quarta-feira, 25 de março de 2020

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

Eu não ia voltar ao tema, mas o Pr repetiu opiniões desastradas sobre a pandemia. O momento é grave, não cabe politizar, mas opor-se aos infectologistas passa dos limites. Se não calar estará preparando o fim. E é melhor o dele que de todo o povo. Melhor é que se emende e cale.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, ex-presidente da República em Twitter, 24/3/2020.

Vera Magalhães - Convite ao genocídio

- O Estado de S.Paulo

Trump e Bolsonaro flertam com a irresponsabilidade ao, de novo, relativizar pandemia

Quando parecia que os líderes das principais nações do mundo estavam convergindo para compreender a gravidade e o ineditismo da crise decorrente da pandemia de covid-19 e para adotar medidas restritivas à atividade econômica e à circulação de pessoas para tentar conter a velocidade da expansão do contágio, a semana iniciou sob o signo do risco de grave retrocesso.

Nos Estados Unidos, candidato a novo epicentro da pandemia graças à velocidade com que os casos de infecção pelo novo coronavírus crescem, Donald Trump recuou da postura mais comedida que vinha adotando nos últimos dias para dizer que quer o país “reaberto” na Páscoa.

Essa declaração contraria todas as projeções de epidemiologistas, que acreditam que o pico da doença ainda não chegou aos EUA. A volta de Trump ao negacionismo tem uma razão evidente: a aproximação das eleições. Sua candidatura foi atingida em cheio pela constatação, literalmente na pele das pessoas, de que o sistema de saúde americano não é funcional e, num momento de calamidade pública, pune até com a morte aqueles que não têm recursos para bancar exames e internações.

A pandemia colocou em pauta, mais do que antes, as propostas do Partido Democrata para a reforma do sistema.

O problema é que os humores do presidente norte-americano sempre influenciam diretamente os de seu admirador brasileiro. E não demorou.

Míriam Leitão - Insanidade presidencial

- O Globo

No delírio em que vive o alienista que nos governa, quem adota medidas de proteção conspira contra seu governo. Não, eles estão salvando vidas

Foram cinco minutos de delírio, insensatez, irresponsabilidade e desinformação. O presidente Jair Bolsonaro fez um pronunciamento ontem cuja única avaliação possível é de que o país é governado por uma pessoa insana. Bolsonaro defendeu a ideia de que como o grupo de 60 anos é de risco as escolas não devem ser fechadas. Ele não acredita, pelo visto, em contágio. Ontem, o Ministério da Saúde repetiu que é a maior pandemia do século, e o presidente vangloriou-se: disse que por ser um “atleta” só pegaria um “resfriadinho”. O Brasil corre riscos sérios com um presidente assim.

Sua insanidade tem ameaçado o país e atrapalhado a ação do governo. Seus interlocutores dizem que ele repete em privado o que disse ontem em público. Ele de fato não acredita na ciência. As poucas vezes em que disse algo razoável foi por cálculo político. Ficou com medo da perda de popularidade. Ele faz um jogo. Imagina que se continuar falando que os governadores é que criam a crise econômica e exterminam emprego salvará seu governo. Inepto e leviano, ele se preocupa apenas com a própria popularidade, bloqueia boas iniciativas e dedica-se à sua guerra pessoal contra supostos inimigos.

Como ele não pode ser isolado, Bolsonaro contamina a ação governamental, atrasa as medidas necessárias, torna penoso o dia a dia de quem no governo pensa diferente e quer que as medidas sejam tomadas. A parte da máquina que funciona tem tentado. As medidas de socorro aos estados, por exemplo, foram um movimento importante, sólido, mas há muito a fazer em todas as áreas. Do que tem sido anunciado, pouca coisa se materializou. A distribuição de R$ 200 de complemento de renda para quem está em situação de vulnerabilidade não se sabe quando virará realidade. Já faz uma semana que o governo anunciou, e ontem governadores procuravam saber como isso tinha andado e nada recebiam de resposta.

Ricardo Noblat - Suicídio político em cadeia nacional de rádio e televisão

- Blog do Noblat | Veja

A farda perde seu encanto por Bolsonaro
Mau militar como o definiu no passado Ernesto Geisel, o terceiro general-presidente da ditadura de 64. Mau esposo como ex-mulheres dele admitiram. Mau chefe de família, a julgar pelas relações conflituosas com os filhos e dos filhos entre si. Mau deputado, como registram os anais da Câmara.

Como Jair Messias Bolsonaro, chamado por seus devotos irascíveis de Mito, poderia vir a ser um bom presidente da República? Sua fala à Nação, ontem à noite, confirmou mais uma vez a antiga lição que de onde menos se espera daí é justamente que não sai nada capaz de produzir algum alento ou de reverter expectativas.

Bolsonaro é o que é e ponto. Na véspera, ao reunir-se com governadores do Norte e Nordeste, anunciara uma ajuda de quase 90 bilhões de reais para que os Estados enfrentem a pandemia do coronavírus. Defendeu a salvação de vidas, embora tivesse suspendido o pagamento de salários a trabalhadores carentes.

Só recuou da medida quando começou a apanhar nas redes sociais. Ordenou ao ministro Paulo Guedes, da Economia, que tirasse seu nome daquela enrascada. Mais tarde, Guedes diria que tudo não passou de um “erro digital”. Quando alguns dos seus assessores pensaram que ele poderia enveredar por um bom caminho…

Foram surpreendidos outra vez. Aconselhado por seus três belicosos filhos e outros garotos expoentes do “gabinete do ódio”, quase às escondidas dos seus ministros, Bolsonaro gravou um pronunciamento que, de tão desastroso, foi recepcionado por mais um panelaço de norte ao sul do país, o oitavo.

Luiz Carlos Azedo - Reflexões sobre a epidemia

- Nas entrelinhas | Correio Braziliense

“Na cabeça do presidente, não existe guerra sem defuntos: as taxas de letalidade da epidemia são baixas demais para justificar uma recessão econômica”

Quando as ideias liberais clássicas de Adam Smith pareciam consagradas no Ocidente, em meio à corrida mundial para reinventar o Estado, a epidemia de coronavírus virou tudo de pernas para o ar. O revisionismo reformista de Lord John Maynard Keynes parece renascer das cinzas, com sua Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro. Para conter a epidemia, o mundo está mergulhando numa recessão geral, fruto da globalização tanto quanto a propagação do novo coronavírus, que começou na China, tomou de assalto a Europa, se instala nos Estados Unidos e se expande na periferia, na qual países como a Índia e o Brasil se preparam para a uma tragédia anunciada.

Para o keynesianismo, os níveis de consumo, de investimentos público e privados e aplicações dos cidadãos são determinantes da política econômica. Quando eles se retraem, a crise vem a galope. A velha fórmula de Keynes para enfrentar essa situação está sendo exumada por ninguém menos do que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que pretende injetar mais de US$ 1 trilhão na economia norte-americana para aliviar o sufoco gerado pela paralisação da economia. A Casa Branca foi o centro da resistência à política de distanciamento social preconizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mas capitulou, diante da tomada de Nova York pela epidemia. Da cidade mais rica do mundo, a epidemia se espalha por todos os estados da União.

Rosângela Bittar - Pandemônio

- O Estado de S.Paulo

Insistir em cumprir um calendário, interditando o debate, é contratar nova crise

A discussão sobre o adiamento das eleições municipais, por causa do avanço incontrolável do coronavírus, começou invertida. Em tempos de guerra, alguns argumentos contra uma mudança, como a imposição do calendário pela Constituição, por exemplo, devem vir depois daqueles que possam preservar a vida.

Para evitar estresse maior nos municípios do que o que já vigora no País confinado, o ministro Luiz Henrique Mandetta sugeriu aos prefeitos que pensassem no assunto. Falou ao público certo na ocasião adequada, em meio à discussão sobre o surto epidêmico que exigirá cada dia mais o esforço do sistema de saúde que operam. Mandetta teve a delicadeza de não abordar a questão com a crueza da realidade.

Duas autoridades competentes para o assunto reagiram mal à hipótese. O futuro presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luís Roberto Barroso, que se prepara para assumir o cargo, o centro do palco, e brilhar, alegou o calendário constitucional.

Não disse, mas é bom lembrar que ano eleitoral é o ano em que a Justiça Eleitoral e seu corpo de funcionários justificam sua existência.

Merval Pereira - Transparência, presidente

- O Globo

Esconder doenças geralmente é fatal para as pretensões de qualquer candidato presidencial nas democracias

Parece absurda a decisão do presidente Jair Bolsonaro de não apresentar o atestado de que não se contaminou com o Covid-19, apesar de 25 pessoas de sua comitiva aos Estados Unidos terem testado positivo. Alegar que é uma decisão de cunho pessoal não é desculpa para um funcionário público, especialmente tratando-se do presidente da República.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, também errou ao dizer que as informações pertencem aos pacientes. Pode até ser, mas não quando esse paciente é o presidente da República. Temos no Brasil dois exemplos na nossa historia recente recente: o então ministro da Justiça do governo Geisel, Petronio Portela, tido como um potencial candidato à presidência da República na ocasião, escondeu um ataque cardíaco e acabou morrendo.

Tancredo Neves, já eleito presidente, mas temeroso de que os militares tentassem não largar o poder, escondeu uma dor que o levou ao hospital na véspera da posse. O que parecia uma diverticulite, acabou se mostrando um tumor, que o matou.

O governador de São Paulo, João Doria, mostrou o atestado de que seu exame deu negativo, assim como o prefeito paulistano Bruno Covas. Em qualquer país do mundo a saúde do chefe do governo é fato relevante, e esconder doenças geralmente é fatal para as pretensões de qualquer candidato presidencial nas democracias ocidentais, quanto mais quando no exercício do cargo.

É atitude costumeira em regimes autoritários ou ditaduras, que dependem da idolatria da imagem de seus líderes para se sustentarem. O caso mais recente é o de Hugo Chávez na Venezuela, que escondeu um câncer durante meses, que acabou matando-o.

Bernardo Mello Franco - Notícias da ilha

- O Globo

Depois de passar semanas em negação, Boris Johnson anunciou medidas radicais para tentar conter o coronavírus. Mas sua teimosia ainda pode custar caro ao Reino Unido

No Reino Unido, pronunciamento em cadeia nacional é coisa séria. Os chefes de governo guardam o recurso para casos extremos, como guerras e catástrofes. Até esta semana, o último primeiro-ministro a interromper a programação da TV havia sido Tony Blair, em 2003. A notícia era o envio de tropas ao Iraque.

Dezessete anos depois, Boris Johnson gravou uma mensagem sobre a Covid-19. Em tom grave, anunciou medidas radicais para tentar conter o avanço da epidemia na ilha. “O coronavírus é a maior ameaça que este país enfrenta em décadas”, afirmou. O discurso foi assistido por 28 milhões de britânicos. Uma audiência histórica, comparável à do funeral da princesa Diana.

O premiê determinou que a população fique em casa e decretou o fechamento do comércio, à exceção de farmácias e supermercados. Quem descumprir as regras da quarentena poderá ser enquadrado pela polícia.

Vinicius Torres Freire - Na epidemia, hospitais não têm álcool

- Folha de S. Paulo

Tem de haver dinheiro e competência para produzir meios de combate à praga do coronavírus

Grandes hospitais se queixam de que faltam equipamentos básicos de proteção para o seu pessoal, em São Paulo ou no Amazonas. Trata-se de máscaras, óculos de proteção, aventais e, se ainda pudesse ser mais inacreditável, de álcool em gel.

Que há escassez do básico em hospitais e postos de saúde não é obviamente novidade. Mas, no meio da guerra dramática contra a epidemia, continua a faltar roupa elementar e antisséptico de modo desesperador, ao ponto de médicos e grandes instituições de saúde pública pedirem doações ao público. É um acinte.

A continuar a falta de equipamentos para o pessoal da saúde, estaremos diante de um caso de negligência ou incompetências criminoso, parecido com a traição em tempos de guerra. Não é aceitável em hipótese alguma que alguém tenha o desplante de dizer que falta dinheiro. Dinheiro terá de haver. Falta é organização competente. Cadê um comitê nacional para administrar a produção e distribuição de insumos?

Além de descaso fúnebre com os doentes, não providenciar equipamento para o pessoal de saúde é atirar contra os próprios soldados. É sabotar, antes do seu início, parte da grande ofensiva que pode mitigar o efeito devastador da epidemia sobre vidas, aqui e agora, e sobre a economia, também questão de vida e morte.

Não há solução econômica para o ataque da epidemia. Há paliativos, ainda que exijam gastos públicos e esforços privados gigantescos. Mas não haverá tentativa de volta a alguma espécie de vida econômica normal, ainda que deprimida, sem vitória na frente de saúde.

Bruno Boghossian - Os nus e os mortos

- Folha de S. Paulo

Ao insistir na economia e forçar saída abrupta, presidente produz cenário catastrófico

Depois de posar como um presidente sensato, Donald Trump teve uma recaída. O americano chegou a reconhecer a gravidade da crise provocada pelo coronavírus e anunciou medidas de restrição em todo o país. Agora, decidiu desafiar autoridades sanitárias e disse que espera ver a economia funcionando normalmente em menos de 20 dias.

A tentação de forçar a retomada de uma vida normal ressurgiu cedo em círculos populistas. Alguns líderes estão claramente dispostos a contar cadáveres desde que, em troca, consigam reduzir o impacto político da inevitável retração econômica.

A pressão tende a ser maior em países que não têm condições ou interesse em sustentar medidas paliativas, como a cobertura de parte dos salários dos trabalhadores. Jair Bolsonaro que o diga. O brasileiro foi porta-estandarte desse movimento.

Hélio Schwartsman - Surgem os buracos

- Folha de S. Paulo

Entre o planejado e a realidade há uma enorme diferença

Por um momento, deixei-me iludir pela preparação razoavelmente competente das autoridades sanitárias para a epidemia. Foi bom ver que elas pelo menos tinham planos, ao contrário do comandante-mor. Mas é claro que, entre o planejado e a realidade, há uma enorme diferença. E foi só a realidade aproximar-se para os buracos aparecerem.

Falta equipamento de proteção individual para os profissionais de saúde. Eles estão, em muitas unidades, trabalhando com material menos seguro que o desejável e com estoques menores que os confortáveis. Não ignoro que haja carência mundial desses produtos, mas a distribuição do que temos deveria ter sido mais criteriosa. Se médicos e enfermeiros mais habituados a lidar com situações críticas tiverem de ser afastados da linha de frente para cumprir quarentenas, nosso desempenho em salvar vidas será pior.

Algo parecido vale para os testes. Eles são importantíssimos para tentar quebrar as cadeias de transmissão na comunidade e indispensáveis para gerenciar o fluxo nos hospitais. O pior cenário é aquele em que pacientes de Covid-19 são misturados com os de outras doenças, infectando uma população cujo risco já tende a ser aumentado.

Oscar Vilhena Vieira* - Governo mostra falta de bússola moral com proposta para a crise

- Folha de S. Paulo

Recuo cínico em MP que propunha suspender contratos confirma estratégia de desmonte social de Bolsonaro

O direito pode dar duas contribuições em um momento de crise. A primeira delas é indicar o fim último para o qual devem convergir todas as ações do Estado —que, no caso, é a preservação do direito à vida e da dignidade humana, especialmente dos mais vulneráveis.

A segunda função do direito é contribuir para a estabilização de expectativas, permitindo a cooperação e coibindo comportamentos oportunistas e contrários ao interesse comum.

Ao editar a Medida Provisória (MP) 927, de uma só tacada, o governo conseguiu criar enorme insegurança jurídica, além de violar, de maneira frontal, sua obrigação de “não deixar ninguém para trás”.

Preservar o emprego e a renda dos mais pobres —ao lado de medidas de proteção da saúde da população— é o que mais importa neste momento.

Sem renda ou salário, uma imensa parte das famílias perderá as condições mínimas de subsistência. Em um país tão desigual como o Brasil, em que 13,6 milhões de pessoas vivem em comunidades e favelas e em que cerca de 70% dos empregados recebem até três salários mínimos, a perda da renda ou a precarização do emprego terão consequências devastadoras para largas parcelas da população.

Governos devem gastar como na guerra, diz ex-economista do FMI

Kenneth Rogoff, de Harvard, defende financiar esforço com endividamento via títulos e alguma impressão de dinheiro

Vinicius Torres Freire | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - É uma situação de guerra. Governos devem gastar de modo maciço, trilhões de dólares no caso dos EUA. Se necessário, como em guerras de fato, devem converter instalações quaisquer em hospitais e fazer fábricas produzirem material hospitalar e médico, por exemplo.

É a opinião de Kenneth Rogoff, professor de economia e política pública na Universidade Harvard, ex-economista-chefe do FMI, tido como exemplar defensor da prudência no gasto público (bom ou mau exemplo, a depender do freguês).

Em entrevista a respeito do impacto econômico da epidemia para a PBS, TV pública dos EUA, Rogoff comparou o coronavírus a uma invasão alienígena. Em diálogo com o jornalista da Folha, foi menos pitoresco. Ainda assim, o esforço deve ser o de guerra.

De quanto gasto do governo se trata? Uma primeira rodada em discussão nos EUA chega à casa de US$ 1 trilhão, mas outros pacotes devem ser necessários (o PIB americano é de US$ 21,5 trilhões), segundo o economista.

Negócios especialmente afetados precisam de ajuda direta, grande, e empréstimos de modo a evitar que quebrem, entre eles companhias aéreas e serviços de turismo, espetáculos, restaurantes, pequenas empresas, negócios viáveis em geral. Gasto público em massa deve ser direcionado para famílias pobres ou de baixa renda.

O tamanho da recessão deve ser inédito, pelo menos desde a Segunda Guerra. Nos EUA, o PIB cresceu durante o conflito. Em 1946, caiu quase 10%. Em 1932, 13%. No curto prazo, a queda abrupta do PIB e do emprego pode ser maior do que em 2008, teme Rogoff.

Zuenir Ventura - Como passar o tempo

- O Globo

Os psicólogos foram muito solicitados

Não sei se é porque nunca fui de bater perna na rua, sou mais caseiro, o fato é que esta primeira semana de quarentena não chegou a ser para mim o que foi para muita gente: dias vividos com a sensação de abandono, solidão ou angústia (o meu sofrimento foi expresso aqui na semana passada: a separação dos netos). Os psicólogos foram muito solicitados pelos repórteres para fornecer sugestões que pudessem preencher o tempo que custa a passar.

Foram vários os conselhos — desde acompanhar séries e novelas, botar a leitura em dia, ouvir música, fazer exercícios físicos, até recursos como a autorreflexão, meditação e mindfulness. Houve mesmo conselho aos casais: praticar a DR, ou seja, discutir a relação. Já imaginaram nós, Mary e eu, com 57 anos de casados, discutindo a relação?

O que vinha e vem de fora pelo noticiário da TV e dos jornais aumenta a preocupação de quem está confinado, a começar pelo comportamento errático do presidente, que chamou de “gripezinha” a pandemia que até ontem à tarde já matara 46 pessoas no Brasil e atingira mais de 2 mil, inclusive 23 membros da comitiva que viajou com ele aos EUA este mês.

Ligia Bahia - Oxigênio em volume máximo

- O Globo

Prevalece consenso internacional em torno da necessidade de aumentar despesas públicas com saúde

A pandemia do coronavírus comprova que não existem soluções privadas para a saúde da população. A escala e a natureza do problema não deixam dúvidas sobre a importância de sistemas públicos abrangentes e qualificados. A imensa base do iceberg está constituída por crianças e adultos que não sabem ser fonte de disseminação. A fração dos que são positivos e experimentam nenhum sintoma ou sinais limitados de infecção, estimada em 86%, é a principal origem do contágio dos casos da doença.

O invisível e, para a maioria, imperceptível microrganismo não tem preferência por raça, cor, orientação sexual ou condição social. Cada indivíduo é simultaneamente risco para os outros e vulnerável ao contato com portadores do vírus. Não se pode culpar ninguém pela alta letalidade, especialmente em idosos, pessoas com morbidades prévias e inexistência de vacina ou garantia de cura. A resolução do dilema entre o impacto econômico da propagação viral e as medidas drásticas para minimizar mortes foi favorável à saúde. Governos que inicialmente minimizaram a doença, tentaram relativizar, apelaram para o “sempre foi assim” não convenceram. O reconhecimento da ameaça coletiva provocou uma virada radical nas prioridades cotidianas.

Fernando Exman - A quarentena da política externa

- Valor Econômico

Relações com a China enfrentaram momento crítico

À negação sobre a gravidade da pandemia causada pelo novo coronavírus, somou-se a resistência do presidente Jair Bolsonaro em reconhecer a fase crítica em que se encontravam as relações entre o Brasil e a China. No meio diplomático, contudo, não houve autoengano. Até Bolsonaro finalmente conseguir completar a ligação telefônica para Pequim, enfrentávamos um dos pontos mais baixos das relações bilaterais desde que elas foram estabelecidas, em 1974.Isso não é pouco e ambos os lados tinham a perder com um eventual distanciamento.

A China, como se sabe, é o principal parceiro comercial brasileiro, mas há semanas poderia ter ampliado sua atuação para uma área hoje fundamental no enfrentamento da covid-19: a venda de equipamentos e suprimentos médico-hospitalares ao Brasil. Não fosse, claro, a crise provocada por uma publicação nas redes sociais pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) responsabilizando a China pelo avanço do coronavírus.

A mensagem foi rebatida de forma desproporcional pelo embaixador chinês, Yang Wanming, e seguida por uma réplica do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Bolsonaristas reagiram rápido nas redes sociais, alimentando as teorias conspiratórias emanadas pela família presidencial. Felizmente o pragmatismo retornou à mesa, mas ainda é incerto o resultado prático da retomada do diálogo em alto nível.

A insatisfação da chancelaria chinesa com o governo Bolsonaro já havia sido transmitida ao Ministério da Saúde muito antes desse episódio. O objeto do ruído inicial foi o fornecimento de imunoglobulina, substância fundamental para o tratamento de pacientes com deficiência no sistema imunológico. O problema se deu porque autoridades sanitárias estavam pretendendo barrar a exportação desse produto para o Brasil por uma empresa chinesa.

Cristiano Romero - Crise expõe nossas vergonhas

- Valor Econômico

Não há mais tempo de debater se a política pode ser heterodoxa

A taxa de desemprego da Noruega sempre foi um não assunto para quem acompanha o desempenho da economia mundial. Foi assim até ontem, quando ficamos sabendo que a taxa de desempeego do país nórdico chegou a impensáveis 10,9%, a mais alta em 80 anos. A última vez em que o desemprego chegou perto disso na Noruega foi durante a Grande Depressão, na década de 1930, quando o capitalismo sofreu sua primeira crise global.

A notícia de ontem assombrou analistas, investidores e autoridades mundo afora pelas seguintes razões: apenas uma semana atrás, a taxa de desocupação na Noruega estava em 5,3%, menos da metade do que está agora. Ter 5,3% de sua força de trabalho procurando emprego também não é comum naquele país.

A queda acentuada do preço do petróleo, principal produto exportado pela Noruega, já vinha motivando demissões nos dois primeiros meses do ano. Ainda assim, no fim de fevereiro, a taxa de desemprego, que é apurada semanalmente, era de 2,3%, muito provavelmente uma situação de pleno emprego. Portanto, em apenas três semanas, o número de desempregados de um dos países mais ricos do planeta quase quintuplicou.

Ao divulgar os números, a Agência do Trabalho e do Bem-Estar do governo norueguês informou que o Leviatã, a bestafera que emerge das consequências da pandemia do covid-19, o novo coronavírus, varreu o país nórdico nas últimas duas semanas. Nesse período, tudo ou quase tudo fechou no país, principal estratégia que governantes responsáveis têm adotado para conter o avanço do maldito vírus.

A Noruega é o primeiro país a revelar os impactos catastóficos do covid-19 na economia. Os outros virão em angustiante sequência e é impossível prever a dimensão do tombo que todos, obrigatoriamente, tomaremos. "Esta ncrise é muito mais aguda e impactará a todos indistintamente", diz Mário Torós, ex-diretor do Banco Central, hoje sócio da Ibiúna Investimentos. Em 2008, o vendaval que todos julgavam o mais severo desde 1929, ele estava na cabine de comando do BC, tendo enfrentado, inclusive, um ataque especulativo que poderia ter levado nossa moeda à breca.

Nilson Teixeira* - Cenário para 2020 é muito negativo

- Valor Econômico

Os argumentos contrários aos cortes de juros são equivocados

A recessão no Brasil em 2020, associada ao coronavírus, será a mais disseminada da história recente, com enorme impacto no setor de serviços (63% no PIB). O segmento informal será o mais afetado, com forte redução da demanda por vários serviços. As projeções de contração do PIB já divulgadas alcançam até 5% e embutem recuo no 1º semestre e retomada no 2º semestre.

Nesse ambiente, a taxa de desemprego crescerá de 11% em dezembro para mais de 15%. Basta assumir que 20% dos trabalhadores por conta própria, sem CNPJ, perderão sua fonte de renda para se alcançar os 15% - a previsão do Goldman Sachs é de que a taxa de desemprego nos EUA aumente de 3,5% para 9%.

As propostas do governo para combater a crise divulgadas desde a semana passada já alcançam mais de 3,2% do PIB, muitas sem custo fiscal - o valor é inferior aos pacotes da maioria dos países, e.g., EUA (7% do PIB) e Austrália (10% do PIB). O governo ainda anunciará outras propostas, elevando mais o déficit fiscal e a dívida pública. Isso não é um problema, desde que os gastos sejam temporários. Manter a responsabilidade fiscal em 2020 seria equivocado.

Pelo lado da receita, as medidas incluem a postergação do pagamento de impostos e contribuições, bem como o direcionamento pelo BNDES de crédito para empresas com a utilização de fundos do PIS/Pasep e do FAT de R$ 30 bilhões. As medidas são positivas, mas os valores são muito inferiores à necessidade do setor privado.

Elio Gaspari - A Fiesp expôs sua alma

- O Globo / Folha de S. Paulo

Grandes empresários mostraram-se pedestres e pedinchões

Na sexta-feira da semana passada Jair Bolsonaro e três ministros participaram de um evento organizado pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Numa videoconferência de uma hora, falaram 14 grandes empresários ligados à guilda. É um penoso documento histórico e está na rede.

Dez deles gastaram seu tempo com platitudes ou simples bajulações. Alguns disseram o óbvio: há o problema dos transportes, o mercado se contraiu, e as empresas precisam de crédito.

Ofertas concretas e bem-vindas vieram de Jean Jereissati (Ambev) e de David Feffer (Suzano). Um contou que sua fábrica do Rio foi reciclada para produzir álcool que será doado à rede pública. O outro revelou que doará 500 mil máscaras.

A reunião produziu três “Momentos Fiesp”. O primeiro aconteceu depois que Eugênio de Zagottis, falando pelas farmácias, pediu o razoável adiamento da remarcação de preços prevista para a semana que vem: “O Brasil não precisa dessa manchete”.

Deu-se uma saia justa. Carlos Sanchez, representante da indústria farmacêutica, retomou a palavra, dizendo que os aumentos para remédios relacionados com a Covid-19 poderiam ser adiados. Quanto aos demais, só haveria dois caminhos, um dólar de R$ 4 para o seu setor ou uma redução de 5% na margem das farmácias, que deveria ser repassada à sua indústria. A proposta de Zagottis ficou no ar.

Bolsonaro ignora orientação mundial e critica isolamento e escolas fechadas

Para Alcolumbre, fala é ‘grave’. Presidente segue Trump, que propõe reabrir EUA

Daniel Gullino, Naira Trindade e Thais Arbex | O Globo

Em pronunciamento na TV, o presidente Bolsonaro questionou medidas adotadas em todo o mundo contra a pandemia do coronavírus. Propôs reabrir comércio, criticou o fechamento de escolas e o “confinamento

em massa”, condenou ações de governadores para esvaziar as ruas e atacou a imprensa. Para o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, a fala de Bolsonaro é “grave”: “O Brasil precisa de liderança responsável”.

Houve panelaço, o oitavo, em várias cidades. Bolsonaro segue a posição de Donald Trump, que quer ver os EUA abertos após a Páscoa, apesar do alerta da OMS de que o país será o novo epicentro da doença.

Na contramão do mundo Bolsonaro quer fim de confinamento

Na contramão de medidas adotadas globalmente por países e de recomendações de autoridades da área da saúde para combater o novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro fez um pronunciamento ontem à noite em rede nacional de rádio e TV defendendo a reabertura do comércio e das escolas e o fim do “confinamento em massa ”. Retomando o discurso de minimizara pandemia, mesmo diante da expansão dos números de contaminação, ele culpou os meios de comunicação por espalhar “pânico” e criticou autoridades estaduais que adotaram, na sua visão, “o conceito de terra arrasada”.

O pronunciamento provocou repercussão ainda ontem na sociedade e no meio político. Em várias capitais, houve pane laços. Em Brasília, areação começou pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que classificou a fala como “grave” e disse que “a nação espera do líder do Executivo seriedade e responsabilidade ”. Acrítica deBol sonar o às ações dos governadores ocorre emmeio a uma rodada de reuniões virtuais entre ele e os chefes de Executivos estaduais. N amanhã de hoje, ele terá videoconferência com os governadores do Rio, Wilson Witzel, e de São Paulo, João Doria.

— Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento de comércio e o confinamento em massa. O que se passa no mundo tem mostrado que ogru poder iscoéo das pessoas aci made 60 anos. Então, por que fechar escolas? — questionou Bolsonaro.

No mundo, a pandemia já ultrapassou a marca de 420 mil contaminados, com mais de 18 mil mortes.

Bolsonaro voltou a minimizara doença, chamando novamente de “gripezinha”. Citou que ele próprio, que foi atleta, não deveria ter problema para enfrentar uma eventual contaminação.

—Raros são os casos fatais de pessoas sãs com menos de 40 anos deidade. Devemos sim éter extremap reocupação em não transmitir o vírus para os outros, em especial aos nossos queridos pais e avós.

Bolsonaro criticou ainda a cobertura da imprensa, afirmando que veículos de comunicação espalharam “a sensação de pavor” e potencializaram um cenário de “histeria”. Bolsonaro alegou que a imprensa baseou-se no alto número de mortos na Itália para projetar uma situação semelhante no Brasil, mas disse que a comparação não faz sentido porque o país tem mais idosos e um clima diferente.

Bolsonaro contrariou órgãos de saúde e distorceu cenário sobre coronavírus; veja discurso comentado

Em pronunciamento, presidente fez ironia com Drauzio Varella, criticou governadores e disse ter histórico de atleta

Felipe Bächtold | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em pronunciamento na noite desta terça-feira (24), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou o fechamento de escolas e do comércio, contrariou orientações dos órgãos de saúde e atacou governadores.

As declarações imediatamente provocaram repúdio de congressistas, governadores, no Judiciário e em diferentes setores da sociedade.

Em sua fala, Bolsonaro questionou procedimentos que têm sido adotados por todo o mundo, como o fechamento de escolas, e minimizou riscos da doença, como ao sugerir que as medidas de controle se restrinjam apenas aos mais velhos, além de contrariar órgãos de saúde e distorcer o cenário da pandemia.

O número de mortes por causa da Covid-19 subiu para 46 nesta terça-feira (24), segundo o Ministério da Saúde. É o maior salto em um único dia: 12. O primeiro óbito foi registrado no dia 17 deste mês. O país já soma, desde o início da crise do coronavírus, 2.201 confirmações da nova doença.

Em todo o mundo, até agora, são quase 110 mil casos e 19 mil mortes pelo novo coronavírus.

Leia a íntegra comentada do pronunciamento:

Após pronunciamento de Bolsonaro, Alcolumbre cobra liderança 'séria' e Maia fala em 'equívoco'

Fala de presidente também provoca reação de governadores e deputados da oposição, que citam governo sem direção e pedem afastamento de Bolsonaro

Felipe Frazao e Patrik Camporez | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou nesta terça-feira, 24, que o pronunciamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, foi grave e cobrou uma liderança "séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da sua população". Ele se pronunciou em nota divulgada pela assessoria de imprensa. O pronunciamento de Bolsonaro também gerou reações de governadores e deputados da oposição, que falam em governo sem direção e pedem a saída do presidente do cargo.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), considerou "equivocado" o pronunciamento e criticou o fato de Bolsonaro usar a estrutura de transmissão para distribuir ataques. "Desde o início desta crise venho pedindo sensatez, equilíbrio e união. O pronunciamento do presidente foi equivocado ao atacar a imprensa, os governadores e especialistas em saúde pública", escreveu o presidente da Câmara em uma rede social.

Maia reafirmou o compromisso de que o Congresso Nacional vote ações para conter a pandemia e auxiliar empresários e trabalhadores na crise econômica. "Precisamos de paz para vencer este desafio", pediu o deputado. Ele também disse que, em respeito a idosos e pessoas em grupo de risco, os brasileiros devem seguir determinações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, a pandemia exige “solidariedade e co-responsabilidade”. “A experiência internacional e as orientações da Organizaçã Mundial da Saúde (OMS) na luta contra o vírus devem ser rigorosamente seguidas por nós. As agruras da crise, por mais árduas que sejam, não sustentam o luxo da insensatez. Fique em Casa”, escreveu no Twitter.

Logo após o pronunciamento, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), foi ao Twitter dizer que a contraprova do seu resultado para covid-19 deu negativo. Doria cobrou, indiretamente, que outros governantes deem transparência aos resultados de seus exames.

“Além do teste feito no Hospital Albert Einstein, fiz questão de fazer essa contraprova e compartilhar o resultado, seguindo o princípio da transparência e responsabilidade com que estamos enfrentando a pandemia para salvar vidas”, escreveu Doria. Bolsonaro tem negado acesso público aos dois exames que fez para coronavírus e que, segundo diz, deram negativo. No início do mês, ele esteve nos Estados Unidos, com uma comitiva que teve ao menos 23 infectados.

O governador do Rio, Wilson Witzel, também pediu que as pessoas não saiam de casa. "Em tempos de crise e desinformação, reafirmo o mesmo que todas as autoridades de saúde do mundo: fique em casa, lave as mãos e proteja quem você ama.

Pronunciamento de Bolsonaro foi feito com ajuda de Carlos e 'gabinete do ódio'

Cadeia de rádio e TV pegou de surpresa auxiliares do Planalto, que viram retrocesso na posição do presidente; ele vinha dialogando com governadores

Jussara Soares | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro na noite desta terça-feira, 24, pegou de surpresa integrantes do Palácio do Planalto. O discurso, em que pediu o fim do “confinamento em massa” diante da escalada da pandemia do coronavírus, foi preparado no gabinete do presidente com a participação de poucas pessoas e em segredo. O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), considerado o mais radical do clã, participou da elaboração do texto.

Também estavam presentes, segundo o Estado apurou, integrantes do “gabinete do ódio”, onde atuam assessores responsáveis pelas redes sociais pessoais do presidente e ligados a Carlos.

Até o final da tarde, poucos auxiliares sabiam que Bolsonaro preparava uma declaração em cadeia de rádio e televisão. A decisão de falar à nação foi tomada após as reuniões com os governadores do Sul e do Centro-Oeste. A gravação foi feita à tarde.

O presidente vinha sendo elogiado dentro do próprio governo por se abrir ao diálogo com os governadores e sinalizar uma mudança de postura sobre os efeitos da covid-19, que já matou 46 pessoas no país.

O pronunciamento, no entanto, surpreendeu negativamente auxiliares do Planalto que viram um retrocesso na posição de Bolsonaro.

Na fala, o presidente defendeu a reabertura do comércio e das escolas. Segundo ele, a imprensa foi responsável por passar à população uma “sensação de pavor” e potencializou o “cenário de histeria.”

O presidente disse ainda que, caso contraísse o coronavírus, ele não sentiria nenhum efeito por ter "histórico de atleta". Bolsonaro viajou aos Estados Unidos com ao menos 23 pessoas que tiveram diagnóstico positivo para a doença. Há duas semanas, o Estado pede os resultados dos seus exames para covid-19, mas não obtém resposta.

Em carta ao G-20, ONU fala em risco de pandemia "apocalíptica"

Jamil Chade | Colunista do UOL

Numa carta enviada ao presidente Jair Bolsonaro e aos demais líderes do G-20 na segunda-feira (23), o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, apela para que as maiores economias do mundo se unam para dar uma resposta à crise gerada pelo coronavírus e que saiam ao resgate dos países mais pobres do mundo.

Caso contrário, o documento obtido pela coluna alerta para o risco de que o mundo seja atingido por uma "pandemia de proporções apocalípticas".

O G-20 irá manter uma reunião extraordinária nesta semana, ainda que encontros entre ministros tenham demonstrado a dificuldade do grupo em achar um plano comum.

Segundo Guterres, o mundo espera do G-20 "uma ação decisiva". Em sua avaliação, mesmo os países ricos enfrentam desafios e o impacto sócio-econômica será profundo.

O chefe da ONU também fala abertamente em uma recessão e indica que o Covid 19 vai exigir uma "resposta como nunca antes". "Um plano de guerra em termos de crise humana", disse na carta.

Para ele, o G-20 tem a oportunidade de demonstrar "solidariedade" com o mundo, especialmente com os mais vulneráveis.

Guterres divide a resposta em diferentes etapas. A primeira delas é de saúde, com uma cooperação capaz de "suprimir o vírus". Mas, para que isso ocorra, o vírus precisara derrotado em todas as partes do mundo.

Nos últimos dias, o governo americano tem usado o vírus para atacar a China, aprofundando a crise internacional. Para Guterres, o momento é de união e de cooperação para testar pessoas com sintomas e isola-los, fazer avançar a ciência e lidar com restrições de movimentos.

A ONU também pede coordenação para garantir que suprimentos médicos possam continuar a circular pelo mundo, que os governos se comprometam a não barrar a exportação de equipamentos e remédios e que os locais mais necessitados sejam auxiliados. Guterres também defende que países em desenvolvimento tenham acesso a recursos para dar uma resposta aos bilhões de habitantes nessa região do mundo.

"Qualquer coisa que não atenda esse compromisso poderia levar a uma pandemia de proporções apocalípticas afetando a todos nós", escreveu o secretário-geral.

Ele também pede que as sanções impostas sobre países sejam suspensas para permitir o acesso a alimentos e remédios.

Freire condena pronunciamento de Bolsonaro pedindo fim da quarentena

- Portal do Cidadania

Contraria o mundo, a ciência, a Organização Mundial da Saude e o ministro Luis Mandetta, diz

O presidente Nacional do Cidadania, Roberto Freire, afirmou nesta terça-feira (24) que o pronunciamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, na noite de hoje, em rede nacional de rádio e televisão, coloca o Brasil na contramão da ciência e contraria práticas recomendadas pelo próprio ministro da Saude, Luiz Mandetta, e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no combate ao coronavírus.

“Ele atacou as ações de combate à Covid-19 do próprio governo. Contrariou o que defendem outros países, OMS, seu ministro da Saúde, governadores e prefeitos. Brasil não pode conviver com esse conflito e com essa falta de liderança que vai na contramão da ciência”, defendeu.

Freire lembrou que mesmo líderes tidos como de extrema-direta, a exemplo de Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, estão seguindo as recomendações dos órgãos de saúde para não colocar a vida de seus cidadãos em risco.

“Somente hoje, a Índia decretou isolamento para 1 bilhão de cidadãos e Trump [presidente dos Estados Unidos] disse que ouvirá ‘ciência’ antes de encerrar confinamento. A OMS falou em pandemia de ‘proporções apocalípticas’, mas ele contraria a todos e fala em gripezinha, pede crianças de volta à escola e fim do confinamento. Um irresponsável”, apontou.

Por fim, o presidente do Cidadania lembrou que o número de mortes provocadas pelo novo vírus já chega a 46 no Brasil, com mais de 2200 casos confirmados – no mundo, são mais de 18 mil mortos. “Essa contradição é uma das coisas mais perigosas para enfrentar a pandemia. Insiste em ir contradizer a maioria. Falta humanismo e solidariedade”, concluiu.

Veja a mensagem do Twitter
¨”Hoje: Índia decretou isolamento para 1 bilhão de cidadãos; Trump disse que ouvirá “ciência” antes de encerrar confinamento; a OMS falou em pandemia de “proporções apocalípticas”; Bolsonaro contrariou o mundo, falou em gripezinha e pediu fim do confinamento. Um irresponsável.”

Coronavírus: É preciso taxar as grandes fortunas, defende vice-presidente do Cidadania

- Portal do Cidadania

O vice-presidente nacional do Cidadania, deputado federal Rubens Bueno (PR), defendeu, nesta terça-feira (24), que entre as medidas para o levantamento de recursos para o enfrentamento da crise do coronavírus seja regulamentado o imposto sobre grandes fortunas, previsto desde a Constituição de 1998 e até hoje não implantado.

Levantamento divulgado pela Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco), Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip), Auditores Fiscais pela Democracia (AFD) e o Instituto Justiça Fiscal (IJF) aponta que os a implementação desta cobrança poderia gerar um Fundo Nacional de Emergência com pelo menos R$ 100 bilhões para serem usados contra a crise econômica que virá com a crise de saúde pública e da economia.

Rubens Bueno lembra que a medida incluída na carta magna, que previa a melhoria da justiça fiscal e social do país, nunca chegou a ser implementada.

“Há mais de 30 anos aguardamos essa regulamentação e precisamos aproveitar esse período de emergência para resolver de vez essa questão. Entre as medidas anunciadas até agora, só estamos vendo sacrifício da camada mais pobre da população”, ressaltou o deputado.

No Congresso já existem diversos projetos tramitando sobre o tema e, de acordo com o parlamentar, o momento é propício para a equalização das propostas e votação da matéria.

Supersalários
Outra medida defendida pelo vice-presidente nacional do Cidadania é a votação de seu relatório sobre o projeto de lei (PL 6726-2016) que regulamenta o teto salarial no serviço público. “Trata-se de uma proposta que pode gerar uma economia de mais de R$ 4 bilhões por ano para os cofres públicos. Com ela cortamos os supersalários e os penduricalhos que fazem muitos contracheques ultrapassarem o teto constitucional”, afirmou Rubens Bueno, que está debatendo com outros parlamentares a pauta da Câmara para as próximas semanas.

O que a mídia pensa - Editoriais

Bolsonaro minimiza epidemia e põe Brasil em risco – Editorial | O Globo

O erro de desconsiderar a pandemia leva presidente a ficar na contramão da Ciência e do país

O estilo errático do presidente provoca idas e vindas em ações que precisam ser urgentes, devido ao tamanho de uma crise que já paralisa a economia. É exemplar a edição da MP dos contratos de trabalho, que desconhecia a existência dos empregados, devidamente revogada. Sequer deveria ter sido assinada. Ida e vinda desnecessárias.

Outro temerário costume do presidente — o de fazer política pelo enfrentamento, política de combate — é muito prejudicial à população e a ele mesmo. Espera-se que tenha ouvido o barulho dos panelaços, replay dos ocorridos em 2016 na fase de agravamento da crise cujo desfecho foi a aprovação do impeachment de Dilma pelo Congresso. Inclusive o de ontem à noite, enquanto, em rede nacional, voltava a defender a delirante tese de que a Covid-19 só é perigosa para idosos, sendo inofensiva para o resto da população.

Poesia | Vinicius de Moraes - Poema dos olhos da amada

Ó minha amada
Que olhos os teus

São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe nos breus…

Ó minha amada
Que olhos os teus

Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus…

Ó minha amada
Que olhos os teus

Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas eras
Nos olhos teus.

Ah, minha amada
De olhos ateus

Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.