segunda-feira, 9 de março de 2020

Opinião do dia – Rodrigo Maia*

"Estamos aqui para ajudar, o Parlamento está pronto para ajudar o governo, que certamente precisa liderar esse processo. A nossa economia está sendo contaminada pelos dois motivos (petróleo e coronavírus) e também pelo baixo resultado do ano passado (do Produto Interno Bruto). Se agora os poderes da República agirem em harmonia e com espírito democrático, esta crise pode virar uma oportunidade de se somar forças em busca das soluções necessárias e urgentes.

O cenário internacional exige seriedade e diálogo das lideranças do país. A situação da economia mundial se deteriora rapidamente. O Brasil não vai escapar de sofrer as consequências dessa piora global. É preciso agir já com medidas emergenciais.

O Congresso está pronto para avançar com as reformas necessárias capazes de reestabelecer a confiança.

*Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, Valor Econômico, 9/3/2020.

Carlos Pereira - A gangorra dos poderes

- O Estado de S.Paulo

Equilíbrio entre Poderes, que levou mais de cem anos para ser alcançado, está sob ameaça

A história do Brasil foi marcada por desequilíbrios extremos entre o Executivo e o Legislativo. Uma espécie de efeito gangorra onde, em alguns momentos, preponderou uma descentralização de poderes para o Legislativo e, em outros, uma centralização de poderes nas mãos do Executivo.

Na primeira República (1989-1930), observamos o fortalecimento do federalismo com um domínio das elites regionais por meio da chamada “política dos governadores”. Diante de uma grande fragmentação de partidos estaduais, verificou-se problemas crescentes de governabilidade do presidente e, ao mesmo tempo, alienação de grupos regionais que não eram contemplados no jogo oligárquico.

Como reação a esse desequilíbrio, a Era Vargas (1930-1946) praticamente extinguiu o federalismo oligárquico. A autonomia dos Estados foi enfraquecida, foi quebrado o monopólio do partido único nos Estados e foi observada uma excessiva centralização decisória no Executivo federal e uma concomitante fragilização do Legislativo.

A Constituição de 1946 vai para o outro extremo, ao abominar tudo que parecia ser sinônimo de centralização. O federalismo é restabelecido, e o presidente torna-se constitucionalmente fraco em um ambiente multipartidário. Governos minoritários são eleitos e crises sucessivas de governabilidade com riscos iminentes à democracia tornam-se a marca desse período democrático.

Com a ditadura militar (1964-1985), o Brasil viveu um novo período de centralização excessiva, o que é esperado de regimes autoritários. O executivo recuperou os Poderes Constitucionais, de agenda e orçamentários. Por outro lado, os partidos políticos se enfraqueceram e o Legislativo se fragilizou.

Marcus André Melo* - Política é descompostura

- Folha de S. Paulo

Um século depois da frase de Gilberto Amado, os problemas reaparecem em nova roupagem

“No Brasil, desaforo é que é combate. Luta política é descompostura.” A afirmação é de Gilberto Amado, em “Presença na Política”, de 1958. Ele se referia aos anos 1920, quando chamava a atenção dos colegas congressistas para os graves problemas do processo orçamentário do país —mas era solenemente ignorado.

Suas denúncias não tinham efeito mesmo que reproduzisse o diagnóstico alarmista da Missão Inglesa de 1924, que apontava dois problemas principais: as “caudas orçamentárias” (abertura de créditos adicionais para cobrir despesas sem previsão de receita, aprovadas por parlamentares nos últimos dias de votação) e o endividamento externo brutal de alguns estados. A questão a ser enfrentada era como impedir que o Legislativo desfigurasse o Orçamento, em processos tipo tragédia dos comuns que discuti aqui.

Parte dos problemas foram resolvidos com a reforma constitucional de 1926, proibindo a inclusão de emenda sem previsão de receita. E seguiram-se outras medidas: a lei 4320/1964, a Constituição de 1988, e a LRF (lei 101/2000). Um século depois, os problemas reaparecem em nova roupagem. Vários estados estão quebrados, e o equacionamento do problema é federal, o que equivale a dizer que passa pela socialização de custos.

Celso Rocha de Barros* - Novo AI-5 não teria milagre econômico

- Folha de S. Paulo

Ou a democracia corta as asas do autoritarismo ou morre crescendo 1% ao ano

Se entendi direito, no novo AI-5 o milagre econômico vai ser de só 1% ao ano e, em vez de Pelé brilhando no México, teremos Ronaldinho Gaúcho preso em Assunção. Não sei vocês, mas eu acho que já vendemos mais caro nossa democracia.

Ainda não há consenso entre os economistas sobre a causa do baixo crescimento. As várias escolas de pensamento ainda discutem se o fracasso foi causado pelo programa do Guedes, pela desorganização do Guedes ou pela inacreditável incapacidade do Guedes de escolher um candidato a presidente minimamente higiênico.

Quanto ao programa, deixo a discussão para os economistas. Acho que a maioria deles aceita que o Brasil precisava de ao menos alguns ajustes e reformas, mas há os que acham que, além disso, teria sido necessário estimular a economia de algum modo. O que parece claro é que as sucessivas promessas frustradas de “depois disso aqui, o crescimento” (impeachment, reforma trabalhista, reforma da Previdência) prejudicaram a causa das reformas.

E há um vício de origem na proposta reformista. O plano era cortar gastos (o que reduz o crescimento no curto prazo) e promover o crescimento com as reformas. As reformas precisam ser negociadas politicamente, no Congresso e na sociedade. No projeto reformista, portanto, o essencial é todo feito pelos políticos.

Vinicius Mota - Maré fascista faz 100 anos

- Folha de S. Paulo

No romance 'M', Mussolini conta como ergueu sua catedral de violência

Na Itália após a Primeira Guerra, a vitória sobre o império austríaco pesa como um fardo. Veteranos do conflito das trincheiras vagam pelo país sem perspectiva de coisa nenhuma.

Entre eles estão os “arditi”, jovens que nas batalhas se especializaram em penetrar as linhas do inimigo e assassinar sentinelas a golpes de punhal, a arma que, entre os dentes de um crânio, estampa as suas camisas escuras.

Gabriele D’Annunzio, gigante da poesia italiana, aviador e herói de guerra, arrebata os desnorteados. Em 1919 comanda uma ação tresloucada e toma o território do Fiume, hoje na Croácia.

Inspirados nos bolcheviques russos, os socialistas revolucionários avançam nos campos e nas fábricas do vale do Pó, no norte italiano. Festejam a engorda nas eleições parlamentares de 1919 e anunciam para logo a derrubada do Estado burguês.

Em Milão, em março daquele ano, o militante enxotado do Partido Socialista Benito Mussolini agrega renegados nos Fasci di Combattimento, cuja estreia nas urnas é um fiasco.

Ruy Castro* Rir é o melhor remédio

- Folha de S. Paulo

Encher um estojo com pílulas é um exercício que pratico semanalmente

Um amigo me perguntou ao telefone: “E aí, vendendo saúde?”. Respondi: “Não. Comprando saúde. Vou mais a farmácias do que a botequins”. Ele suspirou, “Eu também”, e me contou suas aventuras com o estojo de remédios que, uma vez por semana, os maiores de 200 anos têm de encher —um quadradinho para cada dia e hora, com a maior atenção, para não se tomar o remédio errado. Sei o que é isso. Encher esse estojo é um exercício que também pratico semanalmente.

O segredo é esquecer por algumas horas os nomes dos personagens de Dostoiévski, se o estivermos lendo —Raskolnikov, Smerdyakov, Razumikhin, Marmeladov, Svidrigaïlov—, para nos concentrarmos nos nomes dos remédios que temos de organizar. Alguns são fáceis de aprender, como a lamotrigina, a espironolactona, o ácido acetilsalicílico. Mas o que dizer do succinato de metoprolol? E da rosuvastatina cálcica? E da levotiroxina sódica? E do bissulfato de clopidogrel? Meu amigo contou que, precisando de uma caixa de cloridatro de metformina, pediu, por força do hábito, uma de citrato de sildenafila —nome sob o qual se esconde o viagra.

Fernando Gabeira - Uma banana para o PIB

- O Globo

O que o governo busca com suas palhaçadas é tapar a visão do futuro. Ninguém sonha com as roubalheiras pretéritas

Na semana em que foi divulgado o PIB do primeiro ano de governo Bolsonaro as reações foram estranhas. Bolsonaro não quis responder sobre o tema. Passou a tarefa para um humorista oficial, que distribuía bananas para os repórteres.

Brasília se parece cada vez mais com cenários de realismo mágico, como a cidade de Macondo na obra de Gabriel García Márquez.

Se ouvi bem, Bolsonaro e o humorista perguntavam o que é PIB. Na verdade, houve e sempre haverá um debate sobre a precisão do PIB como instrumento de medida do crescimento do país.

Mas a forma de peguntar, com a banana na mão, indica que tanto Bolsonaro como o humorista chapa-branca não têm a mínima ideia do assunto.

Perguntem ao Posto Ipiranga. Paulo Guedes, que responde pela fantasia do Posto Ipiranga do governo, afirmou que o crescimento do PIB não era preocupante: o Brasil estava no rumo certo e iria crescer mais em 2020.

Mas e o coronavírus, a China? — alguém perguntou. Guedes minimizou os efeitos da epidemia: os chineses não vão deixar de comer, logo continuarão comprando.

As coisas não são bem assim. Quando apertam, não se deixa de comer, apenas come-se com moderação. E os efeitos do coronavírus na economia transcendem a um impacto na venda de alimentos: significam uma desaceleração global. Compreendo que é preciso combater o pânico e não dramatizar o impacto econômico do vírus. Mas é necessário reconhecê-lo, trabalhar com as evidências.

Demértrio Magnoli - Um vírus para os populistas

- O Globo

Trump agarrou-se ao coronavírus para propagar a xenofobia

O impacto econômico do novo coronavírus reflete-se mais na linguagem fotográfica que na das estatísticas. Duas imagens de satélite revelam que a nuvem de poluentes sobre o nordeste e o leste da China desapareceu durante o intervalo entre janeiro e fevereiro. Fotos mostram o Coliseu e a Piazza Navona, em Roma, sem as habituais hordas de turistas, neste início de março. Nouriel Roubini, “Dr. Desgraça”, o economista que ganhou celebridade ao prever a crise financeira de 2008, volta à cena profetizando uma depressão mundial.

A China conecta os polos das cadeias de produção globais, Ásia de um lado, Europa e EUA de outro. A subtração de pontos percentuais do crescimento chinês implica em forte desaceleração geral. Estimativas da OCDE apontam a hipótese de redução pela metade do crescimento global.

O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, desabou das alturas dos 29 mil pontos, em 19 de fevereiro, para quase 25 mil, dez dias depois. Acostumados com um mercado ascendente de quatro anos, os investidores ainda imaginam uma efêmera curva em forma de V — e voltaram a comprar no início de março, animados pela rápida reação do Fed, o banco central dos EUA. Vozes mais pessimistas, porém, alertam para um ajuste longo, um poço cujo fundo poderia situar-se nos 16 mil pontos do início de 2016.

Trump agarrou-se ao vírus para propagar a xenofobia, vetando provisoriamente a entrada nos EUA de chineses. Depois, diante da balbúrdia nas bolsas, girou o timão, entregando a condução da crise sanitária a especialistas em saúde pública. No erro e no acerto circunstancial, sua bússola única é a campanha da reeleição.

Cacá Diegues - Este mundo é um pandeiro

- Globo

Talvez eu tenha sido o cineasta mais ‘chanchadeiro’ do Cinema Novo

O Cine Academia é um clube de cinema criado pela Academia Brasileira de Letras, em parceria com a Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM), e com o apoio do Grupo Itaú de Cinemas. No ano passado, quando foi inaugurado, o Cine Academia exibiu filmes de Mário Peixoto, Humberto Mauro e Nelson Pereira dos Santos. Agora, a partir deste mês de março, promove um ciclo chamado “Este mundo é um pandeiro”, nome de um clássico da comédia carioca, que acabou servindo também como título de um livro sobre “a chanchada de Getúlio a JK”, obra do ensaísta, crítico e curador do ciclo Sérgio Augusto.

O primeiro filme do novo ciclo, exibido na semana passada, foi “Carnaval Atlântida”, de 1952, dirigido por um dos craques da chanchada, José Carlos Burle. Um filme com grandes estrelas do gênero como Oscarito, Grande Otelo, Eliana, Cyll Farney, José Lewgoy e Maria Antonieta Pons, a inesquecível atriz e rumbeira hispano-americana.

A palavra “chanchada”, que nomeia genericamente aquela série de comédias musicais de grande sucesso popular, produzidas no Rio de Janeiro, entre meados dos anos 1940 e fins dos 50, era uma adaptação abrasileirada e pejorativa da italiana “cianciata”, gíria romana para baixa qualidade, uma “conversa jogada fora”. Na época de ouro da chanchada, realizadores e técnicos do cinema italiano se encontravam em São Paulo, contratados pela Vera Cruz, companhia financiada por um Matarazzo para elevar o nível do cinema brasileiro com “filmes sérios”. Os ítalo-paulistas acabaram se tornando os principais suspeitos pela classificação pejorativa das comédias cariocas.

Bruno Carazza* - O que querem as mulheres?

- Valor Econômico

Bancada feminina tem uma boa agenda no Congresso

Em outubro de 2019, Melinda Gates publicou na revista Time uma carta aberta prometendo investir US$ 1 bilhão na próxima década em projetos para expandir o poder e a influência das mulheres nos Estados Unidos. A data desse anúncio foi cuidadosamente escolhida: naquele mês completavam-se dois anos do surgimento das primeiras denúncias contra o então todo-poderoso produtor de cinema Harvey Weinstein, desencadeando um amplo movimento a favor da quebra do silêncio em casos de assédio e agressão sexual.

A hashtag #MeToo viralizou e foi fundamental para a condenação de Weinstein - num primeiro momento pública, e depois judicial - e para a promoção do debate sobre a condição feminina no mercado de trabalho. Depois de se alastrar das redes sociais para a sociedade, o #MeToo está enfrentando uma crise típica dos grandes movimentos populares surgidos nos últimos anos: como vencer a improvisação, a organização difusa e a ausência de lideranças e construir uma agenda de prioridades para obter resultados concretos na melhoria das condições de vida das mulheres?

Melinda Gates entende que a repercussão em torno do #MeToo representa uma janela de oportunidade para alavancar o “ativismo de sofá” numa ação coletiva em prol da igualdade de gêneros. Para isso, pretende usar sua fortuna para fomentar iniciativas voltadas a três prioridades: i) redução das barreiras ao desenvolvimento profissional feminino; ii) estimular a ascensão de mulheres nos setores de tecnologia, mídia e governo, que têm um grande impacto na sociedade e iii) mobilizar acionistas, consumidores e trabalhadores para pressionarem as empresas a se tornarem mais diversas, tanto em termos de gênero quanto de cor.

Sergio Lamucci* - Incertezas crescentes nublam cenário de 2020

- Valor Econômico

Com a grande incerteza no cenário externo, é fundamental que o governo e a equipe econômica deixem de produzir ruídos, evitando criar mais instabilidade

As perspectivas para a economia brasileira se turvaram no fim deste primeiro trimestre, devido às incertezas no cenário global e no quadro doméstico. A epidemia de coronavírus, ao que parece, terá um efeito mais forte e um pouco mais longo sobre a economia mundial, o que tem provocado grande volatilidade e aversão ao risco nos mercados internacionais. No front interno, a atividade mostra fraqueza maior do que se esperava e o clima político segue conturbado, com o governo Jair Bolsonaro causando conflitos frequentes, desnecessários e preocupantes com os outros Poderes, em especial o Congresso. Há dúvidas sobre o andamento das reformas, num momento em que o ministro da Economia, Paulo Guedes, contribui para elevar as incertezas, ao demorar para definir a sua proposta de mudança do sistema tributário e ao dar declarações confusas sobre o câmbio, por exemplo.

Nesse ambiente, murcharam as expectativas de que o Brasil poderia ter um crescimento um pouco mais forte neste ano, na casa de 2% a 2,5%. Muitas estimativas já caíram para a casa de 1,5%, apesar dos juros baixos, do aumento do crédito e da retomada gradual do mercado de trabalho, embora ainda haja quem aposte numa expansão perto de 2%.

A incerteza elevada atrapalha em especial as decisões de investimento. Num quadro indefinido, marcado ainda por grande ociosidade, muitas empresas preferem esperar para investir em projetos de modernização e ampliação da capacidade produtiva. Além disso, o capital externo fica mais arredio.

O quadro internacional ficou muito mais incerto depois da eclosão da epidemia de coronavírus. Para os economistas do Barclays, “o cenário para a economia global se deteriorou significativamente”, à medida que a doença se espalha rapidamente pelo mundo. A ideia inicial era de que o fenômeno seria principalmente um problema chinês e asiático, restrito em grande parte ao primeiro trimestre. Agora, a avaliação é que haverá uma desaceleração mais longa e mais profunda, escrevem os economistas Christian Keller e Fabrice Montagné. Com a disseminação do vírus, especialmente na Europa e nos EUA, a economia global enfrenta um choque duplo de oferta e de demanda mais demorado e mais intenso.

Espaço para estimular economia é limitado

Analistas divergem sobre eventual aumento do investimento público, avaliando que corte de juros, se ocorrer, terá pouco efeito para fortalecer recuperação da atividade

Por Thais Carrança e Anaïs Fernandes | Valor Econômico

SÃO PAULO - Diante da piora do cenário externo com a epidemia de coronavírus e da probabilidade de mais um ano de baixo crescimento, economistas veem com ceticismo o impacto de novos cortes de juros para dar mais gás à retomada, ainda que possa haver espaço para reduções adicionais da Selic.

Há divergências, porém, quanto à conveniência de aumentar o investimento público. Alguns analistas defendem a medida, avaliando que o problema do crescimento no curto prazo é de insuficiência de demanda. E há quem considere não existir nenhum espaço para a política fiscal e que é preciso insistir na agenda de reformas.

Para Gilberto Borça Junior, mestre em Economia pela UFRJ, com a forte queda nos juros e uma dinâmica da dívida menos “maligna”, há fôlego fiscal para o governo brasileiro oferecer algum estímulo à demanda através de investimentos públicos, fazendo frente, no curto e médio prazo, à deterioração do cenário externo e a uma economia doméstica ainda bastante fraca.

Segundo Borça Jr., projeções sugerem que, com a Selic em mínimas históricas, seria possível estabilizar a relação entre a dívida bruta e o Produto Interno Bruto (PIB) com um resultado primário mais baixo - e, eventualmente, até algum déficit. “A taxa de juros caiu tanto que a dinâmica da dívida não é tão maligna assim. Pode valer ter um programa razoável de investimentos em infraestrutura, que deem algum impulso adicional para a atividade se recuperar, já que essa é uma economia que sofre há alguns anos com insuficiência de demanda agregada”, defende.

Maia pede que governo lidere reação a crise econômica mundial

Por Leandro Colon, Folhapress / Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu na noite deste domingo (8) o avanço de reformas emergenciais para enfrentar a turbulência econômica mundial causada pela queda do petróleo e pelo coronavírus. Ele ainda pede que o governo lidere o processo de reação.

"Estamos aqui para ajudar, o Parlamento está pronto para ajudar o governo, que certamente precisa liderar esse processo", disse à reportagem. "A nossa economia está sendo contaminada pelos dois motivos (petróleo e coronavírus) e também pelo baixo resultado do ano passado (do Produto Interno Bruto)", ressaltou.

No Twitter, Maia disse também que "se agora os poderes da República agirem em harmonia e com espírito democrático, esta crise pode virar uma oportunidade de se somar forças em busca das soluções necessárias e urgentes".

"O cenário internacional exige seriedade e diálogo das lideranças do país. A situação da economia mundial se deteriora rapidamente. O Brasil não vai escapar de sofrer as consequências dessa piora global. É preciso agir já com medidas emergenciais", escreveu o presidente da Câmara.

"O Congresso está pronto para avançar com as reformas necessárias capazes de reestabelecer a confiança", ressaltou.

O petróleo do tipo Brent abriu o pregão desta segunda (9, ainda domingo no Brasil) em queda de mais de 30%, derrubando o preço para perto de US$ 30 por barril. É a maior desvalorização desde a Guerra do Golfo, em 1991, quando o preço chegou a cair 34,77%.

Analistas do mercado financeiro alertaram que a brusca queda pode ser amenizada ao longo da segunda-feira. Isso porque no início dos negócios tem volume reduzido de investidores, deixando as oscilações de mercado mais bruscas.

Governo quer ampliar saques do FGTS para acelerar PIB

Medida estimularia concessão de R$ 100 bi em empréstimos

Geralda Doca | O Globo

BRASÍLIA - - Para acelerar o crescimento econômico, o governo quer ampliar o uso do FGTS, permitindo que o trabalhador saque este ano o montante a que teria direito de 2020 a 2022, informa GERALDA DOCA. O valor terá de ser utilizado parau ma operação de crédito, seja em garantia a empréstimo o upara antecipação de recursos, comoé feito como Imposto de Renda. O Ministério da Economia estima que cer cade oito milhões de pessoas poderiam aderir ao programa, que estimularia a concessão de R$ 100 bilhões em financiamentos em até quatro anos.

Diante do baixo crescimento da economia brasileira, o governo avalia novas medidas para liberar mais recursos do FGTS e, assim, estimular o consumo e a atividade econômica. Uma das ideias em estudo é permitir que os trabalhadores que optarem pelo saque aniversário — aquele que prevê retiradas anuais do Fundo — possam antecipar os resgates em até três anos somente para operações de crédito. O montante poderá ser sacado em dinheiro, como na antecipação do Imposto de Renda ou usado como garantia de empréstimo em qualquer banco.

O novo mecanismo está previsto em uma minuta de proposta do Ministério da Economia, a ser submetida ao Conselho Curador do FGTS no fim deste mês. Se aprovado, a expectativa é que ele aumente a adesão dos trabalhadores ao saque aniversário em cerca de oito milhões de pessoas.
De acordo com o último balanço da Caixa, só 2,616 milhões de trabalhadores aderiram a essa modalidade. Eles terão direito de retirar R$ 3,676 bilhões entre abril deste ano, quando começa o calendário de retirada dessa categoria de resgate, até fevereiro de 2021.

R$ 100 BI EM EMPRÉSTIMO
As projeções da equipe econômica também indicam que a medida teria potencial para alavancar R$ 100 bilhões em crédito em quatro anos.

Em julho de 2019, o governo criou duas modalidades de saque do FGTS: o saque imediato é o que permite a retirada de R$ 500 por conta, ativa ou inativa do Fundo, e pode ser feito apenas uma vez. No saque aniversário, o valor do saque varia conforme o saldo. Quanto maior ele for, menor o percentual a ser resgatado.

Quem opta pelo saque-aniversário não pode retirar recursos do Fundo em caso de demissão sem justa causa. Para que isso ocorra, o trabalhador que fez essa opção terá de voltar para o sistema tradicional do FGTS, o que só pode ser feito dois anos a contar da adesão à nova modalidade.

Se aprovada, a ampliação do acesso ao FGTS será a sétima medida anunciada pelo governo para estimular a economia desde julho de 2019. No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB, soma de produtos e serviços produzidos) cresceu pouco mais de 1% pelo terceiro ano seguido. E o consumo das famílias, motor da economia, teve o pior desempenho desde 2016.

Analistas são cautelosos quanto ao efeito da proposta.

Mulheres fazem História nas ruas do Chile

Chile tem a maior marcha feminina em ato no Dia Internacional da Mulher

- O Globo

A maior manifestação feminina da História do Chile reuniu dois milhões de pessoas ontem em Santiago, no Dia Internacional da Mulher.

A data foi marcada por protestos no Brasil e no mundo.

Uma multidão estimada em 2 milhões de pessoas, de acordo com os organizadores, tomou as ruas de Santiago ontem numa manifestação histórica, que marcou o Dia Internacional da Mulher. A maior marcha de mulheres da história do Chile se concentrou na Praça Itália, centro da capital do país e símbolo dos protestos que há quatro meses pressionam o governo do direitista Sebas tiánPiñ era ejá conseguiram mudanças práticas, como a convocação de um referendo sobre a elaboração de uma nova Carta Magna. A atual foi elaborada ainda na ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

O protesto transcorreu de forma pacífica, com alguns incidentes isolados. Segundo os carabineiros (políciais chilenos), 19 agentes ficaram feridos e 16 pessoas foram presas. Longe dos confrontos, muitas manifestantes portavam lenços verdes, marca registrada do movimento em defesa da legalização do aborto, além de cartaz espedindo ações do governo e da sociedade para enfrentara violência contra as mulheres. O hino contra a opressão machista, "O estuprador é você", surgido em manifestações no final do ano passado, foi executado até mesmo diante do Palácio de La Moneda, sede da Presidência.

— Somos uma geração de mulheres que gritou e acordou. Não temos mais medo, nos atrevemos afala relutar— disse Valentina Navarro, de 21 anos, à Reuters.

Desde o início dos protestos no Chile, no ano passado, surgiram centenas de denúncias de abuso sexual cometidos contra manifestantes, especialmente por forças de segurança. Em resposta, feministas chilenas passaram a convocara toscada vez mais frequentes e numerosos, como forma de pressão sobre as autoridades. O surgimento de "O estuprador é você", replicado nas ruas de vários países e até por deputadas do Parlamento da Turquia, deu ainda mais visibilidade ao movimento. Segundo números oficiais, sete mulheres foram mortas em 2020 e mais de 60 em 2019.

CONTRA O FEMINICÍDIO
Além da marcha, foi convocada um agre vedas mulheres, que começou a ser observada ontem e segue até o final desta segunda-feira.

— Hoje (ontem) damos início a um ano de mobilizações, revolta, onde o feminismo será protagonista —disse Javiera Manzim, representante do Coord in adora 8M, responsável pelo ato deste domingo. Ela ressaltou que outro foco das açõe sé a defesa deu mamai or participação feminina na política. Na semana passada, o Congresso aprovou um mecanismo para garantira paridade entre homens e mulheres em uma eventual Assembleia Constituinte.

O que a mídia pensa – Editoriais

Portas fechadas – Editorial | Folha de S. Paulo

Ao ameaçar diplomatas venezuelanos, Bolsonaro abre mão de papel construtivo

A mais recente investida do governo Jair Bolsonaro contra o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, tem tudo para fazer barulho e se mostrar tão estéril quanto as iniciativas anteriores nesse campo.

Na última quinta-feira (5), o Itamaraty abriu caminho para expulsar 17 funcionários venezuelanos que atualmente trabalham em postos diplomáticos no Brasil, avisando as autoridades do país vizinho que serão todos defenestrados se não forem chamados de volta.

Bolsonaro foi um dos primeiros chefes de Estado a reconhecer o líder oposicionista Juan Guaidó como presidente interino do país vizinho, há um ano, e apoiou as sanções econômicas impostas pelos EUA ao regime de Maduro.

Em junho, o mandatário aceitou as credenciais de uma advogada enviada por Guaidó como representante, gesto que se revelou inócuo diante da permanência dos funcionários indicados pelo chavista na embaixada em Brasília.

A medida tomada na semana passada certamente contribuirá para obstruir ainda mais os canais de que o Itamaraty dispõe para dialogar com os venezuelanos. Além disso, e pior, ameaça deixar sem amparo os brasileiros que vivem sob a derrocada do regime.

Poesia | Paulo Mendes Campos - Sentimento do tempo

Os sapatos envelheceram depois de usados
Mas fui por mim mesmo aos mesmos descampados
E as borboletas pousavam nos dedos de meus pés.
As coisas estavam mortas, muito mortas,
Mas a vida tem outras portas, muitas portas.
Na terra, três ossos repousavam

Mas há imagens que não podia explicar: me ultrapassavam.
As lágrimas correndo podiam incomodar
Mas ninguém sabe dizer por que deve passar
Como um afogado entre as correntes do mar.
Ninguém sabe dizer por que o eco embrulha a voz
Quando somos crianças e ele corre atrás de nós.

Fizeram muitas vezes minha fotografia
Mas meus pais não souberam impedir
Que o sorriso se mudasse em zombaria
Sempre foi assim: vejo um quarto escuro
Onde só existe a cal de um muro.
Costumo ver nos guindastes do porto
O esqueleto funesto de outro mundo morto
Mas não sei ver coisas mais simples como a água.

Fugi e encontrei a cruz do assassinado
Mas quando voltei, como se não houvesse voltado,
Comecei a ler um livro e nunca mais tive descanso.
Meus pássaros caíam sem sentidos.
No olhar do gato passavam muitas horas
Mas não entendia o tempo àquele tempo como agora.
Não sabia que o tempo cava na face
Um caminho escuro, onde a formiga passe
Lutando com a folha.
O tempo é meu disfarce