sábado, 4 de abril de 2020

Opinião do dia – Montesquieu* (igualdadade)

O amor pela república, numa democracia, é o amor pela democracia; o amor pela democracia é o amor pela igualdade.

O amor pela democracia é também o amor pela frugalidade.

Nesse regime, devendo todos gozar da mesma felicidade e das mesmas regalias, devem fruir dos mesmos prazeres e acalentar as mesmas esperanças, coisa que só se pode esperar da frugalidade geral.

O amor pela igualdade, numa democracia, limita a ambição unicamente ao desejo, à felicidade prestar à sua pátria serviços maiores que os outros cidadãos. Todos não podem prestar-lhe serviços iguais; mas todos devem igualmente prestar-lhos. Ao nascer contraímos para com ela uma imensa divida da qual nunca podemos desobrigar-nos.

Assim, nas democracias, as distinções nascem do princípio da igualdade, mesmo quando essa parece destruída por serviços excepcionais ou por talentos superiores.

*Montesquieu (1689-1755), foi um político, filósofo e escritor francês. Ficou famoso pela sua teoria da separação dos poderes, atualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais; ‘Do Espírito das Leis’ p. 84. Editora Nova Cultura, 2005 (tradução de Fernando Henrique Cardoso e Leôncio Marins Rodrigues

Merval Pereira - Estado inteligente

- O Globo

Países poderosos e vulneráveis se deram conta de que dependem muito mais da China do que é desejável

Parece haver consenso em torno da ideia de que o mundo será outro depois da crise do Covid-19, não apenas porque a humanidade deu-se conta de sua fragilidade, e da necessidade de solidariedade nas relações sociais, como os problemas sociais, em maior ou menor escala, foram escancarados.

O capitalismo terá que rever conceitos, em busca de uma economia mais sustentável e menos desigual. E mesmo as relações internacionais serão alteradas, pois o mundo de repente despertou para uma realidade preocupante: a China produz 90% dos equipamentos de saúde, criando um mercado internacional selvagem de compra de produtos essenciais (máscaras, ventiladores) em que o peso do dinheiro vale mais que vidas humanas em países periféricos como o Brasil. Coisa parecida acontece em outros setores.

Os países, dos mais poderosos como os Estados Unidos, aos mais vulneráveis, se deram conta de que dependem muito mais da China do que é desejável, e terão que mudar suas relações geopolíticas, cuidando de setores essenciais, não apenas a saúde, mas também estratégicos como a Defesa, o Meio-Ambiente, a agricultura.

Ciência e Tecnologia tiveram suas importâncias realçadas durante a crise, e a reação do presidente Bolsonaro às advertências dos cientistas, tentando confrontar a doença primeiro com negacionismo, depois com orações e jejuns, mostra bem como estamos ameaçados de um retrocesso profundo em um setor que merece muito mais importância do que recebe e precisa.

Ascânio Seleme - Uma geração traumatizada

- O Globo

Minhas duas filhas mais novas nasceram em 1995 e 1998 e cresceram numa casa mais ou menos tranquila de classe média. Mas, desde que começaram a entender a vida, o mundo e o Brasil, se depararam com uma série de crises de diversas naturezas que deve moldar seus caráteres por toda a vida. Clara tinha três anos e Laura seis quando o maior atentado terrorista da História colocou no chão os dois prédios do World Trade Center, em Nova York, atingiu outros alvos nos Estados Unidos e mudou a História do planeta.

O que se seguiu foram anos de guerra transmitida ao vivo pela televisão. As meninas acompanharam, mesmo que a certa distância emocional, os bombardeios e invasão americana ao Afeganistão e ao Iraque. Mas logo começaram a ver as explosões e as fuzilarias que transformaram cidades em alvos de ataques sangrentos do terror. Abismadas como todo mundo, assistiram aos atentados em Londres e Paris e passaram a ter medo de viajar.

Ainda na primeira década dos anos 2000, um abalo sísmico na credibilidade da economia americana produziu a maior crise econômica global desde o “Crack da Bolsa” de 1929. Embora à época as duas não tenham entendido direito a extensão do terremoto, por serem muito jovens, com tempo e estudo passaram a internalizar também aquela mega crise e seus desdobramentos sobre todos os países e todos os setores da economia.

Enquanto o mundo se debatia com seus superproblemas, no Brasil as jovens viam se desenrolar sob os seus olhos um escândalo de corrupção que alcançava uma figura icônica da política nacional. O mensalão do primeiro governo Lula não permitiu que crescesse em muitos meninos daqueles dias a esperança numa alternativa de esquerda. Logo neles, que por natureza devem nascer contestadores. Porque, você sabe, as pessoas nascem revolucionárias e envelhecem conservadoras.

Logo em seguida, as duas garotas viram que o mensalão não foi apenas um desvio momentâneo. Desvendou-se então o maior escândalo de corrupção da História do país: o petrolão, que nasceu sob Lula e cresceu sob Dilma. Foi uma avalanche. O caso era tão sério que alcançou todas as esferas da política nacional. Foi para a cadeia todo tipo de gente. Um ex-presidente, governadores, prefeitos, senadores, deputados e empresários. Elas ouviram e gritaram “Fora, Cunha!”, e viram o ex-presidente da Câmara ser cassado e depois preso. E mais adiante viram um impeachment de presidente.

Não bastasse isso, acompanharam a um outro grande escândalo no governo Temer e, em seguida, viram a eleição de um presidente de extrema direita, reconhecido no mundo inteiro como racista, homofóbico e misógino. Sob Bolsonaro, elas e todos os jovens de 20 e poucos anos assistem apavorados ao festival diário das bobagens produzidas pelo presidente. Muitas delas apenas tolas, outras graves, e algumas gravíssimas.

Míriam Leitão - Economia revolvida

- O Globo

Economias de todo o mundo estão sendo reviradas pela crise. No Brasil, a falta de um líder provoca ruídos e aumenta a desconfiança

A economia virou uma grande mesa de negociação entre as partes dos contratos. Lojistas de shoppings fechados há 10 dias negociam com os administradores o não pagamento de taxas, inquilinos avisam aos proprietários que é preciso reduzir aluguéis, lobbies vão a Brasília e entram indevidamente em Medidas Provisórias que tratam de questões urgentes, devedores avisam que não pagarão suas contas, e bancos elevam juros em tempos de maior liquidez. E o dólar só sobe, alterando custos. Economistas de bancos e consultorias refazem cada vez para pior o número do PIB de 2020, o ano que não se sabe como vai terminar.

Glauco Humai, presidente da Abrasce, que representa os shoppings centers, vive uma situação inédita. Os 577 shoppings estão 100% fechados, todos os do Brasil. Ele nem defende a reabertura, porque em contato com os administradores em outros países ouviu que mesmo após a normalização as pessoas não vão. Estão receosas. O consumo de certos itens despenca, de outros, dispara. Combustíveis caíram 60%. Vestuários tiveram recuo de 90% pelo cartão de crédito. Já a compra de alimentos e de remédios cresceu. A BRF viu as vendas para restaurantes despencar e para supermercados crescer. Humai se preocupa é com os projetos estranhos que começam a ser pendurados nas propostas que tramitam em regime de urgência no Congresso:

Ricardo Noblat - Está por um fio a convivência de Bolsonaro com Mandetta

- Blog do Noblat | Veja

Um manda, o outro não obedece

Quem um dia imaginou ver um ministro ameaçado de demissão por excesso de apoio popular; um presidente da República que governa orientado pelos filhos e divulga vídeos falsos; e um país às vésperas de um ataque de nervos ao pressentir que logo atravessará um dos períodos mais sombrios de sua história…

O presidente Jair Bolsonaro não seria culpado pela recessão econômica que virá, o aumento do desemprego, o buraco nas contas públicas se tivesse se comportado à altura do cargo. Como não se comportou, toda a desgraça provocada pelo vírus lhe será atribuída – e, em boa parte com razão.

A situação do ministro Mandetta, da Saúde é inversa. Se a desgraça produzida pelo vírus for pequena, mérito dele. Se for grande, não teve culpa. Como poderia se sair melhor sem meios para isso e sabotado o tempo todo pelo presidente da República? Mandetta irá para o céu. O destino de Bolsonaro será outro.

Que governo esquisito, esse. Tem três ministros indemissíveis no momento – Mandetta, Sérgio Moro, da Justiça e da Segurança Pública, e Paulo Guedes, da Economia, o ex-Posto Ipiranga que sofreu um apagão, mas que ainda está aí, embora parecendo perdido. E um presidente perfeitamente demissível.

Mal militar no passado quando foi expurgado do Exército por indisciplina e conduta antiética, tornou-se o pior presidente da história recente do país com o apoio das Forças Armadas. Para Bolsonaro, isso não fará a menor diferença. Ele quer é rosetar. Mas para a imagem das Forças Armadas será um desastre.

Miguel Reale Júnior* - O universo paralelo

- O Estado de S.Paulo

Importante é todos se unirem na luta contra a pandemia, nos planos da saúde e da economia

Em 30 de janeiro a OMS decretou Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional. Em 24 de fevereiro recomendou o isolamento. Em 11 de março decretou a pandemia, declarando o seu diretor Ghebreyesus: “Reduzam o ciclo de transmissão, adotem ações para conter a disseminação”.

Em conferência virtual de 25 de março, a OMS defendeu a tese de que a última coisa a ser adotada deveria ser a abertura de escolas. O diretor da OMS, em 26 de março, reafirmou perante os líderes mundiais na reunião do G-20, da qual participou Bolsonaro, que o único caminho para proteger a vida e a economia é parar o vírus, com restrições drásticas nas escolas e nos negócios, pedindo ao povo que fique em casa.

A OMS não deixou de atentar para a questão social em face do isolamento, sensível à situação terrível dos países em sua economia. Mas alertava ter-se de focar primeiro em parar a doença e salvar vidas. Esse trecho da prioridade à saúde, mencionado pelo diretor da OMS, foi, contudo, distorcido pelo nosso presidente, a pretexto de dizer que a OMS seguia Bolsonaro. A OMS respondeu realçando de novo a importância do isolamento social.

No Brasil, já em 3 de fevereiro, pela Portaria n.º 188, o Ministério da Saúde declarou Emergência de Saúde Pública, planejando articulação com gestores estaduais e municipais. A toque de caixa, o Congresso Nacional editou a Lei n.º 13.979, de 6 de fevereiro, dispondo sobre medidas para o enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus. No seu artigo 3.º se determina a adoção de medidas como isolamento e quarentena, que poderão ser impostas, segundo o § 7.º do artigo 3.º, pelos gestores de saúde locais autorizados pelo Ministério da Saúde, resguardando-se serviços essenciais.

Bolívar Lamounier* - Pandemia e pandemônio

- O Estado de S.Paulo

Regime totalitário da China e desacertos de Trump e Bolsonaro agravaram a situação

Sobre a pandemia que o mundo está vivenciando dúvidas não faltam, mas podemos tranquilamente afirmar que a dimensão que ela alcançou se deve a uma combinação de fatores epidemiológicos e políticos.

Embora pouco protocolar, fez bem o embaixador chinês em Brasília em repreender um parlamentar que se referira ao coronavírus como o “vírus chinês”. De fato, a expressão do referido parlamentar foi infeliz e poderia alimentar a absurda teoria de que a China propositalmente criara e facilitara a propagação do vírus. É, porém, inegável que a China não alertou o mundo no devido tempo. Em meados de novembro do ano passado, a situação na cidade de Wuhan (situada na província de Hubei) já era crítica e o governo central chinês não se empenhou em prestar esclarecimentos ao mundo, de forma solene e oficial, como conviria a um país com as responsabilidades internacionais da China. Com certeza informou à Organização Mundial da Saúde (OMS), em data que desconheço.

Há quem pense que os chineses demoraram a prestar informações à comunidade internacional porque, nas primeiras semanas, nada sabiam, portanto, nada tinham para informar. Começaram a procurar uma vacina, mas tardaram a entender que o vírus sofrera uma mutação, era, portanto, algo novo, e então passaram a interagir com cientistas e médicos de outros países, facilitando o acesso deles aos dados que possuíam.

Adriana Fernandes - Ruptura federativa

- O Estado de S. Paulo

Estados e municípios dependem mais do que nunca da União; a falta de uma coordenação nacional pode custar caro

A polêmica fala do presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, conclamando para que brasileiros “caiam na real”, recheada de críticas à atuação dos governadores e prefeitos no enfrentamento da covid-19, diz muito sobre o delicado momento das relações federativas no País e o que está por trás das ações (e inações) do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Sem meias palavras, Novaes acusou Estados e prefeitos de impediram a atividade econômica oferecendo, em troca, “esmolas” com o dinheiro alheio. “Esmolas atenuam o problema, mas não o resolvem. E pessoas querem viver de seu esforço próprio. Depois que se monta um grande Estado assistencialista fica difícil desmontá-lo”, disparou Novaes em conversa com o Estado.

As declarações geraram uma reação imediata do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, (DEM-RJ), com réplica seguida de tréplica. Novaes expôs em praça pública o que pensa o seu chefe direto, o ministro Paulo Guedes.

A verdade é que Moraes verbalizou o que pensa não só o presidente, mas o comando do Ministério da Economia. Por isso, não recebeu nenhum tipo de reprimenda do chefe diante do desgaste com Congresso e governadores.

Hélio Schwartsman - Bolsonaro virou o bobo da corte

- Folha de S. Paulo

A piada em que Bolsonaro se transformou poderá custar vidas

Jair Messias Bolsonaro tornou-se um bobo da corte, com uma diferença importante: bobos da corte costumavam dizer verdades.

Os sinais de que o presidente da República deixou de ser levado a sério são numerosos e inequívocos. Prefeitos e governadores, alguns dos quais eleitos na mesma onda conservadora que impulsionou Bolsonaro, fazem exatamente o contrário do que ele recomenda —e não hesitam em explicitar isso.

Até ministros de Estado, que foram por ele escolhidos e são demissíveis "ad nutum", se articulam para fazer o by-pass do chefe. Além de Mandetta, Moro e Guedes já disseram, ainda que tentando esboçar alguma diplomacia, que apoiam as medidas de isolamento social que Bolsonaro renega. Há notícias de que o núcleo militar tenta enquadrá-lo, mas a persuasão, quando surte efeito, é transitória. Só dura até a próxima declaração ou postagem, quase sempre uma combinação de mentiras com delírios.

É bastante sintomático que empresas de mídia social como Twitter e Instagram tenham decidido censurar manifestações de Bolsonaro, por julgar que se tratam de falsidades que colocam pessoas em risco.

Julianna Sofia – Demora colossal

- Folha de S. Paulo

Ministro resistiu o quanto pôde a medidas de enfrentamento da Covid-19

A atonia da equipe econômica em destravar o auxílio emergencial de R$ 600 aos informais tornou-se objeto de reações vocalizadas por autoridades do Congresso, do STF e do TCU, por uma ala expressiva do mundo político e econômico e, nos bastidores, até por gente do governo.

Os dados do Datafolha desta sexta-feira (3) são reveladores de como também bateu na população a demora do Ministério da Economia em responder, entre outras situações, à deplorável condição que enfrentam 54 milhões de brasileiros —segundo cálculos oficiais. A avaliação da pasta na crise é reprovada por 20% dos ouvidos e considerada regular por 38%. Para 37%, a atuação é boa/ótima.

Paulo Guedes entrou em negação e resistiu o quanto pôde a medidas de enfrentamento do tsunami provocado pelo coronavírus. À Folha, em 15 de março, declarou que poucos dias antes fora surpreendido por um estudo do Banco Central indicando que a velocidade de contágio do vírus no Brasil seria maior do que a da Itália. Até então, não tinha um plano e previa que, se a pandemia fosse severa, ainda assim o PIB poderia crescer 1% no ano. Estamos oficialmente em 0,2% e ladeira abaixo.

Alvaro Costa e Silva - No pódio dos negacionistas

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro queria ser Viktor Orbán, que se aproveitou da pandemia para governar por decreto

É briga de cachorro grande, mas Bolsonaro sempre dá seu jeito. No momento, ele está disputando cabeça a cabeça com outros folclóricos e autoritários líderes mundiais para saber quem assume o lugar mais alto no pódio dos negacionistas.

Em matéria de desprezar a gravidade da pandemia, o ditador do Turcomenistão, Gurbanguly Berdymukhamedov, por enquanto está na frente: proibiu o uso da palavra coronavírus —atitude bem mais eficiente, convenhamos, do que se referir a ele como gripezinha ou resfriadinho. No páreo, seguem o chefe de Estado da Belarus, Aleksandr Lukashenko, que indicou beber vodca como hábito eficaz no combate à doença, e o ex-guerrilheiro Daniel Ortega, da Nicarágua, que convocou a população para participar da marcha "Amor nos Tempos da Covid-19".

No fundo, Bolsonaro queria ser Viktor Orbán. Beneficiando-se da crise, o premiê da Hungria conseguiu aprovar uma lei que lhe dá o direito de governar por decretos por tempo ilimitado e impor mordaças à mídia e à oposição.

Demétrio Magnoli* – A mentira, nos EUA e na China

- Folha de S. Paulo

Trump mente ininterruptamente; já o regime de Xi Jinping fabrica 'verdade' paralela da pandemia

“Na guerra, a primeira vítima é a verdade.” Essa verdade célebre, cuja autoria atribui-se tanto ao senador americano isolacionista Hiram Johnson (1918) quanto ao grego Ésquilo, o pai da tragédia, no século 5º a.C., vale também para a Peste Negra em curso. Mas as mentiras são diferentes: nos EUA, luzem sob o sol; na China, seguem escondidas abaixo da superfície.

Donald Trump mentiu ininterruptamente, retardando a preparação dos EUA para enfrentar a pandemia.

No fim de janeiro, disse à rede CNBC: “Temos isso sob controle total. É uma pessoa vinda da China, e a temos sob absoluto controle”. No início de fevereiro, gabou-se na Fox News: “Nós basicamente desligamos isso, que vinha da China”.

No final de fevereiro, garantiu que “isso é mais ou menos como a gripe; logo teremos uma vacina” e, referindo-se ao número de infecções, acrescentou: “Vamos substancialmente para baixo, não para cima”. Os EUA tinham, então, 68 casos; hoje, são 240 mil.

No meio de março, quando finalmente admitiu que o vírus “é muito contagioso”, ainda adicionou: “Mas temos tremendo controle sobre isso”.

A mentira trumpiana é uma narrativa política em constante mutação. Apoia-se nas muletas dos “jornalistas” chapa-branca e do aparato de difusão de fake news da direita nacionalista nas redes sociais.

Marcus Pestana - Depois da tempestade virá a bonança?

O texto bíblico está dito: “depois da tempestade vem a bonança”. Mas não é sequência automática. Depende de como cada um vivencia os momentos de sofrimento, do aprendizado que cada um faz e da mudança de atitude posterior aos tempos de angústia.

O mundo inteiro está mergulhado em momento desafiador. A presente crise promove a combinação perversa entre a violenta pandemia e o fantasma de uma crise econômica inédita e devastadora.

O vírus, além de seu efeito voraz sobre vidas humanas, produz uma lição de humildade aos governantes. O quanto ilusório é o poder? Seu alcance pretensamente ilimitado esbarra, às vezes, quase na impotência. Até os mais autoritários líderes mundiais dobraram o joelho. Recomendo o filme “FLU”, na Netflix, do diretor sul-coreano Bong Joon-ho – ganhador do Oscar: uma reflexão, no ambiente de uma epidemia, sobre como, em situações limites e radicais, decisões políticas dramáticas podem salvar ou sacrificar vidas.

Quem sabe as crises e não a violência sejam as parteiras da história? Em linguagem corrente: “como fazer do limão a limonada”? A meu juízo, tudo vai depender do aprendizado pessoal, familiar e social que construirmos.

Entrevista | FHC Critica visão "Tosca" de Bolsonaro da presidência

Veja o vídeo abaixo, a entrevista na íntegra

Tales de Faria | Uol

O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso afirmou hoje, em entrevista para o colunista Tales Faria, do UOL, que falta capacidade de liderança ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no momento em que o Brasil enfrenta a crise mundial da pandemia do coronavírus.

"Liderar um país não é dar ordens ao país, é fazer com que as pessoas sigam junto com você", disse FHC.

"Não é uma gripezinha, tem que dizer a verdade", ele afirma.

No entanto, FHC se mostrou cauteloso ao comentar a possibilidade da abertura de um processo de impeachment.

"Eu sempre fui muito cuidadoso em matérias de tirar quem teve o voto. É uma situação delicada. Eu acho que no caso atual, não é de se buscar motivos para criminalizar. Eu não sei se ele ouve as pessoas, se ele tem essa abertura. Eu sou institucional, enquanto ele for presidente ele é o presidente. E se sair tem que ver o vice. Não sei se já chegou o momento para isso", disse.

Para o ex-presidente, o importante agora é que Bolsonaro acalme o povo. Mas ele não se furtou a comentar a possibilidade de uma renúncia.

"Importante seria que o Bolsonaro entendesse o papel dele e acalmasse o povo. Eu acho que [uma renúncia] vai complicar mais ainda um quadro já muito difícil. Quando você renuncia? Quando não tem mais condições de governar. Não acho que seja o caso. Mas sou realista, se tiver um momento que chegar, ele pode renunciar, aí o vice assume", afirmou.

"Se ele perder a condição de governar, o que se vai fazer? Muda" diz FHC.

O ex-presidente elogiou o vice-presidente Hamilton Mourão e disse defender a postura "institucional" de que na ausência do presidente, quem deve assumir é seu vice.

"Eu sou institucional. Enquanto ele for o presidente, ele é o presidente. Se houver uma situação em que ele perca as condições de governar, vamos ver o que acontece", disse FHC.

"E a meu ver, tem que ser o vice-presidente. Goste ou não goste. Até tenho uma simpatia pelo vice-presidente. O conheci em Harvard, ele é uma pessoa normal. É melhor ter alguém normal no comando do que alguém que a toda hora perde a rédea", ele afirmou.

O que a mídia pensa – Editoriais

Sabotagem – Editorial | O Estado de S. Paulo

Bolsonaro decidiu desmoralizar publicamente seu ministro da Saúde porque sua única preocupação é consigo mesmo e com a manutenção de seu poder

Em meio a uma das maiores crises sanitárias da história, o presidente Jair Bolsonaro decidiu desmoralizar publicamente seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, principal autoridade federal responsável pela organização dos esforços para combater a epidemia de covid-19. E o fez porque sua única preocupação é consigo mesmo e com a manutenção de seu poder e de seu capital eleitoral, que julga ameaçado por todos os que não o adulam, como é o caso do ministro Mandetta.

Para os que ainda julgavam possível que Bolsonaro, ante a gravidade da crise, enfim tomasse consciência de seu papel e passasse a atuar como chefe de Estado, e não como chefe de bando, deve ter ficado claro de vez que o ex-deputado do baixo clero jamais será o estadista de que o País precisa. Bolsonaro, definitivamente, não é reciclável.

Em entrevista à Rádio Jovem Pan, Bolsonaro disse que o ministro Mandetta “em algum momento extrapolou”, que “tem que ouvir um pouco mais o presidente da República” e que “está faltando humildade” ao ministro da Saúde. De fato, e felizmente, o ministro da Saúde e sua equipe têm rejeitado os devaneios do presidente a respeito da possibilidade de levantar imediatamente as medidas de isolamento social para enfrentar a epidemia. Se dependesse de Bolsonaro, os brasileiros estariam todos amontoados nas ruas e nos escritórios a trabalhar como se não houvesse um vírus letal a se espalhar em espantosa velocidade e a provocar o caos no sistema de saúde.

Poesia | Vinicius de Moraes - O verbo no infinito

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito…