a)
Que, malgrado a divisão de todo o oposto ao outro, toda a realidade externa se
conheça como a interior. E se assim vier a ser conhecida, segundo a sua essência,
tal qual é realmente, então se mostra não como estável, mas como aquilo cuja
essência própria é o movimento da ultrapassagem. Este ponto de vista
heraclitiano ou cético, de que nada é firme, deve ser provado em todas as
coisas; e assim, nesta consciência de que a essência de cada coisa é determinação
e, por isso, o seu contrário, manifesta-se a unidade do conceito com o seu
contrário.
b)
Todavia, é também necessário conhecer esta unidade na sua realidade; esta,
enquanto é uma tal identidade, deve, precisamente por isso, passar para o seu contrário,
ou seja, fazer-se outro para se realizar. Assim, através dela própria, produz-se
o seu oposto.
c)
Acerca da oposição, temos de dizer, por seu turno, que ela não é de modo absoluto,
se o absoluto é a essência, o eterno, etc. Todavia, note-se que também este é
uma abstração, na qual está compreendido dum ponto de vista unilateral, e que a
sua oposição tem apenas o valor de um ideal; na realidade, a oposição é a forma
como momento essencial do movimento do absoluto. Este não está em repouso,
aquela não é o conceito que nunca para. Pelo contrário, a Ideia, na sua irrequietabilidade,
está em repouso e em si satisfeita.
Deste
modo, o puro pensamento chegou à oposição do subjetivo e do objetivo: a
verdadeira conciliação da oposição consiste em entender como esta oposição, levada
ao ponto extremo, se resolve, de sorte que os opostos, como diz Schelling, sejam
em si idênticos. Mas não basta afirmar isto, se não se acrescenta que a vida
eterna é propriamente este produzir eternamente a oposição e eternamente conciliá-la.
Possuir o oposto na unidade e a unidade na oposição, eis o saber absoluto; e a
ciência consiste precisamente em conhecer esta unidade, no seu pleno desenvolvimento,
através dele mesmo.
*Friedrich Hegel (1770-1831), “Introdução â História da Filosofia”, p.158, v. II, Nova Cultura, 1989.