sábado, 18 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Rubio e Vieira abrem caminho promissor para negociações

Por O Globo

Compromisso de encontro de Trump e Lula deixa clara boa vontade de ambos para superar as desavenças

Foi auspicioso o encontro entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o secretário de Estado americano, Marco Rubio, em Washington. Representa mais um passo no pedregoso caminho de reaproximação entre os dois países depois do tarifaço de 50% imposto às exportações e das sanções contra autoridades brasileiras, que esgarçaram uma relação de mais de dois séculos de boa convivência. O encontro deu enfim inicio à negociação entre os dois países para superar as desavenças. Comunicado conjunto informou que Vieira e Rubio trabalharão para que ocorra em breve outro encontro, entre os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda não há confirmação de data e local, mas, num cenário em que havia apenas incerteza, não é pouco.

Vieira chamou a conversa com Rubio de “produtiva e cordial”. Relatou que o foco foi a agenda econômica e que os dois países já trabalham na montagem de um cronograma de reuniões. Afirmou ainda ter reiterado o pedido de Lula a Trump, em conversa na semana passada, de reversão das sanções aplicadas ao Brasil pelo governo americano. Rubio também considerou a conversa “muito positiva”.

Pacificação política, participação e interatividade no espetáculo eleitoral, por Paulo Fábio Dantas Neto

Um amigo atento chamou-me a atenção para um comentário do jornalista Caio Junqueira da CNN: quem ganhar a próxima eleição presidencial vai ter o castigo de governar o país nos próximos anos. Foi feito há duas semanas, após a aprovação da nova legislação do IR e de indícios de que governo e congresso estariam negociando também novas janelas orçamentárias para aliviar a situação fiscal da União, sem cortes de despesas que cheguem a um nível que nenhum dos dois poderes parece disposto a assumir politicamente. O comentário amparava-se na hipótese de que se ensaia, em 2025, um modo de lidar com o orçamento público do ano eleitoral de 2026, que poderá se parecer com o adotado entre 2021 e 2022.

Mulheres apoiam mulheres? Depende de qual, por Thaís Oyama

O Globo

Uma juíza bolsonarista no STF serviria? Uma procuradora evangélica? Uma advogada da vertente pentecostal?

A esta altura, não resta dúvida de que o candidato favorito de Lula para a nova vaga no Supremo é Jorge Messias. O chefe da Advocacia-Geral da União é homem de confiança do petista, seu aliado histórico e, como evangélico, arma estratégica para a reeleição — precisamente o que André Mendonça foi para Jair Bolsonaro em 2021. A se confirmar o nome do advogado-geral da União para o lugar de Luís Roberto Barroso, estará confirmada também a preferência de Lula pelo critério da proximidade com o futuro julgador — o mesmo adotado por boa parte dos seus antecessores. Essa decisão deixará ao menos dois grupos descontentes.

Como preencher uma vaga no STF, por Eduardo Affonso

O Globo

Há dois flamenguistas, um corintiano, um palmeirense e um são-paulino, um placar justo. Mas santistas ocupam 18% das vagas

É só abrir vaga no STF que o assunto volta à tona: em nome da representatividade, passou da hora de ser indicada uma mulher preta.

Está implícito que deva ser uma mulher preta com reputação ilibada e notável saber jurídico — critérios assaz subjetivos, mas é o que diz a lei. Para ter o direito de ser a última a errar — e fazer jus a um assessor que lhe sirva cafezinho, carregue os processos e a ajude a vestir e desvestir a toga —, a aspirante ao cargo deve ter caráter íntegro e conduta ética e moral irrepreensível, além de reconhecido domínio do cipoal das nossas leis. E, claro, ser brasileira nata e ter entre 35 e 70 anos (alguma objetividade tinha de haver). Não há menção a outros atributos.

Feito para excluir, por Flávia Oliveira

O Globo

País tem baixíssima mobilidade social, com uma população convencida de que quem luta vence

Construir argumento frouxo para manter no poder as figuras de sempre é o novo preto. Melhor dizendo: o velho branco. É tática que, no momento, aproxima a escolha do sucessor de Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF) do concurso para lecionar literatura africana na Universidade de São Paulo (USP). Uma mesma cartada, a (suposta) proximidade ou amizade, serve para repelir umas — no caso, mulheres negras — quanto para acolher outro — um homem branco, por óbvio. Ao fim do primeiro quarto do século XXI, racismo e sexismo à brasileira seguem positivos e operantes. E contando.

Ironia em altas doses é forma de confrontar os caminhos que a sociedade brasileira ainda encontra para mostrar que, sob véu de mudança, tudo segue como dantes. O Brasil é um país de baixíssima mobilidade social, com uma população convencida de que quem luta vence. Se não venceu, é porque não lutou o suficiente. Segue o bonde.

A complexidade da tarifa zero no transporte público, por Marcus Pestana

O presidente Lula solicitou à sua equipe um estudo sobre a possibilidade de implantação da tarifa zero no transporte público. No arranjo federativo brasileiro, a gestão e regulação da logística urbana cabe às prefeituras.

A mobilidade urbana e o transporte coletivo são aspectos centrais na vida cotidiana da população, sobretudo dos trabalhadores e cidadãos de mais baixa a renda. O deslocamento para o trabalho, as escolas, as unidades de saúde, o comércio, afeta visceralmente a qualidade de vida da população, que depende da eficiência e do custo do transporte. Boa parte do crescimento desordenado das cidades e da expansão das favelas se deveu ao custo elevado e às ineficiências da rede de ônibus, trens urbanos e metrôs. 

Cicatriz permanente, por Aldo Fornazieri

CartaCapital

O genocídio perpetrado por Israel jamais poderá ser esquecido, como não se olvidará o Holocausto praticado pelos nazistas contra os judeus no século XX

Ninguém sabe ainda se o cessar-fogo em Gaza se transformará num tratado de paz ou não. Existem muitos imponderáveis em jogo. Os principais são: o Hamas aceitará se desarmar? Israel deixará de usar qualquer pretexto para reiniciar os bombardeios? Quem governará Gaza? E o Estado palestino?

“Finalmente, teremos a paz no Oriente Médio. Demorou 3 mil anos para se chegar a este ponto, dá para acreditar?”, celebrou Donald Trump, durante a Cúpula do Egito. De fato, é difícil acreditar em uma paz duradoura sem a resolução desses pontos cruciais mencionados anteriormente.

O tsunami da ignorância, por Luiz Gonzaga Belluzzo e Manfred Back

CartaCapital

Os delírios de um Projeto de Lei no Senado vão criar esquizofrenia no circuito monetário financeiro nacional

O senador Oriovisto Guimarães (PSDB–PR) propõe um Projeto de Lei para estabelecer um limite à dívida pública federal. Em sua proposta, ultrapassado o teto de 80% da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto, o governo federal estaria sujeito a penalização de um ajuste primário extra na despesa de 25% nos primeiros quatro meses após o estouro da meta. Hoje seria, por exemplo, entre cerca de 150 bilhões e 200 bilhões de reais a mais no orçamento federal.

Seria interessante observar as relações entre a dívida pública e a dívida privada ao longo dos ciclos de expansão e contração da atividade econômica. O endividamento de empresas e famílias expande-se nos períodos de crescimento e “confiança”. Os bancos, sob a supervisão e regulação dos Bancos Centrais, emprestam às empresas e às famílias “gastadoras”.

Erosão silenciosa, por Adriana Augusta de Moura Souza

CartaCapital

Além de corroer o pacto social de 1988, a “pejotização” compromete a sustentabilidade da Previdência

O Supremo Tribunal Federal realizou, na segunda-feira 6, uma audiência pública para debater os desafios econômicos e sociais da chamada “pejotização” no Brasil. Na prática, discutiram-se os próprios rumos do Direito do Trabalho, a partir das questões formuladas pelo ministro Gilmar Mendes, relator do Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 1.532.603. Entre os temas em análise estão a licitude das contratações via pessoa jurídica ou como autônomo, a competência da Justiça do Trabalho para julgar eventuais fraudes e a distribuição do ônus da prova entre as partes.

Afago à classe média, por Carlos Drummond

CartaCapital

Novo programa eleva o financiamento habitacional e gera recursos de 111 bilhões de reais no primeiro ano

O novo modelo de crédito imobiliário lançado por Lula e dirigido à classe média, com elevação do valor máximo de financiamento para 2,25 milhões e juros de até 12% ao ano, é um marco na evolução do sistema de financiamento habitacional. Representa um avanço no uso de dispositivos das próprias instituições financeiras para fazer frente tanto ao desaquecimento da economia quanto às tentativas da oposição de cercear politicamente as iniciativas de Brasília, revelam dados e análises.

As novas normas incluem alterações no modelo de direcionamento obrigatório dos recursos dos depósitos de poupança e mudanças na regulamentação que disciplina o recolhimento compulsório sobre esses mesmos depósitos. Segundo o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central, o sistema viabiliza recursos de 111 bilhões de reais no primeiro ano e disponibiliza 52,4 bilhões a mais, em relação à configuração anterior, para o financiamento habitacional, dos quais 36,9 bilhões de forma imediata.

O que Lula quer no Supremo, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O cronista não sabe quem Lula indicará a ministro do Supremo. Talvez já o tenha feito, no intervalo entre a entrega e a publicação deste texto. Sabe, porém, qual perfil o presidente projetou para o ocupante da cadeira a ser deixada por Barroso, a poucos dias de descansar a defesa da democracia num retiro esotérico indiano. Uma evolução, se considerarmos que aquele que nos protegeu de nós mesmos – e que quer aparecer até o final, ainda que à custa de incitar tema divisivo –, acreditara em João de Deus.

Novo darwinismo social, por Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

Diversos ministros do STF parecem dispostos a tornar facultativo o regime de direitos do trabalhador

Perda de arrecadação com pejotização inviabiliza a Previdência e demais políticas sociais

As primeiras formas de regulação do trabalho surgiram na Inglaterra, ainda no período medieval. O Estatuto dos Artífices, de 1563, fruto de um acordo judicial, impôs ao Estado "incentivar a lavoura e garantir aos empregados salários proporcionalmente convenientes, tanto em tempo de escassez como de fartura".

Essa expressão da "economia moral" do mundo feudal, nas palavras do historiador E. P. Thompson, ruiu em face do vertiginoso processo de urbanização e industrialização, na passagem do século 17 para o 19. A mão de obra, onde não havia escravidão, passou a ser objeto das leis de mercado. Sob o manto da autonomia individual, cada um poderia, teoricamente, negociar o valor do seu trabalho.

A queda de braço pelo pagamento de emendas em ano eleitoral, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Governo resiste à imposição do calendário e quer fazer cortes

O esquema no desvio de recursos funciona quase no automático

Por mais que o STF venha cobrando transparência no destino de emendas parlamentares —em especial aquelas em que a verba vai direto para o caixa das prefeituras, as chamadas emendas Pix—,
o esquema utilizado no desvio de recursos está tão azeitado que funciona quase no automático.

Segundo as investigações da Polícia Federal, o dinheiro é depositado pelas prefeituras numa conta de passagem e depois transferido a outras, destinadas a despesas correntes. Rapidamente ele some, dificultando o rastreio. As denúncias se sucedem, mas acabam caindo no vazio profundo do Brasilzão com 5.570 municípios.

Hollywood me enganou, por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Filmes me fizeram acreditar que americanos amavam a liberdade e a democracia e rejeitavam a tirania

Pouca resistência à escalada autoritária de Trump mostra que tal imagem não era real

Sou uma vítima de Hollywood. Algumas décadas assistindo a filmes de ação me fizeram crer que o amor pela liberdade, pela democracia e a rejeição à tirania estavam inscritos no DNA dos americanos. É claro que nunca comprei essas ideias pelo valor de face.

Acompanhei dezenas de intervenções dos EUA em outros países que não podem ser catalogadas como defesa da democracia. Mesmo as que podem foram muitas vezes marcadas por um escandaloso autointeresse de Washington.