quinta-feira, 4 de setembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Anistia é afronta irresponsável à Constituição

O Globo

Motta deve enterrar a proposta de livrar Bolsonaro e os demais réus depois do julgamento no Supremo

É responsabilidade do presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), enterrar a articulação em favor do projeto que anistia os culpados pela violência do 8 de Janeiro, cujo objetivo implícito é beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro se condenado no julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF). Pela primeira vez, depois de reunião com líderes partidários, Motta admitiu pôr em pauta a proposta de anistia. “Aumentou o número de líderes pedindo”, disse. Ele deveria ser coerente com suas declarações anteriores, contrárias à ideia descabida. Não é hora de ceder a apelos demagógicos. O momento exige, de alguém que ocupa o cargo de Motta, espinha dorsal republicana e responsabilidade com a História.

BC trava guerra bélica em múltiplas frentes, por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Problemas vão da taxa Selic e desaceleração da economia a fintechs e Congresso

Banco Central é alvo de múltiplas frentes de pressão, que transformaram o momento atual numa tempestade perfeita para o presidente Gabriel Galípolo e a sua diretoria.

Numa primeira frente, a crescente insatisfação do governo e do PT com a taxa Selic em 15% diante dos sinais de desaceleração do crescimento da economia e do risco de um PIB menor em 2026, ano de eleições.

Outra batalha é o envolvimento do setor financeiro com o crime organizado, em particular o PCC, via fundos de investimentos e lavadores de dinheiro sujo camuflados de fintechs.

Anistia não é pacificação; é medo, por Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Sem anistia em 1979, em 2006 e em 2025

Anistia é negação da justiça. Em graves violações de direitos humanos ou atentados contra a democracia, anistia não é pacificação, é medo. É o medo que a democracia tem, às vezes, de chamar tortura pelo nome, de chamar invasão do Parlamento de golpe, de chamar morte pela polícia de assassinato.

Guardadas as devidas proporções de cada momento histórico, a função que a anistia executa é a mesma: impunidade certeira.

Torturadores da ditadura não deveriam ter sido anistiados em 1979. Não estaríamos no imbróglio em que o bolsonarismo nos jogou se o time de Ustra e quem o aplaude estivessem na cadeia. A persistência da anistia de 1979 é ilegal porque viola compromissos internacionais do Brasil, apesar de o STF já ter decidido erroneamente sobre o tema. A anistia da ditadura não gerou pacificação alguma (a estrutura militarizada da polícia que o diga). A pacificação que a anistia de 1979 gerou foi o medo do Exército que temos.

Brochável e, de repente, dodói, por Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Não será surpresa se, já nos próximos dias, Bolsonaro aparecer tripulando uma cadeira de rodas

No dia 21 de julho último, jair Bolsonaro adentrou a Câmara dos Deputados, em Brasília, para mostrar aos amigos sua recém-inaugurada tornozeleira eletrônica. Pelo desembaraço com que se equilibrou numa perna para levantar a outra, exibindo a canela e o dispositivo, parecia em grande forma. Oito dias depois, comandou uma carreata e motociata no centro de Brasília, empoleirado na caçamba do carro de som, mudo, como lhe foi ordenado, mas acenando euforicamente. Ninguém o diria deprimido, debilitado, depauperado.

Ao julgar Bolsonaro, Brasil vira estudo de caso para o mundo, por Rui Tavares

Folha de S. Paulo

A escolha de tentar defender a democracia e arriscar falhar é superior à de nada fazer e nunca acertar

A importância do julgamento de Jair Bolsonaro e outros, que começou ontem, extravasa em muito as fronteiras do Brasil. A razão é simples: o que está em jogo no Supremo Tribunal Federal é a escolha entre a ética de fazer algo em defesa da democracia, mesmo arriscando falhar, e a de nada fazer e nunca acertar.

Esse tem sido o dilema central da defesa da democracia pelo menos na última década. Só por isso, este já seria o julgamento da década. Mas como a questão do colapso das democracias é antiga —vem já consagrada desde Platão e Aristóteles— e na nossa modernidade ela tem um paralelismo evidente com o fim dos regimes democráticos cem anos atrás, este julgamento poderá ficar na história para lá do futuro próximo.

Estamos pior, mas estamos melhor, por Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

Julgamento de Bolsonaro e seus generais só precisa ser justo com os fatos e a lei

Jair Bolsonaro não está sendo julgado por seu curriculum vitae ou pelo conjunto da obra. Nem pelo vermelho de ódio dos seus olhos. Estivesse, não haveria pena justa para o tempo de vida que nos resta. Será julgado pelo mais grave crime de que já foi acusado, também o mais grave crime do Código Penal.

Será condenado por abundância de provas de um crime complexo, planejado, ameaçado e tentado. Fosse bem-sucedida a tentativa, o exercício de pesquisa, opinião e crítica estaria interditado, como qualquer outra liberdade divergente. Um político perverso, que sempre se beneficiou da leniência do parlamento e da justiça civil e militar, terá sua responsabilidade atribuída.

Brasil: El juicio a los golpistas y sus desdoblamientos para la democracia, por Fernando de la Cuadra

 

Clarin (Chile)

De manera inédita, un ex presidente de Brasil se encuentra en el banco de los reos juzgado por cometer crímenes graves contra la Constitución como intento de Golpe de Estado y conspiración para abolir el Estado democrático de Derecho. El ahora reo Jair Bolsonaro es apuntado por la Procuraduría General de la República como el líder de una organización criminal armada que trató de subvertir el resultado de las urnas, infringir un Golpe de Estado y mantenerse en el poder a pesar de haber perdido las elecciones en octubre de 2022. Al lado de Bolsonaro otros siete acusados de los mismos crímenes esperan la absolución o condenación por parte de los miembros de la Primera Turma del Supremo Tribunal Federal.

Este juicio es especialmente significativo en un país marcado en su historia por prácticas autocráticas impuestas desde los tiempos de la colonización. En efecto, Brasil ha sido desde sus orígenes y luego de la instauración de la República una sociedad de cuño esclavista, caracterizada por la prescindencia de las formas democráticas de convivencia y, consecuentemente, reconocible por la existencia de un tipo de dominación autoritaria que permanentemente ha obstaculizado la representación y participación de los sectores populares y de la clase trabajadora en las principales decisiones que competen al conjunto de la nación.

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Conta da incúria fiscal já chega para Lula

O Globo

Desaceleração da economia resulta da política de curto prazo, baseada no gasto público e no crédito fácil

Começa a chegar a conta do populismo econômico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É o que mostra a desaceleração do crescimento exposta nos últimos números do Produto Interno Bruto (PIB). Alavancar a expansão econômica com incentivos ao consumo e aumento desenfreado do gasto público é uma fórmula que já se mostrou equivocada no passado. Infelizmente o PT insiste em cometer os mesmos erros. Invariavelmente ela resulta em pressão inflacionária, e o Banco Central (BC) precisa aumentar os juros para tentar conter a alta dos preços. Quando isso acontece, não demora para a economia frear. São evidentes as limitações dessa política de voo curto. O esgotamento do modelo de crescimento era questão de tempo. Faltando pouco mais de um ano para a eleição presidencial de 2026, o cenário econômico se desenha mais desafiador para Lula que o imaginado.

Defesas deixaram para a política, por Vera Magalhães

O Globo

No primeiro dia do julgamento da trama golpista, sustentações frágeis e apáticas mostram que advogados contam mais com anistia que com sucesso no STF

O primeiro dia do julgamento da trama golpista chamou a atenção, de um lado, pela veemência do relator Alexandre de Moraes e do procurador-geral da República, Paulo Gonet, em reiterar a gravidade da tentativa de golpe de Estado praticada por Jair Bolsonaro e seus subordinados e, de outro, por certo desleixo dos primeiros advogados a fazer sua sustentação oral. Parecem ter jogado a toalha e deixado para a política resolver a situação de seus clientes.

O movimento pela anistia ampla, geral e irrestrita é o sujeito oculto do julgamento histórico que se iniciou ontem no Supremo Tribunal Federal (STF). Enquanto a primeira sessão transcorria, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), convocava líderes para uma reunião. Pressionado de todos os lados para pautar a anistia, ele hesita entre ficar bem com os pares e com nomes como o governador Tarcísio de Freitas, que tomou a frente nessas articulações, e o temor de um embate com o STF e o achincalhe da opinião pública aqui e no exterior.

Bolsonaro pode voltar atrás sobre Tarcísio, por Thiago Bronzatto*

O Globo

Ex-presidente sabe que, para reverter eventual condenação no STF, terá de contar com apoio dos partidos do Centrão

Há alguns meses, um aliado de Jair Bolsonaro decidiu sondar discretamente o ex-presidente sobre a probabilidade de Tarcísio de Freitas ser o candidato da direita em 2026. Papo vai, papo vem, o interlocutor fez uma prospecção indireta: disse que queria saber se deveria aceitar um convite para trabalhar no governo de São Paulo, com a perspectiva de ascender com Tarcísio em 2026, ou se deveria partir para a iniciativa privada.

Sem responder diretamente, Bolsonaro relembrou que começou a carreira política distribuindo panfletos no Rio de Janeiro e que conseguiu construir sozinho o movimento que leva seu sobrenome, elegendo a maior leva de políticos da oposição no Congresso. Disse ainda que, pelo andar da carruagem, estima ter mais uma década de vida, porque seu estado de saúde não é dos melhores, e que Tarcísio “ainda é muito novo”.

Anistia é golpe, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Tarcísio e Centrão querem melar julgamento no STF para livrar ex-presidente da cadeia

No início do julgamento de Jair Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes lembrou que anistiar golpistas não costuma ser boa ideia. Os inimigos da democracia barganham o perdão, voltar a conspirar e esperam a chance de atacar novamente.

“A história nos ensina que a impunidade, a omissão e a covardia não são opções para a pacificação”, disse Moraes. “A pacificação do país depende do respeito à Constituição, da aplicação das leis e do fortalecimento das instituições”, acrescentou.

O Brasil tem uma longa lista de golpes e quarteladas. Quando dão certo, os vitoriosos repartem os cargos se proclamam revolucionários. Quando fracassam, os derrotados negociam um acordão e voltam para casa sem ser incomodados.

Defesas tentam desconstruir denúncia e invalidar delação de Mauro Cid, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Advogados reconhecem que a absolvição é improvável. Trabalham para reduzir as penas a condenações de 12 a 13 anos, contra a possibilidade máxima de 43 anos

No primeiro dia do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete réus acusados de tentativa de golpe de Estado pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), entre os quais três generais de exército e um almirante de esquadra, os advogados de defesa dos réus atuaram com objetivo de desconstruir, desqualificar e enfraquecer as acusações do procurador-geral da República, Paulo Gonet. E invalidar a “delação premiada” do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência e peça-chave do inquérito da Polícia Federal (PF) que investigou a tentativa de golpe.

Uma nova Lusitânia, por Cristovam Buarque*

Correio Braziliense

O escritor Hélio Barros nos oferece um instigante romance que revela um aspecto pouco conhecido da nossa história colonial: a relação entre a metrópole lusitana e a vida no sertão nordestino

O professor Hélio Barros deu grande contribuição ao Brasil por ser um dos pioneiros na promoção das Olimpíadas do Conhecimento, que funcionam como estímulo ao estudo e à autoestima de centenas de milhares de estudantes. Agora, o escritor Hélio Barros nos oferece um instigante romance que revela um aspecto pouco conhecido da nossa história colonial: a relação entre a metrópole lusitana e a vida no sertão nordestino.

O livro O romance da Nova Lusitânia começa com um longo diálogo entre amigos, provavelmente em 1777, em uma cidade ao norte de Portugal. Ao longo do diálogo, um dos amigos conta o que viu durante os anos que viveu na colônia, provocando os companheiros quanto às dificuldades nas relações com a metrópole. Para eles, metrópole e colônia estavam unidas pelo rei e por Cristo, mas havia uma dúvida permanente sobre o que viria a acontecer e o que seria melhor para a relação entre Portugal e aquela terra imensa, estranha, habitada por indígenas, africanos e até por europeus cada vez menos portugueses: os brasilianos.

‘Efeito Felca’ contra crime organizado, por Lu Aiko Otta

Valor Econômico

A ver até onde o empurrão das megaoperações da semana passada levará a pauta legislativa

“De quantos votos você precisa?”, perguntou o rapaz educado e bem-vestido, a um parlamentar candidato à reeleição.

O moço havia marcado a reunião por intermédio de um amigo do congressista. Até sua chegada ao encontro, a equipe do candidato não sabia que se tratava do líder local de uma facção criminosa. Quando soube, era tarde para evitar a conversa.

“Como você vai conseguir os votos? Vai ameaçar as pessoas?”, quis saber o parlamentar. O rapaz sorriu e disse que não precisava ameaçar ninguém. Explicou que tinha uma relação com a comunidade construída à base de pequenos favores: um botijão de gás, um remédio, um emprego, ajuda para religar a energia cortada. Dificilmente as pessoas deixariam de atender um pedido de voto seu.

“E o que quer em troca dos votos?”, perguntou o congressista.

Nada em específico, informou o rapaz. Quando precisasse, entraria em contato para tratar de um ou outro assunto.

Julgamento de Bolsonaro representa momento de virada crucial, por Fernando Exman

Valor Econômico

Episódio capaz de desencadear decisões ou movimentações há tempos esperadas

Espécie em risco de extinção, um experiente político mais dedicado às articulações de bastidores do que às redes sociais costuma alertar que há de se estar sempre atento para os chamados “momentos de virada”. Em outras palavras, um episódio capaz de desencadear decisões ou movimentações há tempos esperadas, mas que não saíam do lugar e matavam todos de ansiedade ou tédio. Pode-se arriscar que o início do julgamento do núcleo crucial da trama golpista é um desses momentos.

O périplo pela capital federal feito pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é um exemplo.

Um julgamento que antecipa 2026, por Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Lula tenta empurrar desgaste de Bolsonaro para Tarcísio e Centrão barganha anistia

Qualquer estrangeiro que desembarcasse em Brasília ontem – mesmo sem carregar a sirene do apocalipse de Donald Trump – teria certeza de que estamos em um ano eleitoral. Não estaria de todo errado: embora no calendário gregoriano ainda faltem 13 meses para a disputa que vai definir o novo inquilino do Palácio do Planalto, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) antecipou essa corrida.

No Congresso, o PP e o União Brasil – dois partidos do Centrão – articulam a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, à sucessão do presidente Lula e, no embalo do julgamento, anunciaram que seus ministros devem entregar os cargos em 30 dias.

Rompendo o ciclo de impunidade, por Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

O que mais surpreendeu não foram as palavras e os gestos, mas sim a própria existência desse julgamento

primeiro dia do julgamento do chamado núcleo essencial da trama golpista não trouxe nenhuma surpresa. O relatório apresentado pelo ministro Alexandre de Moraes foi um resumo técnico e objetivo de um processo complexo. O que chamou mais a atenção foi o preâmbulo do relatório, em que deixou claro que a busca de pacificação não passaria pela impunidade. Também deixou claro que as ameaças e tentativas de obstrução não afastariam o tribunal de cumprir sua missão.

O procurador-geral da República, por sua vez, fez uma leitura serena e pausada dos fatos. Paulo Gonet concentrou seus esforços, no entanto, em oferecer um enredo para a trama golpista, buscando demonstrar que em tentativas de golpe ou de abolição do Estado Democrático de Direito a conduta criminosa não depende do sucesso da empreitada, mas do conjunto de atos praticados ao longo do caminho que têm por objetivo colocar fim à ordem democrática.

Julgamento de Bolsonaro reforça polarização e desafia Tarcísio, por Igor Gielow

Folha de S. Paulo

Discurso político de Moraes e negação do bolsonarismo cumprem roteiro previsível

Para um país cuja República foi sacramentada em uma quartelada, deixa de ser vulgar empregar o termo histórico para o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) e seu séquito militar.

Isso dito, a apreciação do caso do núcleo da trama golpista de 2022 apontada pela PGR (Procuradoria-Geral da República), aberto nesta terça (2), cumpre um roteiro de previsibilidade que apenas reitera a polarização vigente no país.

Ela se demonstra de formas diversas. Primeiro, na negação do juízo abraçada pelo bolsonarismo mais raiz, da família do ex-mandatário a Silas Malafaia.

Economia vai depender de Lula 4 ou Tarcísio, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

O assunto, economia, vai se tornar ainda mais político depois da prisão de Jair Bolsonaro

Setor externo evita que segundo trimestre fique no vermelho

A economia brasileira cresce a um ritmo menor, desacelera, como deveria ser previsível, dado o aumento brutal da taxa de juros, entre outros problemas. Andou mais devagar no segundo trimestre, mas em uma toada compatível com as previsões de redução de crescimento anual dos 3,4% de 2024 para os 2,3% deste 2025. Nos últimos quatro trimestres, ainda cresceu 3,2%.

O assunto, economia, vai se tornar ainda mais político depois da prisão de Jair Bolsonaro. Certamente assim será a partir de dezembro, com a eleição de 2026 tendo impactos econômicos mais diretos.

Lula 3 tomará alguma providência a fim de evitar desaceleração maior em 2026? Vai exagerar de modo a piorar ainda mais os problemas de 2027? A probabilidade maior ou menor de vitória de uma candidatura de direita, "fiscalista", terá efeito nos ativos financeiros (dólar, juros, ações) e em decisões de investimento produtivo e de contratações. Qual o impacto disso já na economia de 2026 e ainda mais na de 2027? Em 2027, a vida será dura para quem quer que venha a ser eleito.

Um Congresso sem limites republicanos, por Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Casa testou limites da decência ao tentar blindar parlamentares da responsabilização penal

Nos grandes movimentos de protesto de 2013 e 2014, havia uma convicção disseminada de que a classe política era o grande problema nacional. Era urgente renová-la. Foram os anos dos cartazes "desculpem o transtorno, estamos consertando o país", e o desprezo pela política institucional e pelos políticos "que estão aí" tornou-se critério na escolha eleitoral.

Precisávamos de uma política nova, de novos partidos e de renovar o Congresso nacional, segundo a fórmula corrente. E, de fato, vimos surgir novos partidos (inclusive um chamado Novo), as taxas de renovação nas casas legislativas aumentaram e o bolsonarismo apareceu, vejam só, para representar um novo modo de fazer política, desta vez sem corrupção, sem apadrinhamentos, sem velhos vícios —apenas um líder carismático e o povão que governaria com ele.

E se Bolsonaro fugisse? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Eventual exílio de Bolsonaro serviria para retirá-lo de circulação, mas reduziria efeito dissuasório de pena para tentativa de golpe

Já ouvi de mais de um interlocutor cujas opiniões respeito que o melhor para o Brasil seria que o ex-presidente Jair Bolsonaro lograsse escapar e se tornasse hóspede permanente de Donald Trump ou de Viktor Orbán. Nós nos livraríamos de um problema ao menor custo possível.

Eu até concordaria com essa tese, se o Brasil estivesse num estágio mais precário de desenvolvimento institucional, no qual a provável prisão de Bolsonaro encerrasse risco de comoção social ou mesmo guerra civil.

Ativamente constrangido, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Tarcísio de Freitas nega a pretensão de disputar a Presidência, mas alimenta com gestos a especulação

No folclore da política, corre uma história sobre um ex-presidente a respeito do qual havia boatos acerca de um namoro com bela senhora ocupante de alta função na República. Consultado, o mandatário negou, mas aconselhou: "Espalhem, fico lisonjeado".

É mais ou menos o que faz Tarcísio de Freitas (Republicanos) com as recentes andanças de cunho eleitoral. Refuta a pretensão de se candidatar à Presidência, mas alimenta a versão dando sinais de que se sente envaidecido com as especulações.

Campanha em Gaza está transformando Israel em um Estado pária, por Thomas L. Friedman

Folha de S. Paulo / The New York Times

Além de homicídio, governo promove suicídio e fratricídio, dilacerando a sociedade israelense e o judaísmo global

Mundo reconhece diferença entre lutar pela sobrevivência de um Estado e a sobrevivência de um líder

Deixarei para os historiadores o debate sobre se Israel está cometendo genocídio na Faixa de Gaza. Mas o que me parece absolutamente claro agora é que este governo israelense está cometendo suicídio, homicídio e fratricídio.

Está destruindo a posição de Israel no mundo, está matando civis em Gaza aparentemente sem qualquer consideração pela vida humana inocente e está dilacerando a sociedade israelense e o judaísmo global — entre aqueles judeus que ainda querem apoiar Israel a qualquer custo e aqueles que já não conseguem tolerar, explicar ou justificar o rumo para o qual este governo está levando o Estado judeu e agora querem se distanciar dele.

Cadafalso da democracia relativa, por Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Estamos em pleno mar... O mar bramia. Erguendo o dorso altivo sacudia a branca  espuma para o céu sereno. O verso é  parte do poema "Deus!", de Casimiro de Abreu (1839-1860). Retrata a emoção de uma criança ( geração) ao observar, assustado,  o mar, e questionar quem seria mais poderoso do que ele.  Em outro, "Meus oito anos", relembrava uma época de alegria, inocência e liberdade,  referindo-se a ausência das " mágoas de agora", cultivadas por dois  bárbaros na disputa para  representar 215 milhões de cidadãos crentes no regime democrático. 

O enredo dessa disputa iguala as pretensões de ambos. Mesmo que um deles tenha se livrado de uma condenação anterior,  os dois estão carimbados no meio político : um, como corrupto; e o outro  como golpista. Louco também. Os crimes que lhes são imputados, tem formas  diferenciadas mas, no fundo,  os  autores se assemelham nas intenções. 

terça-feira, 2 de setembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Julgamento de Bolsonaro reflete força da democracia

O Globo

Pela primeira vez em 135 anos de República, acusados de golpe de Estado estarão no banco dos réus

O julgamento que começa hoje no Supremo Tribunal Federal (STF) não tem precedente. Pela primeira vez em 135 anos de República, um ex-presidente e militares das mais altas patentes responderão por tentativa de golpe de Estado. A conjuntura global torna o fato ainda mais notável. Os Estados Unidos, outrora bastião dos ideais republicanos e democráticos, têm, sob Donald Trump, adotado rumo preocupante na direção do autoritarismo. A Primeira Turma do STF começará a julgar Jair Bolsonaro e os demais implicados na intentona sob os olhos do planeta e sob pressão do governo americano. Em tal contexto, torna-se essencial a mensagem que o Supremo transmitirá. É preciso que ela reflita sobriedade, o exame técnico das provas, o escrutínio aprofundado das acusações e, acima de tudo, justiça.

Dia histórico, por Merval Pereira

O Globo

Julgamento produzirá uma decisão da mais alta Corte de Justiça do país que deverá ser acatada por todos, inclusive pelos militares

Começa hoje um julgamento que entrará para a História do país por suas características absolutamente inéditas. Da redemocratização até hoje, o Brasil teve nove presidentes da República, e três vices assumiram por questões distintas. José Sarney assumiu no lugar de Tancredo Neves, que morreu sem tomar posse; Itamar Franco e Michel Temer assumiram porque os presidentes eleitos, Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff, foram impedidos pelo Congresso depois de processos comandados pelo Supremo Tribunal Federal.

Dos nove, quatro foram presos: Lula e Temer, já soltos, Collor, que cumpre pena em prisão domiciliar, e Bolsonaro, que começa a ser julgado hoje, em prisão preventiva também em casa. Não é um histórico louvável, mas a diferença do julgamento de Bolsonaro é que, pela primeira vez, militares da mais alta patente — um almirante e três generais de quatro estrelas — envolvidos na tentativa golpista serão julgados por um júri civil, cinco ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Setembro traz primavera quente, por Fernando Gabeira

O Globo

É possível dizer que teremos flores e pólen da estação e, ao mesmo tempo, um julgamento que condenará um ex-presidente

Chegou setembro, que nos traz a primavera e um julgamento histórico com resultado previsível. Nem sempre é assim. As estações do ano se repetem com regularidade, mas a História costuma surpreender.

É possível dizer que teremos flores e pólen da primavera e, ao mesmo tempo, um julgamento que condenará um ex-presidente e alguns altos oficiais por tentativa de golpe de Estado. A maioria esmagadora, talvez a unanimidade, dos observadores conta com a condenação.

Pela primeira vez na História recente do Brasil, uma tentativa de golpe será punida. Mas, também pela primeira vez, ela nunca teve respaldo tão militante e articulado. Igualmente de forma inédita, um presidente dos Estados Unidos se coloca claramente contra o júri e pede o fim do processo. Daí a imprevisibilidade das consequências.

Entre a história e a ameaça externa, por Míriam Leitão

O Globo

Sob ameaça de Trump e cobrança da história, STF inicia julgamento histórico dos que tentaram destruir a democracia

O mundo está olhando para nós. Sessenta e seis jornalistas estrangeiros estão credenciados para a cobertura. Foram fartas as matérias nos jornais mais influentes do planeta sobre o julgamento que começa hoje. De um lado, o Brasil está sob pressão da maior potência do mundo para não realizar o julgamento. De outro, diante da cobrança da História para que o processo seja exemplar. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vê no que acontece no Brasil um “péssimo exemplo”. Afinal, um candidato a autocrata pode ser condenado. A História do Brasil é repleta de golpes e quarteladas que sempre terminaram em anistia. O julgamento pode mudar este destino.

Um convite à bandidagem, por Chico Alencar

O Globo

No Parlamento, há muitas iniciativas que podem contribuir para a lisura pública. Ou para sua opacidade

Há muitos modos e meios de o crime organizado se infiltrar na política institucional. A megaoperação contra o PCC — do Ministério Público, da Polícia Federal, da Receita Federal, da União e de estados — escancarou um esquema gigantesco: entre 2020 e 2024, foram R$ 52 bilhões “lavados” ou sonegados em postos de combustíveis e usinas, além de recursos passando por fintechs e fundos da Faria Lima — movimentações que somam até R$ 140 bilhões.

Não é apenas caso de polícia: quando o crime organizado entra no coração financeiro do país, contamina também a política. Como isso se dá já há tanto tempo? Financiando candidaturas, apresentando ou barrando projetos de lei, propondo emendas. O jornalismo investigativo e organizações de defesa da ética pública revelarão quem são esses “legisladores” das negociatas. Há Excelências “sensíveis” a excrescências e, “com gravata e capital”, acreditam que nunca se darão mal...

Como o Supremo pode julgar Bolsonaro e conter o bolsonarismo, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Promessa de indulto de Tarcísio vale tanto quanto uma nota de 30 e desespero de Bolsonaro o leva a procurar Lira por uma anistia

Supremo Tribunal Federal começa a julgar o ex-presidente Jair Bolsonaro e a cúpula da trama golpista, mais da metade dos quais militares das mais altas patentes das Forças Armadas, sob a reiterada promessa de indulto do governador Tarcísio de Freitas.

O julgamento transformará Bolsonaro no nome mais poderoso da oposição até 4 de abril, quando se encerra o prazo para registro de candidaturas de uma disputa em que o antilulismo passa bem, obrigado. Como Bolsonaro terá que indicar o ungido, Tarcísio parece ansioso em persuadi-lo.

A promessa de indulto, porém, vale tanto quanto uma nota de 30. O ex-presidente baixou um decreto de indulto para o ex-deputado Daniel Silveira, ato sem precedente desde a Constituição de 1988. O Supremo o invalidou e o parlamentar continua preso. Como faz apenas dois anos dos fatos, parece improvável que o governador os tenha esquecido. Como foi Bolsonaro quem teve seu ato revisto, tampouco deve acreditar em Tarcísio.

O Tarcísio de Lula e o Tarcísio de Eduardo, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Lula disse, na sexta, que Tarcísio de Freitas é nada sem Jair. Em entrevista à Itatiaia, tratou o governador de São Paulo como boneco do ex-chefe, que “vai fazer o que Bolsonaro quiser”. O presidente torce para que assim seja. Não é apenas torcida. Também caracterização do oponente.

É o sonho de Eduardo Bolsonaro – que Tarcísio vire cavalo e seja, incorpore, o que os Bolsonaro quiserem. Sonhar custa nada. Desconfiar tampouco, já que o chamado Centrão prepara a sela do cavalo que se oferecerá à montaria de Tarcísio. Ele vai?

O bolsonarismo não confia. Eduardo tem certeza. Certeza de que Tarcísio vai. Certeza também de que Tarcísio nada será sem – mais que Bolsonaro – o bolsonarismo. Por via das dúvidas, trabalha para que Trump não perceba que existe alternativa à família. Todos – adversários, aliados, filhos – se organizando em função do pós-Bolsonaro. Jair, afinal, não disputará a eleição no ano que vem.

Trump, a China e o dólar, por Luiz Gonzaga Belluzzo

Valor Econômico

O futuro promete solavancos e colisões nas relações comerciais e financeiras entre as nações

As vítimas do tarifaço de Donald Trump buscam encontrar formas de resistir aos danos que seriam causados pela intempérie tarifária. Entre os esforços cogitados pelos países atingidos sobressaem os projetos para restaurar o multilateralismo nas relações comerciais e financeiras.

O imediatismo que impera no debate das redes sociais pretende assegurar o caráter inédito dos incômodos causados pelo tarifaço do Agente Laranja.

Suspeito que a história das relações econômicas e políticas internacionais não assegura tal ineditismo. Peço licença ao leitor do nosso Valor para perpetrar a ousadia de considerar a sucessão de episódios conflitivos, uma reiteração do aparente paradoxo que afirma: “são diferentes, mas semelhantes”.

A versão moderna de 'crescer o bolo para depois dividir', por Guilherme Klein Martins

Folha de S. Paulo

Avanços de cidadania e redução da desigualdade não podem ser feitos mais tarde, mas quando oportunidade aparece; foco deveria ser a justiça tributária

"Fazer o bolo crescer para depois dividi-lo." A frase, atribuída a Delfim Netto, ministro da Fazenda entre 1967 e 1974, tornou-se um marco no debate econômico brasileiro.

A ideia era simples: gerar riqueza e expandir a economia antes de implementar políticas redistributivas —sob o risco de que estas prejudicassem o crescimento. Na prática, serviu de justificativa para arrocho salarial e repressão a movimentos trabalhistas. Entre os mais bem-intencionados, havia a esperança de que o crescimento por si só traria uma melhora posterior na distribuição de renda.

Não acredite no que vê, por Pedro Doria

O Globo

Nano Banana começou a circular pelas redes faz duas semanas. Não era óbvio encontrá-lo. Primeiro foi no site LMArena, que permite a usuários escrever um mesmo comando simultâneo para duas inteligências artificiais que geram imagens. É para comparar o que uma e a outra constroem. Aleatoriamente, por vezes um dos resultados vinha dessa IA nova com nome engraçadinho. E os resultados chocavam: um modelo muito melhor que qualquer outro que existe por aí. Na semana passada, o criador desse Nano Banana enfim apareceu. É o Google. E, nesse campo, das imagens, tem um novo campeão na praça. Não é só isso. O Gemini 2.5 Flash Image, nome oficial do bicho, muda todas as regras do jogo.

Supremo inicia o julgamento dos “predadores” da democracia, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A tentativa de internacionalizar a defesa do ex-presidente Bolsonaro reforçou a percepção interna e externa de que se tratou de um atentado à soberania democrática do país

O julgamento de Jair Bolsonaro e de outros sete réus pelo Supremo Tribunal Federal (STF) é um momento decisivo da nossa história. Trata-se não apenas de apurar responsabilidades criminais pela tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023, mas também de medir a capacidade institucional de o Brasil responder ao avanço de forças autocráticas que, em escala global, têm corroído as bases da democracia liberal. O ex-presidente e outros sete réus, entre os quais três generais de Exército e um almirante de esquadra — fato inédito na República —, podem ter punição de até 43 anos de prisão.

Depois de Bolsonaro, por Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

O poder necessário para se vencer uma nova ameaça torna-se ele próprio uma ameaça

Bolsonaro será condenado. Alguém tem alguma dúvida? Há críticas válidas a diversos aspectos do julgamento —como se explica, por exemplo, que o alvo de tentativa de assassinato esteja julgando os mandantes? Nada disso muda, contudo, os fatos inegáveis de que o ex-presidente se sentou com generais para persuadi-los a impedir a posse do novo governo, que sua PRF tentou impedir eleitores de votar, que ele e seus asseclas travaram uma campanha mentirosa para desacreditar o resultado das urnas e que, por fim, alimentaram o extremismo fanático dos acampados na frente dos quartéis. Fizeram por merecer o que virá.

'Em breve vamos empurrar extremismo para a margem da História', diz Barroso

Por O Globo

Ex-presidente foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República de liderar tentativa de golpe após pleito de 2022

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, criticou nesta segunda-feira o extremismo presente na política brasileira. Ele previu que em breve ele "será empurrado para a margem da História" e não fará mais parte do cenário, que contará com visões divergentes, mas que respeitam a alternância de poder. As declarações acontecem um dia antes do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro na Primeira Turma da Corte, que foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de liderar uma tentativa de golpe após perder o pleito de 2022.