O Globo
O senador Renan Calheiros, relator da CPI
da Covid, fez uma jogada política em benefício próprio ao liberar pontos
importantes do que seria seu relatório final. Conseguiu ser o centro do grande
assunto dos últimos dias a decisão de indiciar o presidente Bolsonaro por
genocídio de indígenas e homicídio.
Outras decisões polêmicas como indiciar o ministro da Defesa, general Braga
Netto, por sua atuação quando era chefe do Gabinete Civil, também causaram
rebuliço entre seus pares. Por isso o presidente da Comissão, Omar Aziz, agiu
certo ao retardar a divulgação do relatório oficial. Quer divulgar “o relatório
da CPI, não o relatório do Renan”.
Os integrantes da CPI, principalmente os do grupo G7, senadores de oposição ou
independentes que fazem a maioria do plenário, ficaram irritados com Renan
porque temem que, além da questão política, o relator esteja indo além das suas
pernas, querendo imputar a Bolsonaro crimes difíceis de apurar e de transformar
em acusação de peso jurídico incontestável.
Deve-se criticar o governo pelo atraso das providências e pela falta de
prioridade no atendimento aos indígenas, mas é incontestável que, depois de uma
pressão da opinião pública, o governo Bolsonaro mandou auxílio e vacinas para
os territórios, descaracterizando assim o genocídio indígena.
Também não se pode acusar que Bolsonaro teve intenção de matar, embora seja
inqualificável a aposta numa “imunidade de rebanho” que até hoje seu filho
Flávio defende em lugar da vacinação em massa. Bolsonaro foi culpado pela
desorganização de seu governo no combate à pandemia e há suspeitas de que tenha
atrasado a compra de vacinas aguardando a tal imunidade coletiva, que
permitiria que a economia não parasse.