odebrecht quebrou por manipulações internas, não apenas pela Lava-Jato”.

Marcelo Odebrecht diz que a empresa era muito descentralizada, e por isso nem todos sabiam o que os outros diretores estavam fazendo. Quando começou a Lava-Jato, “ninguém sabia de fato o que o outro havia feito de errado, e muitos se omitiram. Havia ainda uma preocupação em não trazer para o âmbito do inquérito da Lava-Jato temas e pessoas que estavam fora da investigação de Curitiba, que, devemos lembrar, era inicialmente exclusiva sobre acontecimentos ligados à Petrobras. Não queríamos trazer para a Lava-Jato a nossa relação política, que não necessariamente envolvia toma lá, dá cá, mas que podia ser mal explorada, como, aliás, acabou sendo”.

Bernardo Mello Franco - A delação de Cabral

- O Globo

Condenado a 267 anos de prisão, Cabral driblou a Lava-Jato e fechou um acordo duvidoso com a Polícia Federal. Agora o Supremo está diante de um dilema que ele mesmo criou

Sérgio Cabral já contava oito meses de cana quando aceitou responder às primeiras perguntas do juiz Marcelo Bretas. Em tom de indignação, o ex-governador encenou o papel de vítima. “Nunca houve propina, nunca houve 5%. Que maluquice é essa?”, desafiou.

A Lava-Jato fluminense já havia descoberto desvios de R$ 300 milhões, mas ele insistiu na tática da negação. “Não sou corrupto e não negociei propina”, disse, dois dias depois. Quando o juiz perguntou se estaria diante de um grande complô, Cabral arriscou um gracejo: “Não sei, doutor. Mas eu não matei Odete Roitman”.

Preso em novembro de 2016, o ex-governador só começaria a confessar seus crimes em fevereiro de 2019. Hoje ele acumula 12 condenações, cujas penas somam 267 anos de cadeia. Com essa folha corrida, conseguiu driblar o Ministério Público e fechar um acordo de delação com a Polícia Federal.

Zuenir Ventura - Tragédia carioca

- O Globo

Só Marcelo Crivella permanece indiferente

São cenas de cortar o coração mostradas diariamente pela televisão. Idosas e idosos estirados em macas nos corredores. Crianças de colo sem atendimento. Hospitais sucateados, falta de médicos e medicamentos, salários atrasados, filas de espera enormes e muitas vezes levando à morte, como nos casos seguintes, para só citar dois entre inúmeros.

“Meu pai deu entrada às 16h com princípio de infarto”, contou o motoboy Isaac de Souza na quarta-feira passada, “e agora, às 21h, eles dizem que meu pai faleceu. Ele ficou em cima de uma maca esperando, esperando. Só tinha uma médica atendendo a todos”.

“Infelizmente, meu pai morreu nos meus braços”, disse Márcia, filha de Valcido de Oliveira, na mesma quarta-feira. “A situação do Salgado Filho está muito complicada. Tivemos que comprar remédios, lençóis e até papel higiênico”.

Elio Gaspari - Jari, a Fordlândia 2.0

- O Globo | Folha de S. Paulo

Hoje o BNDES está com um mico de R$ 790 milhões

A repórter Stella Fontes informa: “endividada, a Jari agoniza”. Deve R$ 1,75 bilhão. Sua recuperação judicial foi suspensa e não tem como pagar aos 750 empregados de sua fábrica de celulose, encravada na Floresta Amazônica. Pode parecer mais uma história de fracasso numa época de crise. É muito mais, verdadeira aula sobre algo que poderia ter dado certo, deu errado e, ao longo de 30 anos, foi dando mais errado.

O Projeto Jari foi a primeira joia da Coroa da ditadura. Coisa de sonho: Nos anos 60, Daniel Ludwig, um dos homens mais ricos do mundo, comprou 160 mil quilômetros quadrados (um Líbano e meio) na divisa do Pará com o Amapá. Trouxe do Japão, por mar, uma fábrica de celulose e uma termelétrica. Construiu uma cidade, plantou gmelinas, arroz e queria explorar bauxita. Septuagenário sem herdeiros, avarento e misantropo, tomava leite com vodca. Deu tudo errado. Crucificado no lenho do nacionalismo xenófobo que envolve a Amazônia, Ludwig fez as malas e foi embora.

Quem ouve falar do Jari tende a compará-lo à Fordlândia, sonho de outro magnata misantropo. Em 1928 Henry Ford comprou dez mil quilômetros quadrados (um Líbano), onde pretendia plantar dois milhões de seringueiras e também planejou uma cidade. Deu tudo errado e, em 1945, a propriedade foi vendida por 1% do seu valor. Nenhum negócio de Henry Ford ou de Daniel Ludwig deu tão errado.

Míriam Leitão - A corrupção é que quebrou empresas

- O Globo

Corrupção criou ambiente de ineficiência e má gestão. Foi isso que quebrou as empresas, e não a Operação Lava-Jato

O que quebrou as empresas foi a Lava-Jato ou a corrupção? Essa questão que sempre ronda a economia retorna agora após a entrevista do ministro Dias Toffoli. Certamente não é o combate ao crime que produziu esse efeito. É o crime em si. A relação promíscua com os governantes deu aos administradores e aos donos das empresas a confiança de cometer desatinos de gestão, que a prudência não recomendaria caso eles não estivessem certos de que seriam salvos com o dinheiro público.

As empresas entraram em projetos sem viabilidade econômico-financeira, participaram de concorrências fraudulentas, formaram cartéis de distribuição de projetos entre elas, fizeram obras no exterior com garantias fracas, expandiram excessivamente os negócios, alavancaram demais seus grupos.

No primeiro governo Fernando Henrique, bancos quebraram. Alguns porque haviam passado a ser dependentes da inflação, outros por fraudes contábeis, e alguns pelos dois motivos. O Proer separou os bancos dos seus donos. E vendeu os ativos bons. A engenharia financeira do Proer aumentou a concentração bancária, mas salvou ativos e impediu o prejuízo dos correntistas na mais séria e devastadora crise bancária que o Brasil já teve. Ao constatar os crimes, o Banco Central apresentou denúncia ao Ministério Público (MP).

Bruno Boghossian – Um liberal (o mais suave possível)

- Folha de S. Paulo

Presidente fica mais sensível a pressões de nichos eleitorais e desvia do liberalismo

Para alguém que transformou em bordão o fato de não entender "nada de economia", Jair Bolsonaro parece ter tomado gosto por dar palpites na área. Lançado precocemente à reeleição, o presidente mostra que, em muitos casos, seus interesses políticos se sobrepõem à cartilha liberal do governo.

A agenda permanente de campanha e o DNA populista tornam Bolsonaro cada vez mais sensível às pressões de certos nichos do eleitorado.

O apoio do presidente a um ajuste generoso nas carreiras militares, suas intromissões recorrentes no debate sobre os preços dos combustíveis e a hesitação diante de reformas propostas pela equipe econômica alimentam desconfianças sobre os rumos dessa agenda.

Ruy Castro* - 'Cuidar das pessoas'

- Folha de S. Paulo

Crivella deve explicações às que votaram nele e hoje estão sem atendimento médico

O bispo Marcelo Crivella, pior prefeito do Rio em todos os tempos, insiste em seu exercício de ódio contra tudo que caracteriza a cidade. Neste último sábado (14), não se deu ao respeito de prestigiar a inauguração da árvore de Natal da Lagoa, atração mantida por particulares, que recebe gente do país inteiro e não custa um real à prefeitura. Há meses, ignorou o Rock in Rio, evento que, durante duas semanas, faz a festa do comércio, hotéis, restaurantes, táxis, ambulantes. Ainda neste ano, Crivella agrediu a Bienal do Livro, a maior do país, despachando um bufão para proibir um gibi e se tornando motivo de chacota internacional. E, desde que assumiu a prefeitura, faz o que pode para sabotar o Carnaval e o Réveillon, festas que só voltarão a ser o que eram quando ele deixar o cargo e se retirar, como sugere um amigo meu, para o raio que o parta.

Vinicius Torres Freire – PIB, devagar, quase acelerando

- Folha de S. Paulo

Faz seis anos, conjuntura não era tão favorável para retomada; política é risco

Aumentou a “probabilidade de aceleração” do crescimento nos próximos meses, sugere uma medida combinada de indicadores financeiros, de produção industrial, do comércio exterior e de expectativas empresariais e do consumidor.

Vai, racha ou ainda se arrasta? Uma aceleração pode ter também consequências políticas mesmo em meados de 2020, ainda mais dada a conformação gelatinosa dos pedaços da política brasileira recente.

“O cenário do Copom supõe que essa recuperação seguirá em ritmo gradual”, escreveu a diretoria do Banco Central na exposição de motivos da decisão de baixar a Selic na semana passada, no entanto (na Ata do Copom). Isso parece significar que o crescimento do PIB deve passar aos poucos do ritmo de crescimento de 1% ao ano para 2%. Mantido o ritmo do segundo e terceiro trimestres até o final de 2020, a economia cresceria 2,2%, por exemplo.

Ainda assim, o pessoal do BC escreveu também na Ata que a economia pode acelerar além da conta atual, dadas certas e novas condições da economia: taxa básica de juros historicamente baixa, nova e crescente fonte de financiamento da economia (mercado de capitais), menos crédito público subsidiado, por exemplo. É uma hipótese, lá está claro, pois se desconhece como funciona a economia neste novo regime (e, não está lá escrito, depois de meia dúzia de anos de recessão e estagnação).

A medida que sugere a “probabilidade de aceleração nos próximos meses” é o Indicador Antecedente Composto da Economia Brasileira (IACE), publicado em parceria entre a FGV-Ibre e The Conference Board. É uma combinação ponderada de taxa básica de juros no mercado para um ano, do desempenho do Ibovespa, de expectativas de empresas da indústria e de serviços, de confiança do consumidor, da produção de bens de consumo duráveis e de preços relativos (termos de troca) e de quantidade de exportações brasileiras.

Witzel diz que Bolsonaro é despreparado e o compara a líderes autoritários

Após ser eleito na onda bolsonarista, governador do RJ volta a criticar presidente de olho na sucessão de 2022

Catia Seabra | Folha de S. Paulo

RIO DE JANEIRO - Dizendo-se decepcionado com o governo federal, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), comparou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com os líderes autoritários Hugo Chávez, da Venezuela, Alberto Fujimori, do Peru, e Recep Tayyip Erdogan, da Turquia.

Ao apresentar nesta terça-feira (17) um balanço de seu mandato, Witzel —que almeja uma candidatura ao Palácio do Planalto— disse também que o presidente é despreparado.

“Evidente que ele [Bolsonaro] não se preparou. Você não consegue falar com ele sobre economia, sobre reforma da Previdência. A pauta é muito mais ideológica do que concreta e determinadas decisões não podem ser delegadas. Precisam ser direcionadas. Esperava mais”, afirmou Witzel.

Em um café da manhã com jornalistas, o governador fez questão de afirmar que respeita o papel da imprensa e a diversidade de opiniões. Queixando-se do vocabulário de Bolsonaro, disse que “o presidente tem um comportamento difícil. E não é de agora”.

Witzel lembrou não ter conseguido cumprimentar Bolsonaro durante a solenidade de posse do presidente da República.

Alvo de ataques de Bolsonaro e bolsonaristas desde que deu sinais de que pretende ser seu adversário na disputa presidencial de 2022, Witzel disse que o vocabulário usado pelo presidente “é típico de gente com [Alberto] Fujimori, [Recep Tayyip] Erdogan, e aquele maluco lá da Venezuela, o Hugo Chávez”.

Disposto a se distanciar do bolsonarismo, em cuja onda surfou até o Palácio Guanabara, Witzel criticou o neoliberalismo praticado pelo governo federal e defendeu uma correção na política econômica, sob pena de o Brasil ser tomado por uma convulsão social a exemplo de outros países latino-americanos.

Fernando Exman - Bolsonaro enfrenta trincheira municipalista

- Valor Econômico

Parlamentares querem alterar PEC do pacto federativo

A prosa tem uma leve mudança de rumo, quando se pergunta a auxiliares próximos do presidente da República sobre um ponto específico da proposta de pacto federativo que tramita no Congresso. Durante a conversa, predomina a confiança no avanço da agenda legislativa no ano que vem. Mas há um indisfarçável ceticismo quanto à possibilidade de deputados e senadores aprovarem um dispositivo que reduzirá o número de municípios do país.

A portas fechadas, essas autoridades examinam com pragmatismo os desafios da articulação política. E o tema não é tratado como tabu.

Bolsonaro ganhou a eleição prometendo revolucionar a interação entre os Poderes. Quase um ano depois de ele ter tomado posse, é possível afirmar que não decepcionou seus eleitores. Por outro lado, também é correto dizer que as relações entre os articuladores políticos do Palácio do Planalto e os parlamentares estão longe do patamar ideal.

Isso não impede que o governo tenha clareza dos obstáculos que enfrentará. Esses auxiliares de Bolsonaro sabem, por exemplo, o erro que seria menosprezar a potência do instinto de sobrevivência de deputados federais e senadores. Para eles, prefeitos e vereadores são a mão de obra utilizada nas campanhas eleitorais. Ou seja: quanto mais municípios, maior será a força de trabalho à disposição.

O presidente Jair Bolsonaro parece não seguir essa lógica. Na última campanha eleitoral, priorizou a comunicação direta com os eleitores por meio das redes sociais. Atualmente não demonstra grandes preocupações com a possibilidade de seu novo partido, o Aliança pelo Brasil, não conseguir lançar candidatos no pleito municipal de 2020. O presidente também não tomou conhecimento do perigo de acabar transformando em uma legião de adversários os prefeitos das cidades que podem ser extintas.

A ameaça a uma parte considerável dos gestores municipais consta da Proposta de Emenda Constitucional 188 de 2019. A PEC visa, entre outras medidas, tirar do mapa do Brasil os municípios incapazes de se sustentar.

O critério foi definido pela equipe econômica e apresentado formalmente pelo líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE). A nota de corte é objetiva: municípios de até 5 mil habitantes deverão, até o dia 30 de junho de 2023, demonstrar que o produto da arrecadação dos impostos municipais corresponde a, no mínimo, 10% da sua receita total. Caso contrário, o município será incorporado a partir de primeiro de janeiro de 2025 ao município limítrofe com melhor sustentabilidade financeira. Essa espécie de fagocitose municipal será limitada a até três unidades por cada prefeitura incorporadora.

Daniel Rittner - Cinco fatos de 2019 e seus desdobramentos

- Valor Econômico

Previdência, Freitas, UE-Mercosul, China-EUA e ambiente são cinco destaques do ano que termina

Chega a hora dos balanços, reflexões, retrospectivas de um ano em que ouvimos que 1964 não foi golpe, um novo AI-5 seria bem-vindo para conter protestos, o nazismo era de esquerda, descendentes de escravos deveriam agradecer seus ancestrais por terem deixado a África, ONGs atearam fogo na Amazônia por doações.

A normalização do absurdo foi uma marca de 2019, mas deixemos controvérsias e manipulações de lado para destacar fatos importantes para a economia brasileira - apontando seus desdobramentos. Eis aqui um ensaio, pessoal e subjetivo, para resumir cinco deles. Não estão em ordem de importância e podem facilmente ser substituídos por outros temas ou episódios. É nada mais do que isso: um ensaio, uma tentativa.

1) Previdência: a necessidade de reforma das aposentadorias e pensões estava madura na sociedade quando o governo começou, mas Jair Bolsonaro realmente conseguiu aprová-la sem (muito) toma-lá- dá-cá nas negociações com o Congresso. Ponto para ele. Isso lhe permitiu sustentar o discurso de “nova política” junto ao eleitorado, mas teve reflexos danosos. O presidente imaginou que tinha cacife para aprovar outras pautas sem uma base aliada. É bater a cabeça contra a parede. Paulo Guedes achou que a reforma tributária estava no bolso e poderia até propor uma “nova CPMF”. Só tumultuou o debate.

Demonstrou-se ingênuo o argumento de que a aprovação da reforma traria uma chuva de investimentos. Mas sua rejeição - ou novo atraso - teria jogado o país em um precipício fiscal. O saldo é positivo, mas a exclusão de Estados e municípios ainda vai custar caro aos entes federativos. Quanto mais perto da eleição de 2020, menores as chances de a Câmara votar uma PEC paralela e Assembleias Legislativas fazerem reformas em seus Estados.

Freire vigia alianças no Cidadania, à espera de Huck

Direto da Fonte / Sonia Racy – O Estado de S. Paulo

Roberto Freire, que comanda o Cidadania, tem informado aos aliados a norma número 1 para as eleições do ano que vem: “Quem quiser fazer alianças com Lula ou com Jair Bolsonaro vai ter que pedir aval à direção”.

Isso pode acontecer, por exemplo, no Ceará, onde o partido já integra o governo Camilo Santana, do PT. “Foi um caso aceito pela direção e lá vamos muito bem”, explicou à coluna. O partido já tem candidatos em 12 capitais e mais 17 cidades – com destaque para Marcelo Calero no Rio e Daniel Coelho no Recife.

Foco é deixar porta aberta para candidatura de Huck
Excluir os dois extremos da política ajuda a preparar o partido para, mais à frente, receber Luciano Huck. “É como Luciano diz, ele está correndo uma maratona. E nós estamos fazendo nossa parte”, conta Freire, que tem discutido sobre possíveis alianças com Rodrigo Maia, FHC e Samuel Moreira.

Rosângela Bittar - Os apelidos do diabo

- O Estado de S.Paulo

Formulação de ideias e sua expressão, bases de um diálogo eficaz, não existem no governo Jair Bolsonaro, daí as dificuldades

O governo não está sabendo como dizer isso, principalmente agora, na sua atual fase de comunicação anêmica, que se dá por soluços no gramado do Alvorada. Mas faz parte de sua agenda de discussões e estudos bem objetivos a criação de algum mecanismo legal que possa orientar a ação dos que atuam na manutenção da segurança pública. Ou, como argumentam as autoridades envolvidas, na dissolução de ameaças ao estado de direito.

Quando alguém pergunta se, finalmente, o que está em pauta é o novo AI-5, a reação é veemente: AI-5, não, não e não. Conclui-se que a invocação do AI-5 é coisa de gente com vocabulário curto.
Formulação de ideias e sua expressão, bases de um diálogo eficaz, não existem no governo Jair Bolsonaro, daí as dificuldades.

Assim, a equação torna-se primária: um diz quero, outro confirma que é necessário, o terceiro diz não. Temporariamente, a celeuma desaparece e fica o dito pelo não dito: sabem todos que, de muito ruim, algo há, mas não se sabe exatamente o quê.

Não é o AI-5 que perseguem. Porém, são incapazes de dar ao assunto a transparência mínima, de confessar precisamente suas preocupações ou mostrar o retrato dos riscos que veem pela frente. O que se procura, de fato, é mais que um nome. Talvez uma espécie de amuleto. O diabo tem outros apelidos.

O assunto, por nebuloso e delicado, sujeito oculto de todo o segundo semestre que se encerra, nem sequer foi mencionado na última reunião ministerial do ano, realizada há uma semana, para balanços e celebrações.

Vera Magalhães - Impopular, mas favorito

- O Estado de S.Paulo

Ao mesmo tempo que aumenta a rejeição graças a uma série de posturas, o presidente fideliza um clube de convertidos graças justamente a essas mesmas razões

Jair Bolsonaro termina 2019 com recorde de impopularidade para um presidente em primeiro ano de mandato, mas também como favorito para as eleições de 2022.

Trata-se do presidente com a menor base parlamentar desde a redemocratização. Por isso, recordista em vetos derrubados, medidas provisórias caducadas e decretos derrotados. Mas também, apesar disso, o único que conseguiu aprovar uma reforma da Previdência em dez meses.

Ao mesmo tempo que aumenta a rejeição graças a uma série de posturas, ações e declarações voltadas contra minorias, chefes de Estados de outros países, a esquerda e quem mais chegar, o presidente fideliza um clube de convertidos graças justamente a essas mesmas razões.

Para se entender o que foi o primeiro ano de Bolsonaro e tentar projetar o que serão os próximos, bem como o cenário de 2022, é preciso aceitar que, da mesma forma que sua vitória foi algo que contrariou os compêndios de como se vencia uma eleição até aqui, sua Presidência também não será analisada no futuro com base nas premissas anteriores, cada vez menos aplicáveis para entendê-lo e prever quais serão os resultados que vai entregar.

Roberto DaMatta - Imagens da 'política'

- O Estado de S. Paulo

Mas é claro que ela está enferma. Deixou de ser esperança. Virou miséria

Foi no final dos anos 50 que eu, interessado, engajado e onipotentemente convencido em transformar o Brasil para melhor, ouvi que “tudo era política”. Naquela época eu aprendia e ensinava que a “política” era algo nobre - era um valor básico da vida.

Nesse sentido amplo, a política era como a vontade para o filósofo Schopenhauer e, guardando as proporções, o Isso (o Id) é para os freudianos; e o “desejo” para os lacanianos. Hoje, do alto ou do baixo dos meus 80 e tantos anos, eu entendo que essa fatia da vida social que chamamos de “política” era tudo. Quase tanto quanto uma religião oficial ou a língua que falamos e usamos para criar o mundo e, entrementes e sobretudo, nos entendermos mutuamente.

Noto, ainda, que quem não se interessava por “política” não merecia atenção exceto se pudesse ser catequizado, ou seja: se pudéssemos convencer essa pessoa de que a “política”, além de remédio para o Brasil, era melhor do que música, comida e sexo. Sexo, diga-se de passagem, entendido como beijar na boca e abraçar apertado.

Diante da “política” ninguém deveria ficar indiferente. Se assim ficasse, seria etiquetado como “alienado”. Hoje, vejo orgulhoso que o conceito de Marx era compreendido por nós no seu sentido preciso. Uma consciência alienada era indiferente e ignorante dos perversos mecanismos ilusórios de exploração de classe do sistema capitalista. Meu pai era claramente um alienado porque pensava o Brasil como um país atrasado, mas bom, e a “política” como mais uma malandragem e não como uma “estrutura” a ser preparada para a “revolução socialista” cuja fórmula era conhecida por nós: os “conscientizados”.

Mônica De Bolle* - A sanha de querer concluir

- O Estado de S.Paulo

Como explicar, por exemplo, o ressurgimento, em países tão distintos quanto a Índia e os EUA, do nacionalismo?

“Meu caro amigo,
Dê ao povo, especialmente aos trabalhadores, tudo o que for possível. Quando lhe parecer que já deu muito, dê a eles ainda mais. Você verá os resultados. Todos tentarão amedrontá-lo com o espectro de um colapso econômico. Mas tudo isso é mentira. Não há nada mais elástico do que a economia que todos temem tanto porque ninguém a entende.

Carta de Juan Perón para Carlos Ibañez, Presidente do Chile em 1953.

É claro que há certo exagero na carta de Perón – a política, por exemplo, é consideravelmente mais elástica do que a economia. Mas esse não é o ponto. O trecho da carta de Perón para Ibañez é comumente citado para sublinhar os males do populismo econômico, para concluir que políticas econômicas que desrespeitam restrições financeiras de forma sistemática estão fadadas a fracassar. Ainda que isso seja verdade, sobretudo na experiência latino-americana, a nuance em destaque é ignorada, talvez por ser demasiado inconveniente: todos temem a economia porque ninguém a entende. Se substituirmos economia por política, a frase é ainda mais verdadeira.

Em 1970, Albert O. Hirschman, um dos maiores pensadores contemporâneos – para mim, o maior – escreveu The Search for Paradigms as a Hindrance to Understanding (A Busca de Paradigmas como um Obstáculo à Compreensão). Hirschman, falecido em 2012, era economista, além de um cientista social que transitava entre Ciência Política, Sociologia e mesmo Antropologia. Nesse ensaio para a World Politics ele parte da comparação de dois estudos elaborados por cientistas sociais norte-americanos para tecer uma crítica feroz à tendência de dar respostas rápidas e unificadas para fenômenos sociais complexos – no caso, a Revolução Mexicana e a violência na Colômbia. Mas sua crítica é mais geral. Para Hirschman havia, já em 1970, uma doença que contaminava as ciências sociais, da economia à sociologia, passando pela ciência política. A patologia se apresentava na forma da busca incessante por paradigmas unificados para provar teorias no lugar de compreender a realidade. A realidade, sempre emaranhada e opaca perante a elegância e a clareza das teorias.

Esse ensaio de Hirschman, assim como quase tudo que ele escreveu, é fundamental para os dias de hoje. Da turbulência social na América Latina ao caos das eleições britânicas, à ascensão de Donald Trump, ao ressurgimento do nacionalismo em suas expressões mais abjetas – como a perseguição de Narendra Modi aos muçulmanos na Índia, ou a expressão brutal da nulidade absoluta representada pelo bolsonarismo –, há uma ânsia por responder. Autores celebrados mundialmente escrevem livros e mais livros repletos de respostas. Querem explicar por que as democracias correm perigo? Querem saber se as democracias são estáveis? Querem uma resposta elegante e clara para a turbulência política e socioeconômica que abala o mundo? Pois vá na prateleira digital ou real – o que não faltam são as respostas. Quanto às perguntas, bem, elas não andam em voga. Não falo das perguntas retóricas, aquelas feitas apenas por estilo ou efeito. “Quem poderia imaginar que voltaríamos a exaltar o AI-5?”. “Quem diria que uma menina de 16 anos seria capaz de mobilizar o mundo?”

Rubens Bueno condena ataques à democracia e tentativa de criminalização da política

- Portal Cidadania 23

O deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR) fez, nesta terça-feira (17), em discurso no plenário da Câmara, uma defesa veemente da democracia e condenou aqueles que trabalham para enfraquecer as instituições e atuam na tentativa de criminalizar a política, entre eles integrantes do próprio governo.

“Reagimos com firmeza contra todos os ataques. A democracia é patrimônio de uma Nação e jamais podemos voltar a flertar com regimes autoritários e ditatoriais. Os avanços de um país são construídos pela busca de consensos, pela harmonia entre os poderes, e com a participação ativa da população nos debates. Jamais pela imposição de um único polo de poder”, alertou o parlamentar, que traçou um panorama de algumas situações que aconteceram durante o ano.

Rubens Bueno lembrou que o ano de 2019 começou com uma certa apreensão em torno dos rumos que o país iria tomar. Depois de mais de duas décadas de alternância da presidência da República entre PSDB e PT, o eleitor resolveu trilhar um novo rumo e escolheu para o comando do país um político ligado ao espectro mais conservador, defensor da ditadura e de reconhecidos torturadores.

“Havia o temor por ataques contra as instituições após uma das campanhas mais acirradas dos últimos anos, marcada por discursos exacerbados e pela disseminação de notícias falsas por ambos os lados. E não demorou muito para que integrantes do governo e os filhos do presidente gerassem uma série de crises, principalmente por meio de trocas de ofensas e ataques direcionados a Câmara, ao Senado e ao Supremo Tribunal Federal”, disse.

Um dos episódios mais graves, frisou o parlamentar, foi a cogitação de uma reedição de atos institucionais da ditadura militar.

Tânia Fusco* – Brutos

- Blog do Noblat | Veja

Qualquer semelhança com o governo, não será mera coincidência

Nos dicionários, bruto é definido como tosco, grosseiro, mal feito. Quando relativo às pessoas, tem como sinônimos: bronco, boçal, ignorante, inculto, obtuso, primitivo, provinciano, xucro, desaforado, deseducado, estúpido, grosseiro, grosso, indelicado, petulante, insultuoso, disparatado, rude e desagradável.

Brutos praticam brutalidades.

Conhece alguém no modelo? Qualquer semelhança, não será mera coincidência. Temos um governo bruto, composto de brutos. Estamos entre muitos brutos, assistindo ou sofrendo brutalidades.

Os estudiosos das pesquisas acreditam que os brutos – aí cabendo todos os sinônimos da palavra – são 11% da população adulta e eleitora. É a turma neonazi do bandido bom é bandido morto, com mira certeira “na cabecinha”, incluindo seus vizinhos de moradia. Particularmente se esses forem pobres e/ou negros, também mulheres, LGBT+, índios, imigrantes e curtidores do funk, que são tão perigosos como os demos comunistas.

O que a mídia pensa – Editoriais

Cabral tenta manipular PF em delação premiada – Editorial | O Globo

Instrumento não pode ser usado em manobras que mantêm a impunidade

Críticos da Lava-Jato e das delações premiadas costumam apontar alegados desmandos de procuradores e juízes em busca de confissões. Excesso de prisões preventivas, buscas e apreensões espetaculosas, conduções coercivas desnecessárias.

Há reclamações fundamentadas, reconheça-se. Deve-se, no entanto, também registrar tentativas de investigados e denunciados de manipular procuradores, juízes e policiais em benefício próprio. Há casos conhecidos, como o dos irmãos Joesley e Wesley Batista (JBS), Antonio Palocci e agora Sérgio Cabral, ex-governador do Rio, já com mais de dois séculos de sentenças.

Cabral não convenceu os procuradores de sua boa-fé em colaborar nas investigações para, em troca, receber atenuação de penas, segundo a lei 12.850, chamada de Lei das Organizações Criminosas, e que estabeleceu de forma mais efetiva a “colaboração premiada”, existente em outras normas legais anteriores.

Poesia | Carlos Drummond de Andrade - Canto do Rio em Sol

I
Guanabara, seio, braço
de a-mar:
em teu nome, a sigla rara
dos tempos do verbo mar.

Os que te amamos sentimos
e não sabemos cantar:
o que é sombra do Silvestre
sol da Urca
dengue flamingo
mitos da Tijuca de Alencar.

Guanabara, saia clara
estufando em redondel:
que é carne, que é terra e alísio
em teu crisol?

Nunca vi terra tão gente
nem gente tão florival.
Teu frêmito é teu encanto
(sem decreto) capital.

Agora, que te fitamos
nos olhos,
e que neles pressentimos
o ser telúrico, essencial,
agora sim és Estado
de graça, condado real.
II
Rio, nome sussurrante,
Rio que te vais passando
a mar de estórias e sonhos
e em teu constante janeiro
corres pela nossa vida
como sangue, como seiva
-- não são imagens exangues
como perfume na fronha
... como pupila do gato
risca o topázio no escuro.
Rio-tato-
-vista-gosto-risco-vertigem
Rio-antúrio

Rio das quatro lagoas
de quatro túneis irmãos
Rio em ã
Maracanã
Sacopenapã
Rio em ol em amba em umba sobretudo em inho
de amorzinho
benzinho
dá-se um jeitinho
do saxofone de Pixinguinha chamando pela Velha Guarda
como quem do alto do Morro Cara de Cão
chama pelos tamoios errantes em suas pirogas
Rio, milhão de coisas
luminosardentissuavimariposas:
como te explicar à luz da Constituição?
III
Irajá Pavuna Ilha do Gato
-- emudeceram as aldeias gentílicas?
A Festa das Canoas dispersou-se?
Junto ao Paço já não se ouve o sino de São José
pastoreando os fiéis da várzea?
Soou o toque do Aragão sobre a cidade?

Não não não não não não não

Rio, mágico, dás uma cabriola,
teu desenho no ar é nítido como os primeiros grafismos,
teu acordar, um feixe de zínias na correnteza esperta do tempo
o tempo que humaniza e jovializa as cidades.
Rio novo a cada menino que nasce
a cada casamento
a cada namorado
que te descobre enquanto rio-rindo.
assistes ao pobre fluir dos homens e de suas glórias pré-fabricadas.