sexta-feira, 15 de maio de 2020

Ricardo Noblat - Um dia de fúria na vida do ex-capitão contaminado pelo medo

- Blog do Noblat | Veja

Um presidente acuado
No papel de presidente do sexto país do mundo com o maior número de vítimas do Covid-19, o ex-capitão Jair Bolsonaro, afastado do Exército porque planejou detonar bombas em quartéis, viveu 24 horas de fúria sem que ninguém ao seu lado tentasse contê-lo.

Naturalmente não foi a primeira vez e nem será a última. Mas desta vez tinha razões de sobra para se comportar assim. Quantas vezes já não se disse que o cerco se fecha em torno dele e que seu mandato corre risco? Ninguém melhor do que Bolsonaro sabe e sente.

Daí as reações desatinadas que indicam a medida do desespero que toma conta dele. Uma coisa é Bolsonaro disparar para todos os lados a cada momento. É seu instinto assassino. Não sabe viver em paz. Foi treinado para matar, mas nunca lutou uma guerra de verdade.

Outra coisa é atirar em tudo que se mexa à sua frente porque está com medo do que possa acontecer amanhã ou daqui a pouco. Bolsonaro testou positivo para o vírus da crise política desatada com a saída do governo do ex-ministro Sérgio Moro. O hospedeiro do vírus é ele.

Fernando Gabeira - A vida numa ‘live’ sobre coronavírus

- O Estado de S.Paulo

Política de negação da extrema direita encontrou no Brasil sua face mais rude

Nem sempre tenho chance de falar sobre tudo isso que está acontecendo. Quero dizer, limito-me a comentar todos os dias apenas alguns aspectos de uma realidade que me desafia, ou, se quiserem, me atropela.

Nesta semana tive a chance de conversar com o embaixador Marcos Azambuja, num encontro promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais. Além da amizade, partilhamos um certo senso de humor, que sobrevive mesmo nestas horas sombrias.

Trabalho com a questão ambiental desde a década de 1970. Sei que as pessoas têm certa dificuldade em reconhecer um perigo invisível. Foi assim no desastre de Chernobyl. Muitos europeus não acreditavam que o próprio leite que consumiam poderia estar contaminado. Em Goiânia não era tanto a invisibilidade, mas a sedução de uma pedra brilhante (césio-137) que enganava as pessoas na Rua 57.

Com Chernobyl acentuou-se o declínio das classes dirigentes soviéticas. A epidemia de coronavírus não trouxe desgaste do mesmo nível para o PC chinês. Há um vácuo da presença americana, uma vez que o país abandonou suas pretensões de liderança e refugiou-se no lema America first. Coube a uma potência média, a Austrália, com apenas 25 milhões de habitantes, lançar uma iniciativa internacional para apurar a responsabilidade da China.

Eliane Cantanhêde - A fila anda

- O Estado de S.Paulo

Bolsonaro tem crise de abstinência quando não persegue alguém. Vítima da vez é Nelson Teich

“Tratar isso como não essenci..., como... como não essen... como essencial é um passo inicial. Foi decisão do presidente... que decidiu isso aí. Saiu hoje isso? Manicure, academia... barbearia? Não... Isso aí... não é atribuição nossa.”

Foi assim, pego de surpresa, balbuciando, que Nelson Teich, ministro da Saúde, médico oncologista respeitado, com especialização em gestão em saúde, descobriu numa entrevista coletiva que não apenas não manda nada como passou a ser o novo saco de pancadas do presidente Jair Bolsonaro no governo.

Mal acabou de demitir Luiz Henrique Mandetta e de empurrar porta afora o “superministro” Sérgio Moro, o presidente já passou a desautorizar ninguém menos que o novo ministro da Saúde, justamente em meio à pandemia e com o número de mortos chegando a mil por dia. Por dia!

O enredo é bem conhecido. Primeiro, o presidente dá bronca no ministro ou auxiliar em entrevistas. Depois vai minando a autonomia e a autoestima da vítima. Por fim, demite ou pressiona para a demissão. No script, falas recheadas de autoafirmação: “Eu sou o presidente, pô!”, “eu que fui eleito”, “Eu nomeio, todos têm de ser afinados comigo”, “Quem manda sou eu. Ou vou ser um presidente banana?”.

Ascânio Seleme - Ida de Maia ao Palácio do Planalto foi emboscada de ingênuo

- O Globo

Presidente da Câmara se reuniu brevemente com Bolsonaro nesta quinta-feira

Atender um convite para um café do presidente, tudo bem. Poderia até agradecer e enrolar, mas aceitar demonstra boa educação. E, depois, como se viu, foi uma emboscada difícil de escapar. Agora, sair e dar uma entrevista como se estivesse tudo normal é um pouco demais. Rodrigo Maia deixou o gabinete de Bolsonaro falando em construir os caminhos para o Brasil sair da crise. Falou em diálogo, de reformas e do Enem, como se o interlocutor que o recebeu momentos antes fosse dado a debater qualquer coisa.

Maia tem memória curtíssima. Esqueceu o apoio de Bolsonaro aos milicianos que pregam intervenção militar, fechamento do Supremo e do Congresso e a prisão dele e de seu colega Davi Alcolumbre. Disse que seu papel é o de construir pontes. Só se forem pontes para o abismo. Mesmo tendo sido objeto de uma armadilha, ele não podia ter facilitado tanto as coisas para Bolsonaro. Rodrigo Maia está perdendo o seu protagonismo e se sente de certa forma enfraquecido. Por isso falou ao sair do gabinete. Devia ter ficado calado, ou denunciado a emboscada.

E Bolsonaro jogou bem politicamente. Ele engessou o presidente da Câmara, que é o único com poder de aceitar e dar encaminhamento a qualquer pedido de impeachment do presidente da República. Se conseguir segurar Maia por mais uns dois meses, ganha tempo importante para tentar construir junto com o Centrão uma nova liderança parlamentar capaz de pulverizar o protagonismo de Rodrigo Maia e alicerçar uma candidatura para a sua substituição na presidência da Câmara.

Ingênuo, Maia perdeu pontos importantes. Bolsonaro ganhou essa.

Míriam Leitão - Um dia na vida de Bolsonaro

- O Globo

Em reunião com empresários, Bolsonaro tenta atraí-los contra Dória. “É guerra.” Depois ataca Maia. Ele, o suposto gestor da crise

Basta um dia. Um dia é o suficiente para saber que o presidente Jair Bolsonaro é incapaz de gerir a crise dramática que o país vive. De manhã, ele vociferou contra os governadores, logo ao sair do Palácio. Depois, numa teleconferência, aos brados, convocou os empresários a atacarem o governador de São Paulo por manter o isolamento social. “É guerra”, ele diz. Acusou o presidente da Câmara de querer “afundar a economia para ferrar o governo”. O ministro da Economia, Paulo Guedes, reforçou o chefe e pediu que os empresários, “financiadores de campanha dos políticos”, os pressionem. Por fim, baixou uma estranha Medida Provisória que isenta de culpa os agentes públicos nesta pandemia.

– Vai morrer? Lamento, lamento. Mas vai morrer muito, mas muito mais se a economia continuar sendo destroçada por essas medidas (dos governadores) – disse ele logo de manhã.

O lamento dele não tem lamento. Não fala a palavra como quem a sente, o tom é aquele de sempre, voz alterada, como um capitão corrigindo recrutas. Sinceramente é difícil entender – psicólogos devem ser capazes de diagnosticar – uma fala assim sempre colérica. Não há um momento em que o presidente Jair Bolsonaro tenha um tom natural. Ele sempre lança as palavras como quem está atacando o interlocutor:

– O Brasil está quebrando. Vamos ser fadados a ser um país de miseráveis, como tem países da África subsaariana, temos que ter coragem de enfrentar o vírus – disse ainda na fala da manhã, em que avisou aos repórteres que só falaria se houvesse perguntas pertinentes.

Rogério L. Furquim Werneck* - O jogo do impeachment

- O Estado de S.Paulo / O Globo

Em que medida ele estreita as possibilidades de atuação eficaz no combate à pandemia e a seus desdobramentos?

Salta aos olhos que, se continuar isolado, fragilizado e acuado como está, o presidente estará fadado a enfrentar dificuldades redobradas para lidar com a pandemia e seus complexos desdobramentos socioeconômicos. Não surpreende que Bolsonaro insista em reservar posição para poder alegar inocência quando a conta desses desdobramentos chegar. Mas, se as notícias sobre a letalidade da pandemia continuarem tão alarmantes como se teme, é bem possível que o seguro que Bolsonaro vem tentando fazer, na esperança de que o custo político da recessão possa recair sobre governadores e prefeitos, acabe se revelando proibitivamente caro.

É natural que a popularidade do presidente esteja caindo, na esteira das suas dificuldades com a pandemia e a crise econômica. O problema é que, tendo aberto uma terceira frente, ao desencadear crise política tão grave, Bolsonaro se viu agora exposto a risco crescente de impeachment. O que torna o quadro ainda mais intrincado é a forma peculiar com que Bolsonaro vem reagindo à elevação desse risco. Em contraste com o ex-presidente Temer, que, a partir do episódio do porão do Jaburu, passou a pautar cada movimento seu pelo objetivo de minimizar o risco de impeachment, Bolsonaro tem se permitido reações que, muito ao contrário, parecem exacerbar tal risco e chegam até a dar margem a novas razões para impeachment.

Nelson Motta - Beijos e abraços

- O Globo

Pior era o cheiro dos pés depois de vários dias presos em botas

Com saudades de beijos e abraços? Já foi pior. A historiadora Mary Del Priore conta que antigamente, e até os anos 1940, beijos na boca e abraços aconteciam mais na ficção do que na real, mais por motivos higiênicos do que morais. O desodorante só foi lançado em 1941. No século 19, na Europa, o banho era raro, contentavam-se em esfregar o corpo com colônia e criar uma mistura nauseante de cê-cê e perfume. Pior era o cheiro dos pés depois de um dia, de vários dias, presos em botas fechadas, sem banho.

Sem dentistas, sem escovas de dentes, sem pastas, sem flúor, nem os mais belos príncipes e princesas deixariam de exalar um bafo de onça quando abrissem suas lindas bocas de dentes cariados. Para beijá-las, seria preciso não respirar pelo nariz.

Flávia Oliveira - Aos 60 anos, atualíssimo

- O Globo

Folhear ‘Quarto de despejo’ no Brasil do coronavírus é um espanto

‘Quarto de despejo está aí”. A frase breve de Conceição Evaristo, escritora, professora, referência para mulheres negras brasileiras de todas as idades, resume a relevância da obra de estreia de Carolina Maria de Jesus, cujo lançamento completa 60 anos neste 2020. Sexagenário, se rejuvenesce. É livro mais atual que nunca, porque retrata um país incapaz de escapar do círculo vicioso da vulnerabilidade social. A escrita em primeira pessoa, na forma de diário em linguagem crua, denuncia a fome, o trabalho precário, o desemprego, a escassez de serviços e assistência a que favelados brasileiros, como foi Carolina, estiveram submetidos historicamente. E estão ainda hoje, com a sobreposição de crises (sanitária, social, econômica) decorrentes da pandemia de Covid-19.

Conceição Evaristo se juntou virtualmente a Vera Eunice de Jesus, professora e poeta, filha e zeladora da obra e da memória de Carolina, num encontro organizado pela Flup. Foi a primeira edição digital da Festa Literária das Periferias, que tira leitores e autores de onde o mercado editorial só via descampados. Do mesmo território brotou Carolina. Os 60 anos de “Quarto de despejo – Diário de uma favelada” viraram tema do evento que, desamarrado da agenda presencial no Rio de Janeiro, ganhou o país. De todas as unidades da Federação, à exceção de Alagoas, mulheres negras, 485 ao todo, se inscreveram em forma de carta à autora para participar do ciclo de formação do qual sairá, ano que vem, a versão Século XXI da obra.

Ruy Castro* - Ilhados no manicômio

- Folha de S. Paulo

Logo seremos impedidos de entrar em outros países. Cada brasileiro já está sendo visto como uma bomba

Já viajei muito por aí e, em todos os países em que estive, senti que, ao ouvir a palavra “brasileiro”, as pessoas reagiam com encantamento, prazer e até inveja. Era, talvez, um eco de Carmen Miranda, Copacabana, Pelé, o Carnaval, “Garota de Ipanema”, símbolos históricos de um país musical, colorido e ensolarado. Claro que, mais a par da realidade, eu estranhava tanta aprovação. Ela ignorava nossas mazelas, como a ditadura, a tortura, a violência, a corrupção, a miséria. Mas era como se, mesmo que soubessem, não fosse da conta deles.

Agora, pela primeira vez, o que se passa aqui dentro ficou da conta do mundo. O Brasil está sendo visto como uma bomba prestes a explodir e despejar o coronavírus por toda parte. Nossos vizinhos na América do Sul estão alarmados —cada metro de fronteira, em qualquer dos sentidos, pode levar à morte de seus nacionais. Claro que isso não deve preocupar o governo brasileiro. Mas talvez preocupe o dos países para os quais nos sentamos nas patas traseiras e arfamos, e eles tomem certas providências.

Bruno Boghossian – Bolsonaro fabrica uma guerra

- Folha de S. Paulo

Por desinteresse ou incompetência, presidente não toma medidas de emergência e fabrica uma guerra

No início do mês, Jair Bolsonaro declarou que o país só não tinha ondas de “saques e violência” graças ao pagamento dos R$ 600 do auxílio emergencial. Sem querer, o presidente denunciou a perversidade do próprio governo. Milhões de brasileiros que perderam renda com a crise esperam há mais de 15 dias pela segunda parcela do benefício.

Enquanto o governo atrasa a transferência do dinheiro, Bolsonaro faz propaganda do caos. Na conversa que teve com empresários nesta quinta (14), ele disse prever “saque a supermercados, desobediência civil”. Ainda completou: “Não adianta querer convocar as Forças Armadas”.

Por desinteresse ou incompetência, o presidente abre mão de comandar a aplicação das medidas emergenciais contra os efeitos da pandemia. Longe disso, prefere explorar a pressão econômica sobre os miseráveis para se proteger politicamente e atacar seus adversários.

Na reunião com os associados da Fiesp, Bolsonaro pediu ajuda dos ricos nessa missão. Como se patrocinasse a formação de uma milícia, disse aos empresários que eles deveriam “jogar pesado” com governadores que implantaram medidas de isolamento. “Jogar pesado, porque a questão é séria, é guerra”, disse, antes de citar a ameaça de desordem.

Hélio Schwartsman - Passaporte para a felicidade

- Folha de S. Paulo

Em teoria, faz sentido testar pessoas e permitir que aquelas que apresentem anticorpos voltem a trabalhar

Se há pessoas que já são imunes à Covid-19, seria loucura não utilizá-las na prestação de serviços essenciais e para começar a reerguer a economia. Não ignoro que o Sars-Cov-2 é um vírus novo, sobre o qual existem mais dúvidas do que certezas. Ainda não sabemos ao certo se uma infecção prévia confere imunidade nem, em caso afirmativo, por quanto tempo. Há também dúvidas quanto à confiabilidade dos testes para anticorpos disponíveis.

Muita pesquisa está sendo feita, e essas questões deverão ser respondidas em breve. Pelo que sabemos de outros coronaviridae, a melhor aposta é que os recuperados desenvolvam ao menos uma imunidade transitória. Também já teve início um processo de validação dos testes que deverá excluir os que não prestam.

Assim, se essas hipóteses se confirmarem, faz sentido, pelo menos em teoria, implementar os passaportes de imunidade, isto é, testar pessoas e permitir que aquelas que apresentem anticorpos (mais especificamente as imunoglobulinas do tipo G) voltem a trabalhar.

Reinaldo Azevedo – O AI-5 de Bolsonaro e Guedes

- Folha de S. Paulo

Medida provisória que protege agente público é direito criativo de lunáticos

A medida provisória 966 é escandalosamente inconstitucional. No hospício a que, por hábito, chamamos “governo”, resta só loucura. Foi-se o método. Quer a excludente de ilicitude da pandemia ou o AI-5 do coronavírus. Segundo o texto, os agentes públicos só poderão ser responsabilizados nas esferas civil e administrativa se agirem ou se omitirem por dolo ou erro grosseiro. É direito criativo de lunáticos.

O texto vale para decisões ligadas à Covid-19, afeitas à saúde e à economia. O que é “erro grosseiro”? Jair Bolsonaro e Paulo Guedes explicam: é o “erro manifesto, evidente e inescusável, praticado com culpa grave, caracterizado por ação ou omissão com elevado grau de negligência, imprudência ou imperícia.” O que esse mar de subjetividade quer dizer? Qualquer coisa. Contra o usuário do serviço estatal.

Dispõe o parágrafo 6º do artigo 37 da Constituição: “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”.

César Felício - O dilema do sofá-cama

- Valor Econômico

No mundo ao contrário, presidente é um oposicionista

A epidemia provocada pelo novo coronavírus começou a mudar a vida de cada brasileiro há cerca de sessenta dias, quando houve o despertar global para o problema. Foi pouco antes dos meados de março que a Organização Mundial de Saúde, depois de alguma hesitação, decretou a existência de uma pandemia.

O contraste do Brasil com o panorama internacional é gritante. Ásia, Europa e mesmo os países da América do Sul fecharam ou estão na iminência de fechar um ciclo, preparando-se para a provável segunda onda de contaminação da doença. No Brasil, a roda claramente gira em falso. Não há preparação para nada.

A semeadura fraca que justifica colheita tão pobre era sugerida pela leitura de qualquer matutino cerca de dois meses atrás.

Uma grande polêmica no Brasil em 14 de março era sobre o resultado do exame para detectar a doença feito pelo presidente da República. O governador de São Paulo, João Doria, acusava Bolsonaro em entrevista de desrespeitar outros poderes. Epidemiologistas diziam que a única forma do Brasil conter o flagelo era por meio da paralisação das atividades. Faltava um dia para Bolsonaro participar de aglomerações em Brasília que pregavam a ditadura. O conflito entre ele e o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, começaria na semana seguinte.

Claudia Safatle - Bolsonaro dribla seu ministro da Economia

- Valor Econômico

O presidente é a maior oposição ao seu governo

“Não há governo”, constata e lamenta o ex-ministro Delfim Netto. Ele teme pelo dia em que o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril vier a público. “Acho que isso é o maior opróbrio a que será submetida a sociedade brasileira. Vai ser uma vergonha internacional! E ninguém mais vai nos leva à sério”, comentou o ex-ministro que, em seus 92 anos completados no dia 1º de maio, disse que nunca viu ou teve notícias de uma “esculhambação dessa dimensão” nos governos anteriores do país. O vídeo, recheado de palavrões, foi submetido a investigadores da Polícia Federal, Segundo quem o assistiu, ele indica que Bolsonaro pressionou o então ministro da Justiça, Sergio Moro, a trocar o superintendente da PF do Rio, que estaria no encalço da sua família, dos seus filhos.

“O presidente Jair Bolsonaro só faz confusão”, completou Delfim, acrescentando que Bolsonaro fica alimentando uma briga “absurda” com João Doria, governador de São Paulo, em uma disputa eleitoral que se mistura à política de combate à pandemia da covid-19 e deixa as pessoas completamente confusas.

“Em 2022, na campanha pela sucessão presidencial, Bolsonaro vai dizer que o Doria matou 1 milhão de pessoas e o Doria acusará Bolsonaro de ter matado 1 milhão de pessoas”, com as políticas de isolamento social total ou, como prega o presidente, de isolamento vertical em decorrência da pandemia.

José de Souza Martins* - Entre parênteses

- Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

A performance de Jair Bolsonaro revela uma nova etapa do país: os diferentes são satanizados e excluídos, enquanto fica assegurada a cumplicidade de bajuladores que não sabem nem querem saber o que é democracia


Com a difusão da notícia trágica de que o número de mortos, em decorrência da pandemia da covid-19, ultrapassara o marco de dez mil pessoas, a nação começou a reconhecer-se oficialmente de luto. O STF decretou luto. O Senado e a Câmara dos Deputados decretaram luto.

Nas tradições brasileiras, o luto quer dizer muita coisa. Quer dizer o silêncio e a compostura da dor e do sofrimento, o respeito. Quer dizer solidariedade. O luto coletivo significa que nos reconhecemos como um todo, um povo, em que cada um sofre com o sofrimento alheio. Estamos juntos e não separados.

Mito do Brasil fragmentário e conflitivo, o presidente da República não entendeu. Passeava de jet ski no lago Paranoá e confraternizava com violadores da norma sanitária da quarentena, de seu próprio governo. Ao desdenhar o sofrimento e a dor dos brasileiros, desdenha-se, desbrasileiriza-se. E delira: já anunciou que o término de seu mandato será em 31 de dezembro de 2027.

Não foi ele quem inventou a maldade da pátria entre parênteses. Mas é ele quem a personifica nos reiterados gestos, ações, palavras de menosprezo com os quais demonstra seu alheamento em relação ao povo.

O grande problema brasileiro, desde que o Brasil é Brasil, tem sido o de decifrar quem fica dentro e quem fica fora desses parênteses do processo político. De quem é povo e de quem não o é. Sempre houve gente dentro e gente fora deles.

Dora Kramer – Pau da barraca

- Revista Veja

Não há em nenhuma atitude produzida diariamente pela usina de exorbitâncias instalada no Palácio do Planalto resquício sequer de racionalidade

A cada chute dado nos pilares de sustentação do regime em vigor e, por consequência, no governo que preside, Jair Bolsonaro reforça a impressão de que entregou aos desígnios das divindades do imponderável a chance de reeleição. Diz o contrário (“vou sair daqui em janeiro de 2027”), como é de seu costume, mas age justamente na direção da toalha jogada ao chão. Abre todos os flancos imagináveis, anulando qualquer possibilidade de defesa.

A dúvida é se o faz de propósito, já satisfeito de integrar o mais rápido possível o panteão dos ex-presidentes em posição de (desastroso) destaque mundial, ou se é burro mesmo e não se dá conta dos efeitos de seus gestos. A primeira hipótese revelaria alguma inteligência na execução de um plano; a segunda confirmaria uma forte suspeita.

A pessoa desprovida de cognições cerebrais mais ágeis tende a ver seu baixo grau de compreensão como regra geral. Daí decorre a incapacidade de perceber que determinadas atitudes quando aplicadas a situações diferentes não alcançam os mesmos resultados obtidos anteriormente.

Monica de Bolle* - A economia da exclusão

- Revista Época

Do debate sobre a renda básica à discussão sobre desigualdade de gênero e racial, o país que se revela é devastador

Como muitos leitores já sabem, tenho usado parte de meu tempo neste período de quarentena para me dedicar a um canal que criei no YouTube com a finalidade de disseminar conhecimentos sobre economia e de trazer alguns debates. A hora que eu perdia entre idas e vindas do trabalho agora uso nessa empreitada. Entre explicações sobre economia e debates com interlocutores, tem ficado cada vez mais evidente que nossa economia, essa economia que aceitamos como natural e pela qual passamos a conviver com injustiças diversas, é profundamente excludente.

Segundo dados do IBGE, em 2018, quando a economia brasileira estava “em bom estado”, isto é, não havia crise e o país ensaiava uma retomada, tínhamos cerca de 12 milhões de desempregados. Desses 12 milhões de desempregados, dois terços eram pessoas negras e pardas. Dois terços. Estamos agora no meio de uma pandemia, e o desemprego haverá fatalmente de subir. Se a queda do PIB for da ordem de 10% neste ano, conforme estimo, teremos, em breve, mais de 20 milhões de desempregados no país, ou 10% da população brasileira. Vou repetir: em poucos meses, 10% da população brasileira provavelmente estará desempregada. Quem serão essas pessoas? A julgar pelos dados de 2018, certamente a composição do desemprego será marcada pela gritante disparidade racial, refletindo o que já está acontecendo em outros países. Aqui nos Estados Unidos, onde a taxa de desemprego alcançou exorbitantes 14,7% no mês de abril, os que perderam seus empregos foram desproporcionalmente negros e hispânicos.

Guilherme Amado - O silêncio sem inocentes

- Revista Época

Todos se calaram diante da festa de despautérios que foi a reunião ministerial de 22 de abril. Talvez porque, para os 40 ali presentes, fosse só mais um dia como outro qualquer no governo

A reunião ministerial do dia 22 de abril, aquela em que Sergio Moro afirmou ter sido ameaçado pelo presidente, caso não entregasse a ele o comando da Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, tem tudo para se tornar um retrato sem retoques do que é o governo Bolsonaro. O que já se sabe do encontro, mesmo antes de seu vídeo se tornar público, é de extrema gravidade. O presidente afirma querer trocar a chefia da Polícia Federal (PF) em seu estado para proteger a família e os amigos.

O ministro da Educação defende a prisão dos ministros do Supremo e a dos Direitos Humanos a dos governadores e prefeitos. O chanceler ataca a China e diz que estamos todos sendo tragados pelo... tchan, tchan, tchan… comunavírus. Poderia parecer um esquete da Escolinha do Professor Raimundo não estivessem todos no terceiro andar do Palácio do Planalto, enquanto do lado de fora o país já contava naquele dia quase 3 mil mortos. Mas o episódio traz ainda outro significado grave. Havia ali pelo menos 40 pessoas — isso é o que mostram os 33 registros que o fotógrafo Marcos Corrêa, da Presidência da República, fez naquele dia.

Ninguém se insurgiu contra essa festa de despautérios. Nem mesmo os ministros tidos como os mais técnicos, a exemplo do titular da Economia, Paulo Guedes; a da Agricultura, Tereza Cristina; o advogado-geral da União e agora na Justiça André Mendonça; ou o controlador-geral da União, Wagner Rosário. Todos se calaram diante de tudo isso. Talvez porque o “tudo isso” seja novo para a sociedade como um todo, mas, para os 40 ali presentes, fosse só mais um dia como outro qualquer no governo.

Merval Pereira - Caminho do entendimento

- O Globo

Convite para Rodrigo Maia ir ao Palácio do Planalto foi um primeiro passo importante para distender o ambiente político

“Todos cobram do PR (presidente da República), mas ninguém busca um caminho para o entendimento”, me disse o vice-presidente da República, General Hamilton Mourão ao definir o que o levou a escrever o artigo que publicou ontem no jornal Estado de S. Paulo. Em resumo, não seria uma crítica, mas um convite à reflexão e ao entendimento, para todos, como resumiu um de seus assessores mais próximos.

O artigo provocou diversas interpretações, desde a de que se tratava de uma necessidade de demonstrar apoio público ao presidente Bolsonaro neste momento de crise, até mesmo que estaria enviando um recado a seus companheiros de tropa, garantindo que, mesmo em caso de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, ele continuaria uma linha de governo ao gosto dos militares, nacionalista e desenvolvimentista, na definição do cientista político Christian Edward Lynch, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ.

O convite para que o presidente da Câmara Rodrigo Maia fosse ontem ao Palácio do Planalto para conhecer o gabinete de crise montado para o combate à Covid-19 foi um primeiro passo importante para distender o ambiente político.

Bernardo Mello Franco - Mourão, o vice que assusta

- O Globo

Em artigo, Mourão acusou imprensa, governadores, juízes e parlamentares de prejudicarem o país. O texto assustou quem pesa prós e contras de um processo de impeachment

Ao convidar Hamilton Mourão para sua chapa, Jair Bolsonaro contratou uma espécie de seguro-impeachment. O general era conhecido por fazer imprecações contra a democracia. Na campanha, reforçou a fama de brucutu ao falar em “autogolpe” e propor uma Constituinte sem votos.

Depois da posse, o vice trocou de figurino. Mais esperto do que o capitão, ele suavizou o tom e passou a se apresentar como um moderado entre radicais. O novo estilo incomodou o clã presidencial. No entanto, o general continuou a ser visto com desconfiança pelos paisanos.

Ontem os políticos ganharam mais um motivo para se preocupar. Em artigo no jornal “O Estado de S. Paulo”, Mourão voltou a defender teses autoritárias. O general escreveu que nenhum país no mundo está “causando tanto mal a si mesmo”como o Brasil. Ele está certo, mas o texto dá a entender que a razão dos problemas é a democracia.

O primeiro alvo do vice foi a imprensa, que precisaria “rever seus procedimentos” na cobertura da pandemia. Ele cobrou mais opiniões “favoráveis ao governo”, uma exigência típica de ditaduras. “Sem isso teremos descrédito e reação”, acrescentou, num momento em que o presidente estimula agressões contra jornalistas.

Igor Gielow - Mourão assusta mundo político com espantalho da intervenção militar

- Folha de S. Paulo

Em artigo crítico aos Poderes e à imprensa, vice estimula teorias conspiratórias, mas que esbarram na realidade

O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, plantou um espantalho no meio do mundo político brasileiro nesta quinta-feira (14).

Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, o militar da reserva fez uma longa admoestação de todos os envolvidos na crise tríplice na qual o país está imerso, com seus vetores sanitário, político e econômico.

Houve um ensaio de autocrítica sobre a responsabilidade de seu chefe, Jair Bolsonaro, como um dos atores que se tornaram "incapazes do essencial para resolver qualquer problema: sentar à mesa, conversar e debater".

Houve duras críticas aos outros Poderes e à imprensa no artigo, que condensam de forma inteligível as queixas do governo nas últimas semanas, além da preocupação com a economia.

A defesa federativa, com a devida citação à fundação dos EUA, não difere em essência da nota emitida pelo ministro Fernando Azevedo (Defesa) há duas semanas, que refletia a insatisfação da ala militar do governo com o que consideram cerco de Poderes ao Executivo.

Até aí, foi uma típica demonstração do pensamento militar brasileiro acerca da ideia de nação, que rejeita sentimentos autonomistas à la 1932, inclusive com o recibo passado no item Amazônia.

Leonardo Avritzer* -Hamilton Mourão: federalista ou positivista?

- O Estado de S. Paulo

O Brasil não é para iniciantes, nem mesmo na área de teoria política. No momento em que o mundo enfrenta a mais grave pandemia em um século, o país tem um presidente negacionista e, ao mesmo tempo, um vice que escreve um longo artigo de opinião citando os Federalistas, isto é, o conjunto de artigos escritos por três políticos que defendiam a importância do governo centralizador durante os debates que levaram à formulação da Constituição dos Estados Unidos. 

Curiosamente, o presidente já havia defendido uma concepção de poder, a la “ancien regime”, isto é, o poder monárquico que antecedeu a revolução francesa. Neste breve artigo, vou, em primeiro lugar, mostrar brevemente a concepção de poder de Bolsonaro e, em seguida, tentar responder à seguinte pergunta: qual foi a intenção do vice-presidente não apenas em citar os Federalistas, mas em citar o menos conhecido dentre eles, John Jay, em um texto sobre guerra e conflito entre as nações.

Comecemos do início. Não é claro que Bolsonaro e Mourão tenham formação em teoria política, mas ao longo da grave crise que o país atravessa eles, começaram a explicitar suas concepções de poder. 

Assim, Jair Bolsonaro tem cada vez mais se aproximado de uma concepção pré revolução francesa e americana. Depois de participar, no início de abril, de uma manifestação pela intervenção militar e pelo AI-5, o presidente afirmou no dia seguinte: “eu sou a constituição”. Sabemos que incomodam ao presidente as estruturas de pesos e contrapesos que emergiram a partir da revolução americana e com as quais as democracias modernas operam. 

Christian Edward Lynch* - O jogo cifrado do general Mourão

- O Estado de S. Paulo / BR Político

O artigo do vice-presidente publicado no Estadão faz a defesa da centralização político-administrativa e do anti-judiciarismo típicas do militarismo de Floriano, Hermes e do regime militar. Curiosamente, citando clássicos liberais americanos e brasileiros, de tendência unionista e não estadualista (Madison e Amaro Cavalcanti).
Qual o sentido desse artigo?

Aparentemente ele defende o governo Bolsonaro. Mas por que o vice faria a defesa de um governo encalacrado e cambaleante? Ele não devia estar, ao contrário, acenando para o Congresso? E justo agora, com seus colegas tendo que passar pelo constrangimento de deporem em inquérito contra Bolsonaro!

Minha aposta é a de que o vice-presidente está praticando um jogo cifrado. A lealdade dele, na verdade, não é a Bolsonaro, que sequer é citado. É aos generais conservadores do Planalto e do Alto Comando. É governista, sem ser bolsonarista.

Mourão está lhes estendendo a solidariedade política e dizendo o que eles querem ouvir: o mantra tradicional do exército como poder moderador da república e da centralização no executivo como guardião da ordem e da autoridade, garante da unidade nacional, contra as derivas judiciaristas e estadualista. Tudo isso às vésperas da divulgação do vídeo da reunião ministerial que revelar as entranhas escandalosas do governo.

Antonio Hamilton Martins Mourão* - Limites e responsabilidades

- O Estado de S.Paulo (14/5/2020)

Com sensibilidade das mais altas autoridades é possível superar a grave situação que vive o País

A esta altura está claro que a pandemia de covid-19 não é só uma questão de saúde: por seu alcance, sempre foi social; pelos seus efeitos, já se tornou econômica; e por suas consequências pode vir a ser de segurança. A crise que ela causou nunca foi, nem poderia ser, questão afeta exclusivamente a um ministério, a um Poder, a um nível de administração ou a uma classe profissional. É política na medida em que afeta toda a sociedade e esta, enquanto politicamente organizada, só pode enfrentá-la pela ação do Estado.

Para esse mal nenhum país do mundo tem solução imediata, cada qual procura enfrentá-lo de acordo com a sua realidade. Mas nenhum vem causando tanto mal a si mesmo como o Brasil. Um estrago institucional que já vinha ocorrendo, mas agora atingiu as raias da insensatez, está levando o País ao caos e pode ser resumido em quatro pontos.

O primeiro é a polarização que tomou conta de nossa sociedade, outra praga destes dias que tem muitos lados, pois se radicaliza por tudo, a começar pela opinião, que no Brasil corre o risco de ser judicializada, sempre pelo mesmo viés. Tornamo-nos assim incapazes do essencial para enfrentar qualquer problema: sentar à mesa, conversar e debater. A imprensa, a grande instituição da opinião, precisa rever seus procedimentos nesta calamidade que vivemos. Opiniões distintas, contrárias e favoráveis ao governo, tanto sobre o isolamento como a retomada da economia, enfim, sobre o enfrentamento da crise, devem ter o mesmo espaço nos principais veículos de comunicação. Sem isso teremos descrédito e reação, deteriorando-se o ambiente de convivência e tolerância que deve vigorar numa democracia.

Valdemir Pires* - Novo arranjo entre Estado e mercado na pós-pandemia

- O Estado de S. Paulo

Se à pós-pandemia da Covid-19 não corresponder um pós-neoliberalismo com intervenção estatal remodelada, à insustentabilidade ambiental, que já estava se acelerando (com indícios de pequenos recuos com a redução das atividades decorrentes do isolamento social em todo o mundo), se juntará uma insustentabilidade social sem precedentes. 

Os miseráveis, que já vinham se avolumando, devido à financeirização concentradora de renda da economia global e devido às políticas econômicas de estabilização fiscal (na verdade um braço político da mencionada financeirização), se tornarão um imenso e incontrolável contingente de pessoas sem emprego, sem moradia, sem meios de vida, sem perspectiva alguma; e entre eles, pela primeira vez, muitos se originarão das classes médias urbanas destruídas pela falência de pequenos negócios. Além disso, tradicionais pequenos rentistas, sustentados pelas anteriores taxas de juros elevadas, perderão sua fonte de sustento, vinda de aplicações financeiras, por causa da queda deste tipo de remuneração, que não se mantém quando a economia perde fôlego sem perspectivas de recuperá-lo rapidamente.

O que a mídia pensa - Editoriais

• A guerra de Bolsonaro – Editorial | O Estado de S. Paulo

Presidente quer fazer crer que o isolamento social, adotado em todo o mundo para conter a pandemia, é escolha, não imperativo

A equipe econômica do governo federal informou na quarta-feira, dia 13, que sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano caiu de 0,02% positivo para 4,7% negativos. O dado foi apresentado de forma a enfatizar o caráter dramático da situação e a atribuir o cerne do problema ao isolamento social para enfrentar a pandemia de covid-19. Segundo informou o Ministério da Economia, o PIB perde R$ 20 bilhões por semana em razão do isolamento.

Embora tenha negado que estivesse fazendo críticas à adoção da quarentena, o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, disse, ao apresentar os números, que o objetivo era “deixar claro para a sociedade o custo das decisões” e mostrar que, “quanto mais semanas ficarmos em distanciamento social, maior será o número de falências e de desemprego e maior será o impacto de longo prazo”.

Ato contínuo, na manhã seguinte, o presidente Jair Bolsonaro informou aos brasileiros que há uma “guerra” em curso no País, em referência ao isolamento social determinado por autoridades estaduais e municipais. “O que está acontecendo parece uma questão política, tentando quebrar a economia para atingir o governo”, disse Bolsonaro, em seu dialeto peculiar.

Poesia | Murilo Mendes - Canção do exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
Nossas frutas mais gostosas
Mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!