quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Vera Magalhães: O que Bolsonaro ganha com o caos?

O Globo

Há dois dias, no nosso quadro diário na CBN, Rodrigo Bocardi me pergunta: o que Jair Bolsonaro ganha com o caos que promove na vacinação, ou ao sair de férias pela segunda semana consecutiva enquanto a Bahia se afoga em chuvas?

A pergunta diz respeito à lógica eleitoral mais básica, estratégica mesmo. Pesquisas, conversas com aliados, uma passada rápida nas redes sociais, qualquer termômetro poderia mostrar ao capitão que a balbúrdia que ele fomenta em seu próprio governo, dia após dia, ano a ano, só acaba por minar suas próprias chances eleitorais. Pelo menos um substrato positivo em tanto retrocesso, diga-se.

O Brasil tem adesão histórica à vacinação, que se confirmou na pandemia de Covid-19. Os ataques nonsense perpetrados pelo presidente às vacinas não levaram a que as pessoas deixassem de se vacinar.

Só a vacinação, como diz até seu ministro da Economia, Paulo Guedes, permitirá que se inicie alguma tentativa de recuperação econômica — ademais profundamente comprometida pelas outras barbeiragens feitas pelo governo, como a implosão da responsabilidade fiscal.

Elio Gaspari: O ano em que o Brasil nasceu

O Globo

A máquina do tempo leva a um grande momento

No sábado, 1º de janeiro de 2022, começa o ano do bicentenário do nascimento do Brasil. Parece pouca coisa, mas será uma oportunidade para pensar numa terra que resolveu andar para a frente com seus 4,7 milhões de habitantes. Nela viviam duas grandes figuras: o príncipe Dom Pedro, de 23 anos, e José Bonifácio de Andrada, de 59 anos.

Passados dois séculos, o país tem 213 milhões, convive com a cavalaria do atraso e, dia sim, dia não, é obrigado a conviver com o negacionismo e as batatadas do “coronel” Marcelo Queiroga e do capitão Jair Bolsonaro. Ninguém se livra do presente, mas o ano do bicentenário traz um refresco. Quem quiser, numa hora vaga, poderá entrar na máquina do tempo para reviver o grande ano de 1822. Por alguns minutos, graças à rede, voltará a um tempo em que o Brasil olhou para o futuro.

Fernando Exman: Pré-campanha já constrange militares

Valor Econômico

Ocupação de espaços na máquina pública será alvo de críticas

No início de setembro, quando a Câmara se preparava para votar o projeto de lei complementar que reforma o Código Eleitoral, oficiais das Forças Armadas não escondiam a satisfação com um determinado trecho da proposta. Apoiavam, com entusiasmo, a inclusão dos militares entre as carreiras que precisariam passar por uma quarentena antes de ingressar na política.

A proposta, claro, não teria o condão de impedir o uso da imagem das Forças Armadas por candidatos e partidos. Isto era lamentado e já estava na conta, por ser considerado inevitável, mas, pelo menos, a iniciativa legislativa era vista como um instrumento adicional para a missão dos altos comandos de impedir a politização das tropas. “Quando a política entra num quartel por uma porta”, ouvia-se nas conversas sobre o assunto, “a disciplina sai pela outra”.

Daniel Rittner: Três fatos econômicos que vão além de 2021

Valor Econômico

Saneamento, novo marco das ferrovias, fim de era no pré-sal

Retrospectivas costumam ser compilações de personagens, episódios, frases marcantes de um ano. Sem delongas, eis três tendências econômicas com origem em fatos ocorridos em 2021, mas que não se encerram com a virada de calendário e terão desdobramentos relevantes ao longo do restante de década.

1) Saneamento: tornou-se a estrela dos leilões de infraestrutura, com estreantes no mercado e investidores estrangeiros capitalizando empresas já bem posicionadas. Questionamentos sobre a viabilidade do modelo envelheceram rapidamente. O Supremo Tribunal Federal (STF) afastou incertezas jurídicas.

O leilão de três blocos da Cedae (RJ), em abril, foi o pontapé inicial da transformação. Um bloco remanescente está sendo licitado hoje e recebeu pelo menos duas propostas Houve certames bem- sucedidos no Espírito Santo e na região metropolitana de Maceió.

Vinicius Torres Freire: Uma década de salário e emprego ruins

Folha de S. Paulo

Tendência à precarização talvez venha a ser reforçada por mudanças causadas pela epidemia

Os rendimentos do trabalho, "salários", não eram tão baixos desde 2012 –desde que se tem um registro comparável nas estatísticas do IBGE. Em 2022 vão continuar assim tão baixos, afora milagres. Será uma década de pobreza.

Um motivo dessa pobreza é o fato de que os novos postos de trabalho são ruins: de baixa qualificação, pagam pouco, são inseguros. Esse quadro piorou na recessão de 2015-2016, mas já vinha de antes, indicam estudos de economistas. Na epidemia, a situação deve ter se agravado.

Hélio Schwratsman: Orçamento arcaico

Folha de S. Paulo

O problema maior da corrupção é que ela perverte a lógica dos investimentos

A corrupção tem dois problemas práticos (a discussão moral fica para outra ocasião). No que podemos chamar de menor deles, ela desvia para bolsos privados o que deveria ter destinações públicas. Digo que é menor porque, exceto em cleptocracias plenas, o volume de recursos surrupiados não costuma representar uma fatia muito grande do Orçamento. O problema maior da corrupção é que ela perverte a lógica dos investimentos. Você faz a obra A no local B não porque é dela que a população mais precisa no momento, mas porque esse é o interesse da empreiteira C que entrou em conluio com o político D. É difícil calcular o custo dessas oportunidades perdidas, mas ele é enorme.

Bruno Boghossian: O voto conservador

Folha de S. Paulo

Presidente ganha impulso desse segmento, mas alinhamento não é automático

Um dia antes de sair de férias pela segunda vez, Jair Bolsonaro comemorou o aumento do número de armas de fogo no país. Apesar de restrições impostas pelo Congresso e pelo STF, o governo entregou a seu eleitorado mais fiel uma flexibilização considerável neste item da agenda conservadora. A celebração sugere que o presidente deve transformar o tópico numa peça de propaganda.

Poucos pontos da pauta bolsonarista unem tanto a base do presidente como o acesso às armas. Entre os brasileiros que consideram mais segura uma sociedade com a população armada, 53% declaram voto em Bolsonaro no primeiro turno da próxima eleição. Só 25% votam em Lula, 8% em Sergio Moro, 4% em João Doria e 2% em Ciro Gomes.

Mariliz Pereira Jorge: O ano do 'Fora Bolsonaro!'

Folha de S. Paulo

Felizmente, 2022 não será um ano bissexto

A contagem regressiva mais importante agora que 2022 se aproxima não é aquela tradicional com duração de dez segundos, mas a que dá início ao último ano de Jair Bolsonaro na Presidência. Mais 365 dias. Felizmente, não será um ano bissexto. Em dezembro de 2019, escrevi neste espaço que meu palpite sobre 2020 era o seguinte: "Será, oh, uma bosta. Como nesta época sempre fico mais otimista, quero acreditar que serão só mais três anos. Longos e duros anos. Mas apenas mais três".

Troca de siglas deve movimentar 40 deputados

Maior bancada do Centrão e terceira maior da Câmara, sigla do presidente deve receber em torno de 20 deputados bolsonaristas

Camila Zarur / O Globo

RIO — A escolha do presidente Jair Bolsonaro de se filiar ao PL desencadeará uma série de trocas de legenda por parlamentares na última janela partidária antes das eleições do ano que vem, entre 3 de março e 1º de abril. Entre deputados que deixarão o partido por incompatibilidade com o presidente, o ingresso da bancada bolsonarista hoje abrigada no PSL, e outros rearranjos na antiga sigla de Bolsonaro, em processo de fusão com o DEM, líderes partidários calculam que ao menos 40 parlamentares já estejam de malas prontas para trocar de sigla. O número deverá ser maior, considerando legendas sem ligação direta com o passado recente ou a atual filiação do presidente.

A janela partidária é o período em que deputados federais ou estaduais podem trocar de sigla sem serem punidos por infidelidade. O PL, atualmente com 43 deputados, é a maior bancada do Centrão e a terceira maior da Câmara. A expectativa é que o partido receba em torno de 20 deputados bolsonaristas que ainda estão no PSL — ultrapassando, assim, o PT (53 deputados) e, eventualmente, até mesmo o futuro União Brasil, que surgirá da fusão entre o PSL (55 deputados antes da debandada bolsonarista) e o DEM (27).

Federação pode ampliar bancada da esquerda

Consultor político projeta ganho de pelo menos 15 cadeiras com agrupamento de siglas oposicionistas

Cristiane Agostine / Valor Econômico

SÃO PAULO - A proposta de federação negociada por PT, PSB, PCdoB, PV, Psol e Rede tende a ampliar o espaço da esquerda e da centro-esquerda na Câmara dos Deputados na próxima legislatura. Juntos, esses partidos poderiam eleger 15 deputados a mais do que elegeriam se disputassem separados a eleição de 2022, segundo estimativa do consultor político Antonio Augusto de Queiroz.

Sem a possibilidade de coligação para a próxima disputa eleitoral, a federação é a principal aposta de partidos de centro-esquerda para aumentarem suas bancadas e escaparem de punições a quem não cumprir a cláusula de barreira. O acordo prevê que cada legenda mantenha sua autonomia, mas obriga as siglas a ficarem unidas por quatro anos e disputarem juntas as duas próximas eleições, em 2022 e 2024. As conversas entre os partidos estão em andamento e há entraves sobretudo entre PT e PSB (leia mais nesta página).

Consultor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Queiroz explica que as legendas que se unirem na federação poderão se beneficiar do chamado “sistema de sobras eleitorais”. As chamadas “sobras” são as vagas não preenchidas pelos critérios do sistema proporcional. Pela legislação aprovada neste ano, poderão concorrer à distribuição das “sobras” os candidatos que receberem votos equivalentes a pelo menos 20% do quociente eleitoral e os partidos que conquistarem um mínimo de 80%.

Por que partidos de esquerda querem se juntar em federações em 2022

PT e PSB discutem 'casamento' até 2026 e há conversas também envolvendo PSOL, PCdoB, PV e Rede; partidos maiores miram aumento da bancada enquanto pequenos tentam escapar da cláusula de barreira

André Shalders e Julia Affonso / O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA  — Nas últimas semanas, partidos de esquerda passaram a discutir a possibilidade de criar federações partidárias a partir de 2022. Diferentemente das coligações, as federações vão muito além da disputa eleitoral: criam uma “fusão” temporária entre as siglas envolvidas, que precisa durar pelo menos quatro anos. Para legendas menores, como a Rede Sustentabilidade e o PCdoB, o objetivo da federação é escapar das punições aplicáveis a quem não cumprir a chamada cláusula de barreira nas próximas eleições. Já partidos com mais representação no Congresso, como o PT e o PSB, veem no mecanismo uma possibilidade de obter mais cadeiras no Legislativo.

As federações partidárias serão uma das novidades das disputas de 2022. Foram criadas pelo Congresso em setembro deste ano, e regulamentadas por uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicada no último dia 14 de dezembro, sob a relatoria do presidente da Corte eleitoral, o ministro Luís Roberto Barroso. Assim como as coligações, a federação permite que os partidos atuem em conjunto no período eleitoral, inclusive somando os votos para conquistar mais vagas na Câmara e nas assembleias. Mas as semelhanças acabam por aí: a federação exige que as siglas continuem juntas, por, no mínimo, mais quatro anos.

Hoje, os partidos de esquerda somam 131 deputados federais, considerando as bancadas do PT (53 nomes), do PSB (31), do PC do B (8), do PSOL (9), do PDT (25), do PV (4) e da Rede (1). Por enquanto, a discussão mais avançada é sobre um bloco com PT, PSB, PC do B e PV; outra possibilidade é a união de PSOL, Rede e PCdoB. Dirigentes dessas legendas consideram que é possível alcançar o número de 200 deputados se o bloco incluir todas as siglas do campo, inclusive o PDT – que por enquanto está fora das conversas.

O que pensa a mídia: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Bolsonaro entra no ano eleitoral em má posição

Valor Econômico

Nunca um incumbente esteve em situação tão ruim quando tentou a reeleição a um ano antes do pleito

O presidente Jair Bolsonaro chega ao ano final de seu mandato colhendo o que plantou: instituições desfazendo diariamente decisões ilegais de seu governo, inquéritos para apurar fake news em que o mandatário está envolvido e queda de popularidade. A mais recente pesquisa Datafolha revela aspectos relevantes para um candidato à reeleição - 53% consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo, 48% julgam que ele é o pior presidente que o país já teve e 60% afirmam que nunca confiam no que ele diz.

O prestígio de Bolsonaro já começara a descer ladeira abaixo logo no início de seu governo, quando decidiu, ao lado de generais que presumiam entender de política, que não precisaria ter uma base de apoio no Congresso. Os legisladores aprovaram uma reforma já amadurecida anteriormente, a da previdência, e barraram todas as pautas conservadoras com que Bolsonaro anima a minoria radical que o admira nas redes sociais. Veio a pandemia e houve mais entendimento entre governo e Congresso diante da catástrofe. Mesmo assim, o protagonismo nunca foi do Planalto.