terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Merval Pereira - A fila anda

- O Globo

A desintegração partidária exposta pelas traições em série na recente eleição para a presidência da Câmara provocou uma rebordosa que pode ter consequências profundas na corrida presidencial do próximo ano. Mostrando a resiliência da ressonância nacional da política do Rio, apesar dos pesares, o centro das negociações gira em torno de políticos daqui, como o próprio presidente Bolsonaro, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, o ex-deputado federal Miro Teixeira, o presidenciável Luciano Huck, entre outros.

A decisão de Rodrigo Maia de sair do DEM, sedimentada na entrevista que deu ontem ao jornal “Valor Econômico”, em consequência da vitória dos governistas para a presidência da Câmara e do Senado com dissidências de vários partidos que o apoiavam formalmente, mas não na prática, sobretudo o DEM, teve o condão de destravar uma série de negociações. Maia deve anunciar hoje oficialmente sua saída, mas não seu próximo destino, que pode ser o PSL renovado, livre dos bolsonaristas, ou o PSDB.

O governador João Doria jantou com Maia em São Paulo no domingo e o convidou formalmente para ir para o partido que preside, juntamente com o vice-governador Rodrigo Garcia. Ontem à noite, dando sequência a uma série de ações com que pretende assumir o controle de partido, Doria reuniu as principais lideranças no Palácio dos Bandeirantes para obter a expulsão do deputado federal Aécio Neves — que já tentou uma vez e não conseguiu —, forçando uma definição de maioria que é decisiva para sua campanha presidencial.

Bela Megale - As três opções que dividem o DEM nas eleições de 2022


- O Globo

Integrantes da cúpula DEM veem hoje o partido dividido entre três opções para a eleição presidencial de 2022. Uma delas seria apoiar a reeleição de Bolsonaro, outra, compor a base do governador João Doria (PSDB-SP), e a terceira, trilhar um caminho alternativo com a indicação de um novo nome para a disputa.

Os principais defensores da primeira opção são os ministros que integram o governo, como Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Tereza Cristina (Agricultura), além do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM). A segunda tese tem como principal entusiasta o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (DEM), além de integrantes da bancada paulista. A terceira via defende uma candidatura própria, com um nome novo, como o do apresentador Luciano Huck e do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-GO). Essa opção também não descarta alguma composição com Ciro Gomes (PDT-CE), que, até o momento, garante que disputará as eleições.

O presidente do DEM, ACM Neto, disse a interlocutores fazer parte da turma que prefere a terceira opção. O ex-prefeito de Salvador tem sinalizado que um dos pontos que mais o irritou nas declarações de Rodrigo Maia é a “tentativa de jogá-lo na ala dos bolsonaristas”, o que ele afirma não ser.

Eliane Cantanhêde – Sócios no atraso

- O Estado de S. Paulo

DEM, PSDB e MDB desarticularam a oposição e a resistência institucional

Em baixa nas pesquisas e na sociedade, mas em alta na política e no Congresso, o presidente Jair Bolsonaro promove alianças tácitas com praticamente todo o leque partidário, desde o PT e o centro até a extrema direita e os aproveitadores de sempre. Resultado: é incrível como tudo parece andar para trás, de marcha à ré.

A Lava Jato e o ex-juiz Sérgio Moro se transformam nos grandes vilões do Brasil. Em simbiose com o Centrão, o bolsonarismo raiz se infiltra em vistosos cargos do Congresso. A pauta conservadora, de armas e excludente de ilicitude, domina o debate nacional. Até as discussões sobre auxílio emergencial deixaram de ser movidas pela tragédia social e a preocupação econômica para atender interesses políticos.

Esse processo rumo ao atraso não é novidade, mas teve grande impulso com as eleições para as presidências da Câmara e do Senado e vive seu melhor momento com a súbita perda de relevância de Rodrigo Maia, a implosão humilhante do DEM, a estridente decadência do MDB e a falta de rumo e de juízo do PSDB, um partido sem líderes.

Bolsonaro tem todos os defeitos que nós sabemos e só não vê quem não quer, mas ele não é fraco, não. O capitão, que subjugou os generais e cooptou os escalões inferiores das Forças Armadas, também desarticulou a oposição política e a resistência institucional. O caminho está livre para tocar o projeto de Jair, Eduardo, Carlos e Flávio Bolsonaro, sob inspiração do tal guru.

Governos, parlamentos e entidades estrangeiras, fundos de investimentos internacionais, ex-ministros, ex-chanceleres, ex-presidentes do Banco Central, centenas de padres católicos e pastores batistas, anglicanos, presbiterianos indignam-se com o que ocorre no Brasil, mas a realidade anda para um lado e a política vai na direção oposta.

Pedro Venceslau - PSDB tenta filiar Maia e virar frente de oposição

-  O Estado de S. Paulo

Sigla faz ofensiva para atrair ex-presidente da Câmara e seu grupo político a fim de se fortalecer como bloco e se contrapor aos planos de reeleição do presidente em 2022

Com a intenção de liderar a construção de uma frente de centro contra o presidente Jair Bolsonaro na eleição presidencial de 2022, o PSDB faz uma ofensiva para filiar o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), que traria para a sigla seu grupo político. O assunto foi tema de um encontro, no domingo, 7, em São Paulo, que reuniu Maia, o governador João Doria (PSDB) e o vice-governador, Rodrigo Garcia (DEM), na residência do tucano em um bairro nobre da capital.

Depois da derrota do aliado Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pela presidência da Câmara, Maia bateu de frente com o comando do DEM e acusou a sigla de traição por liberar seus deputados a se alinhar com o Palácio do Planalto. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, nesta segunda-feira, 8, Maia disse que deixará a legenda. “Estarei em um partido que será oposição ao presidente Bolsonaro”, afirmou.

Isolado no Congresso após a vitória de Arthur Lira (Progressistas-AL) para a chefia da Câmara com apoio do Palácio do Planalto, Maia decidiu investir seu capital político nas eleições de 2022. Pelo menos quatro partidos o convidaram e ofereceram amplo espaço interno: PSDB, MDB, PSL e Cidadania.

No encontro com Doria, Maia disse que a eleição da Câmara afastou o DEM do projeto presidencial de Luciano Huck, que o partido se “esfacelou” ao optar pelo adesismo e que não tem a pretensão de disputar um cargo executivo em 2022. O ex-presidente da Câmara e o vice-governador confirmaram que pretendem deixar a legenda.

Igor Gielow - Doria faz ofensiva para unir PSDB, tirar Aécio e receber parte do DEM

- Folha de S. Paulo

Com plano de pavimentar candidatura em 2022, tucano chama cúpula do partido para jantar

Preocupado com o racha no PSDB apresentado na eleição da Câmara dos Deputados, quando boa parte do partido apoiou o candidato de Jair Bolsonaro à presidência da Casa, o governador João Doria (SP) decidiu apresentar um ultimato à cúpula tucana.

Em jantar na noite desta segunda (8) no Palácio dos Bandeirantes, Doria irá colocar na mesa a proposta de expurgar o partido do grupo de Aécio Neves (MG) e de absorver dissidentes do DEM ligados ao ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

O deputado do PSDB mineiro é visto pelo entorno do governador como o motor do governismo latente no partido e principal obstáculo interno para a candidatura de Doria, hoje maior rival de Bolsonaro em cargo eletivo, à Presidência no ano que vem.

A proposta será servida de entrada no Bandeirantes, já que foi informada no convite aos comensais desta noite. Na prática, ela coloca o partido alinhado à tese da postulação de Doria em 2022, reforçando sua posição no momento em que até aqui aliado DEM rachou e assumiu ares neobolsonaristas.

A alternativa, pela lógica, seria a saída de Doria do PSDB. Mas seus aliados não consideram essa hipótese provável hoje.

Hélio Schwartsman - Réquiem para a Lava Jato

- Folha de S. Paulo

Aras oficializou a morte simbólica da operação

Se eu fosse um político corrupto, estaria celebrando. A sangria foi finalmente estancada. Ao não renovar o mandato da força-tarefa de Curitiba, o procurador-geral da República, Augusto Aras, oficializou a morte simbólica da Lava Jato.

O defunto é um daqueles personagens complexos, cuja perda é lamentada, mas cujos podres todos comentam no velório. Aliás, os maus hábitos da vítima, notadamente a hýbris do ex-juiz Sergio Moro e de procuradores de Curitiba, foram em larga medida responsáveis por seu passamento.

Se o magistrado tivesse se comportado como a lei preconiza, não haveria margem para as contestações que acabaram por minar o prestígio da operação e poderão reverter algumas de suas condenações. E é assim que tem de ser. O devido processo legal, que inclui o direito de não ser julgado por um juiz documentadamente parcial, é ponto inegociável no Estado de Direito.

Cristina Serra - A praga do jornalismo lava-jatista

- Folha de S. Paulo

A operação corrompeu e degradou amplos setores do jornalismo

Quando começou, em 2014, a Lava Jato gerou justificadas expectativas de combate à corrupção. Revelou-se, no entanto, um projeto de poder e desmoralizou-se em meio aos abusos e ilegalidades cometidas por Moro, Dallagnol e a força-tarefa.

Além de afrontar o ordenamento jurídico e ajudar a corroer a democracia, a Lava Jato também corrompeu e degradou amplos setores do jornalismo; em alguns casos, com a ajuda dos próprios jornalistas, como a Vaza Jato já havia mostrado e agora é confirmado nas conversas liberadas pelo ministro do STF, Ricardo Lewandowski.

Relações promíscuas entre imprensa e poder não são novidade. No caso da operação, contudo, as conversas mostram que repórteres na linha de frente da apuração engajaram-se no esquema lava-jatista e atuaram como porta-vozes da força-tarefa, acumpliciados com o espetáculo policialesco-midiático.

Joel Pinheiro da Fonseca* - Taxando os super-ricos

- Folha de S. Paulo

Aumentar os impostos dos super-ricos é uma proposta liberal. Medo de que imposto sobre ricos terá efeitos cataclísmicos está fora de lugar

Ninguém gosta de impostos. Até o tema é desagradável. Num país como o Brasil, que paga mais impostos do que a média de países com renda e indicadores sociais similares aos nossos, aprendemos a ser automaticamente contra qualquer imposto ou taxa e a celebrar sempre que se anuncia uma redução. Essa reação automática, no entanto, nem sempre acerta.

Na semana passada, despertei a ira de alguns libertários da internet ao defender que os super-ricos —pessoas cujo patrimônio está nas dezenas de milhões de dólares— sejam mais taxados. Ou seja, que contribuam com uma parte maior de sua riqueza para o bem coletivo. E isso não foi à toa. Os chamados super-ricos, em qualquer país do mundo, contribuem muito pouco. Foi isso que levou Warren Buffett —um dos homens mais ricos do mundo— a afirmar, em 2011, que ele pagava menos imposto de renda que qualquer funcionário de seu escritório.

No Brasil, sabemos como a carga tributária é excessivamente pesada para os mais pobres e leve para os mais ricos. Tributamos muito o consumo, que é para onde vai a maior parte da renda dos mais pobres. Por outro lado, indivíduos ricos pagam pouco. Há muitos jeitos de começar a reverter isso: taxar lucros e dividendos, criar novas alíquotas do imposto de renda para rendas mais altas, imposto sobre herança. Globalmente, impostos sobre o patrimônio dos super-ricos —talvez implementados simultaneamente por várias nações, para reduzir a fuga de patrimônio— pode dar conta de captar aquilo que não foi tributado como renda.

Luiz Carlos Azedo - A resiliência de Moro

- Correio Braziliense

Fora do debate político e dedicado à advocacia, Moro voltou ao noticiário devido à divulgação das gravações de suas conversas com os procuradores da Lava-Jato

Moro: Esse documento em que a perícia da PF constatou ter sido feita uma rasura, o senhor sabe quem o rasurou?

Lula: A Polícia Federal não descobriu quem foi? Não? Então, quando descobrir, o senhor me fala, eu também quero saber.

Moro: O senhor não sabia dos desvios da Petrobras?

Lula: Ninguém sabia dos desvios da Petrobras. Nem eu, nem a imprensa, nem o senhor, nem o Ministério Público e nem a PF. Só ficamos sabendo quando grampearam o Youssef.

Moro: Mas eu não tinha que saber. Não tenho nada com isso.

Lula: Tem, sim. Foi o senhor quem soltou o Youssef. O senhor deve saber mais que eu (referindo-se ao escândalo do Banestado).

Moro: Saíram denúncias na Folha de S. Paulo e no jornal O Globo de que…

Lula: Doutor, não me julgue por notícias, mas por provas.

Moro: Senhor ex-presidente, você não sabia que Renato Duque roubava a Petrobras?

Lula: Doutor, o filho quando tira nota vermelha, ele não chega em casa e fala: “Pai, tirei nota vermelha”.

Moro: Os meus filhos falam.

Lula: Doutor Moro, o Renato Duque não é seu filho.

Moro: Tem um documento aqui que fala do triplex…

Lula: Tá assinado por quem?

Moro: Hmm… A assinatura tá em branco…

Lula: Então, o senhor pode guardar por gentileza!

O diálogo cortante acima, quase um repente, é o resumo do depoimento do réu Luiz Inácio Lula da Silva ao então juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sergio Moro, que circula nas redes sociais com o mesmo significado de quando ocorreu: um duelo verbal entre o ex-presidente da República e o líder da Operação Lava-Jato. É divulgado como uma peça de desconstrução de Moro, que, de acusador passa a acusado, na polêmica entre os advogados de Lula e os antigos integrantes da força-tarefa de Curitiba que desmantelou o esquema de corrupção na Petrobras. A Pesquisa XP/Ipespe, divulgada ontem, porém, mostra que o bombardeio contra o ex-juiz, do ponto de vista da opinião pública, pode ter errado o alvo. Moro aparece como o mais bem colocado nas simulações de segundo turno sobre a eleição para a Presidência da República de 2022.

Ricardo Noblat - Bolsonaro, sem compromisso com o que diz e faz

- Blog do Noblat / Veja

A arte de enganar

De tanto ir e vir, dizer algo hoje e amanhã o seu oposto, o presidente Jair Bolsonaro criou as condições para escapar impune aos efeitos do seu comportamento errático. Salvo um bando cada vez menor de jornalistas incômodos, ninguém se espanta mais com o que ele diz ou faz. O país limita-se a observar entediado.

Normalizou-se o absurdo. Em novembro último, descobriu-se que um total de 7 milhões de testes da Covid-19 mofava em armazéns de Guarulhos, na Grande São Paulo, e que seu prazo de validade expiraria no final de dezembro. O que fez o Ministério da Saúde? Prorrogou o prazo para o final de abril próximo. Simples.

Agora, incapaz de aplicá-los em sua totalidade, decidiu doar parte dos testes ao Haiti. Um gesto humanitário de um governo que pouco se importa com a preservação de vidas, como cansou de demonstrar ao longo da pandemia. Dos 7 milhões de testes, os armazéns ainda acumulam 5 milhões. Melhor doá-los, pois.

Quem mais do que Bolsonaro pregou contra a vacinação e desqualificou as vacinas pondo em dúvida a sua eficácia? Quantos milhões de brasileiras não tomaram horror à vacina por acreditarem na palavra do presidente da República? Por que se vacinarem se Bolsonaro já disse e repetiu que não se vacinará?

Mas, em entrevista à Rede Bandeirantes de TV, Bolsonaro revelou que está sendo realizada uma votação entre seus irmãos para decidirem se vacinam ou não a mãe, Olinda Bonturi Bolsonaro, de 93 anos. E que ele votou a favor “mesmo com uma vacina que não está comprovada cientificamente”.

Se não há comprovação científica por que ele como presidente da República não se opôs à liberação de vacinas pelo Ministério da Saúde? E por que mesmo admitindo que drogas como a cloroquina e outras carecem de comprovação científica, no entanto as recomendou para tratamento precoce da doença?

Andrea Jubé - Em política, fundo do poço tem mola

- Valor Econômico

Grupo de Renan venceu Alcolumbre em palco secundário

As velhas raposas do Congresso ensinam que se pode cobrar quase tudo de um político no cemitério: que conforte a viúva, segure uma das alças do caixão, encomende a coroa de flores. Só não se pode exigir desse político que pule no buraco e se aconchegue do lado do morto.

Político tem instinto de sobrevivência como os animais. Um decano do Congresso ilustra, por exemplo, um erro de articulação de amador cometido pelo ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao tentar atrair deputados para o bloco de Baleia Rossi (MDB-SP) no papel de franco atirador contra o presidente Jair Bolsonaro.

Este político veterano lembra que os deputados no segundo biênio do mandato estão focados na reeleição. Por isso, não querem confronto com o governo - qualquer governo.

Ao contrário, procuram afinar a relação com o Executivo para assegurar emendas para sua base eleitoral, fidelizar prefeitos, e assim, pavimentar o caminho para o sucesso nas urnas.

Convencer um parlamentar a brigar com o governo a dois anos de sua reeleição é o mesmo que convidá-lo para saltar no buraco e se aconchegar ao morto dentro do caixão. Na vida real, discurso de independência na relação com o Executivo é conversa para boi dormir.

Maria Clara R. M. do Prado - Risco de insolvência no futuro incerto

- Valor Econômico

No pior cenário, a recuperação seria retardada por anos, com efeitos cumulativos perversos

Um ano após a disseminação da covid-19 pelo mundo, os prognósticos para os principais indicadores econômicos e sociais variam ao ritmo das incertezas que cercam a humanidade.

Em quanto crescerá a economia global em 2021? 5,5% diz o FMI. 4% atesta o Banco Mundial. 4,2% estima a OCDE - Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.

Entre os prognósticos mais recentes dos diversos organismos internacionais, talvez o da ONU seja o mais transparente, tendo em vista as dificuldades de se enxergar o futuro, mesmo o mais próximo. Em seu mais recente relatório World Economic Situation and Prospects 2021, as estimativas para o comportamento do PIB mundial contemplam três diferentes cenários: o mais otimista aponta para expansão de 5,8%; o básico prevê aumento de 4,7% enquanto que o cenário pessimista supõe crescimento de apenas 2,8% neste ano, mantendo-se em nível positivo médio de cerca de 2,6% ao ano até 2025.

O Banco Mundial, por sua vez, não descarta a hipótese de o PIB mundial voltar a cair em 2021, a depender da evolução dos contágios que, ao fim e ao cabo, tem a ver com o ritmo do processo de vacinação e o comprometimento da economia.

Míriam Leitão - Crise de produção e preços em alta

- O Globo

Os preços estão subindo fortemente dentro da indústria e há uma crise de suprimento. Altas da ordem de 60% no aço e de 63% nas resinas para plásticos. Embalagens continuam em falta. E os chips. Resultado de uma forte desorganização produtiva. O IPA industrial subiu 30% em 12 meses, e só em janeiro chegou a 4,48%. Para os consumidores também as contas estão chegando, os planos de saúde, combustíveis e material de limpeza sobem. Os preços dos alimentos vão cair porque a safra foi boa, mas menos do que se esperava. O IPCA mensal vai ficar em níveis baixos, mas o índice anual vai subir.

Dentro da indústria, o que está acontecendo é definido pelo economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, como “pancada de custos e falha no suprimento”.

— Quando a economia parou, aqui e no mundo, todas as grandes aciarias desligaram fornos. Foram cinco desligados. Para religar, leva 60 a 90 dias, porque se perde os refratários internos. Isso gerou um atraso que não se tirou até hoje. Quando a demanda voltou em junho não tinha como entregar. Na metalurgia, muitas plantas anteciparam a manutenção preventiva. Nas embalagens, falta caixa de papelão, assim como latas de cervejas, porque no Brasil 70% do papelão é produzido por matéria-prima dos recicladores, as carrocinhas das grandes cidades — diz José Roberto Mendonça de Barros.

Zuenir Ventura - Viva a vacina!

- O Globo

Em dez minutos, com apenas duas pessoas à frente na fila, tomei ontem minha primeira dose da vacina CoronaVac. Acho que um recorde, devido às chuvas. Antes, relatos davam conta de até duas horas de espera. Eu disse “primeira dose” me referindo à Covid-19, porque sou um veterano na matéria; me vacinava como rotina desde quando não era notícia em jornal. Na minha época, a moda era fotografar a Primeira Comunhão.

Muito diferente de hoje, quando, na semana passada, só em um dia, as cinco principais fotos da primeira página do GLOBO eram de vovós e vovôs posando para netos ou filhos enquanto se vacinavam. Uma celebração. Notável a euforia do grupo etário dos e das “90 e +”. Uma, de 95, disse, confiante: “Quero chegar aos 100”.

Quanto a mim, só cheguei até aqui são e salvo graças a Deus e às vacinas. Tomei umas 15 — contra sarampo, caxumba, catapora, rubéola, poliomielite, coqueluche e, claro, gripe. Ia ao posto de saúde regularmente em Ponte Nova e depois em Nova Friburgo, arriava as calças ou levantava a manga da blusa e recebia a picada na nádega ou no braço sem dar um pio. Confesso que preferia sempre dar o braço.

Ontem tive que ir com meu filho, Mauro, por exigência de minha mulher, mãe judia. Ela achava que eu podia tropeçar e cair. Recomendo o ritual a todos, inclusive aos mais jovens, quando chegar a vez deles. Não dei sorte de esbarrar com Fernanda Montenegro e o casal Lucy e Luiz Carlos Barreto, que foram do grupo anterior. Ziraldo é hoje.

Carlos Andreazza - Jaca não vira cereja

- O Globo

Arthur Lira venceria mesmo sem o patrocínio de Bolsonaro. Talvez fosse mais difícil, com segundo turno; mas venceria. Venceu porque não teve adversário. Ou melhor: tinha a vitória encaixada quando finalmente o quiseram enfrentar. E, quando Baleia Rossi tentou, foi Mario Andreazza contra Paulo Maluf na convenção do PDS em 1984: crente numa campanha terceirizada e de gabinete, dedicada a pedir votos de parlamentares a governadores, prefeitos e líderes partidários; isso enquanto o adversário mercadejava no mano a mano, pé na estrada, falando aos iguais com a linguagem que cativa os que comerciam poder.

Lira tinha já costurados pelo menos 200 votos quando Rodrigo Maia ainda contava com o golpe de Alcolumbre pela reeleição; o que significou frustrar expectativas de aliados que esperavam a vez. Não há deputado fiel a ponto de aceitar um presidente da Câmara permanente; o que equivaleria a aceitar o próprio engessamento.

Maia — um bom presidente — confundiu seu tamanho com o do cargo. Sua dimensão individual parecia maior não porque tivesse crescido muito — mas porque era muito baixa a estatura média dos pares. Desqualificados, os que compõem o pior Parlamento da história, que, no entanto, têm o mesmo peso de voto.

O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais

É desastrosa a intervenção nos combustíveis – Opinião | O Globo

É péssimo uso das prerrogativas presidenciais a iniciativa do presidente Jair Bolsonaro de interferir na política de preços dos combustíveis para ajudar os caminhoneiros, uma de suas bases eleitorais. O Brasil passou por manobra semelhante com o congelamento de preços do governo Dilma Rousseff, tentativa vã de conter a inflação — e a Petrobras se tornou a empresa mais endividada do mundo no setor. Com o reajuste de ontem, resultado da flutuação natural de mercado, a gasolina já encareceu 22% este ano, e o óleo diesel, 11%. Seguem de forma inexorável a cotação do petróleo, que reage depois de haver desabado na pandemia.

Já é sintomático que a Petrobras tenha anunciado ter alterado de trimestral para anual o prazo limite nas revisões de preços. Pois agora Bolsonaro pretende enviar um projeto de lei complementar ao Congresso mudando o ICMS que incide sobre o diesel e todos os combustíveis. É uma ideia tão estapafúrdia que atrai oposição dos governadores e poderá tumultuar o Parlamento, prejudicando a tramitação de pautas urgentes como o Orçamento de 2021 e as reformas, em especial a tributária, que deveria tratar do tema em definitivo, não de forma pontual e demagógica.

Se quisesse agir de modo menos estabanado, o governo teria a alternativa de reduzir a alíquota do PIS-Cofins para o diesel. Foi o que fez Michel Temer em 2018 para, com outras concessões, pôr fim à greve de caminhoneiros apoiada pelo então deputado e candidato a presidente Jair Bolsonaro. Mesmo que fizesse isso, a Lei de Responsabilidade Fiscal exigiria que o corte de receita tributária fosse compensado. Cada centavo cortado dos R$ 0,3515 que o imposto representa no litro de diesel reduz em meio bilhão de reais a arrecadação, elevando ainda mais o déficit público.

Poesia | Joaquim Cardozo - O Espelho

Pisando na areia fina
Passaste de lado a lado,
Agora te vejo rindo
No espaço recuperado.

Marchaste, enfim, resoluta
sobre cascalho e restolhos,
Chegaste à fonte do vidro,
Nas águas banhaste os olhos.

Depois ficaste indecisa,
Quase inumana e confusa,
Moldando gestos dolentes
Na cera da luz difusa.

Cuidado! Há sempre um sorriso
De irrefletida maldade:
As coisas se estão reunindo
Por detrás da realidade.

Num brilho de claro céu
- Lampejo de meio-dia,
Unidos, iluminados
Orgulho e melancolia.

Neves do tempo dos anjos;
Véus de noivas e de monjas,
Bem tramados, bem tecidos
De renúncias e lisonjas.

Comparo, combino, arrisco,
Passagens procuro a êsmo
sobre o profundo intervalo
Que vai de mim a mim mesmo.

Lua cheia, emoldurada,
Semblante da claridade
Luzindo as asas de um vôo
Recluso na intimidade.

De diamante ou de prata?
Ou são cristais de adulárias?
-Este é o fiel da balança
Entre as paixões solitárias.