sexta-feira, 17 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

É urgente retomar território crescente em poder do crime

Por O Globo

Quase um em cinco brasileiros diz conviver com organizações criminosas em sua vizinhança, revela pesquisa

O domínio de vastas extensões do território brasileiro por facções criminosas e milícias tem se agravado. Praticamente um em cinco brasileiros (19%) diz conviver com o crime em sua vizinhança, segundo pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). São ao menos 28,5 milhões de cidadãos expostos ao crime organizado. No levantamento anterior, do ano passado, eram 23 milhões, ou 14% da população. Os dados refletem, no entender de Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do FBSP, a ampliação e o controle de territórios e mercados pelas facções.

A presença dos grupos criminosos é mais sentida em cidades com mais de 500 mil habitantes, capitais e municípios do Nordeste. O crime, diz a pesquisa, cerca tanto os moradores de baixa renda (19%) quanto os de renda mais alta (18%). Mais de um quarto (27%) da população dessas áreas afirma conhecer cemitérios clandestinos, onde são sepultados mortos que não aparecem nas estatísticas oficiais.

Trabalho, principal motor para vencer a pobreza, por Cécile Fruman

Valor Econômico

O Brasil precisa de políticas que sustentem o emprego e facilitem o retorno ao trabalho após choques

Neste 17 de outubro, celebramos o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza. Escolhi esta data para escrever meu primeiro artigo como diretora do Banco Mundial para o Brasil porque este é o cerne da nossa missão: erradicar a pobreza e compartilhar a prosperidade em um planeta habitável.

Antes mesmo de assumir a liderança da operação no Brasil em 1º de setembro, testemunhei o avanço do país na luta contra a pobreza por meio da criação de empregos. Conheci beneficiários do programa Acredita no Primeiro Passo, como a Lauriane Costa, que com treinamento adequado e oportunidade na hora certa, saiu da pobreza por meio do trabalho como eletricista em uma grande empresa privada. Uma experiência que ela conta com a emoção e a alegria de quem viu a vida transformada para melhor.

Transições entre empregadores e trabalhadores autônomos, por João Saboia e outros

Valor Econômico

Para avançar, as políticas deveriam combinar incentivos à formalização, apoio ao crescimento dos pequenos negócios e proteção social adaptada às novas formas de trabalho

Hoje em dia tem sido comum ouvir argumentos sobre a preferência dos trabalhadores por autonomia, liberdade de horário, inexistência de patrão etc. Isto seria razão inclusive para uma certa má vontade com o trabalho celetista e a posse da carteira assinada. Trata-se de uma questão polêmica que depende muito do perfil do trabalhador e das condições do mercado de trabalho. Não pretendemos entrar hoje nessa discussão. A ideia é analisar a situação de quem já está trabalhando como autônomo ou empregador, grupo que representava cerca de 30% dos ocupados em 2024.

Em artigo publicado no Valor em 26/06/2025 analisamos o perfil dos trabalhadores por conta própria (TCPs), diferenciando aqueles que possuem CNPJ dos demais, a partir dos dados da PNAD Contínua do IBGE. Mostramos o forte crescimento da participação daqueles com CNPJ e destacamos que o aumento no número de TCPs no período 2019-2024 se deveu exclusivamente aos que se formalizaram. Essa formalização dos TCPs está fortemente ligada ao aumento do número de microempreendedores individuais (MEI) no período. Apesar disso, o percentual de TCPs com CNPJ não passava de 25% do total em 2024.

Termo ‘empreendedorismo’ se vulgarizou, por José de Souza Martins

Valor Econômico

Diferentemente de seu significado original, criado por Schumpeter, o termo designa hoje no Brasil ganhar dominação, poder e riqueza

Volta e meia circulam aqui palavras, geralmente traduções do inglês, para nós aparentemente novas, mas que já eram antigas e usuais, com variantes de significado ao longo do tempo. De certo modo, palavras têm “biografia”. Se quisermos colocar a questão numa perspectiva mais abrangente que, no caso, é a policial, elas têm até “folha corrida”.

Quando fui pesquisador visitante da Universidade de Cambridge, na Inglaterra e, depois, professor catedrático, pagava minhas contas numa agência de famoso banco bem no centro da cidade. Uma placa indicava que ali tivera casa, na qual instalara o primeiro banco da localidade, John Murdock (1755-1816), que fora membro do Parlamento e 13 vezes prefeito da cidade. Tinha um lema, que a placa consagra: “O que vocês chamam corrupção, eu chamo influência”. Explicava seu criativo modo de criar riqueza e poder.

Lula ganha tempo para Trump e IR, por Vera Magalhães

O Globo

Alcolumbre ajuda presidente a não acumular nova derrota, de olho em indicação de aliado ao Senado

Não foi pequeno o refresco que o governo obteve graças à ação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Aos poucos, ele vai somando créditos importantes junto a Lula e se credenciando como o principal avalista do Executivo no Congresso. O adiamento da votação dos vetos presidenciais, que evitou a esperada derrota do governo na queda de braço em torno da questão do licenciamento ambiental, foi providencial.

Não que alguém no Planalto acredite que seja possível, no prazo que for, mudar o ânimo da maioria do Parlamento em relação a esse tema. Ele conta com amplo apoio nas duas Casas para uma flexibilização geral dos critérios. Mas uma nova derrota agora, uma semana depois de a Medida Provisória destinada a tapar o buraco do IOF caducar, seria uma reversão muito grande da maré positiva que o governo vem tentando aproveitar para melhorar sua avaliação e as chances de reeleição de Lula.

A dinamite do bananinha, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Deputado mira caciques do Centrão, mas depende do grupo para salvar seu mandato

Depois de articular o tarifaço contra o Brasil, Eduardo Bolsonaro arranjou outro passatempo: atacar os aliados do pai. Nas últimas semanas, o Zero Três alvejou governadores de direita, parlamentares e dirigentes de partidos do Centrão. Agora volta a mira contra a senadora Tereza Cristina.

Na quarta-feira, o deputado em fuga insinuou que a ex-ministra da Agricultura teria usado o prestígio de sua família para se eleger. Acrescentou que ela só estaria preocupada com dois tipos de interesses: os pessoais e os dos “grandes capitais”.

Os progressistas e o populismo, por Pablo Ortellado

O Globo

Uma democracia saudável precisa de esquerda, direita e centro bem constituídos

Há um debate entre os cientistas sociais sobre a origem dos problemas políticos contemporâneos — se são fruto da emergência de uma nova direita que tensiona os marcos das democracias liberais ou de uma polarização mais ampla de todo o sistema político, que reorganiza tanto a esquerda quanto a direita, num mecanismo de codeterminação entre uma e outra. Em outras palavras, há um debate em curso sobre se essa nova direita radical emergiu de dinâmicas próprias ou de uma reorganização das dinâmicas entre esquerda e direita.

Na semana passada, comentei um estudo que a More in Common lançou no Brasil, aqui no GLOBO, mostrando que a população do país está segmentada em seis grupos coerentes em ideologia e valores. Nos polos, dois segmentos pequenos (cerca de 5% da população) ideologicamente coerentes e mobilizados, os Progressistas Militantes, à esquerda, e os Patriotas Indignados, à direita. Esses dois segmentos pequenos são respaldados, cada um deles, por um segmento maior, um pouco menos coerente e engajado, a Esquerda Tradicional (14%), de um lado, e os Conservadores Tradicionais (21%), do outro. Entre eles, dois segmentos grandes, muito desmobilizados e pouco afetados pelas posições ideológicas polarizadas, os Desengajados e os Cautelosos. Juntos, esses segmentos compõem a maioria (54%) da população.

Vieira e Rubio dão a largada na negociação para reverter tarifaço de 50%, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Lula deixou de lado os conflitos geopolíticos com Trump. A proposta de moeda comum dos países do Brics, que irrita Washington, por exemplo, sumiu dos pronunciamentos

O primeiro encontro entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, marcou o início efetivo da tentativa de reaproximação diplomática entre Brasília e Washington, após meses de tensão gerada pelo tarifaço de 50% imposto pelo governo Donald Trump sobre produtos brasileiros. Ontem, na Casa Branca, a reunião representou o passo inaugural de um processo de negociação complexo, que envolve não apenas o comércio bilateral, mas, também, divergências de natureza política, ambiental e estratégica entre os dois países.

Não teve ganha-ganha nos acordos anteriores com os EUA, por Andrea Jubé

Valor Econômico

Primeiros acordos celebrados entre Brasil e Estados Unidos envolvendo nossas reservas de minerais críticos proporcionaram ganhos aos americanos

Em setembro, durante entrevista ao final da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) revelou que estava lendo muito sobre terras raras e minerais críticos porque não queria ser enganado. A propósito do interesse dos Estados Unidos sobre nossas reservas, alertou que “tem que ser um acordo de ganha-ganha”.

Não foi, entretanto, o que ocorreu no passado. Os primeiros acordos celebrados entre Brasil e Estados Unidos envolvendo nossas reservas de minerais críticos proporcionaram ganhos aos americanos, e nenhum retorno estratégico ao país. O acordo de assistência militar entre as duas nações, firmado em 1952, que contemplava a exploração de areias monazíticas, essenciais para a indústria de Defesa, foi tão controverso que rachou os militares, e levou o ministro da Guerra, general Estillac Leal, da ala nacionalista do Exército, a pedir demissão.

Negociação Brasil-EUA sobe de patamar, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

A conversa do chanceler Mauro Vieira com o secretário de Estado Marco Rubio consolidou a determinação de Donald Trump em perseguir séria e objetivamente as negociações e a aproximação com o Brasil. “É para valer”, concluíram participantes da reunião. Trump não estava brincando, Rubio não está trucando e o pragmatismo unirá os dois países.

Se esse foi considerado pelo lado brasileiro como o principal resultado político do encontro de uma hora no Eisenhower Building, ao lado da Ala Oeste da Casa Branca, houve também avanços práticos, como a decisão de definir o cronograma de reuniões e os representantes dos dois lados para tratar de temas técnicos.

Desnecessário, excelência, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Não é papel do presidente fazer juízo público de valor sobre o desempenho de outro Poder

Lula não gostaria de ouvir dos chefes do Legislativo ou do Judiciário a desqualificação do ministério

Imprudente, para dizer o mínimo; deselegante, para usar um termo ameno. Arrogante, para expressar a impressão que dá o presidente da República dizer em público, nas barbas do presidente da Câmara, que nunca houve um Congresso Nacional de tão baixo nível.

Tal juízo é voz corrente, mas nem tudo o que se diz e se constata pode ser repetido em quaisquer situações, de qualquer maneira. Há freios de civilidade na vida cotidiana. E, quando envolve autoridades públicas, à contenção acrescentam-se as regras da institucionalidade.

Trump pode depor Maduro? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Encerramento da ditadura venezuelana seria uma boa notícia para o mundo

Mas uso de força bruta em vez de diplomacia viola sistema internacional estimulado pelos EUA

Donald Trump autorizou a CIA a empreender ações que possam derrubar Nicolás Maduro na Venezuela. Ele pode fazer isso?

Precisamos, antes de tudo, distinguir entre os reinos do ser e do dever ser. No primeiro, lidamos só com a força e o que ela pode realizar. Trump comanda a mais fabulosa máquina militar do planeta, de modo que pode fazer o que lhe der na telha, já que não há quem consiga resistir-lhe. Mas daí não se segue que ele deva fazer tudo o que pode. Isso nos remete ao reino do dever ser, onde entram as considerações éticas e cálculos políticos mais sofisticados, que vão além da força bruta. Aqui, as coisas ficam mais complicadas.

Geração Z encontra Marx ao rejeitar alienação do trabalho, por Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Newsletter de pesquisador britânico, que critica irracionalidade no emprego corporativo, viraliza entre jovens

Conceito marxista tratou do assunto no século 19 e também viralizou num mundo que ainda não conhecia a internet

Noticia-se o mal-estar da geração Z com o emprego tradicional em corporações. Mais uma evidência dessa situação, segundo reportagem desta Folha, é a viralização de uma newsletter publicada no Substack por Alex McCann, escritor britânico e pesquisador do futuro do trabalho, transformado em porta-voz da massa insatisfeita.

McCann, 24, considera que o emprego corporativo envolve os trabalhadores em "não problemas" que geram reações em cadeia sem efeito prático e racionalidade.

Bem, a imposição de rotinas burocráticas ineficazes em companhias é fato conhecido. Por inércia, repetem-se procedimentos inúteis que encenam empenho e zelo pela busca de resultados, mas são rituais fechados em si mesmos. Poderiam perfeitamente ser abolidos. Mas será só isso?

Luta e bravura de Moacyr Luz, por Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Diagnosticado com Parkinson em 1988, o sambista foi em frente e enfrentou a doença no palco

Operado no Einstein, voltará a tocar como antes e roubar comida na geladeira sem derrubar tudo

Moacyr Luz não cabe num verbete de enciclopédia. Sambista, cantor, compositor, autor, com parceiros queridos, de "Vida da Minha Vida", "Pra Que Pedir Perdão", "Choro das Ondas", "Som de Prata", "Saudades da Guanabara" e muitas mais. Gourmet da baixa gastronomia carioca, expert em asas de galinha e bochecha de porco e padroeiro de botequins pelo país. Veio ao mundo para fazer amigos. Encontra-os onde quer que esteja. Mas só os 500 mais íntimos o chamam de Moa.

samba lhe deve uma multidão de convertidos. Desde 2005, eles cruzam a cidade ou as fronteiras dos estados para comparecer ao Samba do Trabalhador, sua roda de toda segunda-feira no Clube Renascença, no Andaraí. A roda extrapolou para São Paulo, aos sábados, no restaurante Pirajá, fora as frequentes incursões a Lisboa, Paris e, se duvidarem, Adis Abeba. Mas o que, no começo, era só o trabalho de um artista para ganhar a vida tornou-se, para Moacyr, sua maneira de salvar a vida.