sexta-feira, 20 de maio de 2022

Fernando Abrucio*: A derrota do futuro para o passado

Valor Econômico

Em vez de buscar um novo arranjo a maioria dos líderes insiste em reforçar as brigas e as animosidades pretéritas, num jogo entrópico

O passado está vencendo o futuro do país em duas frentes. A primeira é a bolsonarista. O projeto de Bolsonaro não só elogia o passado, inclusive o macabro mundo das torturas, como é vazio de propostas para modernizar o Brasil nos próximos anos. Surpreendentemente, a oposição também não consegue se livrar dos problemas pretéritos. Uma combinação de políticas dos rancores com a falta de uma proposta para além do curto prazo gera uma paralisia de ação e de proposição. Neste cenário, as candidaturas movem-se pelo retrovisor, quando a sociedade espera um norte mais amplo para enfrentar os desafios do século XXI.

Bolsonaro é um presidente saudosista, tanto da ditadura militar quanto de um mundo conservador idílico que teria havido no passado, quando o patriarcalismo podia vender uma falsa ideia de harmonia entre todos os grupos sociais. O autoritarismo e a política dos valores radicais se encontram nesse modelo mental. Seus inimigos são a Constituição de 1988, com sua proposta de universalização de direitos por meio de políticas públicas e de democratização do sistema político, bem como as visões mais recentes sobre o meio ambiente, a questão de gênero, a igualdade racial e a maior preocupação das empresas com seu impacto na comunidade - o bolsonarismo critica fortemente o modelo de ESG nas redes sociais.

O projeto bolsonarista tem um referencial em tendências do presente, em especial a visão de extrema direita ao estilo de Viktor Orbán. Mas esse modelo húngaro não apresenta nenhuma ideia relevante sobre como enfrentar os enormes desafios contemporâneos. O mesmo cenário se repete com Bolsonaro: ele não tem nenhuma proposta consistente para resolver os dilemas da educação, da saúde, das questões urbanas, da temática ambiental e, sobretudo, da desigualdade e da pobreza sob os marcos da realidade contemporânea.

O máximo que o bolsonarismo nos apresenta é uma distopia: um mundo dominado pela sociedade completamente armada, por empreendedores que agem como predadores ambientais, por nenhuma garantia de direitos trabalhistas, pela destruição da ciência, pela colonização da escola por doutrinadores religiosos e pela aliança do atraso oligárquico do Centrão com o projeto autoritário de poder eterno da família Bolsonaro. O futuro do Brasil bolsonarista seria como um Mad Max tupiniquim, só que com maior predomínio masculino no comando do caos.

A distopia bolsonarista não é só o mundo caótico que propõe. Ela começa, na verdade, com a ameaça de golpe caso não vença a eleição, ou caso ganhe a Presidência da República e não consiga governar de forma autocrática por conta dos controles democráticos advindos do STF, do Congresso Nacional e da Federação. É importante frisar que o uso de métodos autoritários está no horizonte próximo tanto na hipótese de derrota como na de reeleição. Isso ocorre porque Bolsonaro não vislumbra sair do poder tão cedo nem ter uma oposição que funcione como limitadora de sua autoridade, o que o torna um obstáculo para qualquer futuro alternativo e baseado num projeto mais plural de sociedade, atento às tendências e desafios do século XXI.

Diante desta distopia bolsonarista, a oposição deveria apresentar-se como uma porta para um novo futuro. Só que o passado também tem dominado a estratégia e mesmo a agenda dos oposicionistas, da chamada terceira via ao lulismo. A primeira razão está na força da política do rancor em sua lógica de atuação. Os partidos e lideranças políticas ainda não se recuperam do trauma disruptivo que se iniciou em 2013, a partir do qual grande parcela do sistema partidário desestruturou-se completamente, em especial o centro democrático. Mas, em vez de buscar um novo arranjo, a maioria dos líderes insiste em reforçar as brigas e as animosidades pretéritas, num jogo entrópico em que o passado engole o futuro.

José de Souza Martins*: Religião e mudança política

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

O que o aumento do número de pessoas sem religião diz sobre a política no Brasil. Em SP e Rio, 30% e 34%, respectivamente, dos jovens se declararam sem religião, enquanto os evangélicos são 27% e 32% e os católicos, 24% e 17%

Desde que nos censos brasileiros ganhou visibilidade a diminuição da proporção de católicos no conjunto da população e o aumento da proporção de evangélicos, a questão confessional vem ganhando crescente interesse. Sobretudo em consequência da também crescente promiscuidade de política e religião, o que sugere uma conspiração ideológica e extrarreligiosa para um enquadramento geopolítico do Brasil, promovido por meio de religiões que nele negam suas próprias tradições.

Desde a conferência do general Golbery do Couto e Silva na Escola Superior de Guerra, em 1980, quando ele justificou a chamada abertura política para promover o retorno da política ao seu leito natural, o Estado militar deu indicações nesse sentido. A de esvaziar a crescente importância de igrejas, como a católica e a luterana, na ação política por meio dos movimentos sociais de sua inspiração. Mas ele não se referiu ao crescente envolvimento dos evangélicos na política desde a implantação do regime militar.

A ideia da conspiração não é descabida. Com o novo regime, em 1964, várias foram as indicações de uma tendência à “protestantização” do Estado brasileiro na linha de um fundamentalismo de amansamento e de controle social, na repressão política e em atos de violação dos direitos humanos.

Foi a época de expansão da fronteira econômica, de criação de uma base territorial para o novo capitalismo, baseado na redução dos custos sociais de sua reprodução. Baseada na associação antimoderna entre capital e renda da terra. A chamada modernização conservadora. Socialmente, caracterizou-se ela pelo crescimento do número de evangélicos acima da média na Amazônia Legal, a partir de então. Um novo capitalismo associado a uma nova religiosidade.

Dora Kramer: Trincheira vazia

Revista Veja

Na batalha da ‘fraude’ eleitoral, Bolsonaro vem se transformando num comandante sem tropa

Sinais efetivos e alentadores têm sido dados ultimamente de que o presidente Jair Bolsonaro é um comandante sem tropa na batalha que empreende contra o resultado das eleições de outubro. Qualquer que seja: se for derrotado para dizer que na verdade ganhou e, em caso de vitória, para alegar que a “fraude” se deu na contagem de votos, pois teria vencido por margem muito maior.

Conturbação haverá, como de resto está havendo há três anos com o presidente da República tentando levar o país à exaustão com sua dinâmica de conflito permanente e a ideia de se mostrar maior do que realmente é para intimidar a sociedade e, assim, disseminar a sensação de que a contestação a ele elevaria o risco de uma ruptura institucional.

Nesse aspecto, até obteve sucesso ao conseguir emplacar a tese do “golpe” iminente e tornar o Brasil (ou a parte dele engajada no debate político) refém de uma temática regressiva. Voltamos a discutir sob a óptica do passado para deixar em segundo plano as questões do presente e suas repercussões no futuro.

A realidade paralela de Bolsonaro, no entanto, tem encontrado limites. Por paradoxal que seja, tais limitações decorrem justamente da falta de noção dele sobre pontos a não ser ultrapassados. O presidente colecionou derrotas pontuais ao longo do mandato sempre que seu mundo de ficção entrou em choque com a realidade.

Vera Magalhães: Chega de retrocesso no Legislativo

O Globo

Se é para votar a pauta coalhada de retrocessos que está se desenhando, melhor seria o Congresso emendar festejos de São-João, convenções, recesso, campanha e só voltar a se debruçar sobre esses projetos depois das eleições, quando o clamor das urnas já tiver passado, e a vontade de fazer média com setores do eleitorado não ditar políticas que terão custos para o país, não só orçamentários, mas civilizacionais.

O Senado achou por bem, com outras prioridades para discutir, como a reforma tributária, desenterrar uma Proposta de Emenda à Constituição que, sob a justificativa de promover uma necessária valorização das (já para lá de valorizadas) carreiras da magistratura e do Ministério Público, reedita a antiga prática do pagamento de quinquênios, reajustes salariais automáticos a cada cinco anos trabalhados por juízes, promotores e procuradores.

O penduricalho, um dos poucos retirados da frondosa árvore de benefícios que são os contracheques dessas categorias, foi extinto em 2005. Agora a proposta, que vem sendo defendida pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, seria votada com a condição de ser casada com outra, parada na mesma Casa há meses, que acaba com supersalários e outros privilégios, como auxílios isso e aquilo.

Eliane Cantanhêde: A democracia e o quinquênio

O Estado de S. Paulo

Senado diz defender STF e democracia, mas também quer volta de privilégios do Judiciário

Quando os ministros do Supremo Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Alexandre de Moraes jantaram com senadores e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a versão foi a de que o Judiciário cobrou mais empenho e solidariedade do Legislativo em defesa das instituições. O menu teria sido democracia, democracia, democracia. Mas...

Menos de uma semana depois, o nosso Estadão divulgava a articulação do Senado para aprovar a volta do quinquênio para o... Judiciário. Em resumo, trazer de volta os 5% para funcionários, aposentados e pensionistas, a cada cinco anos. Conta: R$ 7,5 bilhões por ano.

Pode ter sido coincidência, sem que a volta de um privilégio derrubado em 2005 tenha constado nem da sobremesa, nem mesmo do cafezinho, mas coincidências desse tipo pegam mal, diante dos ataques do presidente Jair Bolsonaro ao Supremo, às eleições e à democracia e da crise que devora a comida e o salário do pobre.

Juízes já desfrutam de penduricalhos como 60 dias de férias, auxílio-moradia em comarcas sem residência oficial e até vale-alimentação. E os salários milionários, muito acima do teto? Apesar disso, o senador e advogado Rodrigo Pacheco alterna a defesa da democracia com a da volta do quinquênio para o povo brasileiro pagar.

Cristian Klein: Lula e PT em busca de novos casamentos

Valor Econômico

Tensão com PSB e rejeição a Freixo apontam mudanças para campanha de ex-presidente no Rio

Depois de encaminhada a aliança com o PSD em Minas Gerais, para construir um palanque de Lula no Estado, o PT volta sua atenção para o Rio de Janeiro, onde dirigentes dizem que a situação está em aberto.

No terceiro maior colégio eleitoral do país, o candidato de Lula ao governo é Marcelo Freixo (PSB), mas movimentos internos pressionam pela criação de um segundo palanque, mais centrista.

E de novo com o PSD, com quem o PT almeja costurar uma tríplice aliança nos maiores Estados - São Paulo, Minas e Rio. E preparar, quem sabe, o sonhado casamento nacional de Lula, não com sua agora cônjuge Janja, mas com Gilberto Kassab.

O palanque no Rio passou a dar dor de cabeça ao PT por duas razões. A primeira é a persistência do PSB em querer a vaga de senador na chapa majoritária para o deputado federal Alessandro Molon. Os petistas argumentam que o acordo prevê apenas a candidatura do presidente da Assembleia Legislativa André Ceciliano (PT). Molon está à frente de Ceciliano nas intenções de voto.

A segunda razão é o desempenho aquém do esperado de Freixo. Com alta rejeição nas pesquisas, apesar da tentativa do parlamentar, neste ano, de se livrar da pecha de radical, o PT acendeu o alerta diante da possibilidade de Freixo prejudicar a eleição de Lula no Rio.

Antes na dianteira, o deputado vem sendo ultrapassado pelo governador Cláudio Castro (PL), candidato do presidente e correligionário Jair Bolsonaro, que também sobe, enquanto Lula oscila para baixo.

Angela Alonso*: Percalços de um golpe

Folha de S. Paulo

A observação do passado ensina que o processo golpista não é fácil

"Golpe" é a palavra na ordem do dia. Adquiriu vida maiúscula em língua de políticos e páginas de jornais. Entidade tangível em mesa de bar, reunião de trabalho e almoço de domingo.

Quanto mais se fala, mais cresce a concretude. Antes se aludia ao "fantasma" do golpe, agora se discutem se seus braços são armados e se seu rosto é o presidencial.

Consenso não tem. Discute-se a coisa e seu nome, pois, como em 1889, 1930, 1964, há quem defina a mudança política à força como golpe, como quem a chame de "revolução". Os "revolucionários" atuais se dispõem às armas em nome da "liberdade" de impor o resultado eleitoral. Cantiga ensaiada em falas de presidente e família, de seu círculo político e dos fardados de diferentes forças e patentes.

Bruno Boghossian: Lula e Bolsonaro: cabos eleitorais

Folha de S. Paulo  

Jogo nos estados favorece aposta no petista e no atual presidente como cabos eleitorais

As largas fatias do eleitorado conquistadas por Lula e Jair Bolsonaro se tornaram um ativo importante para os aliados da dupla nos estados. Apesar da impressão de jogo jogado na corrida presidencial, as disputas para governador ganharam um grande potencial de reviravoltas.

O cenário favorece uma aposta em Lula e Bolsonaro como cabos eleitorais nas corridas dos estados. Os números estão em pesquisas realizadas pela Quaest em São Paulo, Minas Gerais, Rio e Bahia –que reúnem quase metade dos votos do país.

Luiz Carlos Azedo: Simone Tebet precisa seduzir caciques do MDB

Correio Braziliense

A legenda é uma federação de caciques regionais, com uma ala governista e outra de oposição que convivem muito bem na divergência, ao contrário do PSDB

Os presidentes do PSDB, Bruno Araújo, e do Cidadania, Roberto Freire, em encontro com o presidente do MDB, Baleia Rossi, decidiram descartar a pré-candidatura do ex-governador João Doria e indicar à cúpula dos respectivos partidos o nome da senadora Simone Tebet (MDB-MS) como a candidata de consenso para unificar a chamada terceira via. O critério adotado foi uma pesquisa para avaliar qual dos nomes teria mais potencial eleitoral: deu Simone, por causa da rejeição de Doria. Agora, seu nome depende da aprovação dos demais dirigentes das três legendas, inclusive do MDB.

A 90 dias do prazo inicial de realização das convenções eleitorais, há um longo caminho a ser percorrido. Tebet terá que superar as contradições internas das legendas, num contexto eleitoral polarizado entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Há mais dois competidores à frente dela: o ex-governador Ciro Gomes, candidato do PDT, que se mantém em terceiro lugar nas pesquisas, e o deputado André Janones (MG), do Avante, que aparece sempre com 2% nas pesquisas. Ambos, porém, não são levados em conta pelos líderes da terceira via.

Roberto Freire convocou a Executiva nacional da legenda para examinar a proposta, na próxima terça. Não deve haver resistência, porque a ideia de uma candidatura unificada de centro está em sintonia com a tradição política da legenda e Doria é considerado carta fora do baralho pela bancada federal. A maioria do partido era simpática à candidatura de Eduardo Leite, que perdeu as prévias.

O constrangimento para apoiar a senadora do Mato Grosso do Sul era o fato de o PSDB ter um candidato, pois os dois partidos estão federados. Com o ex-governador fora do jogo, a resistência é residual e representada pelo ex-governador Cristóvam Buarque (DF), que defende o apoio a Lula já no primeiro turno.

Reinaldo Azevedo: PSDB, Doria e o inferno do ‘sem-fim’

Folha de S. Paulo

Entre o campo democrático e o processo de fascistização, tucanos escolhem o desastre

A direção do PSDB está a um passo de abrir mão da candidatura de João Doria à Presidência da República. Exceção feita ao próprio Doria e a auxiliares próximos, poucos trabalharam por ela. Isso tem história, mas é escolha ou burra ou oportunista. Talvez falte ler outro João.

Doria vem de duas disputas vitoriosas que fizeram vítimas internas. Mas quem não as fez na política? O próprio PSDB, originalmente, é uma costela do PMDB fraturado por Orestes Quércia. E deu certo. O partido-mãe nunca conquistou a Presidência em eleições diretas. Já a dissidência chegou lá duas vezes e disputou o segundo turno em outras quatro. O ruim pode ficar bom quando se tem rumo. Ou fica pior.

O PSDB como parte desse troço dito "terceira via" — que apelidei "nem-nem" como pilhéria, tomando a expressão emprestada a Roland Barthes —nunca entendeu o conflito. Antes, erro de análise; agora, cálculo. Entre o campo democrático e o processo de fascistização do país, tucanos que apostam em coligações sabidamente inviáveis eleitoralmente escolhem ser periferia do bolsonarismo — e, pois, da fascistização.

Consta que pesquisa interna recomenda a Simone Tebet não criticar nem Lula nem Bolsonaro. É a variante fofa do "nem-nem". É como dizer que, para a democracia, são equivalentes. É o nada! Essa gente, João, esquece que "o demônio não precisa de existir para haver".

Doria aposta em convenção do PSDB para se viabilizar

Cúpula do PSDB tenta evitar que a crise se prolongue até a convenção, sob o risco de prejudicar candidaturas estaduais e à Câmara

Por Marcelo Ribeiro, Raphael Di Cunto e André Guilherme Vieira / Valor Econômico 

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Com a decisão dos presidentes do PSDB, MDB e Cidadania de apoiarem junto às direções partidárias a senadora Simone Tebet (MDB-MS) como candidata única à Presidência, o pré-candidato tucano João Doria tenta ganhar tempo para se viabilizar. Doria pretende levar o debate até as convenções partidárias, previstas para serem realizadas entre julho e agosto.

O primeiro passo da estratégia de Doria para tentar postergar a escolha do candidato único desses partidos será questionar na segunda-feira, em reunião com lideranças do PSDB, a pesquisa que levou os dirigentes a defender Simone Tebet como possível presidenciável. O ex-governador tem levantado dúvidas não só sobre o critério de usar pesquisa para definir o nome, mas também sobre os resultados do levantamento, que diz não ter tido acesso.

Segundo apurou o Valor, Doria pedirá tempo para se viabilizar.

Na quarta-feira, os presidentes das três siglas escolheram Tebet e disseram que a decisão se baseou em pesquisas quantitativa e qualitativa feitas no fim de semana passado, mas que não foram divulgadas por não terem sido registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Doria diz que desconhece os números e afirma que não há elementos concretos para tirá-lo da disputa agora, segundo seus aliados. Apoiadores do ex-governador dizem ainda que o tucano está à frente da senadora em pesquisas. “Quem viu a pesquisa? Quais os resultados da pesquisa? A pesquisa é secreta?”, disse o ex-governador em caráter reservado, de acordo com relatos.

A tendência dentro do PSDB, no entanto, é que a ofensiva de Doria pelo adiamento da escolha não surta efeito e que os dirigentes de PSDB, Cidadania e MDB defendam o nome de Tebet com suas lideranças.

Se isso se concretizar, o segundo passo da estratégia de Doria será o de recorrer ao diretório nacional do PSDB, que é mais amplo que a Executiva e tem 170 integrantes.

Bernardo Mello Franco: O dia da caça de João Doria

O Globo

O PSDB quer implodir um candidato com 2% de intenções de voto para apoiar outra candidata com 1%. A troca tem pouco a ver com as chances eleitorais de Simone Tebet. O real objetivo dos tucanos é se livrar de João Doria.

O ex-governador paulista venceu as prévias do partido, que custaram R$ 12 milhões aos cofres públicos. Ganhou, mas não deve levar. Empacado nas pesquisas, ele foi abandonado pela cúpula da sigla. O tiro de misericórdia veio de seu sucessor no Palácio dos Bandeirantes.

Candidato à reeleição, Rodrigo Garcia decidiu se distanciar de Doria, de quem foi vice até o mês passado. Teme que a impopularidade do padrinho inviabilize sua própria campanha.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o governador fez elogios a Tebet e endossou a manobra para descartar o correligionário. “O meu candidato a presidente é a terceira via. Simples assim”, declarou.

A operação para rifar o presidenciável foi pouco sutil. PSDB, MDB e Cidadania encomendaram uma pesquisa para definir o rumo da tal terceira via. Puro pretexto para decretar a inviabilidade de Doria, que agora se diz vítima de um golpe.

PSDB vive encruzilhada para rifar Doria

PSDB busca saída para Doria e tenta blindar disputa em São Paulo da rejeição do ex-governador

Enquanto tenta buscar saída consensual e sem judicialização com ex-governador para sacramentar apoio a Tebet, tucanos montam estratégia para afastá-lo da pré-candidatura de Garcia e blindar alianças em São Paulo, Rio Grande do Sul e Pará

Bianca Gomes / O Globo

SÃO PAULO — Para livrar-se da pré-candidatura de João Doria à Presidência, o PSDB está diante de uma encruzilhada. Enquanto tenta, ainda sem sucesso, encontrar uma saída minimamente consensual com o ex-governador e evitar judicialização, tucanos tentam afastá-lo do principal objetivo da legenda: manter a hegemonia no comando de São Paulo, estado que a sigla governa ininterruptamente desde 1995.

Mais do que pesquisas internas qualitativas e quantitativas, a escolha pelo nome da senadora Simone Tebet (MDB) como pré-candidata da terceira via foi uma decisão eminentemente política e que teve como pano de fundo a prioridade do PSDB para São Paulo. Soma-se a isso a possibilidade de, com Tebet, os dois partidos acertarem palanques conjuntos em pelo menos três estados.

Na avaliação da cúpula do PSDB, a pré-candidatura de Doria tornaria inviável a vitória de seu sucessor, o atual governador Rodrigo Garcia. Isso porque Doria deixou o governo paulista com apenas 23% de aprovação e 36% de rejeição, segundo o Datafolha.

Arriscar uma eventual derrota no governo de São Paulo significaria, para o PSDB, perder projeção nacional e enfraquecer o partido, que venceu sete eleições seguidas no estado. Diante desse cenário, a candidatura de Tebet foi vista pelo PSDB oportunidade perfeita para rifar o ex-governador paulista. E as pesquisas quantitativa e qualitativa eram o embasamento técnico que faltava para justificar uma decisão política.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Editoriais

PSDB e MDB tentam pôr fim à candidatura Doria

Valor Econômico

Sem um arranque entusiasmado de uma chapa, tanto Doria quanto Tebet devem continuar no último pelotão das pesquisas eleitorais

A terceira via foi rapidamente minguando desde que surgiu a ideia de unir partidos para romper a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, e o ex-presidente Lula, do PT, favorito nas eleições de outubro. Partidos invertebrados, chefiados por caciques locais e regionais, não ajudaram na montagem de uma opção que já seria difícil de concretizar de qualquer maneira. Agora, no estágio final, sobraram três partidos que podem se aliar em torno de um candidato único e nem isso é certo. Divergências paralisantes atormentam o PSDB e o MDB.

Pelo passado, o PSDB, que por duas décadas disputou com o PT a primazia do eleitorado nas disputas presidenciais, tinha tudo para ser o polo galvanizador de centro com chances de chegar à Presidência. Mas o PSDB é hoje uma pálida sombra do que foi. Os tucanos conseguiram a façanha de realizar uma convenção partidária, vencida por João Doria, então governador de São Paulo, apenas para que a partir daí suas lideranças, novas e velhas, passassem a se empenhar com afinco em não ter um candidato presidencial. Fato inédito desde a criação do partido, o ato parece ser o coroamento patético de uma decadência que talvez seja irreversível.