terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Luiz Werneck Vianna* - As velas pandas de Ulisses Guimarães

A posse de Joe Biden na presidência dos EUA, a rigor uma solenidade cívico-religiosa concebida para reanimar as crenças nos temas e ideais fundadores da sua sociedade, ao menos por ora afasta em todos os quadrantes os riscos para a segurança comum representados pelo que foi o governo Trump em sua versão degradada do nacional-populismo. De fato, há o que comemorar, embora não se possa desconsiderar que Trump, mesmo que amplamente derrotado nas urnas, obteve mais de 70 milhões de votos e uma legião de fanáticos seguidores, uma parte deles organizados em milícias, vistas a olho nu na tentativa insurrecional de 6 de janeiro de barrar a certificação eleitoral da vitória de Biden. E, para eles, deixou suas últimas palavras de que por algum modo, voltaria.

O augúrio fúnebre tem como ser evitado, as forças democráticas foram testadas em sua vitoriosa campanha eleitoral em que deram provas de sabedoria política, agora confirmada pela decisão de apresentar o impeachment ao senado, e sobretudo pelas medidas de impacto já efetivadas nas frentes sanitária e econômica com que se espera diluir a influência do trumpismo. O processo do impeachment, como se sabe, pode culminar com a interdição definitiva de Trump da vida política. Caso bem-sucedidas, tais intervenções benfazejas põem por terra o projeto de arregimentar em novo partido com os salvados do trumpismo, o Patriota, de óbvia má índole fascista.

Nada disso é estranho à nossa sorte. Uma das marcas do trumpismo esteve na sua tentativa de criar uma internacional reacionária, missão confiada ao ex-estrategista do governo Trump, Steve Bannon, perdoado do crime de fraude num dos seus últimos atos, que conta entre seus aderentes personagens do governo Bolsonaro e da sua família. Tal como a  Hidra de Lerna, o trumpismo tem várias cabeças e somente pode ser exterminada com a amputação delas cauterizadas as suas feridas, sem o que renascem como na mitologia. O governo Bolsonaro é um sobrevivente da debacle do trumpismo nesta nossa América Latina que reinicia seu encontro com sua história de luta por liberdades. Barrar seu caminho importa, além de outros motivos relevantes impedir que nosso país se torne um reduto da central reacionária do trumpismo nesse sub-continente.

Merval Pereira - Punição simbólica

- O Globo

Para que o impeachment de um presidente ganhe condições políticas para ser desencadeado, é preciso o povo nas ruas, como vários de nossos líderes têm apontado. Mas, se esta é uma condição necessária, não é suficiente por si só. No seu hoje já clássico estudo "Repensando o presidencialismo: contestações e quedas presidenciais na América do Sul", a professora Kathryn Hochstetler, hoje na London School of Economics (LSE) , aponta três razões para um presidente não terminar seu mandato na América do Sul: ausência de uma maioria parlamentar de apoio ao presidente; envolvimento pessoal do chefe de governo com escândalos de corrupção; e mobilização popular.

Com a adesão do Centrão a seu governo, o presidente Bolsonaro está se blindando contra um eventual pedido de impeachment, e por isso também se empenha para ter na presidência da Câmara e do Senado políticos ligados a essa base parlamentar. Políticos de oposição que apoiam os candidatos do Palácio do Planalto, principalmente na Câmara, que é quem dá inicio ao processo, estão ajudando Bolsonaro nesse intuito.

Estudo do Observatório do Legislativo Brasileiro, Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) mostra que o índice de aprovação das iniciativas do governo no Congresso tem ficado em 72,5%, abaixo dos outros presidentes recentes nesse período de mandato, só superior ao índice da ex-presidente Dilma Rousseff, que era de 58,2% perto de seu impeachment.

Essa adesão basicamente reflete a presença do Centrão, mas também um tipo de chantagem política. O Centrão sempre cobra mais. Agora mesmo pode fazer os presidentes da Câmara e do Senado, e vai controlar o processo legislativo. Esse controle vai exigir do governo uma negociação muito mais aprofundada.

Carlos Andreazza - Plano nacional pró-pandemia

- O Globo

Governo trabalha para que a peste permaneça

O fenômeno reacionário que Bolsonaro encarna precisa de imprevisibilidade para prosperar. Nada melhor do que uma pandemia artificialmente prolongada. O governo trabalha para que a peste permaneça. Isto é verificável.

Por exemplo: o caso do consórcio Covax, de abril de 2020. O Brasil tinha a opção de adquirir doses para cobrir até 50% de sua gente. Optaria, contudo, pela cota mínima — 10% de alcance. A justificativa foi que montara estratégia dedicada a acordos bilaterais, com os quais teria melhores condições para preço e transferência de tecnologia. Ok.

O mundo real, entretanto, impôs-se. E chegamos a 2021 com apenas uma parceria bilateral firmada — para a vacina de Oxford. Só em 22 de janeiro as primeiras duas milhões de doses decorrentes desse contrato pousaram no país. Volume modesto fabricado na Índia, pelo qual se pagou duas vezes mais que membros da União Europeia pelo mesmo imunizante. Um acordo bilateral que — até aqui — custou caro e entregou pouco. E que não pôde ainda honrar a parte do pacto relativa à transferência de tecnologia; impossibilidade prática derivada da inexistência de insumos para o trabalho da Fiocruz.

Míriam Leitão - O projeto que foi sem nunca ter sido

- O Globo

O presidente Bolsonaro apoiou o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para a presidência do Senado e esse foi o detonador da saída de Wilson Ferreira da Eletrobras. Pacheco é velho adversário do processo pelo qual o governo venderia o controle da estatal de energia. Numa de suas entrevistas, ele avisou que a aprovação do projeto de lei que permitirá a privatização não é prioridade. Ferreira fez os cálculos e concluiu que, se não vender este ano, não venderá em ano eleitoral e resolveu sair. É isso que se conta nos bastidores da empresa.

Oficialmente, Wilson Ferreira falou de forma mais vaga. Citou “candidatos” à presidência do Congresso. Pacheco já fez parte de frentes antiprivatização do setor elétrico.

O anúncio da renúncia de Wilson Ferreira foi visto como algo maior no mercado. “É o fim do projeto liberal”, me disse ontem cedo um economista de banco. Isso se refletiu em Nova York. A ADR da Eletrobras, que já havia caído 5% na sexta-feira, abriu em queda de 5%, aprofundou para 10% e terminou o dia com desvalorização de quase 12%.

É um espanto que ainda se acredite que Bolsonaro seguirá algum projeto liberal. Neste espaço escrevi sobre meu ceticismo antes de o governo tomar posse. Um intervencionista não privatiza. E pode ser ainda pior, no caso da Eletrobras. Na companhia se acredita que o sucessor será escolhido entre executivos que estão lá e que são de carreira, ou entre os selecionados por um head hunter que será contratado pelo conselho de administração. O problema é que o cargo pode ser colocado no balcão, onde Bolsonaro tem posto muitas mercadorias. Para evitar, por exemplo, que surja algo como o impeachment do qual se fala no país.

Ricardo Noblat - O plano de Bolsonaro para chegar politicamente vivo em 2022

- Blog do Noblat / Veja

Evitar o impeachment é a prioridade número 1

Mesmo quando meia dúzia de pesquisas de opinião, aplicadas por institutos diferentes, coincidem em apontar na mesma semana determinado resultado, o entendimento dos especialistas no assunto aconselha esperar as próximas para conferir se isso indica uma tendência ou o registro apenas de um soluço.

Os institutos Paraná, Ipesp, IDEIA, Datafolha e Atlas atestaram nos últimos cinco dias a queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro. A reprovação a ele saltou de 32% para 40%, segundo o Datafolha. Mas só futuras pesquisas, respeitando o mesmo intervalo de tempo, confirmarão se Bolsonaro está ladeira abaixo.

Nem por isso o governo pode esperar para ver o que acontece. Bolsonaro não teve um plano para combater a pandemia da Covid-19. Ou melhor: seu plano era deixar que o vírus contaminasse mais de 70% dos brasileiros para que a partir daí a pandemia começasse a ceder. Resultado até agora: quase 220 mil mortos.

Mas plano para manter-se no poder e – quem sabe? – reeleger-se daqui a um ano, ele tem, e começa a ser executado. Primeiro ponto do plano: emplacar nomes de sua inteira confiança nas presidências da Câmara dos Deputados e do Senado. Os nomes: Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

O mais importante dos dois é Lira. Cabe ao presidente da Câmara aceitar a abertura de processo de impeachment contra o presidente da República. Há 56 pedidos na Câmara. Se eleito, Lira não aceitará nenhum. A não ser que Bolsonaro se enfraqueça ao ponto de tornar impossível a tarefa de sustentá-lo.

Luiz Carlos Azedo - Pazuello em Manaus

- Correio Braziliense

O ministro do STF Ricardo Lewandowski autorizou a abertura de inquérito para investigar a conduta do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, na crise sanitária no Amazonas, onde o SUS entrou em colapso

Em tempos de quarentenas e isolamento social, o filme Operação Final é um dos mais populares da Netflix. Narra o sequestro do criminoso nazista Adolf Eichmann (Ben Kingsley, em interpretação magistral), na Argentina, para submetê-lo a julgamento em Jerusalém pelos crimes que cometeu na Segunda Guerra Mundial. Os principais líderes nazistas, como Adolf Hitler, evitaram a Justiça por meio do suicídio, mas o responsável pelos campos de concentração conseguiu escapar e vivia escondido, até ser identificado e localizado por causa das suas ligações com a extrema direita argentina.

Fugitivo, Eichmann era imaginado como um sujeito brutal e sanguinário, mas o julgamento mostrou outro tipo de personalidade: um burocrata militar (tenente-coronel das SS), cujo objetivo central era vencer na vida a todo custo, incapaz de refletir sobre as consequências de suas ações. Eichmann era o gestor de um conjunto de instruções voltadas à destruição dos judeus. Cumpria ordens para dar cabo dos objetivos genocidas do movimento nacional-socialista alemão, fundado e chefiado por Hitler. Era o mais comum dos homens, educado, inteligente e afirmava que, particularmente, não era antissemita. Era apenas um servidor público cumpridor das leis.

Eichmann foi um dos responsáveis pelo transporte dos prisioneiros judeus para os campos de concentração. Ele cuidava da logística que levaria milhões de pessoas aos mais diversos tipos de torturas e à morte. Entretanto, via sua função como sendo apenas parte do sistema, como se estivesse meramente cumprindo ordens, executando corretamente suas tarefas, sem levar em consideração o que realmente significava sua parte no esquema nazista. Ele era um de muitos do mesmo tipo, indiferente ao sofrimento alheio, com frieza e incapacidade de comiseração.

Eliane Cantanhêde - Maricas, covardes, picaretas

 
- O Estado de S. Paulo

Bolsonaro faz escola e até desembargador e enfermeira aderem ao baile funk na pandemia

O presidente Jair Bolsonaro cai nas pesquisas pelo negacionismo diante da pandemia e do desdém pelas vacinas. A Procuradoria-Geral da República pede e o Supremo autoriza a investigação do general da ativa Eduardo Pazuello pela falta de oxigênio e as mortes em Manaus. O deputado Rodrigo Maia aproveita sua última semana na presidência da Câmara para dizer que não há dúvida de que Pazuello cometeu crime e defender a criação da CPI da Saúde.

Falta, porém, responsabilizar autoridades e cidadãos que negam a pandemia, fazem campanha contra o isolamento social e a própria vacina, que são as únicas armas para salvar vidas, conter o vírus, aliviar a pressão sobre o sistema de saúde e, assim, normalizar a economia e o próprio País. Eles também têm culpa.

São magistrados, parlamentares, empresários e irresponsáveis em geral, até da área de saúde, movidos pelo negacionismo, a ideologia irracional, a falta de respeito e empatia com os quase 220 mil brasileiros mortos. Esse mau exemplo, que começa com o presidente da República e decanta pelos seguidores da sua seita, induz jovens, idosos, homens e mulheres a relaxar os cuidados na pior hora. Tome baile funk nas periferias! E barzinho cheio dos bairros chiques!

Ana Carla Abrão* - Fraturas

- O Estado de S. Paulo

Não foi o coronavírus que gerou nossa desigualdade social. Mas ele a ampliou

Há 50 anos, o Fórum Econômico Mundial (WEF, da sigla em inglês) foi fundado. Desde então, governantes, agentes públicos e empresários do mundo todo se reúnem anualmente em Davos. A pequena cidade suíça tem seus dias de glória nos meses de janeiro, quando o mundo acompanha seu inverno frio e branco emoldurando discussões sobre o desenvolvimento econômico e social global. Este ano, como em tantos outros casos, Davos ficará vazia. Mas os debates não deixarão de acontecer. De outra forma, mas com grande ênfase.

É durante o WEF que se publica o Relatório de Riscos Globais (RRG). Já são 16 edições que anualmente busca apontar os maiores riscos e seus potenciais impactos sobre o mundo. O relatório veio a público esta semana trazendo a perspectiva de líderes públicos e privados sobre o que pode comprometer a prosperidade global em áreas como economia e meio ambiente, mas também geopolítica, questões sociais e tecnologia. Em 2021, o desafio nesse mapeamento foi maior. Afinal, não é fácil falar de riscos após o inesperado tsunami da covid-19. Não que esse risco estivesse completamente fora do radar. Mas sua ocorrência, severidade e impactos superaram as previsões do mais adverso dos cenários possíveis. 

Rubens Barbosa* - Notas sobre a carta de Bolsonaro a Biden

- O Estado de S. Paulo

Importante entender as entrelinhas. Não vai ser fácil o diálogo entre os dois governos

A carta do presidente Bolsonaro enviada a Joe Biden por ocasião da posse como presidente dos EUA, na forma, parecia ter sido escrita pelo velho Itamaraty ao descrever a relação entre os dois países. Os comentários sobre os valores compartilhados, as coincidências e os avanços recentes refletem as posições do atual Itamaraty durante o governo Trump e estão longe de poder ser associadas ao governo Biden, a menos que o texto indique uma bem-vinda correção de rumos na política externa brasileira… Importante é entender o que está nas entrelinhas da correspondência presidencial.

Uma primeira observação esclarecedora diz respeito à referência de que o atual governo “corrigiu os equívocos de governos brasileiros anteriores, que afastaram o Brasil dos EUA, contrariando o sentimento de nossa população e os nossos interesses comuns”. Como embaixador em Washington nos governos FHC e Lula (1999-2004), devo dizer que recebi diretamente dos dois presidentes instruções precisas para manter e ampliar as relações bilaterais, o que foi feito com resultados muito concretos para o Brasil durante os cinco anos em que lá permaneci. O posterior predomínio de considerações partidárias a partir de certo momento no governo Lula e no governo Dilma realmente afetou o relacionamento entre os dois países, como tive ocasião de prever e registrar em meu relatório final de gestão. A normalidade e o tratamento construtivo na relação entre os dois países foram retomados em seguida, com o governo Michel Temer.

Hélio Schwartsman - O ponto de virada pelo impeachment

- Folha de S. Paulo

Os próximos dias dirão se a mudança de humor veio para ficar

Na última coluna em que defendi o impeachment de Bolsonaro, dia 11, eu pregava para convertidos. Em duas semanas, a maré virou, e a possibilidade de afastamento do presidente se tornou o grande tema nacional. O que houve nesses 15 dias?

A mudança não se deu no panorama geral. A inadequação do presidente e de seu governo, consubstanciada na sucessão de eventos passíveis de enquadramento como crime de responsabilidade, já estava presente.

Também já estavam em curso fenômenos que sabíamos que afetariam negativamente a popularidade da gestão, como o fim do auxílio emergencial e a segunda onda da epidemia. Ainda que tenham contribuído para a mudança, esses fatores não são bons candidatos a "tipping points" (pontos de virada).

Cristina Serra - Pandemia e barbárie

- Folha de S. Paulo

Solidariedade. É disso que mais precisamos.

A tragédia humanitária e sanitária em que estamos mergulhados nos confronta com uma crise ética e civilizacional de igual gravidade. Estamos todos perdendo com a negligência criminosa do governo. Mas quem tem dinheiro acha que pode contornar a demora na imunização passando à frente dos que deveriam estar em primeiro lugar: profissionais de saúde, idosos e quem tem comorbidades.

No começo deste mês, soube-se que clínicas privadas negociavam diretamente com uma farmacêutica na Índia a compra de vacinas, alegando tratar-se de ação complementar ao SUS. Agora, a coluna Painel informa que grandes corporações negociam com o Ministério da Saúde a compra de doses no exterior.

Metade seria entregue ao SUS, metade ficaria para funcionários das empresas e seus parentes.

Alvaro Costa e Silva - Governo deve tomar Simancol

- Folha de S. Paulo

Indicado àqueles que não se mancam, remédio é o mais eficaz no combate à falta de responsabilidade

Deveria haver um prazo obrigatório a se cumprir na criação de factoides e fake news. Uma vez utilizada, a mentira entraria em férias —temporada de dois anos, com tudo pago, em Miami—, findas as quais voltaria a ser permitido mentir de novo sobre aquele determinado assunto. Pois, na velocidade com que caminham hoje as longas pernas mentirosas, a patranha ocorre de cinco em cinco minutos. Nem dá tempo de retocar, com óleo de peroba, a cara do Pinóquio de plantão.

Especialista em logística e estoque de quartel, o general Pazuello virou um ministro da Saúde marionete, cujos cordéis são manipulados pelo chefe da trupe. Num dia diz uma coisa, no outro desdiz. O certo é que seus almoxarifados estão cheios até o teto de cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, nitazoxanida e Tamiflu.

Andrea Jubé - As pedras no caminho para 2022

- Valor Econômico

Rachados, DEM e PSDB serão fiéis da balança na Câmara

À medida que se aproximam “o dia D e a hora H” da eleição para as Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, fica claro como o espelho d’água do Congresso o vínculo entre a disputa no Legislativo e a sucessão presidencial.

O empecilho ao sucesso dessas articulações temporãs é a pedra no meio do caminho, para usar uma metáfora de Drummond. Atiraram a pedra no espelho d’água, e agora a turbulência pode afundar o barco das alianças para 2022, num cenário em que PP, DEM, PSDB e MDB querem ser os timoneiros.

O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), já expressou o apoio à reeleição de Jair Bolsonaro em uma coligação precoce que agrega o PL de Valdemar Costa Neto. O enlace é o pano de fundo do apoio do Palácio do Planalto à candidatura do líder do PP, Arthur Lira (AL), à presidência da Câmara.

Nogueira armou-se até os dentes para eleger Lira, enquanto em paralelo blinda Bolsonaro de um hoje remoto avanço do impeachment.

No último domingo, Nogueira, que não é ativo nas redes sociais, foi ao Twitter para interferir em um debate entre Lira e Baleia Rossi (MDB-SP) sobre a disposição do vencedor da eleição em pautar o impeachment.

Lira acusa Baleia de prometer ao PT a abertura do processo, se for eleito. E o emedebista questiona Lira quanto a um eventual compromisso com o Planalto de engavetá-lo.

Luiz Carlos Mendonça de Barros* - A covid 19 contra-ataca

- Valor Econômico

No curto prazo não sobra alternativa de defesa senão uma outra rodada de estímulos econômicos, inclusive transferência de renda para os mais pobres

Confesso ao leitor do Valor que meu otimismo estrutural com a ação do ser humano diante de uma crise grave que atinge, de tempos em tempos, nossa sociedade está sendo fortemente questionado neste início de 2021. Esperava eu que com o início da vacinação em grande número de países, a crise da saúde - e sua derivada econômica - poderiam continuar a ser enfrentadas com as armas hoje à disposição de governos e sociedade. Com a redução das medidas de afastamento social testadas ao longo de vários meses e as medidas de natureza keynesianas implantadas na maioria das economias de mercado, a profunda recessão que se seguiu foi controlada e, nos últimos meses de 2020, iniciamos a volta de um ciclo econômico de normalidade.

Os dados econômicos conhecidos até o mês de novembro mostram uma recuperação em V com o braço ascendente da curva da atividade econômica na maioria dos países chegando quase ao mesmo nível de março passado, quando a crise chegou aos mercados mais importantes do mundo. Apenas os indicadores das atividades do setor de serviço - principalmente as de refeições fora do domicílio e mobilidade aérea - tiveram uma recuperação mais lenta e terminaram 2020 bem abaixo de antes do início da crise.

Meu otimismo com 2020/2021 vinha exatamente da abrangência das medidas econômicas implantadas pelos governos nacionais e da certeza que as reações dos agentes econômicos diante de tantos estímulos fiscais que chegaram a mais de 10% do PIB e uma postura altamente expansionista dos Bancos Centrais seria a de acelerar seus negócios.

Rana Foroohar* - O ‘grande ajuste’ da economia com Biden

-Financial Times / Valor Econômico

Ventos contrários deflacionários para o trabalho estão diminuindo

“É hora de recompensar o trabalho duro na América - e não a riqueza” Esta declaração do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, talvez seja a expressão mais concisa dos planos de política econômica do novo governo. Biden quer aumentar o salário mínimo nacional, elevar os impostos das empresas e começar a fazer pender a balança de poder entre o trabalho e o capital.

A participação do trabalho na renda nacional - a soma do PIB pago aos trabalhadores em salários e benefícios - vem caindo nos EUA e em muitos outros países desenvolvidos desde os anos 80. A queda desde 2000 foi particularmente íngreme, levando a salários estagnados, aumento da desigualdade e uma perda do poder de compra do consumidor.

Mas de muitas maneiras este é um momento difícil para o governo Biden inverter essa situação. Com o desemprego ainda elevado por causa da pandemia, não há uma pressão natural de alta dos salários. E alguns economistas afirmam que intervir para aumentar o salário mínimo agora desencorajaria as contratações.

Além disso, muitas companhias que sobreviverem à pandemia tentarão reduzir seus custos substituindo trabalhadores por tecnologia. De fato, a automação é um dos principais fatores por trás do declínio de várias décadas da participação do trabalho no PIB, segundo um estudo feito em 2019 pelo McKinsey Global Institute.

No entanto, há três grandes motivos por que podemos ainda estar em um importante ponto de virada na linha divisória entre o trabalho e o capital nos EUA.

O primeiro é que o governo Biden acaba de invocar a Lei de Proteção de Defesa (Defense Production Act) para forçar o setor privado a acelerar a produção e a distribuição de vacinas. Isso criará imediatamente mais demanda por empregos - uma tendência que poderá continuar depois da pandemia, uma vez que há clamores bipartidários pelo fortalecimento das cadeias de fornecimento domésticas para outros produtos farmacêuticos e para alimentos.

Aylê-Salassié F. Quintão* - Vulnerabilidade cria um cenário distópico para a humanidade

O conselheiro médico da Casa Branca, Anthony Fauci, reabriu a semana passada com uma discussão altamente delicada. Adiantou, ambiguamente, que Biden passará a defender maior atenção à saúde das mulheres, incluindo   direitos sexuais e “à saúde reprodutiva”. É dúvida se o novo governo dos Estados Unidos – terceiro pais mais populoso do mundo: 330 milhões de habitantes -  não estaria camuflando o reagendamento público de um assunto velho: o controle populacional. Biden aponta o fim de aliança antiaborto com Brasil e defende que o tema volte à agenda global.

Um grupo de 30 países, nos quais se inclui o Brasil, recusa-se a discutir, em agendas femininas, os direitos à saúde, receoso de que poderia significar uma brecha para legitimar o aborto - já aprovado na Argentina -, caminhando na direção da liberdade sexual e, paradoxalmente, do aumento, quase irresponsável, da população. A taxa atual de crescimento da população mundial é de 1,2% ao ano, de um total de 7 bilhões de seres humanos.

Dez por cento dessa população tem chance de ser infectada pelo coronavírus. A maioria segue “apenas vulnerável”, segundo a Organização Mundial da Saúde. Entretanto, essa vulnerabilidade assusta governantes na China, na Índia, nos Estados Unidos e em outros países, por remeter a situações pandêmicas no passado (peste negra, malária, aids e outras). Sinaliza, de acordo com Fauci,  a necessidade de uma discussão mais espaçosa sobre o crescimento populacional e o aumento da concentração urbana no Planeta. A Organização das Nações Unidas prevê que, por volta de 2050, a população mundial superará a casa dos 10 bilhões de habitantes.

O que pensa a mídia: Opiniões / Editoriais

Começa a chegar a Bolsonaro a conta do negacionismo – Opinião | O Globo

Apesar do abalo na popularidade, presidente ainda mantém apoio para resistir ao impeachment

Depois de tanto negacionismo e leniência com a pandemia, a conta do desgaste começa a chegar a Jair Bolsonaro. É amargo para o presidente que, segundo o Datafolha, 46% da população considerem que seu adversário João Doria fez mais contra o novo coronavírus do que ele, cuja atuação na crise é aprovada por 28%.

Os índices de popularidade do presidente também apresentaram queda, embora ainda seja apoiado por cerca de um quarto da população. No fim de semana, sinal dos tempos, houve carreatas pedindo sua saída no Rio, em São Paulo e Brasília. No sábado, promovidas pelo PT e pela esquerda; no domingo, pela direita (Movimento Brasil Livre e Vem pra Rua).

O crescimento da gritaria pelo afastamento do presidente não basta para que ele sofra um pedido de impeachment. Claro que, a depender de seu comportamento e dos índices de popularidade, o cenário político pode se deteriorar. Bolsonaro conta com a vitória do aliado Arthur Lira (PP-AL) na disputa pela eleição da presidência da Câmara para barrar qualquer pedido de afastamento. Há mais de 60 na presidência da Casa. Continuarão a chegar outros.

Mesmo com o Centrão de Lira, a base de apoio a Bolsonaro na Câmara nos dois primeiros anos de governo (72,5% de adesão nas votações, pelo critério do Observatório do Legislativo Brasileiro da Uerj) é inferior às dos ex-presidentes Lula (77,1% no primeiro mandato e 77,7% no segundo) e Dilma Rousseff no primeiro mandato (76,2%). Bolsonaro só fica à frente dos 58,2% de Dilma no segundo mandato. A frágil base parlamentar dela está por trás do impeachment por crimes na área fiscal.

Em janeiro, conjugam-se os efeitos do fim do auxílio emergencial com o persistente crescimento do número de mortos pela Covid-19, emoldurada pela tragédia de Manaus das vítimas asfixiadas por incúria dos governos federal e estadual. Mesmo sabendo do problema da falta de oxigênio, as autoridades não se mobilizaram a tempo como deveriam. Fatos como esse são corrosivos para todo político.

Poesia | Graziela Melo - Palavras

Palavras!
São diletas
filhas
do tempo,

amigas
da solidão,
reproduzem
as dores
da alma,

os clamores
do coração!!!

Palavras,
as que
causam
espanto,

tristeza
ou
alegria,

as vezes
pronunciadas
à noite

são
desmentidas
de dia!!!

Palavras!
Algumas
as mais
verdadeiras...

outras,
mentiras
corriqueiras,

flácidas,
lânguidas,
derretem
à luz do sol!

Existem
os belos
vocábulos

que soam
aos nossos
ouvidos

como
o canto
de um
rouxinol!!!