sábado, 1 de maio de 2021

Ascânio Seleme - Adicto à mentira

- O Globo

Acenos efusivos para uma inexistente multidão provam o que já se sabia. Bolsonaro é um adicto à fake news

A imagem é constrangedora. Daquelas que causam vergonha alheia. Cercado por uns dez assessores, Jair Bolsonaro acena para um ponto à sua frente onde imagina-se estar reunida uma multidão. Eleva os braços como se fizesse louvação aos céus, ou a Deus. Se curva num movimento que parece ser em deferência ao povo com o qual estaria se comunicando. O cinegrafista, que deveria ter parado de filmar neste ponto, segue gravando enquanto o capitão passa por ele e avança. E então, percebe-se que não havia multidão alguma no local para o qual Bolsonaro endereçava seus salamaleques. Havia apenas um helicóptero, três ou quatro aspones e um militar. Era um aceno cinematográfico. Ou fake, se preferir.

Bolsonaro precisa disso? Não. Ele sempre encontra aglomerações de desmascarados para gritar “mito” onde quer que vá. Os iludidos de sempre estão em todos os lugares, prontos para aplaudir o exterminador de futuro que enxergam como um salvador da pátria. Desnecessário discorrer sobre a ignorância dessa gente, não é esse o objetivo. O que se quer dizer aqui é que os acenos efusivos para uma inexistente multidão provam o que já se sabia. Bolsonaro é um adicto à fake news. Ele não consegue se livrar desse vício, como se fosse uma praga que rogaram contra ele e que pegou.

Viciado em mentira desde antes de se candidatar a presidente, foi exemplo para os seus quatro zeros e para os seus seguidores radicais e fiéis. Viraram todos mentirosos contumazes, como ele. Bolsonaro mente para o eleitor e para quem nem ainda vota. Mente para os inimigos e adversários, assim como mente para os amigos e companheiros. Mente para parentes. Mente para os filhos, que passam a mentira para frente. Mente por email e nas redes sociais. Mente ao vivo ou grava mentiras. Mente no privado e no público. Mente digital e analogicamente.

João Gabriel de Lima* - Sete erros e um vício de origem

- O Estado de S. Paulo

Erros na pandemia decorrem de vício de origem: a incompreensão do papel do líder numa democracia moderna.

No dia seguinte à instalação da CPI da Covid, milícias digitais atacaram senadores de oposição. A artilharia envolveu desde a disseminação de fake news até ameaças veladas aos parlamentares, com frases como “Você gosta da sua família?” O assunto foi tema de reportagem do Estadão e mereceu manchete na edição impressa da quinta-feira 29. A operação, segundo suspeitam os senadores, foi deflagrada por três assessores da Presidência da República. Os parlamentares enxergaram no processo a digital do “gabinete do ódio”, grupo influenciado pelo vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente.

Pode-se gostar ou não dos senadores, mas eles não estão no Parlamento por concurso público. Somados, constituem um espelho do povo brasileiro, pois foram escolhidos em eleição livre. Nas democracias, é normal que os cidadãos elejam os governantes e os oposicionistas que irão fiscalizá-los. É igualmente normal que adversários políticos subam o tom de vez em quando. Não é normal – nem democrático – que se tratem como inimigos, passíveis de extermínio por milícias digitais.

Carlos Alberto Sardenberg - Recados de Biden

- O Globo

 ‘Precisamos demonstrar que a democracia ainda funciona’ — essa foi a frase mais importante do discurso dos 100 dias de Joe Biden. Parece óbvio que um líder americano diga isso, mas, nos tempos de hoje, a frase ganha diversos sentidos.

Dirigida ao presidente da China, Xi Jinping, significa o seguinte: o sistema americano é superior nos quesitos econômicos e políticos, embora precise de algumas reformas.

O chefão chinês sustenta que o modelo deles é mais eficiente no desenvolvimento econômico e na administração de crises. Não apenas porque seus gestores seriam mais competentes, mas porque não precisam se preocupar nem com as urnas livres e votações no Legislativo, nem com eventuais restrições do Judiciário.

Ou seja, a democracia no “modelo chinês”, como chamam a ditadura por lá, funciona melhor que o modelo americano, confuso e lento. Mas e as liberdades?

Ora, tem alguém reclamando? — respondem os chineses.

Claudio Ferraz - A elite e o filho do porteiro

- O Globo

O Brasil ganhará muito quando mentes brilhantes, independentemente de condição social e cor da pele, estiverem na universidade

A famosa frase do antropólogo Darcy Ribeiro, “A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”, foi a primeira coisa que me veio à cabeça ao escutar o ministro da Economia, Paulo Guedes, criticar o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) nesta semana. Ele se referiu ao programa governamental como “um desastre” que deu “bolsa para todo mundo”.

Sem entrar no mérito da efetividade do programa, que pode até ser discutida, Guedes escolheu usar o filho do porteiro sendo aceito em uma universidade privada como exemplo de “bolsa para todo mundo”.

Mais do que um exemplo, a escolha foi perfeita para ilustrar a forma preconceituosa que boa parte da elite brasileira olha para os programas de expansão educacional como o Fies ou Prouni. Esse elitismo em relação a quem deve ser educado ou não existe desde o século XIX.

Adriana Fernandes - Renda básica pós-pandemia

- O Estado de S. Paulo

A decisão dessa semana do Supremo Tribunal Federal que determina a regulamentação da lei da renda básica coloca, na marra, a discussão do tema da responsabilidade social e fortalecimento dos programas do governo federal de transferência de renda para a população de baixa renda. Esse debate, que parecia ter deslanchado no ano passado, ficou perdido em 2021.

Nenhum dos 11 ministros do Supremo votou contra a regulamentação da lei Suplicy após 17 anos da sua sanção, em 2004, inclusive Kassio Nunes Marques, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro. Deram todos um uníssono sim.

Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer não regulamentaram. Agora, o STF obriga o governo Bolsonaro a fazer o que esses presidentes não fizeram apesar do comando legal.

Poucos sabem, mas a decisão partiu de uma ação ajuizada pela Defensoria Pública da União no Rio Grande do Sul em nome de um morador de rua: Alexandre da Silva Portuguez, de 51 anos, com epilepsia, que recebe R$ 91 por mês do programa Bolsa Família.

Miguel Reale Júnior* - Quem fala pelo Brasil-

- O Estado de S. Paulo

Nem Bolsonaro nem Guedes são levados a sério lá fora. Com a palavra os governadores

Tem sido crescente o papel internacional dos entes da Federação no campo internacional. A iniciativa é oriunda do governo Pedro Simon no Rio Grande do Sul, em 1987 (http://contextointernacional.iri.puc-rio.br/media/salomon_vol29n1), seguido pelo do Rio de Janeiro, no mesmo ano.

A inserção no campo externo também coube a municípios, a principiar pelo de Porto Alegre. Sob a denominação de paradiplomacia, os entes subnacionais, em face da globalização, passaram a promover parcerias no exterior, criando secretarias de relacionamento internacional. A atividade passou a ser acompanhada a partir de meados dos anos 1990 pelo Itamaraty, por meio da Subchefia de Assuntos Federativos.

Como assinalam Marcovitch e Dallari (em Relações Internacionais de Âmbito Subnacional: a Experiência de Estados e Municípios no Brasil, IRI-USP), todos as Unidades da Federação têm órgãos encarregados de promover atividades internacionais, até com escritórios no exterior.

Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores, destaca que a cooperação internacional entre entes subnacionais e outros países pode-se dar, como ação subsidiária, na captação de recursos; na promoção comercial e de turismo; no favorecimento de investimento e parcerias público-privadas e de cunho cultural (Diplomacia subnacional no Brasil – desafios do seu enquadramento jurídico), constituindo-se, assim, uma “diplomacia federativa”.

Míriam Leitão - Bolsonaro e ministros usam sucesso do leilão da Cedae para melhorar semana desastrosa

- O Globo

Antes de melhorar a água e ampliar a oferta de saneamento no Rio, a privatização da Cedae foi usada pelo presidente Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes, o ministro Eduardo Ramos, o senador Flávio Bolsonaro para tentar pular nas águas de uma notícia boa. Foi uma semana desastrosa para todos eles. A CPI começando, as derrotas no Senado, as declarações catastróficas de Guedes e do general Ramos, o fiasco de Flávio. A semana foi uma sucessão de fotos ruins para todos eles. Mas voaram todos para São Paulo, para sair na foto do leilão bem-sucedido.

O governador Claudio Castro tinha dito, num telefonema para o blog, que era um erro politizar um assunto que é técnico. "Não se pode resumir tudo a uma disputa entre Bolsonaro x Lula". Mas sua afirmação de que não seria politizada não prevaleceu. O próprio governador aproveitou para, num dia emblemático do impeachment do ex-governador Wilson Witzel, tentar se alavancar. O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, acentuou o ar politizado do evento. “Fluminenses avante”, disse e repetiu, chamou o governador de “herói” e outras grandiloquências. Depois dele, veio Paulo Guedes falando em “remover da miséria milhões de brasileiros”. O mesmo Guedes que se aborrece com o curso universitário do filho do porteiro.

Pablo Ortellado - Anvisa mostra independência

- O Globo

A não aprovação da importação da vacina russa Sputnik V mostrou que a agência brasileira mantém sua integridade e autonomia institucional, a despeito das pressões políticas que vêm de todos os lados: da opinião pública, que exige mais vacinas; dos governadores —muitos deles de esquerda —, que compraram milhões de doses; de setores do bolsonarismo que querem fazer da Sputnik “a vacina do Bolsonaro”, para se contrapor à “vacina do Doria”; além da própria Rússia.

Em seu parecer, a Anvisa apontou deficiências técnicas nos estudos clínicos, entraves para inspecionar a fabricação da vacina e, o mais grave, a presença de vírus replicante nas vacinas, o que poderia colocar em risco a saúde de quem as toma.

A decisão da Anvisa foi amplamente respaldada pela comunidade científica brasileira. O perfil da Sputnik no Twitter alegou, porém, que a vacina já foi aprovada em 61 países. O diretor da Anvisa Alex Campos respondeu que se trata de “países sem tradição de maturidade e robustez regulatória”. A Anvisa repassou seu parecer com observações sobre os vírus replicantes à OMS, que também está analisando a aprovação da vacina.

Eurípedes Alcântara - Os párias contra a Covid

- O Globo

Golbery do Couto e Silva, militar e político que costurou por dentro o fim do regime militar e a volta da democracia, dizia que “no Mato Grosso tem um Napoleão”. O brasileiro Roberto Mangabeira Unger, mais jovem professor titular da Universidade Harvard, voltou de uma viagem pelo interior do Brasil relatando ter visto vendendo doces nas cidades ribeirinhas do Amazonas “uma porção de Benjamins Franklins”.

Cada a um, a sua maneira, apontou o fato óbvio, mas esquecido, de que, como queriam Machado de Assis e o poeta inglês William Wordsworth, “o menino é o pai do homem”. Toda criança anônima, pobre, deserdada da sorte, guarda dentro de si a semente de um grande homem ou de uma grande mulher. Basta que a loteria da vida lhe dê as condições para que floresça.

Hélio Schwartsman - O futuro é sombrio

- Folha de S. Paulo

Se eu fosse uma multinacional também estaria pensando em cair fora do Brasil

CabifyFord, Sony, LG, LafargeHolcim. Nas últimas semanas, várias multinacionais anunciaram que deixarão de produzir no Brasil. Dificuldades setoriais específicas decerto contribuíram para as decisões dessas empresas, mas sua confluência temporal torna inevitável perguntar se não está havendo uma perda de confiança no futuro do país. E eu receio que a resposta seja afirmativa.

O ambiente de negócios brasileiro nunca foi fácil. Anos e anos de hiperinflação, complexidade tributária, instabilidade regulatória e morosidade da Justiça destacam-se entre os fatores que já fizeram com que muitas firmas globais desistissem do Brasil.

Entre meados dos anos 90 e a primeira década do novo milênio, porém, pareceu que o país estava encontrando seu caminho. Principalmente sob as gestões de FHC e Lula, logrou-se controlar a inflação, melhorar o sistema de contas públicas e a regulação em geral, universalizar o ensino básico, expandir o acesso ao terceiro grau e ampliar a renda de vários grupos sociais. Não durou muito.

Cristina Serra - Biden, Guedes e a Casa-Grande

- Folha de S. Paulo

Guedes é exemplo extremo de 'aporofobia', aversão a pobres

Merece ampla discussão o plano do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para a retomada pós-pandemia, especialmente pelo que propõe sobre o papel do Estado numa economia capitalista e numa sociedade profundamente desigual como a norte-americana.

Basicamente, o presidente propõe reformas de caráter progressista, que se destinam a melhorar as engrenagens do capitalismo, para que o motor econômico volte a girar sem deixar para trás multidões de desesperados revirando lixo para não morrer de fome.

Biden quer criar empregos para a classe média e trabalhadores com menor qualificação, aumentar o valor do salário mínimo, ampliar a educação pública e melhorar o acesso à saúde, que, segundo ele, deve ser um direito, não um privilégio.

Alvaro Costa e Silva - CPI da autodestruição

- Folha de S. Paulo

Para disfarçar derrota do governo, Bolsonaro volta a preocupar-se com o beijo gay

Na hora em que se mobiliza para combater a CPI da Covid, o governo atira no pé. Se um observador internacional chegasse hoje a Brasília, a primeira coisa que pensaria é que o país está nas mãos de um bando de lunáticos autodestrutivos.

Ex-ministro da Saúde que não sabia o que é o SUS, o general Pazuello desfilou sem máscara num shopping de Manaus, cidade que, por falta de oxigênio, registrou em janeiro uma das mais altas taxas de letalidade do mundo. Cobrado por ignorar a proteção, Pazuello reagiu fazendo piada. Diante dos senadores, ele manterá o bom humor?

Um dos articuladores das forças governistas para minar a comissão, o que revelou o chefe da Casa Civil, general Ramos? Em reunião do Conselho de Saúde transmitida ao vivo pela internet, admitiu uma molecagem: tomou a vacina escondido para driblar a orientação do Planalto. E não foi só ele. Outros dois ministros —um almirante e um general— curvaram-se aos caprichos do capitão da cloroquina. Bento Albuquerque, de Minas e Energia, e Braga Netto, da Defesa, também se vacinaram em segredo.

Demétrio Magnoli - O general que obedecia

- Folha de S. Paulo

CPI deve analisar atos de Pazuello, mas sem fingir que ninguém emitia as ordens

 “Um manda, outro obedece”. Eduardo Pazuello, o general que logo sentará na cadeira de testemunhas da CPI da Covid, carrega um álibi no bolso, mas pensará duas vezes antes de invocá-lo. A alegação permitiria à CPI saltar as etapas intermediárias, girando seus holofotes diretamente para a suposta fonte das ordens, que é Bolsonaro. Além disso, como revela a história argentina, não seria capaz de livrá-lo da responsabilidade por seus próprios atos.

Sob pressão militar, Raúl Alfonsín, o primeiro presidente da redemocratização argentina, anunciou em março de 1987 a edição de uma lei destinada a interromper inúmeros processos por crimes contra a humanidade. A Lei de Obediência Devida foi antecipada pela sublevação dos “carapintadas”, comandada por um tenente-coronel condecorado na Guerra das Malvinas, na Escola de Infantaria do Campo de Mayo, durante a Semana Santa. Promulgada em junho de 1987, tornou inimputáveis cerca de 500 oficiais indiciados por torturas, “desaparecimentos” e assassinatos durante a ditadura militar.

País perde 7,8 mi de empregos e R$ 17 bi em renda em um ano de pandemia

Somente agropecuária e setor público abriram vagas em relação a 2020, segundo IBGE

Eduardo Cucolo / Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em um ano de pandemia, a massa de rendimentos do trabalho das pessoas ocupadas encolheu 7,4%, uma perda de R$ 16,8 bilhões, na comparação entre o trimestre encerrado em fevereiro de 2021 e o mesmo período do ano passado.

Quando se compara o dado mais recente com os três meses imediatamente anteriores (de setembro a novembro de 2020) , verifica-se uma perda de R$ 4,6 bilhões (-2,1%).

Os dados são da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), divulgados nesta sexta-feira (30) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e mostraram também que o desemprego atingiu o patamar recorde de 14,4% no trimestre encerrado em fevereiro.

Em relação ao período pré-crise, destacam-se as quedas no rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas nos segmentos de alojamento e alimentação (-9,7%) e atividades de transporte (-7,8%), que estão entre os mais afetados pelas restrições impostas pela pandemia.

Marcus Pestana* - 2022, cada coisa ao seu tempo

O grande político pernambucano Marco Maciel comentou certa vez com ironia: “O importante é não botar o depois antes do antes”. O ex-presidente e governador de Minas Tancredo Neves, do alto de sua experiência, argúcia e habilidade, cunhou a metáfora; “Só examine a espuma depois que as ondas pararem de bater”.

O tempo da política nem sempre coincide com a percepção e as necessidades da sociedade. A gestão da variável tempo é estratégica no jogo da política. A precipitação não é boa conselheira.

A leitura das pesquisas joga o foco muito mais nas intenções de voto do que no sentimento oculto na alma dos cidadãos comuns. Já assisti viradas eleitorais históricas.  A opinião pública é volátil, sujeita a chuvas e trovoadas. Não só as virtudes dos candidatos contam, mas também a sorte, o destino. “Tudo que é sólido desmancha no ar”. O acaso também tem o seu papel. É só lembrar o acidente aéreo que vitimou o talentoso governador de Pernambuco Eduardo Campos, em 2014, ou a absurda tentativa de assassinar Bolsonaro, em 2018. Eleição não é concurso de provas e títulos. A democracia acerta sempre no atacado e no longo prazo, e comete visíveis injustiças no varejo e no curto prazo. É um processo coletivo de aprendizagem permanente.   

À Mesa com o Valor - Felipe Santa Cruz: ‘Bolsonaro abraçou a morte’, diz o presidente da OAB

Para o advogado, uso da Lei de Segurança Nacional faz parte da política de intimidação do atual governo

Por Monica Gugliano —Valor Econômico/ Eu & Fim de Semana

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe de Santa Cruz Oliveira Scaletsky, viu um fantasma que julgava exorcizado voltar a assombrar. “Nenhum de nós que passou pelos tempos da redemocratização poderia ter ideia do risco que esse vírus incubado do autoritarismo deixou na sociedade brasileira”, diz o advogado de 49 anos.

Entre muitas outras sinalizações de retrocessos e de que “esse vírus” voltou a circular, aponta Santa Cruz, está a “reaparição” no governo de Jair Bolsonaro da Lei de Segurança Nacional (LSN), promulgada em 1983. A lei tem sido usada para justificar inquéritos que investigam manifestações e qualquer comentário considerado crítico ao chefe do Executivo e prevê penas de até quatro anos.

O youtuber Felipe Neto e o político Guilherme Boulos (PSOL) foram intimados a depor com base na lei. “Faz parte da política de intimidação do governo, que recorre a esse entulho autoritário para proteger aqueles que tentam derrubar o estado democrático de direito”, afirma o advogado, lembrando que o texto já começou a ser modificado na Câmara dos Deputados, incluindo crimes como o do uso de fake news. “Todos os presidentes da República pós-democratização foram acossados por críticas. Por que Bolsonaro não pode ser?”

Passa do meio-dia e a sala de Santa Cruz reluz com a claridade do Sol a pino do lado de fora da casa, onde ele vive com a mulher, a advogada tributarista Daniela Ribeiro de Gusmão, e os quatro filhos: Lucas, 20; Beatriz, 18; Maria Eduarda, 15; e João Felipe, 11. Ele explica que é um condomínio tranquilo, rodeado de verde, na Barra da Tijuca. Está sentado à frente do quadro do artista plástico goiano Marcelo Solá, uma explosão de cores que parece amenizar a frieza destas conversas em frente da tela do computador.

George Gurgel de Oliveira* - Brasil: a educação como um dos fundamentos da sustentabilidade.

No presente texto, faremos algumas reflexões em relação à educação básica como parte integrante e um dos fundamentos de modernização do Estado e da Sociedade brasileiros.

As ideias principais aqui colocadas foram apresentadas em um debate realizado pela Fundação Astrojildo Pereira, em fevereiro deste ano, provocado pelo Professor Cristovam Buarque.

O Brasil, como toda a humanidade, continua vivendo, em plena Pandemia, incertezas frente à difícil conjuntura política, econômica, social e sanitária. Diante desta situação desfavorável, a educação brasileira enfrenta sérias dificuldades que vão se ampliando neste segundo ano de Covid-19, nos colocando a necessidade de avaliar o atual sistema educacional brasileiro nas suas vulnerabilidades e potencialidades, durante e pós Pandemia.

A sociedade contemporânea é herdeira da revolução industrial quando a ciência, a tecnologia e a educação profissionalizante começam a ser incorporadas nos processos de produção e distribuição de mercadorias, transformando o cotidiano da humanidade, construindo novas relações políticas, econômicas, sociais, culturais e espirituais da sociedade entre si e com a própria natureza.

A Pandemia que estamos vivendo no Brasil e no mundo deu uma maior visibilidade aos conflitos e contradições desta sociedade construída historicamente, aos olhos de hoje, insustentável.

O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais

EDITORIAIS

Biden, cem dias

Folha de S. Paulo

Democrata reverte trumpismo e adianta vacinação; pacote ambicioso será teste

O sucesso da vacinação, que chegou a 100 milhões de americanos, constitui o feito mais vistoso de Joe Biden na Casa Branca. Mas o presidente dos Estados Unidos também surpreendeu o país e o mundo com o anúncio de projetos de desenvolvimento social, econômico e ambiental ambiciosos.

Nenhum desses planos terá sido aprovado no Congresso antes do terço final do ano. Ainda assim, Biden estabeleceu marcas importantes em seus cem primeiros dias de mandato, não limitadas ao pacote de gastos de US$ 1,9 trilhão que conseguiu passar no Parlamento.

Para além da reversão do trumpismo, já em si relevante, o democrata conseguiu superar sua promessa de vacinação ampla —e ostenta o feito notável de ter tornado a imunização acessível a toda a população acima dos 16 anos.

Levou os Estados Unidos de volta aos acordos e debates da mudança climática. Nomeou um quadro de assessores principais de marcada diversidade em um tempo de revolta maior contra o racismo.

Em seus discursos, oferece acordos à oposição e refreia o individualismo; diminuiu radicalmente a presença presidencial nas mídias; prometeu derrotar o terrorismo doméstico e a supremacia branca.