segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Fernando Gabeira - Tudo que é estúpido se desmancha no ar

- O Globo

Alívio é anterior à derrota de Trump. Ele começa na prisão de Queiroz

No auge da quarentena, pensei que a última luta de minha vida seria contra um governo que destrói a natureza, a autoestima e a imagem internacional do Brasil. Confesso que dramatizei. Sinto-me aliviado agora e ouso fazer planos mais ambiciosos para depois da chegada da vacina.

O marco temporal dessa sensação de alívio é anterior à importante derrota de Donald Trump. Ele começa na prisão de Fabrício Queiroz. Ali emergiu com clareza o esquema de financiamento de Bolsonaro e seu clã. Ele não teria mais condições de pregar o fechamento do Congresso ou do STF. Os próprios militares, apesar de ambíguos até ali, não o seguiriam na aventura.

Bolsonaro não teve outro caminho além de buscar aliados no Congresso, precisamente aqueles para os quais o desvio de dinheiro público não é um pecado capital. E de se aproximar desse tipo de juiz brasileiro que não hesita em absolver quando há excesso de provas contra o acusado.

A eleição de Biden resultou de uma ampla compreensão de que era necessária uma frente para derrotar Donald Trump e o Partido Republicano. A própria esquerda dos democratas, que vive um momento de ascensão, decidiu conceder para que a vitória fosse possível.

Ao término das eleições municipais, comecei a duvidar se era mesmo necessária uma frente para derrotar Bolsonaro. A construção de um instrumento como esse dá muito trabalho. É preciso constantemente se livrar dos caçadores de hereges, como chamava Churchill os que dentro de uma frente ampla estreitam e intoxicam o espaço com uma permanente lavagem de roupa suja.

Ana Maria Machado - A eficácia dos bons modos

- Globo

Palavras firmes e claras são poderosas. A resposta de Pujol teve consequências

Trump pode bater pé com seu “daqui não saio, daqui ninguém me tira”. Mas, com bons modos, o porta- voz de Biden deixou claro: “O governo dos Estados Unidos é perfeitamente capaz de escoltar invasores para fora da Casa Branca”.

Por sua vez, em mais um rompante de maus modos, Bolsonaro ameaçou ir além da saliva e responder a Joe Biden com pólvora. Diante das câmeras, apelou para a aprovação do chanceler: “Apenas a diplomacia não dá, né, Ernesto?”. O mundo todo riu da bravata vexaminosa.

Em seguida, tivemos uma lição diplomática. Num evento público, Raul Jungmann fez uma pergunta pertinente e oportuna. Com bons modos e a autoridade moral de quem já ocupou o Ministério da Defesa. Obteve do comandante do Exército uma resposta educada, absolutamente fundamental nesta hora. Tranquilizadora e de uma clareza cristalina, reiterando que as Forças Armadas são uma instituição do Estado, não do governo. Não têm partido. Firme e quase desenhando, Pujol frisou que os militares não querem fazer parte da política nem querem que ela entre nos quartéis. E que não convém misturar as coisas.

Cacá Diegues - A Academia está mudando

- O Globo

Cinema não é um fenômeno estritamente hollywoodiano

A premiação da produção sul-coreana “Parasita”, Oscar de melhor filme no ano passado, foi o primeiro clímax de um processo de internacionalização, democratização e atenção à qualidade pelo qual esse troféu está passando. Criado em 1927, simultâneo à fundação da própria Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (AMPAS, na sigla em inglês), o Oscar foi uma ideia de Louis B. Mayer e uma obra de Cedric Gibbons, diretor de arte nos estúdios da Metro-Goldwyn-Mayer. Mas só em maio de 1929 ocorreu a primeira entrega do prêmio aos melhores desempenhos nos filmes americanos dos dois anos anteriores.

Naquele ano inaugural, votavam apenas os 36 membros da Academia, que premiaram naturalmente os filmes e os protagonistas com que o público americano mais havia se identificado em seu lançamento, aqueles que colaboraram com o crescimento dessa indústria em 1927 e 28. Hoje são 5.835 membros eleitores da AMPAS, número que, de 2012 para cá, cresce regularmente com os novos convites de adesão feitos a cineastas, intérpretes e técnicos de cinema de todo o mundo. Com uma atenção muito especial a não caucasianos (segundo uma apuração feita pelo “Los Angeles Times”, os brancos até recentemente eram 94% dos membros da Academia), dando preferência ao gênero feminino (77% eram homens) e aos abaixo de 60 anos de idade (54%, até aqui, eram sexagenários).

Ricardo Noblat - O jogo sujo dos candidatos ameaçados de perder a eleição

- Blog do Noblat | Veja

Propaganda negativa para destruir os adversários

É assim por toda parte, aqui e no exterior, quando o fantasma da derrota bate à porta dos candidatos na reta final da campanha. Eles apelam para qualquer coisa, de preferência a mentira, como derradeira arma para impedir a vitória dos adversários.

A seis dias do segundo turno, a disputa em São Paulo parece uma guerra travada por monges piedosos desprovidos de armas letais se comparada com o que ocorre de maneira particularmente dura em pelo menos duas capitais: Rio e Recife.

Campeão nacional de rejeição entre os candidatos a prefeito das maiores cidades do país, Marcelo Crivella (Republicanos) mandou distribuir no fim de semana 1,5 milhão de panfletos impressos em uma gráfica do Rio com pesadas acusações a Eduardo Paes (DEM).

Acusações que, de fato, não passam de fake news. Crivella diz que Paes é a favor da legalização do aborto, da liberação do consumo de drogas e do uso do “kit gay” para educar alunos da rede municipal. “Kit gay” foi invenção de Bolsonaro na eleição de 2018.

Marcus André Melo* - Bolsonarismo ou qualunquismo?

- Folha de S. Paulo

O eleitor em 2020 arbitrou entre ganhos de redes federais e locais

O governismo é fenômeno quase universal, e entre nós já foi objeto da fina ironia dos diálogos de Esaú e Jacó, de Machado de Assis: “Não se assuste, é o governo que cai.” “Mas eu ouço aclamações...” “Então é o governo que sobe. Não se assuste. Amanhã é dia de cumprimentá-lo!”

Mas esse tipo de governismo não é deferente nem expressa subalternidade frente à autoridade. Chubb, na obra clássica sobre o clientelismo político italiano, define o qualunquismo como apoio cínico, sem lealdades, a quem quer que seja governo.

Os resultados das eleições municipais corroboram a previsão feita neste espaço de que a força gravitacional do governo federal teria intensidade maior nas regiões mais pobres. E que o qualunquismo prevaleceria onde supostamente haveria bastiões da oposição; o eleitor seria o árbitro entre ganhos de redes locais e federais. O governador iria competir agora com o presidente. Ou melhor, com as redes federais.

Celso Rocha de Barros* - Fragmentação de esquerda

- Folha de S. Paulo

Sobrou para a carioca, em 2020, fazer campanha para o DEM no 2º turno

Em um episódio recente do podcast Foro de Teresina, o jornalista José Roberto de Toledo chamou atenção para a semelhança das estratégias da esquerda no Rio e em São Paulo. Em nenhum dos dois lugares a esquerda entrou unida no primeiro turno.

Em São Paulo, foi ao segundo turno e faz uma bela campanha. No Rio de Janeiro, ficou fora do segundo turno, mesmo tendo uma boa votação na soma das candidaturas.

Comparar os dois casos pode ser um exercício interessante. Quando a fragmentação da esquerda no primeiro turno é administrável (como em São Paulo) e quando não é (como no Rio)? A pergunta tem implicações óbvias para a eleição presidencial de 2022.

Não há dúvida de que grande parte do sucesso da chapa Boulos/Erundina se deve à qualidade dos candidatos e da campanha. O ativismo social de Boulos e a reputação de competência e honestidade de Erundina são exatamente o que o eleitorado paulistano viu no PT quando lhe deu a prefeitura por três vezes.

A campanha foi ágil e inovadora. Todos os partidos de esquerda têm que aprender alguma coisa com a campanha do PSOL de São Paulo.

Mas no Rio as campanhas de Benedita da Silva (PT), Marta Rocha (PDT) e Renata Souza (PSOL) também foram bonitas, cada uma no seu nicho. A de Boulos foi melhor, mas não acho que o suficiente para explicar a diferença de desempenho.

Mathias Alencastro - Para os progressistas, chegou a hora da destruição criativa

- Folha de S. Paulo

O desespero dos caciques e o sumiço dos expoentes do fisiologismo são o principal indício de que a renovação partidária e geracional veio para ficar

A construção da candidatura presidencial do PT em 2018 se articulou em torno de duas disputas regionais. A cidade de São Paulo, maior reserva de votos petista no Sudeste, e Pernambuco, onde Lula investiu todo o seu capital político para isolar Ciro Gomes.

ascensão de Guilherme Boulos e o racha em Recife provocado pela disputa entre João Campos e Marília Arraes devem inviabilizar a repetição dessa estratégia e alterar o cálculo da disputa presidencial.

Um revés para os petistas, imputável à sua franja mais conservadora, que assumiu o controle da Direção Executiva durante a prisão de Lula. Desde então, o jogo da política foi preterido em favor dos arranjos burocráticos, e o debate programático substituído pela exaltação acrítica.

O abandono de São Paulo em plena pandemia a um candidato bairrista, quando o seu competidor interno era um notável ex-ministro da Saúde, é o retrato de um partido devorado pela sua própria burocracia.

Ruy Castro - O crime com vídeo e áudio

- Folha de S, Paulo

Os gritos de dor de Beto Freitas são a trilha sonora de um filme que muitos fingem não ver

assassinato de Beto Freitas no estacionamento do Carrefour, em Porto Alegre, na quinta-feira (19), foi gravado pela câmera afixada de frente para a porta, com visão total da cena. É uma sequência de 17’09’’, com começo, meio e fim. Mostra o cenário vazio, a chegada dos personagens —o homem negro, os dois seguranças e a fiscal do supermercado— e o que aconteceu em seguida.

Vê-se quando, ao entrar detido, Beto reage por algum motivo a um deles, desprende-se e tenta agredi-lo. Os dois, em total vantagem, o seguram, e, com ele já contido, o espancam. Durante dois minutos aplicam-lhe chutes, socos e joelhadas no rosto, cabeça e costelas, até abatê-lo no chão.

Catarina Rochamonte - Em busca do centro político

- Folha de S. Paulo

O grande vitorioso do primeiro turno dessas eleições foi o centro

PT, Lula e Bolsonaro foram fragorosamente derrotados no primeiro turno destas eleições de 2020. O PT pode recuperar-se um pouco no segundo turno, com a provável vitória de Marília Arraes em Recife, mas Lula, politicamente, acabou. Antigamente elegia qualquer poste, hoje mais atrapalha do que ajuda. Se conseguir driblar a Justiça e candidatar-se a presidente em 2022 será péssimo para o PT, em particular, e para a esquerda, em geral.

Na esquerda, aliás, a principal referência partidária passa a ser o PSOL, que pode vencer em Belém, com Edmilson Rodrigues. Mesmo que Guilherme Boulos não seja eleito em São Paulo, sua passagem para o segundo turno já o transformou na nova estrela vermelha. Memes da internet dão conta que os paulistanos têm duas opções: ficar em casa ou ficar sem casa.

Entrevista | João Doria: ‘Frente deve comportar a centro-esquerda’

João Doria defende uma frente em 2022 com a centro-esquerda

Governador diz não ser candidato à reeleição e afirma que cabem todas as forças nesta aliança, menos os ‘extremistas’

Pedro Venceslau | O Estado de S.Paulo

Depois de se eleger à Prefeitura, em 2016, e ao governo do Estado, em 2018, com um discurso marcado pelo antipetismo, o governador João Doria (PSDB) se reposicionou e, agora, tem pregado um diálogo “contra os extremos”, por meio de uma frente que inclua a centro-esquerda.

Potencial candidato ao Palácio do Planalto em 2022, Doria é, atualmente, desafeto político do presidente Jair Bolsonaro. “O comportamento das pessoas muda ao longo do tempo. Não há comportamento estanque, paralisado”, disse o governador em entrevista ao Estadão, na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes. Apesar do embate com o presidente, Doria afirma que ainda não é o momento de fazer oposição ao governo federal.

Leia, a seguir, trechos da entrevista.

Houve um reposicionamento no discurso do sr. entre 2016, 2018 e hoje? O antipetismo perdeu espaço e o sr. parece menos radical e buscando o centro...

O comportamento das pessoas muda ao longo do tempo. Não há comportamento estanque, paralisado, congelado das pessoas nem da sociedade. O comportamento evolui. Pode evoluir para melhor, para pior, mas evolui.

Candidatos passaram a campanha tentando colar Bruno Covas no sr., dada a alta rejeição ao seu nome na capital. O paulistano não perdoou sua saída da Prefeitura antes do fim do mandato?

Isso é tempo passado. Eu hoje sou governador do Estado de São Paulo, eleito. O Bruno no primeiro turno foi votado para ser reconduzido à Prefeitura de São Paulo. Em suma, o que vale na democracia é o voto.

O presidente Jair Bolsonaro antecipou o debate sobre a eleição presidencial de 2022. É hora de se discutir a construção de uma frente para disputar as eleições contra ele?

A frente não deve ser contra Bolsonaro, mas a favor do Brasil. A frente deve reunir o maior número possível de pessoas e pensamentos que estejam dispostos a proteger o Brasil e a população. (Essa frente) Comporta o pensamento liberal de centro, que é o que eu pratico, mas comporta também centro-direita, centro-esquerda, aqueles que têm um pensamento mais à esquerda e à direita. Só não caberá o pensamento dos extremistas, até porque os extremistas não querem compartilhar, discutir. Eles querem impor situações ao País, tanto na extrema-esquerda, quanto na extrema-direita. Destes extremos nós temos que ficar longe.

Com qual centro-esquerda o sr. acha ser possível dialogar?

Com todos aqueles que integram um sentimento múltiplo, compartilhador e dedicado ao País, sem interesses pessoais se sobrepondo ao interesse do País. Temos que ter a capacidade de diálogo com humildade. Saber ouvir e valorizar o contraditório. O contraditório ajuda o Brasil, e não prejudica. O que prejudica é o extremismo.

É possível incluir nas conversas Ciro Gomes e Marina Silva?

Não devemos excluir ninguém que tenha esse sentimento. Todos que têm esse sentimento são bem-vindos, até mesmo os que no passado praticaram posições mais extremistas, mas que possam ter mudado e estejam hoje no campo do diálogo.

Não é difícil que alguém abra mão de ser candidato à Presidência em 2022? Nas conversas estão Sérgio Moro, Luciano Huck...

O pressuposto para unir o maior número possível de pensamentos pelo Brasil é não haver prerrogativa pessoal.

Denis Lerrer Rosenfield* - A direita ganhou!

- O Estado de S. Paulo

Nesta eleição houve um deslocamento para o centro, em proveito de posições democráticas

Há um misto de desinformação, diria intencional, e análises ideologicamente orientadas que impede um olhar isento sobre o resultado das eleições municipais. A derrota fragorosa do bolsonarismo e do petismo, a polarização que vinha orientando a política, deu lugar à moderação e a posições democráticas que se situam primordialmente do lado da direita, que obteve significativos ganhos. Se considerarmos que os tucanos são considerados de direita pelos petistas, esse avanço é ainda maior.

Falta aqui uma distinção essencial. Perdedora foi a extrema direita, varrida do mapa eleitoral municipal – são poucas chances de sucesso no segundo turno com Marcelo Crivella, no Rio de Janeiro, base da família Bolsonaro. A direita, em suas várias vertentes, conservadora, liberal e fisiológica, obteve ganhos importantes, colocando-se, se souber unir-se, como protagonista para 2022. Não precisa mais atrelar-se ao bolsonarismo, como nas eleições de 2018. Na capital paulistana, seu candidato, Celso Russomano, nem ao segundo turno conseguiu ir, ficou em quarta posição, competindo com Arthur do Val Mamãe Falei, candidato do MBL, que por pouco não o alcança, tendo ele vencido o PT.

A esquerda petista, por sua vez, foi um fracasso. Não chegou ao segundo turno em São Paulo e no Rio de Janeiro e ficou atrelada, em posição secundária, ao PCdoB em Porto Alegre, enfrentando um forte candidato do MDB, Sebastião Melo, com chances fortes de vitória. O PCdoB, aliás, não demonstrou presença eleitoral no Maranhão, seu reduto, com o governador aspirando à posição de presidente da República, ou vice. E não adianta o PT alardear que comparece com vantagem no Recife, contra o PSB, pois lá, mais do que uma disputa partidária, trata-se de uma disputa familiar, interna à família Arraes. Está mais para a psicanálise do que para a política. Ademais, tem o efeito colateral de afastar o PSB do PT. O antigo líder demiúrgico já não produz milagres, como os profetas do Antigo Testamento, que, uma vez cumprida a sua “missão”, voltavam a ser pessoas comuns, perdendo o dom da profecia.

Bruno Carazza* - “Se hay gobierno, soy a favor”

- Valor Econômico

Saga da Odebrecht revela os erros do capitalismo nacional

A ascensão da Odebrecht como grande império empresarial ao longo das últimas décadas pode ser medida em termos de faturamento, número de empregados ou de obras espalhadas pelo mundo. Mas existem métricas que revelam mais sobre as estratégias que fizeram da companhia um ícone do capitalismo brasileiro - ou do pior dele.

Em “A Organização: A Odebrecht e o esquema de corrupção que chocou o mundo”, a jornalista Malu Gaspar conta que, no início dos anos 1970, as reuniões de planejamento anual da construtora baiana eram realizadas em finais de semana, na sua própria sede em Salvador. À medida que galgava posições no ranking das maiores empreiteiras do país, os eventos foram sendo transferidos para hotéis, como o Deville, na praia de Itapuã, e o Fiesta Bahia, no Farol da Barra.

No auge, os encontros eram realizados no complexo hoteleiro de Costa do Sauípe, construído pela empresa, com a presença dos familiares de executivos e funcionários, embalados por shows de axé music e até a presença do técnico da seleção brasileira de futebol, convidado para orientar uma pelada.

Não haveria problema algum em celebrar êxitos corporativos com festas grandiosas, a não ser pela forma como esse sucesso era obtido. “O que funciona está certo”, pregava o patriarca Norberto Odebrecht em seus livros de autoajuda que serviam como código de ética (!?) do conglomerado.

Luiz Carlos Mendonça de Barros* - A covid-19 contra-ataca

- Valor Econômico

Esforço fiscal adicional precisa recair sobre as classes de renda mais elevada

Neste final de 2020, as incertezas sobre a perenidade da recuperação econômica em curso nos países mais importantes do mundo voltaram a crescer com a chegada da chamada segunda onda da pandemia. Inicialmente associada ao inverno no hemisfério norte, ela atinge também países, como o Brasil, situados abaixo da linha do Equador. Um “castigo” para as sociedades que não trataram a pandemia com o devido respeito. Felizmente a vacina contra a covid-19 será uma realidade ainda no primeiro trimestre de 2021 evitando que uma segunda rodada do isolamento social jogue a economia em nova recessão. O comportamento dos mercados nos últimos dias é uma prova desta afirmação.

Conhecemos hoje o cronograma desta batalha mortal entre o ser humano organizado em sociedade e a natureza representada pelo vírus. Surpreendidos pela rapidez e mortalidade com que o vírus se espalhou, os governos reagiram com as armas que o conhecimento científico coloca à sua disposição em momentos como este. E elas vieram tanto do campo das ciências, em especial da medicina, como da gestão da economia. O primeiro movimento foi o de definir um protocolo multidisciplinar de ações para enfrentar esse inimigo desconhecido e perigoso.

Humberto Dantas* - O efeito do fim das coligações proporcionais

- Valor Econômico

Ao menos por enquanto, não houve impacto na redução de legendas

O fim das coligações em eleições proporcionais dialogava com dois fenômenos delimitados pelo Congresso Nacional quando da tomada da decisão em 2017. Os partidos exageravam no uso das alianças em pleitos dessa natureza e distorciam o desejo do eleitor. Na propaganda eleitoral gratuita sequer juntas as agremiações apareciam. O risco de o eleitor se perder era grande.

A percepção de exagero estava correta: entre 2004 e 2008 superava 80% o total de vereadores eleitos por coligações nas cidades brasileiras. Entre 2012 e 2016 esse índice atingiu 92% e nenhum partido grande ficava abaixo de 85%. Indiscutivelmente esse expediente fazia parte das estratégias eleitorais de forma generalizada. Algumas, por sinal, pouco conhecidas. Por exemplo: um partido podia lançar sozinho até 1,5 vezes o total de vagas em disputa numa eleição proporcional. Em uma Câmara com 10 vagas, a legenda isolada apresentava até 15 nomes. Mas bastava se coligar a um ou mais partidos para esse total saltar para duas vezes: 20 nomes. A distribuição interna entre os parceiros cabia ao combinado por eles. Está aí uma estratégia interessante para uso das coligações: um partido grande se associa a um pequeno e aumenta seu volume de candidatos.

O que a mídia pensa – Opiniões / Editoriais

Diversidade nas urnas deve ser celebrada – Opinião | O Globo

Representação maior de negros, mulheres, gays e mandatos coletivos trazem novo ar à política

A eleição municipal oxigenou a política nacional. Além da renovação significativa das bancadas de vereadores — mais de 40% em algumas capitais — , trouxe maior diversidade racial, de gênero e até na forma de organizar a representação parlamentar, com a multiplicação de mandatos coletivos.

Negros eram 42%, agora são aproximadamente 45% dos 58 mil vereadores eleitos. A tendência é a proporção aumentar, com partidos obrigados ao financiamento eleitoral equitativo por raça. O melhor desempenho nesse aspecto foi do PCdoB, com negros representando dois terços dos candidatos eleitos. Ao todo, os indígenas conseguiram 25 prefeituras no país.

A participação feminina continua incipiente. Mulheres são maioria (53%) no eleitorado, mas ficaram restritas a 33,6% das mais de 557 mil candidaturas. Houve algum avanço. Conquistaram 13% das prefeituras no primeiro turno, segundo a Justiça Eleitoral, e devem superar 18% nas câmaras. São Paulo aumentou a bancada de quatro para onze vereadoras, no total de 55. No Rio, eram sete, e a partir do próximo ano serão dez entre 51 parlamentares.

Poesia | Cruz e Sousa - Livre

Livre! Ser livre da matéria escrava,

arrancar os grilhões que nos flagelam

e livre penetrar nos Dons que selam

a alma e lhe emprestam toda a etérea lava.


Livre da humana, da terrestre bava

dos corações daninhos que regelam,

quando os nossos sentidos se rebelam

contra a Infâmia bifronte que deprava.


Livre! bem livre para andar mais puro,

mais junto à Natureza e mais seguro

do seu Amor, de todas as justiças.


Livre! para sentir a Natureza,

para gozar, na universal Grandeza,

Fecundas e arcangélicas preguiças.