quinta-feira, 15 de abril de 2021

Ameaças e arreganhos – Opinião/Editorial | O Estado de S. Paulo

É cristalina a tentativa de Jair Bolsonaro de intimidar os demais Poderes – não só o STF, de onde partiu a ordem para instalar a CPI

O presidente Jair Bolsonaro advertiu os “amigos do Supremo Tribunal Federal” que “daqui a pouco vamos ter uma crise enorme aqui”, referindo-se à possibilidade de tumultos como consequência dos efeitos econômicos da pandemia de covid-19. “Não estou ameaçando ninguém”, ressalvou Bolsonaro, para, em seguida, ameaçar: “O Brasil está no limite. O pessoal fala que eu devo tomar uma providência. Estou aguardando o povo dar uma sinalização, porque a fome, a miséria e o desemprego estão aí, só não vê quem não quer”. E completou: “Eu só faço o que o povo quiser que eu faça”.

Como sempre, é difícil entender exatamente o que quis dizer o presidente Bolsonaro, cuja dificuldade com o idioma pátrio e com o raciocínio lógico é conhecida de todos. Mas é cristalina a tentativa de intimidar os demais Poderes – não só seus “amigos do Supremo”, de onde partiu a ordem para a instalação de uma CPI no Senado para investigar a delinquente gestão federal da crise, mas também o próprio Congresso, a quem cabe arrolar os responsáveis pelo morticínio.

O arreganho bolsonarista, antes de demonstrar poder, evidencia paúra. São tantas e tão robustas as evidências de múltiplos crimes na condução da crise que dificilmente os envolvidos escaparão impunes se a CPI fizer seu trabalho. É por isso que Bolsonaro trabalha com tanto ardor para miná-la – chegando a ponto de instruir um senador a inviabilizar a comissão, de avisar que daria uma “porrada” no líder da oposição no Senado e de ameaçar ministros do Supremo de impeachment, como registrado em diálogo gravado.

Merval Pereira - O pleno se pronuncia

- O Globo

O resultado de 9 a 2 no julgamento de ontem, confirmando que o plenário do Supremo Tribunal Federal pode julgar a decisão do ministro Edson Fachin de enviar à Justiça do Distrito Federal os processos contra o ex-presidente Lula não relativos à Petrobras, não reflete necessariamente a posição da maioria quanto à suspeição do ex-ministro Sergio Moro, decidida pela Segunda Turma. Embora possa indicar que a mudança de foro de Curitiba para o Distrito Federal será aprovada.

A figura política do ex-presidente Lula pairou sobre os votos de ontem, embora muitas vezes não tenha sido citado. O ministro Ricardo Lewandowski, que mencionou o ex-presidente diversas vezes em seu voto e em suas intervenções, chegou a afirmar que o tema só estava sendo discutido no plenário porque se tratava de Lula. Foi rebatido pelo presidente Luiz Fux, que lembrou que é inegável que o julgamento é importante porque diz respeito à Operação Lava-Jato e ao combate à corrupção no país.

Lewandowski foi o que mais politizou o tema, chegando a dizer que julgamentos do Supremo levaram a que Lula não pudesse concorrer à disputa em 2018, o que, segundo ele, poderia ter mudado para melhor o futuro do país.

O resultado de ontem foi uma derrota dos advogados da defesa do ex-presidente Lula, que queriam que o recurso da Procuradoria-Geral da República fosse tratado na mesma Segunda Turma. No plenário, a possibilidade de derrota é maior, embora possa não se confirmar.

Malu Gaspar – Povo, Bolsonaro? Que povo?

- O Globo

‘O Brasil está no limite. O pessoal fala que eu tenho que tomar providências. Eu estou aguardando o povo dar uma sinalização. Porque a fome, a miséria, o desemprego estão aí, pô. Só não vê quem não quer’, afirmou o presidente Jair Bolsonaro, na manhã da quarta-feira, à sua claque de plantão na porta do Palácio da Alvorada. “Esse pessoal, amigos do Supremo Tribunal Federal… Daqui a pouco vamos ter uma crise enorme aqui”, continuou. “Parece que é um barril de pólvora que está aí. E tem gente de paletó e gravata que não quer enxergar.”

Tudo o que Bolsonaro disse ali, ele já falou com outras palavras, em outras ocasiões. O golpismo continua, mas há algo diferente. O tom beligerante de um ano atrás deu lugar à desorientação e ao cansaço, e até o apelo ao povo sai sem muita convicção.

Embora o discurso para as redes bolsonaristas ainda seja triunfante e desafiador, o presidente no fundo sabe que não há nada de tão explosivo para acontecer, afora a tragédia sanitária da Covid-19, que já fez mais de 360 mil vítimas fatais. O capitão percebe, também, que seu “povo” não lhe dará nenhuma mostra de apoio mais enfática do que as já prestadas em manifestações de rua e buzinaços.

Não que elas tenham sido desprezíveis. O “mito” não deixou de ter seu público cativo. Até agora, porém, esse contingente não foi capaz de evitar a crise em que Bolsonaro se afundou.

William Waack - Mentalidade do cercadinho

- O Estado de S. Paulo

Mesmo as ameaças do presidente estão perdendo credibilidade

Por ser o STF uma instância política, preocupada com política, e tomando decisões políticas, não é surpresa que esteja dando aulas de política para Jair Bolsonaro, aquele que assumiu recusando-se a fazer política. O próprio Bolsonaro acha que não, que está fazendo política, atividade que ele confunde com esbravejar declarações desconexas para grupelhos de apoiadores, proferir bobagens em lives e postar falsidades em redes sociais, além de vociferar ao telefone com senadores.

Algumas decisões do STF são para lá de exóticas (para se usar linguagem diplomática) e geram enorme insegurança jurídica, mas o ponto principal é que o conjunto da Suprema Corte tem um entendimento mais apurado do que Bolsonaro do que é o jogo institucional, o papel dos seus atores, seus limites políticos e legais. É esse jogo que o voluntarioso Jair disse que ia liquidar no gogó. Não conseguiu, e está perdendo de lavada do STF, mas não só.

Alguns feitos políticos de Bolsonaro são notáveis – pela ironia dos fatos. Ao seguir adiante com um Orçamento inexequível, mas que negociara com o Congresso, pois precisa gastar para se reeleger, acabou permitindo que os profissionais do Centrão carimbassem na testa do ministro que já foi estrela, Paulo Guedes, a expressão “fura-teto”. Outra ex-estrela, Sérgio Moro, o paladino da luta anticorrupção, Bolsonaro já tinha empurrado para uma espécie de vala comum de malfeitores (sob aplausos de ministros do STF, no único elogio que destinam a Bolsonaro).

Luiz Carlos Azedo - Lula e Moro no Supremo

- Correio Braziliense

A decisão do Supremo terá efeito catalisador no processo político, pode contribuir para transferir expectativas de poder do presidente Jair Bolsonaro para a oposição

A maioria do Supremo Tribunal Federal (STF) resolveu levar a plenário, hoje, a anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela 13a Vara Criminal de Curitiba, ou seja, pelo ex-juiz Sergio Moro, a pedido do relator da Operação Lava-Jato, ministro Edson Fachin, autor da liminar que livrou o petista da inelegibilidade. Fachin entendeu que o foro natural do processo deveria ser o Distrito Federal, por não se tratar de processo diretamente vinculado ao escândalo da Petrobras. Com a decisão de ontem do Supremo, por 9 a 2, tanto Lula quanto Moro voltam ao centro do noticiário, como possíveis adversários do presidente Jair Bolsonaro, ambos com muita força.

Esse julgamento no Supremo terá um efeito catalisador no processo político, contribuindo para transferir expectativas de poder de Bolsonaro, candidato à reeleição, para a oposição. A Lava-Jato ainda tem um grande apelo popular e é a principal face de desgaste da candidatura de Lula à Presidência, mas, sem o julgamento, o petista não seria candidato. Entretanto, Bolsonaro se descolou da bandeira da ética por causa do escândalo das “rachadinhas” da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e de suas manobras para proteger o filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), um dos principais investigados no caso.

Ricardo Noblat - Bolsonaro está no limite de suas forças

- Blog do Noblat / Veja

 O presidente dá sinais de esgotamento

Bolsonaro disse que não nasceu para ser presidente da República. Ninguém nasce. Presidência da República é destino. Até levar a facada em Juiz de Fora, ele ainda duvidava que se elegesse. Na noite da sua vitória, depois dos discursos de praxe, da confraternização com assessores e coisa e tal, na presença apenas dos filhos e de um amigo, ele chorou copiosamente.

Seu projeto inicial, uma vez cansado de quase 30 anos como deputado federal, era concorrer à presidência para alavancar a carreira política dos três filhos zero – Flávio, então deputado estadual no Rio, Carlos, vereador e Eduardo, deputado federal por São Paulo. Derrotado, iria curtir a vida com sua mulher, Michelle, e a filha. Não lhe faltaria dinheiro para isso.

Dois anos e pouco depois e em meio a uma pandemia que não soube combater, ou que apostou que passaria se morressem os que tivessem de morrer, está à beira da exaustão e não esconde os sinais disso. Era evidente o prazer que sentia nos encontros diários com grupos de devotos à saída do Palácio da Alvorada para ir trabalhar e à chegada. Nos últimos dias, não disfarça sua irritação.

Reclamou de perguntas que lhe fizeram. Reclamou de uma mulher que interrompeu a sua fala e de outra que lhe pediu uma foto. Reclamou de um homem que quis saber o que ele poderia fazer para tirar seu Estado, o Rio de Janeiro, da pobreza. Ontem, sem que ninguém o tivesse provocado para isso, renovou as ameaças que costuma fazer com as mesmas palavras de sempre.

“O Brasil está no limite. O pessoal fala que eu devo tomar providência, eu estou aguardando o povo dar uma sinalização. Porque a fome, a miséria e o desemprego estão aí”, afirmou. “Tem um barril de pólvora aí e tem gente de paletó e gravata que não quer enxergar. Acho que em breve teremos um problema sério no Brasil.” E voltou a se queixar do Supremo Tribunal Federal.

Maria Cristina Fernandes - Contra CPI, Bolsonaro ameaça sócios

- Valor Econômico

Os que almejam a Presidência se uniram a quem só quer a caneta

São 90 dias regulamentares, mas a única certeza sobre a CPI da Pandemia é de que ninguém sabe quando esta termina. Ainda não está composta, mas já produziu, sobre o Senado, o ajuntamento de duas de suas três forças. Os que querem o cargo do presidente Jair Bolsonaro uniram-se àqueles que se contentam com sua caneta. É a junção dessas duas forças que esticará a CPI até 2022. A pauta vai muito além da incúria bolsonarista na pandemia ou de sua consequência para os Estados. O que estará em jogo é a ocupação do governo, do Judiciário e do próprio Senado.

A CPI já começou a se definir pelo parto. A anexação das duas propostas foi resultado do jogo duplo que marcou a gestão do ex-presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), colocou o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) no cargo e continua a operar no varejo da sustentação bolsonarista na Casa, a um alto custo para o erário, como se viu no relatório do Orçamento do senador Márcio Bittar (MDB-AC).

Míriam Leitão - Um país sem um dia de calmaria

- O Globo

"Quando eu terei um dia de calmaria para falar com os investidores? Preciso trabalhar notícias boas, mas é preciso encontrar uma fórmula de governar com menos ruídos.” Esse desabafo eu ouvi dentro do próprio governo, de uma autoridade que está convencida de que há, na economia, alguns dados positivos para comunicar. Mesmo quem não vê essas notícias boas concordaria com esse integrante do governo que o Brasil tem excesso de ruídos, tumultos, conflitos, como se já não bastasse o que a população vive na pior pandemia em um século.

A avaliação que essa autoridade faz é que o Congresso aprovou algumas medidas importantes no começo deste ano, como o marco do gás e do saneamento. Acha que o país pode ter um segundo semestre de recuperação, se conseguir vacinar parte importante da população neste primeiro semestre. No mundo, as economias em crescimento, como a China, estão valorizando as commodities exportadas pelo Brasil. O mercado global está melhorando, a bolsa americana está batendo recordes, tudo isso ajudaria a amenizar a crise interna. “Mas o Brasil continua prisioneiro da sua história.”

Adriana Fernandes – Briga de galos

- O Estado de S. Paulo

Bolsonaro, Guedes e Congresso brigam pelo Orçamento, enquanto Brasil padece com a covid

Encontraram a solução para o Orçamento? Essa é a pergunta que mais fazem em Brasília nos dias de hoje, esquecendo que os principais problemas a serem solucionados para o enfrentamento do combate da pandemia (ampliados todos os dias) continuam à espera de resposta.

Governo, equipe econômica e o Congresso se meteram numa guerra de versões e pareceres jurídicos para sustentar, cada um, a sua verdade dos fatos, e não se tem a mínima noção de como vai terminar essa briga de galos em torno da sanção da lei orçamentária.

Mais uma semana de agonia até o prazo final para o presidente Bolsonaro sancionar o Orçamento aprovado em março, já com três meses de atraso.

Nem parece que o País padece com a pandemia e que as mortes continuam em patamar inaceitável, enquanto o governo e o Congresso arrumam confusão na base do quem pode e manda mais na República - provando mais do que nunca que é de bananas.

Pedro Cavalcanti Ferreira / Renato Fragelli Cardoso* - Rumo ao pior governo da história

- Valor Econômico

Como parece não aprender com os erros do passado, há pouca esperança que o governo corrija seus rumos

Em qualquer dimensão - saúde, educação ou economia, por exemplo - o desempenho do atual governo é catastrófico. A menos que se usem métricas ideológicas, caminha-se, ao final destes quatro anos, para um cenário de terra arrasada que será, provavelmente, o do pior governo de nossa história.

Na saúde os números falam por si só. Ultrapassamos 4 mil mortos diários, os hospitais estão sobrecarregados, há filas nas UTIs. Em diversos locais o sistema de saúde entrou em colapso. Parte grande da culpa é do governo central. Quando já estava claro que havia um problema grave, o presidente sistematicamente minimizava a gravidade da crise. E ainda hoje defende tratamentos ineficazes, combate o uso de máscaras e o distanciamento social, e sabota medidas de lockdown decretadas por Estados ou municípios. Sua hostilidade a vacinas só diminuiu quando ficou claro que isso o prejudicava politicamente. Sua liderança, até agora, foi instrumental para piorar, e não melhorar, a situação de calamidade.

A falta de coordenação do Ministério da Saúde - a primeira vez em uma grande crise - revelou-se mais danosa que o negacionismo do presidente. Sem uma diretriz única para o país, cada Estado ou cidade decide suas políticas isoladamente, o que reduz a eficácia das mesmas. No auge da crise, demitiu-se um ministro que fazia um bom trabalho junto às secretarias estaduais, trocando-o por um militar que nada conhecia da área e se mostrou péssimo em gestão. Finalmente, a demora em negociar vacinas - não esqueçamos da hostilidade à vacina chinesa e a negativa às vacinas da Pfizer -, e ainda por cima com poucos fornecedores (somente dois!), é de inteira responsabilidade do governo federal.

Fabio Graner - Confusões fiscais

- Valor Econômico

Piso de despesas discricionárias seria R$ 140 bi, diz o economista Bráulio Borges

A crise do Orçamento na qual o país está enredado, apesar de já ter se passado quase um terço do ano, é sintomática sobre sua condição fiscal. A profusão de regras vigentes não dá conta de passar uma segurança sobre a solvência do Estado ao longo do tempo e o seu mau uso ainda coloca o país em constantes armadilhas, como evidencia a discussão no governo sobre vetar ou não a peça.

O resultado tem sido uma economia que não consegue controlar seu endividamento e que tem dificuldades enormes para lidar com situações econômicas e sociais adversas e ter uma trajetória vigorosa e sustentável de crescimento.

Nesse contexto, retornam com mais força debates recorrentes sobre a conveniência de manter o teto de gastos e reconfigurar o arcabouço legal de controle das contas públicas. Até no governo.

Um sintoma disso é o surgimento de ideias como a chamada “PEC fura-teto”, cuja minuta original previa até mesmo gastos não relacionados ao combate à pandemia fora do limite constitucional. A Economia defendia nos bastidores que a PEC visava controlar o tamanho do gasto extra necessário para o combate à segunda onda da covid-19. E que a pasta seria contra incluir outros gastos nesse texto, que já foi descartado. O movimento, porém, evidencia um arcabouço fiscal ineficiente e insuficiente para gerir o país.

Bruno Boghossian - Guedes perdeu a chave do cofre

- Folha de S. Paulo

Ministro acumulou adversários e aprofundou processo de esvaziamento político

Paulo Guedes nunca foi conhecido pela habilidade política. Antes de tomar posse, o ministro despertou a má vontade dos parlamentares ao sugerir que daria "uma prensa" no Congresso para aprovar suas propostas. Já no cargo, ampliou esses atritos e passou a sofrer oposição de outros integrantes do próprio governo. Agora, ele também parece ter perdido a chave do cofre.

A disputa pelo controle do Orçamento é o capítulo mais recente do processo de esvaziamento político de Guedes. Na competição por recursos e emendas, o ministro acumulou adversários dentro e fora do governo. Até aqui, a maior parte desses rivais obteve mais sucesso do que o chefe da equipe econômica.

Maria Hermínia Tavares* - Perde mais do que ganha

- Folha de S. Paulo

Como na Itália e nos EUA, aqui também a democracia tem resistido às reiteradas agressões

O presidente trapaceia a todo instante e sobre qualquer coisa. Para ficar no caso extremo, mente em face da pandemia, como se quisesse levar ao paroxismo a tragédia que já custou mais de 350 mil vidas. Ainda assim, é impossível acusá-lo de ter ocultado, para se eleger, o seu intento último: destruir as instituições em que se arrima a democracia brasileira.

Tampouco se diga que, no poder, alguma vez tenha lhe faltado coerência e empenho para tanto. Isso explica o aluvião de provocações que marcam o seu desgoverno —a que fazem coro seus áulicos, a tropa das redes e sua familícia. Ele investe contra ministros do Supremo, lideranças do Congresso e dos partidos que não lhe são vassalos, governadores, órgãos de mídia, entidades da sociedade civil, povos indígenas e minorias.

Aos palavrões e esquartejando a sintaxe, contribui para a degradação do idioma e da convivência política civilizada. Em que nação que se dê ao respeito passaria pela cabeça de um assessor palaciano fazer um gesto obsceno e ainda por cima racista enquanto o presidente do Senado discursa? Difícil imaginar onde seria aceitável que o chefe do governo fizesse grosseria comparável àquela com que o ocupante do Planalto se referiu ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Gabriela Prioli - Bolsonaro é o cão que só ladra

- Folha de S. Paulo

O presidente da vergonha alheia

Deputados franceses caíram na gargalhada ao ouvir que a hidroxicloroquina ainda era receitada para o tratamento de Covid no Brasil.

A situação é trágica. Em virtude das ações deste governo risível, milhares de pessoas morrem diariamente. O cenário nos faz perceber o que talvez já fosse óbvio desde o início: Bolsonaro e o bolsonarismo não se sensibilizam com o sofrimento do outro.

A gargalhada dos parlamentares franceses pode nos indicar outra estratégia: a ridicularização. A tática é difícil, porque implica descer na escala da razoabilidade, mas é, de fato, risível o áudio no qual o presidente ameaça encher o líder da oposição no Senado de "porrada". Sério? Um senhor que não sabe nem fazer uma flexão de braço. O "tigrão de Twitter" que se alvoroçou com a declaração precisa ser lembrado do próprio ridículo.

Bolsonaro ameaçou bater em jornalista, ameaçou golpe, ameaçou bater no senador, ameaça ministros do STF e, na prática, vemos o quê? O abraço apertado em Dias Toffoli quando finalmente o deputado do baixo clero, que passou anos gritando atrocidades para ser ouvido, foi convidado para assistir a um jogo de futebol.

O cara que ameaça "dar porrada" vive reclamando que não consegue fazer nada. Fosse um homem forte, teria assumido o controle. Fugir da responsabilidade é coisa de menino.

Vinicius Torres Freire – Vacina vai atrasar ainda mais

- Folha de S. Paulo

Além de mais mortes, a consequência do atraso na vacinação é a persistência da degradação econômica

Vamos ter mais 2 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 até junho, anunciou nesta quarta-feira (14) o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Em vez dos 13,5 milhões previstos, a Pfizer deve entregar 15,5 milhões, talvez 1 milhão ainda em abril, “fruto de uma ação direta do presidente da República, Jair Bolsonaro”, bajulou Queiroga.

É melhor do que nada. É muito pouco. É muito tarde. Não compensa os desastres recentes no cronograma federal, em geral fruto da negligência criminosa de Jair Bolsonaro (os números recentes do desastre estão mais adiante neste texto).

Era preciso acelerar o cronograma de oferta de doses mesmo antes da catástrofe fúnebre de março e abril. Agora, haverá menos vacinas e, na melhor das hipóteses, apenas perspectiva de que o morticínio comece a se estabilizar em 3 mil cadáveres por dia em meados deste mês, se é que estabilização haverá.

Ainda neste pico de mortandade, as restrições oficiais a movimentação de pessoas e a negócios estão sendo relaxadas. O número de internados em UTIs cai muito vagarosamente em São Paulo desde a semana passada, muito pouco para levar consigo o número de mortes, pois a doença agora é mais letal. Em vez de vermos algum efeito geral da vacinação no final de abril, teremos sorte de percebê-lo no final de maio.

Miguel Nicolelis - #Basta!

- O Globo

Como um gigantesco navio sem capitão, singrando desgovernado por um oceano viral que rotineira e impiedosamente ceifa, num intervalo de 24 horas, perto de 4 mil vidas brasileiras — número equivalente ao total acumulado de mortes reportadas pela China em toda a pandemia —, a combalida nau chamada Brasil sofreu nos últimos dias mais uma série de golpes devastadores. Como se não bastasse ter de combater uma pandemia fora de controle, em meio a um colapso sem precedentes de todo seu sistema hospitalar e, no processo, ter se tornado um verdadeiro pária internacional, o Brasil assistiu atônito à escalada vertiginosa do pandemônio político que o assola. Rotulado de forma quase unânime pela imprensa internacional como inimigo público número 1 do combate à pandemia de Covid-19 em todo o mundo, o atual ocupante do Palácio do Planalto deu claras demonstrações públicas e notórias de estar perdendo qualquer tipo de controle — se algum dia o teve — do caos semeado por ele mesmo desde a ascensão ao maior cargo da República.

Acuado pela decisão do STF de obrigar o presidente do Senado Federal a instalar uma CPI para investigar a conduta do governo federal no combate ao coronavírus, isolado e demonizado pela comunidade internacional, e tendo sua tentativa de interferência nas Forças Armadas repudiada simultaneamente pelos comandantes das três Armas, o presidente da República parece ter achado um novo moinho de vento para chamar de seu inimigo preferido: os cientistas. Numa declaração proferida aos berros numa de suas aparições públicas em Brasília, o gestor e principal responsável pela maior catástrofe humanitária da história da República brasileira vociferou contra toda a comunidade científica brasileira (e mundial, presume-se) nos seguintes termos: “Cientistas canalhas, se não têm nenhum remédio para indicar, cale a boca e deixe (sic) o médico trabalhar”.

Uma difícil democracia: diálogos sobre a obra de Luiz Werneck Vianna

Por: Patricia Fachin /Instituto Humanitas Unisinos - IHU

Enquanto a panfletagem cresce nas redes sociais e as torcidas se organizam para defender este ou aquele candidato nas próximas eleições presidenciais, criticando os discursos de ódio e destilando o seu próprio à medida que convém, alguns intelectuais se empenham em uma tarefa mais complexa: compreender as nossas raízes para pensar o futuro, sem estar desatento ao que de fato ocorre no presente, especialmente na jovem democracia brasileira. Um desses intelectuais é, sem dúvida, o sociólogo Luiz Werneck Vianna, autor de, entre outros, A Revolução Passiva - iberismo e americanismo no Brasil (Rio de Janeiro: Revan, 1997), cujas análises sobre a democracia são influenciadas por Alexis de Tocqueville e Antonio Gramsci.

Werneck Vianna, como seu próprio pensamento demonstra, por si só, em suas intervenções no debate público, é um intérprete do Brasil porque é, antes de tudo, um observador da sociedade brasileira. Entre as várias constatações de seu espírito perspicaz, que enxerga e analisa a realidade sem deixar-se enredar por um amontoado de teorias que a enquadram antes mesmo de compreendê-la, destaca-se uma, que está no centro dos nossos males: "a nossa política é muito atrasada, primitiva, rústica". Foi com essas palavras que ele comentou o resultado das eleições municipais do ano passado, cujas campanhas não tocaram num ponto nevrálgico da crise nacional presente: como garantir renda e acesso aos bens comuns àqueles que estão desassistidos e sofrem mais diretamente os efeitos da crise sanitária. "Seria fundamental que o tema da renda básica tivesse mais relevância nessa disputa, mas não teve. Esse tema não encontrou uma sustentação forte e não creio que tenha amadurecido alguma coisa nessa direção", disse em novembro do ano passado, em entrevista concedida ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU.

Poesia |Graziela Melo -Medo e tristeza

Medo

do escuro,

medo

da escuridão...

 

tristeza

na alma,

sentimento

de solidão...

 

É

o tempo

que passa,

correndo,

 

sem

piedade

sem compaixão...

 

deixando

mágoas,

seqüelas,

e

feridas

no coração!!!

 

Saudades

de quem

nunca vi!

 

Saudades

de quem

esqueci...

 

saudades

do afeto

da virtude,

do perdão!!!

 

Saudades

dos que

se foram

 

e nunca mais

voltarão!!!!