*Luiz
Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, em entrevista na Globonews, Em Pauta,
11/12/2020.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
sábado, 12 de dezembro de 2020
Opinião do dia - Luiz Henrique Mandetta*
Merval Pereira - Passando do limite
Se
havia alguma dúvida de que o presidente Bolsonaro queria ter um sistema de
inteligência que o servisse, e à sua família, em termos pessoais, agora não há
mais. É devastadora a revelação de Guilherme Amado na revista Época de que a
Agência Brasileira de Informação (Abin) fez pelo menos dois relatórios para
orientar a defesa do senador Flavio Bolsonaro na tentativa de anular as
investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro sobre o esquema de
“rachadinha” montado por ele e outros deputados estaduais na Assembléia
Legislativa do Rio.
O
diretor-geral da Abin é ninguém menos que o delegado Alexandre Ramagem, o mesmo
que Bolsonaro queria ter nomeado para a direção-geral da Polícia Federal, e foi
impedido por decisão do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal
Federal. A alegação para proibir sua nomeação foi evitar o que aconteceu agora.
O delegado tornou-se amigo da família quando passou a fazer a segurança pessoal
do então presidente eleito Jair Bolsonaro, e a partir daí sua proximidade com o
clã tornava sua nomeação potencialmente uma afronta ao princípio da
impessoalidade, da moralidade e do interesse público, exigências para a
nomeação de servidores.
Justamente no momento em que, por não concordar com a nomeação, o então ministro da Justiça, Sergio Moro, pedia demissão e acusava o presidente Bolsonaro de interferência na Polícia Federal. Aliás, esse caso da Abin já teve um começo escandaloso, quando foi denunciada pelo próprio Guilherme Amado uma reunião no Palácio do Planalto, com a presença do presidente Bolsonaro, do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), General Augusto Heleno, o diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, com os advogados do senador Flavio Bolsonaro, para discutirem caminhos para a defesa do filho do presidente das investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Hélio Schwartsman - A bússola moral de Bolsonaro
É
preciso fazer exatamente o contrário do que o presidente sugere
O
Brasil tem a incrível capacidade de, retrospectivamente, transformar
presidentes incompetentes em estadistas. Quando eu comecei no jornalismo, sob a
gestão de José Sarney, que assumira o posto com a inflação em 242% e o entregou
com ela em 1.973%, parecia impossível imaginar uma liderança pior que a dele,
mas aí veio Fernando Collor de Mello e tivemos de reconsiderar.
Presidentes desempenham sempre dois papeis. Precisam ser capazes de montar uma equipe de governo que entregue resultados, mas também exercem influência pelos exemplos que dão e pela forma como se posicionam diante das grandes questões que se apresentam para o país --algo que antigamente chamávamos de bússola moral.
Cristina Serra - O Brasil que virou Sucupira
O
Brasil de Bolsonaro é um arremedo patético da cidade de Odorico Paraguaçu
Circula
na internet um trecho de assustadora atualidade da novela "O
Bem-amado", escrita pelo genial Dias Gomes e exibida com grande sucesso
pela Rede Globo em 1973. Na cena, o prefeito da fictícia Sucupira, Odorico
Paraguaçu, planeja interceptar a carga de vacinas que poderia impedir um
morticínio na cidade, assolada por uma epidemia.
Horrorizado, seu auxiliar, Dirceu Borboleta, alerta que seria um genocídio. Odorico responde com um: "E daí?". Para quem não conhece a história, o principal objetivo do prefeito era inaugurar o cemitério da cidade. Mas seu projeto se frustra ao longo dos capítulos porque ninguém morre.
Alvaro Costa e Silva - O agregado do clã Bolsonaro
Com
Cláudio Castro, o governador em exercício, o Rio tão cedo não terá vacina; terá
mais mortes
O
estilo de Cláudio Castro nem de longe lembra o de Wilson Witzel. Este era
espalhafatoso e enfatiotado, ordenava disparar na cabecinha, comemorava mortes
como gols e, já caído em desgraça, insistia em fumar puros cubanos no Palácio
Laranjeiras. "Eu vou voltar, me aguardem", vive repetindo, como se
fosse um interno do Pinel.
O governador em exercício dá a impressão de querer sumir dentro de um buraco para que ninguém perceba que ele, no momento, tem o poder. Fala baixo, gaguejando e engolindo as palavras --o que é estranho para quem, antes da política, ganhava a vida como advogado e cantor gospel. Em seu mais notável ato de governo até agora, foi comer bife à milanesa com purê de batata no Lamas, restaurante no Flamengo que, com a pandemia, está ameaçado de fechar. "Temos de fazer alguma coisa para salvar os bares históricos", disse, entre garfadas.
Demétrio Magnoli – O Doria da vacina – e outros Dorias
Suspeito que, em 2022, todas as versões do governador marcharão juntas, num cortejo ritmado pela batida do oportunismo
"Os
dois fazem política com a vacina" —no rastro do bate-boca
entre João Doria e Eduardo Pazuello, sobraram analistas dispostos a
colocar um sinal de equivalência entre o governador paulista e Jair Bolsonaro.
A pretensa identidade sustenta-se na ideia de que a política é um domínio
tóxico —e no corolário segundo o qual, quando se trata de uma pandemia, deve
ser substituída pela pura razão científica.
Nenhuma
nação enfrentou a pandemia sem apelar à razão política, pelo simples motivo de
que existem argumentações científicas capazes de justificar diversas abordagens
(embora nem todas: cloroquina não vale!). A
Itália aplicou rígidos "lockdowns". A
Alemanha, quarentenas moderadas. A
Suécia, suaves restrições sanitárias. Nos três casos, especialistas
conceituados divergiram entre si e os governos adotaram as decisões finais,
guiadas pela política. No caso da vacina, Doria faz a boa política, norteada
pelo interesse público mais vital —e, se isso o beneficia politicamente, melhor
para ele.
O lance magistral foi a divulgação antecipada do cronograma de vacinação paulista. O xeque ao rei obrigou o governo Bolsonaro a mover suas peças.
Ricardo Noblat - Bolsonaro arrisca-se a enfrentar um processo de impeachment
Nova
acusação: o uso do aparelho de Estado em defesa dos filhos
O presidente Jair Bolsonaro sabia que a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), que não é órgão de governo, mas de Estado, orientou a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na tentativa de salvá-lo da acusação de ter embolsado dinheiro público quando era deputado estadual no Rio de Janeiro?
Essa
é mais uma pergunta que teima doravante em não calar, e que se reúne a um monte
de outras que Bolsonaro e seus auxiliares se recusam a responder. Uma não tão
antiga: por que Fabrício Queiroz e Márcia, sua mulher, depositaram 89 mil reais
na conta bancária de Michelle Bolsonaro, a primeira-dama?
Se
Bolsonaro sabia que a ABIN, chefiada por um delegado amigo dele e dos filhos,
ajudou a defesa de Flávio, cometeu crime de responsabilidade previsto na
Constituição e está sujeito a responder a processo de impeachment. O
Centrão, seu aliado, tem votos para impedir a cassação do mandato. A não ser…
Que
ironia! No dia em que se tornou público que a ABIN, em dois relatórios enviados
a Flávio e aos seus advogados, ensinou-lhes o caminho das pedras para garantir
a impunidade do senador, um juiz paulista arquivou processo por falta de provas
contra Lula e seu filho Lulinha, investigados por lavagem de dinheiro.
É a sétima investigação contra Lula que é encerrada por falta de elementos ou absolvição. Lula foi condenado apenas em processos abertos perante a Lava-Jato de Curitiba, conduzidos pelo então juiz Sérgio Moro. O Supremo Tribunal Federal ainda irá analisar a suspeição de Moro e poderá anular as condenações.
Marco Antonio Villa - Bolsonaro conspira contra a saúde pública
Transformar
a vacinação em instrumento de guerra política é uma enorme crueldade. Estamos
falando de vidas que podem ser salvas
Como esperado — infelizmente — Jair Bolsonaro está partindo para o confronto aberto com os brasileiros. É inaceitável o que o presidente da República está fazendo com as diversas vacinas para combater a Covid-19. O negacionismo está sendo elevado à potência máxima. É imperiosa a necessidade de iniciar o mais rapidamente possível a campanha nacional de vacinação. Transferir este evento para março de 2021 pode significar a morte de mais de 30 mil brasileiros, isto se a média macabra de óbitos se mantiver. É incompreensível vacinar apenas 1/3 da população. Neste ritmo a imunização vai demorar mais de dois anos.
Bolsonaro passou o ano inteiro conspirando contra a saúde dos brasileiros. Demitiu dois ministros da Saúde, atacou o distanciamento social, o uso de máscara, álcool em gel e demais cuidados. Afirmou inúmeras vezes que o novo coronavírus não passava de uma simples gripe, isto quando já sabíamos dos efeitos na Ásia e na Europa. Atrelou o combate à pandemia à política de Donald Trump. Os efeitos logo se manifestaram, ao norte do Rio Grande, que separa o México dos EUA, com o maior número de infectados e de óbitos. No nosso país a tragédia só não foi maior graças às ações corajosas de governadores e prefeitos, que, vale registrar, foram sistematicamente atacados e desqualificados por Bolsonaro e seus asseclas.
Entrevista | Rodrigo Maia: ‘Demora da vacina é maior erro político de Bolsonaro’
Andreza
Matais, Felipe Frazão e Tânia Monteiro, O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA
– O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o maior erro
político cometido pelo governo até agora foi não se preparar para comprar a
vacina contra o novo coronavírus.
“Isso pode impactar o projeto de reeleição”, afirmou ele, numa referência aos
planos do presidente Jair Bolsonaro para 2022. “Esse é
o tema que pode gerar o maior dano de imagem. As pessoas estão começando a
entrar em pânico, em desespero”.
Prestes
a terminar seu mandato como presidente da Câmara, Maia disse ao Estadão que o governo está
criando um “balcão” de negócios na Câmara para eleger o seu sucessor. Na sua
avaliação, o ministro da Economia, Paulo Guedes, se engana ao imaginar
que Bolsonaro interfere na disputa no Congresso, marcada para fevereiro de
2021, porque quer tocar as reformas. “Bolsonaro quer tocar a agenda
ideológica”, observou.
O deputado contou ter ouvido o rival Arthur Lira (Progressistas-AL) chamar Guedes de “vendedor de redes” – alguém que fala muito, mas entrega pouco. Líder do Centrão, Lira é candidato ao comando da Câmara com apoio do Palácio do Planalto. “Uma vitória do candidato do Bolsonaro o recoloca no processo político”, afirmou Maia.
O
senhor teve covid-19, pode contar como foi?
Passei
alguns dias muito difíceis, com pulmão bastante contaminado, com muito cansaço.
Fiz fisioterapia pulmonar todos os dias. Quase fui internado. Para quem tem
sintomas, não é uma doença simples. E eu tive o atendimento de hospital
privado, talvez da melhor médica do Brasil nessa área. Mas a maioria da
população não tem a mesma estrutura. Por isso que todos os procedimentos de
máscara, de álcool em gel, de algum isolamento em algum momento é importante
para que a gente não tenha a rede pública de saúde sem estrutura.
O
País assiste a uma briga política em torno da vacina e o governo não comprou
uma seringa até agora. Como sair disso?
A vacina é o ponto mais crítico do governo, o mais grave até hoje na sua relação com a sociedade. A demora na compra da vacina é o maior erro político de Bolsonaro. Esse é o tema que pode gerar o maior dano de imagem para o presidente. Faz voltar na memória das pessoas todos os erros do governo, desde o início da pandemia. Isso pode impactar o projeto de reeleição. Certamente, ele (Bolsonaro) tem pesquisa. E, se ele tem, está com essa mesma informação. As pessoas estão começando a entrar em pânico, em desespero. E aí ele isenta a importação de armas. Precisa tratar sem paixão, sem ideologia, esquecer o conflito com o governador de São Paulo.
João Gabriel de Lima - A política do fígado e a política do cérebro
O
time do cérebro e da análise de dados prevalecerá sobre o time das ‘fake news’?
Na
guerra pelo voto, há quem use o fígado. São políticos que cultivam inimigos,
apostam na divisão da sociedade, espalham fake news. Às vezes – você conhece
alguns exemplos – dá resultado. Há, no entanto, políticos que preferem usar o
cérebro e fidelizar os eleitores a partir de resultados. Eles recorrem a
estudos, visitam universidades, processam dados usando a melhor tecnologia. No
Brasil, são sobretudo políticos jovens. Para nossa sorte, essa geração
conquista seguidores e, cada vez mais, vence eleições.
Eles
representam, na política, a fronteira do conhecimento, e despertam o interesse
de universidades no mundo inteiro. Na era digital, o conhecimento se forma em
redes. Estudos sobre as melhores práticas circulam internacionalmente entre
departamentos de ponta. Na área de ciência política, o Instituto de
Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa é um dos nós
dessa rede globalizada. Na semana passada, um seminário do ICS recebeu um
estudioso brasileiro, Gilson Dutra.
Dutra trabalha com Felipe Rigoni (PSB-ES). No gabinete do deputado capixaba, ele desenvolveu um método de tomada de decisões baseado em dados. Tal método é aplicado, por exemplo, nas tradicionais emendas parlamentares. O gabinete de Rigoni criou um edital em que eleitores mandam propostas para a aplicação do dinheiro das emendas. As ideias são submetidas a estudos de impacto, a partir dos quais o deputado faz suas escolhas. Rigoni não é o único a usar métodos acadêmicos. Ele compartilha uma equipe de estudiosos com outros dois parlamentares, de partidos diferentes – o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e a deputada Tabata Amaral (PDT-SP).
Bolívar Lamounier* - Presença do blefe na atualidade política brasileira
O
coquetel covid + crise fiscal + desgoverno pode levar o País a um grave
retrocesso
Nas
condições em que se travou a disputa no segundo turno da eleição presidencial
de 2018, era mesmo difícil imaginar que chegaríamos a 2020 com um governo sério
e competente.
Agora,
porém, somos forçados a admitir que a situação é bem pior que a inicialmente
prevista, e não só por causa da pandemia. Os desafios, tanto na área econômica
como na sanitária, são aterradores, e não há como conceber um alívio
substancial nos próximos meses.
A
vitória de Jair Bolsonaro foi a consumação de um blefe meticulosamente
construído. Seu programa era um amontoado de metas altissonantes – como convém
a um bom blefe –, grudadas entre si pelo visgo da malícia. Naquele amontoado
desconexo e irrealista destacava-se a erradicação da “velha” política, ponto
que retomarei adiante. Mas o que realmente interessava, naquele momento, era
apresentar-se como o polo antipetista, o resto era recheio.
O blefe tem uma longa história na vida política brasileira. Seu marco cronológico clássico foi a eleição de Jânio Quadros em 1960 e sua renúncia em agosto de 1961. A vassoura, marca registrada do personagem que criou, já sugeria a intenção de combater a corrupção e a “velha” política – podendo nesse aspecto ser vista como uma avant-première do bolsonarismo. Mas o melhor estava por vir. Seria a renúncia, em agosto de 1961, comunicada em carta ao Congresso. Jânio imaginou que os parlamentares passariam vários dias discutindo a carta, engalfinhando-se enquanto o País entrava em convulsão. Dessa forma, ele voltaria ao Planalto nos braços do povo, com poderes ampliados. Mas o Congresso não foi na conversa e o homem da vassoura ficou a ver navios.
Adriana Fernandes – Tempestade de jabutis
Pautas
estão sendo votadas a toque de caixa e, como consequência, tem muita coisa
passando nessa boiada
Brasília está
sendo varrida por tempestades diárias de jabutis. Para quem não está
familiarizado com a linguagem política da capital federal, esse termo é usado
para classificar matérias estranhas que são negociadas nos bastidores e
incluídas de última hora nas votações do Congresso.
Na
maioria das vezes, só se conhece o estrago dias, semanas, meses depois. Assim
como seu irmão quelônio, esse tipo de animal legislativo tem casco convexo, uma
carapaça bem arqueada que funciona como uma caixa protetora para se
esconder.
Ele
dá as caras por aqui (a colunista escreve de Brasília) ao longo de todo o ano.
Mas quando vai chegando o mês de dezembro, proliferam.
Acontece
que neste fim de 2020, ano de pandemia e de eleição para o comando do
Congresso, variações de espécies de jabutis começaram a surgir. São os jabutis
que dão voto nas eleições. Eles turbinam as negociações do que é votado e
também do que é retirado da pauta.
Em
votação final ou o dependendo de mais uma votação, os parlamentares aprovaram,
nos últimos dias, a nova lei de licitações, a Medida Provisória da Casa Verde Amarela (que substitui o programa Minha Casa, Minha Vida), o projeto de navegação de cabotagem
(BR do Mar), novo marco do gás, o marco legal do reempreendedorismo (uma
espécie de lei falências para micro e pequenas empresas) e a transformação do
programa de crédito Pronampe em permanente.
Como o governo e parlamentares deixaram as votações para os últimos dias, tudo está sendo votado a toque de caixa e no plenário virtual. Tem muita coisa passando nessa boiada, avaliam técnicos da área econômica, sem muita manobra de ação.
Ascânio Seleme - Os candidatos
Decisão
do STF de barrar por serem inconstitucionais as reeleições de Rodrigo Maia e
Davi Alcolumbre inaugurou o lançamento de candidaturas nas duas casas
O Congresso Nacional começa
a viver os momentos de turbulência que antecedem a sucessão das mesas da Câmara
e do Senado. A decisão do Supremo Tribunal Federal de barrar por serem
inconstitucionais as reeleições de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre inaugurou o
lançamento de candidaturas nas duas casas. Esta coluna não quer fazer juízo de
valor, mas vai nomear cada um dos já lançados e acrescentar pequenas bios das
suas trajetórias nas tramas da justiça. A elas.
CÂMARA
Arthur
Lira (PP-AL),
candidato do presidente Bolsonaro. Réu por desvio de dinheiro do erário e por
enriquecimento ilícito; denunciado na Lava-Jato por lavagem de dinheiro;
acusado pelo Ministério Público de Alagoas por desviar R$ 1 milhão através de
rachadinhas durante mandato de deputado estadual; denunciado no STF por
agressão à sua ex-mulher, que o acusou de participar de um esquema de corrupção
em seu estado.
Aguinaldo
Ribeiro (PP-PB),
foi ministro de Dilma e depois votou contra ela no processo de impeachment.
Acusado pelo doleiro Alberto Youssef de receber mesada do PT para votar a favor
das pautas do partido; citado na delação da Odebrecht por receber propina;
denunciado pelo ex-procurador Rodrigo Janot por fazer parte da organização
criminosa que assaltou a Petrobras.
Luciano
Bivar (PSL-PE),
presidente do partido que abriu as portas para Bolsonaro ser candidato em 2018.
Em 2013, admitiu ter pago propina para a CBF para que o técnico da seleção
Emerson Leão convocasse o jogador Leomar, que à época pertencia ao Sport, clube
que Bivar dirigia; indiciado pela PF no esquema de laranjas do PSL nas eleições
de 2018.
Marcos
Pereira (Republicanos-SP), bispo licenciado da Igreja Universal, foi
ministro do governo Temer. Ficou quase dois anos no cargo, mas se viu obrigado
a renunciar ao posto quando seu nome apareceu na lista da Odebrecht como um dos
beneficiários das propinas da empresa.
Elmar
Nascimento (DEM-BA), deputado de segundo mandato. Acusado de ser um dos 81
parlamentares beneficiários do esquema da Odebrecht de distribuição de dinheiro
para campanhas em caixa dois através da cervejaria Itaipava.
Baleia
Rossi (MDB-SP),
presidente nacional da sigla desde o fim da era de Romero Jucá. Foi acusado em
2016 pelo lobista Marcel Júlio como participante de um esquema de extorsão de
fornecedores de merenda para escolas públicas de São Paulo. Mais tarde, o Coaf
apresentou uma lista de envolvidos sem o seu nome.
Tereza Cristina (DEM-MS), ministra da Agricultura de Bolsonaro e deputada licenciada. Acusada de dar calote em cinco empréstimos que tomou de bancos e fundos de investimentos agropecuários, entre eles, um da JBS, para projetos rurais particulares.
Marcus Pestana* - Bússola, anestesia e imobilismo
Já são 180 mil vidas perdidas para a COVID-19 em terras brasileiras. 2020, o ano que quase não existiu, aproxima-se do final. A genial divisão gregoriana do calendário tem o condão de industrializar a esperança, como decifrou Drummond. Miramos o futuro, enxergamos um novo ano: certamente será melhor. A esperança é o motor do desenvolvimento humano. Mas sabemos que o destino não é roteiro de teatro previamente estabelecido. As circunstâncias históricas impõem limites, mas não somos seres passivos, escravos dos desígnios do inevitável. O futuro depende de nossas escolhas, da bússola que nos orienta, da capacidade de agir e transformar a realidade.
No Brasil, vivemos a segunda onda da pandemia. O número de casos e mortes voltou a crescer. A sólida articulação interfederativa, ponto forte do SUS, foi perdida. O Ministério da Saúde renunciou à coordenação nacional do sistema. O embate com estados e municípios virou uma constante. Até hoje não temos um protocolo clínico nacional. O plano nacional de imunização não veio à tona. A polêmica sobre as vacinas seria cômica se não fosse trágica. E, ao invés de agilizar a importação de seringas, refrigeradores de alta potência e vacinas, o governo zera a alíquota do imposto de importação de pistolas e revólveres.
Guilherme Amado - A Abin e a operação para ‘defender FB’ e enterrar o caso Queiroz
Abin
produziu pelo menos dois relatórios de orientação para Flávio Bolsonaro e seus
advogados sobre o que deveria ser feito para obter os documentos que
permitissem embasar um pedido de anulação do caso Queiroz
A
Agência Brasileira de Inteligência (Abin) produziu pelo menos dois relatórios
de orientação para Flávio Bolsonaro e seus advogados sobre o que deveria ser
feito para obter os documentos que permitissem embasar um pedido de anulação do
caso Queiroz. Nos dois documentos, obtidos pela coluna e cuja autenticidade e
procedência foram confirmadas pela defesa do senador, a Abin detalha o
funcionamento da suposta organização criminosa em atuação na Receita Federal
(RFB), que, segundo suspeita dos advogados de Flávio, teria feito um escrutínio
ilegal em seus dados fiscais para fornecer o relatório que gerou o inquérito
das rachadinhas. Enviados em setembro para Flávio e repassados por ele para
seus advogados, os documentos contrastam com uma versão do general Augusto
Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, que afirmou
publicamente que não teria ocorrido atuação da Inteligência do governo após a
defesa do senador levar a denúncia a Bolsonaro, a ele e a Alexandre Ramagem,
diretor da Abin, em 25 de agosto.
Um
dos documentos é autoexplicativo ao definir a razão daquele trabalho. Em um
campo intitulado “Finalidade”, cita: “Defender FB no caso Alerj demonstrando a
nulidade processual resultante de acessos imotivados aos dados fiscais de FB”.
Os dois documentos foram enviados por WhatsApp para Flávio e por ele repassados
para sua advogada Luciana Pires.
O primeiro contato de Alexandre Ramagem com o caso foi numa reunião no gabinete de Bolsonaro, em 25 de agosto, quando recebeu das mãos das advogadas de Flávio uma petição, solicitando uma apuração especial para obter os documentos que embasassem a suspeita de que ele havia sido alvo da Receita. Ramagem ficou com o material, fez cópia e devolveu no dia seguinte a Luciana Pires, que voltou ao Palácio do Planalto para pegar o documento, recebendo a orientação de que o protocolasse na Receita Federal. A participação da Abin, a partir daí, seguiria por meio desses relatórios, enviados a Flávio Bolsonaro, com orientações sobre o que a defesa deveria fazer.
Monica de Bolle* - As vacinas e a desigualdade
Os
vulneráveis, os trabalhadores essenciais, as cuidadoras, as pessoas que
precisam sair para trabalhar assistirão não apenas ao resto do mundo recebendo
os imunizantes, como também a seus conterrâneos abastados sendo
Desde
que soubemos os resultados dos ensaios clínicos em fase III da Pfizer/BioNTech
e da Moderna, tenho refletido sobre como as estratégias de imunização em
diferentes países podem interagir com as desigualdades existentes,
multiplicando-as. São muitos os canais, mas esboçarei aqui os que mais me
preocupam.
O
primeiro deles é óbvio: as vacinas de última geração, as que utilizam o RNA
mensageiro para induzir uma resposta imune, são vacinas relativamente caras, o
que significa que países mais pobres dificilmente terão acesso a elas — isso
sem considerar os desafios de armazenamento e distribuição associados a essas
vacinas. Portanto, é bastante provável, quase certo na verdade, que a população
dos países mais ricos tenha mais proteção para a Covid-19 do que a população
dos países mais pobres.
Raciocínio semelhante se aplica ao Brasil. O país fez acordo para a produção e distribuição de duas vacinas: a da AstraZeneca/Oxford, em associação com a Fiocruz, e a CoronaVac, parceria da Sinovac com o Butantan. Essas vacinas, entretanto, ainda não têm resultados claros sobre sua eficácia, isto é, sobre o grau de proteção que conferem. A CoronaVac não publicou tais resultados provenientes do ensaio clínico, enquanto a AstraZeneca teve problemas significativos de transparência nos dados e de dosagem durante os ensaios conduzidos no Reino Unido. Os dados de eficácia que juntaram as informações obtidas dos ensaios no Brasil com as do Reino Unido não foram conclusivos a ponto de dar uma boa margem de confiança sobre o grau de proteção. Diante desses problemas e da constatação de que as campanhas de imunização com as vacinas de última geração estão começando em vários países, o governo brasileiro anunciou a compra de 70 milhões de doses da vacina da Pfizer, que requer cadeias de ultrarrefrigeração para armazenamento. Contudo, apenas 8,5 milhões de doses estarão disponíveis no primeiro semestre, pois o planejamento do Ministério da Saúde foi falho. Como a vacina é dada em duas doses, apenas 4,3 milhões de pessoas receberão a vacina cuja eficácia já é conhecida no primeiro semestre de 2021. Haverá, portanto, racionamento. E não é difícil imaginar que aqueles que receberão as vacinas de ponta serão os mais ricos, não os mais pobres desproporcionalmente afetados pela doença.
Luiz Paulo Costa* - 180 mil mortes por Covid-19 e a prevenção
O que falta fazer para convencer esses compatriotas do risco que estão correndo? A morte de algum conhecido ou parente? A sua própria morte não será porque isto não convenceu muitos dos 180 mil brasileiros estimados para morrer. E eles não tiveram a oportunidade de acreditar que isto poderia acontecer. E aconteceu!
O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais
O
patrimonialismo da família Bolsonaro é praticado à luz do dia, sem uma nesga de
republicanismo, um simulacro de impessoalidade que seja
Seria inapropriado dizer que Jair Bolsonaro confunde os papéis de pai e de presidente da República. A bem da verdade, ele nem sequer esconde que não dissocia uma coisa da outra ao se envolver pessoalmente na mobilização de estruturas de Estado e de governo para agirem no melhor interesse dos filhos. O patrimonialismo é praticado à luz do dia, sem uma nesga de republicanismo, um simulacro de impessoalidade que seja. Se nada for feito contra esse despautério, à Nação restará se contentar com o fato de Jair Bolsonaro ter apenas quatro filhos adultos a demandar seus cuidados, ou talvez mais uma estatal tivesse de ser criada só para dar conta das demandas de seus rebentos.
O
pai presidente, que um dia cogitou dar o “filé mignon” da embaixada brasileira
nos Estados Unidos para o filho “02”, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), a
despeito de seu flagrante despreparo para o cargo diplomático, agora não vê
problemas de ordem ética em uma obscura relação entre uma empresa que presta
serviços para o governo federal e seu filho “04”, Jair Renan. A Folha de
S.Paulo revelou há poucos dias que a cobertura com fotos e vídeos da festa
de inauguração da empresa de Jair Renan – a Bolsonaro Jr. Eventos e Mídia – foi
feita graciosamente pela Astronauta Filmes, que neste ano já recebeu R$ 1,4
milhão em contratos com o governo federal. Evidentemente, nada há de gracioso
em um serviço que é prestado para um dos filhos do presidente da República.
Ao não condenar a prática, como se fosse algo normal, o presidente Bolsonaro mostra que trata a Presidência como se fosse uma administradora dos assuntos de interesse de sua família.
Poesia | Charles Baudelaire - Correspondências
A Natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam sair às vezes palavras confusas:
Por florestas de símbolos, lá o homem cruza
Observado por olhos ali familiares.
Tal longos ecos longe lá se confundem
Dentro de tenebrosa e profunda unidade
Imensa como a noite e como a claridade,
Os perfumes, as cores e os sons se transfundem.
Perfumes de frescor tal a carne de infantes,
Doces como o oboé, verdes igual ao prado,
– Mais outros, corrompidos, ricos, triunfantes,
Possuindo a expansão de algo inacabado,
Tal como o âmbar, almíscar, benjoim e incenso,
Que cantam o enlevar dos sentidos e o senso.