segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Opinião do dia – Luiz Werneck Viana

Os direitos que hoje amparam os brasileiros, principalmente os mais vulneráveis, são obra do Poder Legislativo, ora exposto a injusta execração pública. Decerto que muitos dos seus membros, em cumplicidade com autoridades do Executivo, se deixaram enlaçar por interesses espúrios e praticaram delitos. Tais delitos, contudo, envolvem pessoas singulares e estão sendo objeto de apuração na chamada Operação Lava Jato e julgados pelos tribunais. Mais do que a revelação da prática de crimes, o processo que a desencadeou pôs a nu a má arquitetura de nossas instituições políticas, que somente, aliás, a ação do Legislador pode vir a corrigir.

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Sociólogo, PUC-Rio. ‘O caminho difícil para 2018’. O Estado de S. Paulo, 5/2/2017

Crise faz economia de 12 estados retroceder 6 anos

• Recessão é tão profunda que PIB voltou ao patamar de 2010, aponta estudo

Afetado pelo mau desempenho da Petrobras, Rio tem retração de 7,2% e retomada será demorada

A recessão que atinge o Brasil desde 2015 é tão profunda e disseminada que, em 12 estados e no Distrito Federal, o tamanho da economia recuou ao patamar do fim de 2010, constatou estudo da consultoria Tendências. A queda do PIB nos últimos dois anos chega a 12%, informa Daiane Costa. Estados com grande peso da indústria, como São Paulo e Amazonas, por causa da Zona Franca de Manaus, estão entre os mais afetados. Rio e Pernambuco sentiram o impacto da crise na Petrobras e, segundo especialistas, devem demorar mais a retomar o crescimento. No Nordeste, quatro estados estão no grupo, afetados pela seca.

De volta a 2010

• Recessão faz economia de 12 estados e do Distrito Federal retroceder seis anos, diz estudo

Daiane Costa | O Globo

Os dois anos de recessão que o país amargou em 2015 e 2016 fizeram a economia de 12 estados mais o Distrito Federal (DF) retroceder ao patamar do início da década. É o que mostra estudo da Tendências Consultoria Integrada, obtido pelo GLOBO. De acordo com as projeções do economista Adriano Pitoli, o Produto Interno Bruto (PIB) de todas as 27 unidades da federação encolheu neste biênio. E, para 13 delas, o tombo foi tão grande que anulou a expansão vivenciada entre 2011 e 2014. Ou seja, o PIB desses estados e do DF está hoje de um tamanho menor do que o registrado ao fim de 2010.

Obras paradas já gastaram R$ 50 bi

Mesmo após empreiteiras investigadas pela Lava-Jato fecharem acordos de leniência, grandes obras continuam paradas.

Leniência e obras paradas

• Mesmo após acordos com MP, empreiteiras não retomam construções; país já gastou R$ 50 bi

Gustavo Schmitt, Dimitrius Dantas | O Globo

-SÃO PAULO- Pelo menos sete empreiteiras já fecharam acordo de leniência com o Ministério Público Federal (MPF) no âmbito da operação Lava-Jato. Ao todo, elas devem ressarcir os cofres públicos em R$ 8,7 bilhões. A colaboração com as autoridades, no entanto, não foi suficiente para fazer deslanchar seis grandes obras paralisadas, que já custaram R$ 50 bilhões aos governos e deixaram milhares de desempregados.

Odebrecht e Braskem vão pagar R$ 6,9 bilhões no âmbito do acordo ao MPF. A Andrade Gutierrez pagará pelo menos R$ 1 bilhão. A Camargo Corrêa repassará R$ 700 milhões ao MPF e R$ 104 milhões ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A britânica Rolls Royce, mais R$ 81 milhões. Carioca Engenharia e o Grupo Setal, com R$ 10 milhões e R$ 15 milhões, respectivamente, completam a lista.

Governo vai cobrar R$ 3 bilhões de condenados na Lava Jato

Julio Wiziack – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Uma força-tarefa da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e da Receita Federal vai cobrar cerca de R$ 3 bilhões de pessoas e empresas investigadas pela Lava Jato.

O montante é o estimado do Imposto de Renda sobre o patrimônio construído com dinheiro de corrupção na Petrobras. Nessa primeira etapa, que começou no fim do ano passado e se estende até março, estão sendo cobrados judicialmente 12 alvos da operação.

Os primeiros são o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e sua mulher, Luciana Adriana Franco. Ambos terão de pagar R$ 59,3 milhões.

Os processos de cobrança correm em sigilo e envolvem troca de documentos entre Ministério Público Federal, Receita Federal e a Justiça.

Repatriação ajuda e déficit dos Estados fica estável

Por Marta Watanabe e Rodrigo Carro | Valor Econômico

SÃO PAULO E RIO - O repasse aos Estados dos recursos obtidos com o programa de repatriação deu grande contribuição para o resultado primário dos governos regionais. O déficit primário dos 27 Estados - incluído o Distrito Federal, ficou estável em R$ 3,6 bilhões de 2015 para 2016 e o número de entes no vermelho caiu de 13 para dez.

No ano passado, foram repassados aos Estados R$ 10,07 bilhões em arrecadação de Imposto de Renda e multa por conta do programa. Desse total, cerca de 80% foram destinados aos Estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. No grupo de Estados das três regiões, o déficit primário de R$ 987,4 milhões em 2015 se transformou em superávit de R$ 5,48 bilhões no ano passado. O Valor levantou os dados do ano passado de 27 Estados - só o Rio de Janeiro ainda não divulgou as informações completas e, por isso, foram considerados os números até outubro.

Rio atrasa relatório; rombo até outubro atinge R$ 7,3 bilhões

Por Rodrigo Carro | Valor Econômico

RIO - Apesar de o prazo para apresentação dos relatórios de gestão fiscal e execução orçamentária ter se esgotado no dia 30, o Estado do Rio de Janeiro trabalha para apresentar os documentos previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) apenas nesta semana.

As informações oficiais mais recentes, disponíveis no Relatório Resumido de Execução Orçamentária, indicam, pelo critério da despesa empenhada (comprometida), um déficit primário de R$ 7,34 bilhões acumulado nos primeiros dez meses do ano passado, mas o resultado negativo das contas do Estado tende a crescer quando forem computados novembro e dezembro.

‘A sensação de trem desgovernado passou’, diz Arminio Fraga

• Para Arminio, economia avançou no governo Temer, apesar da crise política e da Lava Jato, mas há muito a fazer

José Fucs | O Estado de S. Paulo

Decorridos quase nove meses desde que o presidente Michel Temer assumiu o cargo, em 12 de maio, o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, já não vê o Brasil à beira do precipício, como nos tempos de Dilma Rousseff. Segundo Arminio, apesar de alguns tropeços aqui e ali, da crise política e das incertezas geradas pela Lava Jato, houve uma “mudança de peso” na economia no governo Temer. “Aquela sensação de que o Brasil era um trem desgovernado passou”, afirma.

Ainda assim, ele acredita que a tarefa de recolocar o País nos eixos está longe de acabar e que serão necessários “muitos ajustes e reformas” para isso acontecer. Nesta entrevista ao Estado, Arminio fala também que a volta do crescimento será lenta, porque “não estamos vivendo um ciclo econômico normal”, e que o setor privado tem a sua parcela de culpa na crise.

• Estado: Com o presidente Michel Temer prestes a completar nove meses no cargo, qual é a sua avaliação do governo?
Arminio Fraga: No geral, a minha visão é de que, desde o afastamento da presidente Dilma Rousseff, houve uma mudança de peso em relação ao que se tinha antes. Apesar do ambiente político carregado, houve algumas reformas importantes. Agora, existe uma agenda. Boa parte dela foi apresentada antes mesmo do impeachment, o que ajudou bastante. Essa agenda inclui itens importantes, com impacto no longo prazo, como o controle dos gastos públicos e a reforma da Previdência.

Espaço a tucanos e recado de Maia desgastam base do governo Temer

Ranier Bragon, Angela Boldrini | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O ano legislativo começa nesta semana com o governo de Michel Temer enfrentando arestas decorrentes da eleição que, na última quinta-feira (2), reconduziu Rodrigo Maia (DEM-RJ) para mais dois anos no comando da Câmara dos Deputados.

Apesar do êxito –o Planalto apoiou Maia nos bastidores–, partidos governistas que foram derrotados e o PMDB, sigla do próprio presidente da República, demonstram insatisfação. Os alvos da ala contrariada são Maia e o PSDB.

De volta à planície, Renan quer manter poder

• Para isso, ele preferiu liderar a bancada, onde tem mais influência do que no comando da CCJ do Senado

Fernanda Krakovics | O Globo

Ao deixar a presidência do Senado na última quarta-feira, cargo para o qual foi eleito quatro vezes nos últimos 12 anos, Renan Calheiros (PMDB-AL), em vez de submergir para tentar sair do foco da Operação Lava-Jato, assumiu um posto de destaque, a liderança do PMDB na Casa.

Senadores e pessoas próximas dizem que não é perfil de Renan sair de cena e que ele deve continuar esticando a corda com o Judiciário, até como estratégia de defesa. Assim, caso venha a ser condenado, ele teria o discurso de que estaria sendo perseguido porque contrariou interesses.

Governador do ES decide deixar PMDB

• Paulo Hartung diz ao ‘Estado’ que busca sigla compatível com pensamento de centro-esquerda

Pedro Venceslau | O Estado de S. Paulo

Um dos sete governadores eleitos pelo PMDB em 2014, o economista Paulo Hartung, do Espírito Santo, decidiu deixar a legenda do presidente Michel Temer. Embora faça críticas pontuais ao governo, Hartung não pretende migrar para a oposição, mas deslocar-se dentro do consórcio de poder que espera lançar um nome da situação à Presidência em 2018.

Pelo menos duas portas foram abertas. O ministro das Comunicações, Gilberto Kassab, fundador do PSD, fez um convite e aguarda resposta. Mas o PSDB também está na fila.

“Vim de uma militância socialista, mas evolui minha maneira de entender o mundo. Evolui para uma posição de centro-esquerda e sou hoje um social democrata. Eu teria muito conforto em ir para um partido que tenha um projeto e um programa que tenha total compatibilidade com meu pensamento político”, disse o governador ao Estado.

Comando de comissões domina agenda legislativa

Por Raphael Di Cunto e Vandson Lima | Valor Econômico

BRASÍLIA - Sob o comando de dois aliados do presidente Michel Temer, o Congresso retoma efetivamente as atividades esta semana com extensa agenda legislativa pela frente e negociações em torno do comando das principais comissões a destravar. Prioridade do governo, as reformas previdenciária e trabalhista devem ficar em segundo plano no momento, com as discussões concentradas nas comissões.

No plenário, a Câmara deve analisar com mais urgência o projeto de lei que promove a modernização da gestão dos fundos de pensão complementares de empresas estatais, com regras para que os trabalhadores possam controlar melhor os investimentos e evitar práticas de corrupção, e a nova rodada da repatriação, para permitir uma segunda chance aos interessados em regularizar bens não declarados mantidos no exterior.

Lula afirma que 'continuará na luta'

Por Renato Rostás, Cristiane Agostine e Ricardo Mendonça | Valor Econômico

SÃO PAULO - Ao despedir-se de sua esposa, Marisa Leticia, durante o velório no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, no sábado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou que não pretende se afastar da disputa política no cenário nacional. "Marisa, descanse em paz. O seu 'Lulinha paz e amor' vai continuar lutando muito por aqui", afirmou o ex-presidente, muito emocionado, depois de perder a companheira com quem dividiu 44 anos de sua vida. Dias antes, quando Marisa ainda estava na UTI, Lula disse a militantes que lutará para não se deixará abater. "A pressão e a tensão fazem as pessoas chegarem ao ponto que Marisa chegou", disse, referindo-se à Operação Lava-Jato. "Mas isso não vai me fazer ficar chorando pelos cantos. Vai ficar apenas batendo na minha cabeça, como mais uma razão para que a luta continue".

Ordem do dia – Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

• É no Congresso que a sociedade construirá soluções

O Congresso retoma suas atividades esta semana. Temos muito a fazer. O Brasil tem pressa para mudar e levar adiante as reformas que durante tantos anos foram negligenciadas e acabaram nos custando caro, na forma de recessão, desemprego e explosão dos gastos públicos.

Nossa responsabilidade é imensa. É no Congresso que a sociedade brasileira construirá as soluções para seus problemas. Com diálogo e responsabilidade, com debate franco e transparência. Avalio que os novos comandos da Câmara dos Deputados e do Senado, eleitos na semana passada, assegurarão o melhor ambiente para isso, reforçado pela nova articulação política do Palácio do Planalto.

Orquestra do Titanic - Dora Kramer

- Revista Veja

• ‘Políticos seguem indiferentes ao naufrágio’

Nos últimos trinta anos o Brasil mudou. Depois de reconquistar a democracia, a sociedade evoluiu, os critérios do maléfico e do benéfico se agravaram, novos valores se incorporaram ao cotidiano das pessoas. Devagar, o país trilha o caminho inexorável da modernidade. As maneiras da política, no entanto, permanecem referidas na antiguidade.

Nada mais velho no front do Parlamento que as recentes eleições para as presidências da Câmara e do Senado, evidência da distância abissal entre a oferta dos métodos vencidos dos representantes e a demanda dos representados por meios mais avançados. 

À semelhança dos músicos que entoavam as melodias do melhor tempo enquanto o Titanic afundava, deputados e senadores conduziram os processos de sucessão como se mal algum os acometesse nem ameaçasse. Falamos de uma espécie humana que não pode andar na rua, caminhar na praia, frequentar um restaurante ou entrar num avião sem o risco de levar uma invertida nas ventas.

O império da Corte Colegiada - Murillo de Aragão

Revista IstoÉ

• Edson Fachin, como novo relator da Lava Jato, deverá manter as mesmas características de Teori

O julgamento do Mensalão significou o início de um período de abalos marcante em uma das características mais essenciais e necessárias em uma Suprema Corte: o poder institucional do órgão colegiado. De lá para cá, o protagonismo das decisões monocráticas ganhou espaço, alavancadas tanto por eventuais debilidades institucionais da Corte quanto pelo comportamento personalista de alguns ministros. Com o devido estímulo da “midiatização” do processo judicial. Com a eclosão do Petrolão, o que era grave ficou seriíssimo. Nesse quadro, a perda do grande brasileiro Teori Zavascki é de se lamentar profundamente. Zavascki era um juiz discreto e corajoso. Tinha coragem para desagradar gregos e troianos e para não se pautar pela excitação midiática. Os réus da Lava Jato que serão julgados pelo STF devem estar preocupados com a sua perda.

A inevitabilidade da reforma da previdência - Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

O amadurecimento da consciência social e a luta dos próprios trabalhadores lançaram as sementes do sistema previdenciário. Ao longo do tempo, em diversos países, foram sendo introduzidas formas de socorro aos necessitados, seguro contra acidentes de trabalho, doença, invalidez e pensões para idosos. No século 20 ganharam corpo os sistemas previdenciários modernos não só para atenuar os efeitos da miséria, mas também para garantir dignidade àqueles que dedicaram toda uma vida produtiva à sociedade.

Lula está vivíssimo! - Ricardo Noblat

- O Globo

Os facínoras deveriam pedir desculpas a ela. Este homem que está enterrando sua mulher não tem medo de ser preso.” Lula

Marisa Letícia fará muita falta a Lula. Não só porque cuidou da família e do próprio Lula para que ele pudesse se dedicar apenas à política, como também porque foi a única pessoa a ter coragem de dizer coisas duras ao marido, obrigando-o a escutá-la e a levar em conta o que ouviu. Lula nem sempre levou. Atravessaram juntos bons e maus momentos. Viviam um mau momento antes de ela morrer.

Classe média e obras médias - Vera Magalhães

- O Estado de S. Paulo

• Temer prepara medidas para 'desafogar' a classe média

Depois do sucesso da liberação do saldo das contas inativas do FGTS, uma rara medida anunciada pelo presidente Michel Temer considerada positiva em pesquisas de opinião em poder do governo e do PMDB, vem aí mais uma série de medidas voltadas para “desafogar” a classe média enquanto a recuperação de fato da economia não vem.

Além da ampliação da renda que poderá ser atendida pelo Minha Casa Minha Vida, que será detalhada hoje por Temer, o governo prepara o anúncio de um alongamento das dívidas de quem contraiu empréstimo consignado e não está conseguindo pagar. Devem ser beneficiados não só aqueles que perderam o emprego, e o pacote valerá para bancos públicos e privados.

Sonho ou pesadelo – Valdo Cruz

- Folha de S. Paulo

Depois de um início titubeante, Michel Temer começa a engrenar e enxerga pela frente uma fase mais próspera. O que pode atrapalhar é a Lava Jato. Não por outro motivo seus aliados defendem a quebra de sigilo das investigações.

Não se trata de um surto repentino pela transparência. É a aposta de que, depois da delação da Odebrecht, 99,9% do mundo político estará no mesmo barco. Tudo sendo divulgado ao mesmo tempo, o efeito explosivo seria diluído e ninguém tiraria proveito da desgraça alheia.

Os defensores da tese alegam que seria uma forma de acabar com o uso seletivo de vazamentos desta e daquela informação dada por um delator para atingir o governo de plantão.

Vazamentos - Denis Lerrer Rosenfield

- O Globo

• Teria sido possível que a Operação Lava-Jato prosperasse sem que certos atropelos à lei tivessem ocorrido?

O Brasil está sendo passado a limpo. O grau de corrupção ganhou proporções inauditas, permeando as instituições. Os exemplos mais variados mostram o quanto ela adentrou o Executivo, o Legislativo e, mesmo, o Judiciário, embora deste último tenham nascido as medidas moralizadoras e punitivas. O sistema partidário foi, certamente, o mais atingido, perdendo, inclusive, as suas condições de representatividade.

O combate à corrupção foi — e está sendo — capitaneado por um grupo de juízes, desembargadores, promotores e procuradores, contando com o apoio decisivo da sociedade e da imprensa e dos meios de comunicação em geral. Poderosos estão sendo julgados e condenados, alguns estando já presos.

O saldo das delações - Fernando Limongi

- Valor Econômico

• Atribuir todo mal a um personagem ou partido é um equívoco

A tensão é alta. As delações dos executivos da Odebrecht continuam sob sigilo. Não há previsões sobre quando virão a público. A notícia aparecerá em edição extraordinária, provavelmente por meio de vazamentos que, em realidade, já começaram.

Para os preocupados com o combate à corrupção sistêmica, como se declaram Sergio Moro e Deltan Dallagnol, as delações não trarão grandes novidades. Ficaremos sabendo quem tomou dinheiro nesta ou naquela obra. Para eleitores, não há dúvidas, as informações serão relevantes e influenciarão eleições futuras. Muitas carreiras políticas dependem da memória seletiva dos delatores. Mas tudo que há por saber sobre as relações entre as grandes empreiteiras e os políticos já é conhecido. O modus operandi foi revelado pelas primeiras delações. Toda obra teria uma gordura de 3% sobre o total do contrato, a ser dividido entre o operador da limpeza do dinheiro, o diretor responsável pela obra e o partido político, na proporção 20%-20%-60%.

A montanha dos mágicos - Paulo Delgado

- O Globo

• A afetada arquitetura do modelo político ruiu. É osso duro de roer ver que o que é útil à sociedade precisa, primeiro, ser considerado útil ao interesse do sistema político

O Brasil não tem as montanhas mais altas do mundo. Mas a proeminência topográfica do sistema político sobre a sociedade faz dele um pico intransponível para cidadãos. A análise de seus efeitos sobre os costumes exige mais do que investigações judiciais. A combinação da crise político-econômico-judicial requer uma análise cultural sobre o significado prático-moral da arte de representar, defender e encarcerar os outros.

Ninguém vai impor coerência ao sistema político, devolver coesão e respeito à ordem social e estimular o desenvolvimento econômico aliado de tantas guerras por domínio. Todos os poderes têm deveres uns para com os outros, e a insanidade atual é achar que não é responsabilidade de políticos, juízes e promotores a violência nas ruas e nos presídios.

Cartas na mesa, Temer ensaia um recomeço - Angela Bittencourt

- Valor Econômico

• Spread cristaliza acima de 20%; juro e dólar desabam

O mercado financeiro promove uma revisão de taxas de juros e de câmbio neste início de 2017. É mais uma observada desde o último ano, mas talvez a mais importante neste momento em que o presidente Michel Temer tem a oportunidade de recomeçar o seu governo no embalo de uma nova Legislatura e definição dos titulares no comando da Câmara e do Senado. Tão relevante quanto a eleição dos presidentes das duas casas é a definição do ministro Edson Fachin - escolhido por sorteio entre seus pares - para a relatoria da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal. Fachin substitui Teori Zavascki.

É só um suspiro? - Cida Damasco

- O Estado de S. Paulo

• Sinais de alguma reanimação na economia. É torcer para a política não atrapalhar

Pode ser um cuidado exagerado, até um certo trauma em relação ao que aconteceu logo no pós-impeachment, mas é bom se precaver. Há alguns sinais na praça de melhora na atividade econômica, que têm sido interpretados com maior ou menor entusiasmo, dependendo do ponto de vista do analista – e como tem ponto de vista! Indicam um suspiro ou a retomada de fôlego da economia brasileira? Eis aí a questão.

O perigo do "meio sucesso" - Gustavo Loyola

- Valor Econômico

• A provável melhora do ambiente econômico não pode servir de pretexto para relaxamento no propósito reformista

Em setembro de 1998, em um artigo publicado na revista "Veja", Roberto Campos, cujo centenário de nascimento se comemora neste ano, assinalou que os países são salvos pelas grandes vitórias ou pelas grandes derrotas. "As grandes vitórias inspiram autoconfiança e são a vitamina de futuras realizações. As grandes derrotas tornam as sociedades mais plásticas para aceitar reformas. O perigo é o meio sucesso".

Escritas quando o Plano Real estava ameaçado pelas crises da Ásia e da Rússia, Roberto Campos atribuía as tribulações do Real ao "meio sucesso", pois lhe faltavam as indispensáveis reformas previdenciária, fiscal e administrativa. Para ele, a principal tarefa pós-eleição de 1998 seria completar o "meio sucesso" do Plano Real com um enérgico programa de austeridade fiscal que "não consiste em aumentar impostos e sim cortar gastos e redistribuir mais equitativamente a carga fiscal".

Ainda frágil – Editorial | Folha de S. Paulo

A economia brasileira parece estar no caminho da estabilidade. Em termos menos polidos, parece próxima da estagnação, depois de regredir ao nível da produção e da renda de 2011.

É um alívio, decerto, embora a situação permaneça frágil. No meio do caminho nebuloso da recuperação há riscos consideráveis, em especial na esfera política.

Neste início de 2017 houve nova melhora de ânimos, tal como em meados de 2016. A esperança anterior, porém, logo se dissiparia devido à ausência de estímulos econômicos e à nova rodada de enfraquecimento do governo.

O recesso político e judicial contribuiu para a distensão, provisória que seja. Em contraste com o final do ano passado, há agora fatores reais a contrabalançar a severidade da recessão.

Problemas estruturais – Editorial | O Globo

• Não há ideologia capaz de refutar a lógica que leva o sistema brasileiro à falência

Era inexorável a contaminação político-ideológica do debate sobre as reformas necessárias para retirar o país da crise fiscal, sendo uma das principais a da Previdência. Mesmo em tempos menos tensos isto não deixaria de ocorrer. Como acontece na Europa ocidental — região de economias e sociedades desenvolvidas —, sempre que é necessário rever mecanismos de seguridade social.

É o caso do Brasil. Mas aqui há o agravante de a missão de fazer estas reformas ter ficado com o governo de Michel Temer, vice de Dilma Rousseff (PT), retirada do Planalto por um processo de impeachment, apoiado, entre outros, pelo partido de Temer (PMDB), e instaurado por crimes de responsabilidade cometidos pela presidente ao desrespeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal.

O peso da Previdência Social – Editorial | O Estado de S. Paulo

O balanço das contas públicas, divulgado pelo Tesouro Nacional no dia 30 de janeiro passado, mostrou – mais uma vez – que o rombo nas contas da Previdência Social contribuiu preponderantemente para o déficit primário de R$ 155,79 bilhões registrado no ano passado. O resultado negativo – dentro da meta fixada pelo governo – representou 2,47% do Produto Interno Bruto (PIB). Deficitário em R$ 149,73 bilhões, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) correspondeu a 96% do déficit primário brasileiro em 2016, resultado composto pelo balanço das contas do governo central (INSS, Banco Central e Tesouro), dos Estados e municípios e das empresas estatais, com exceção de Petrobrás e Eletrobrás.

Congresso deve resposta política à sociedade – Editorial | Valor Econômico

A reabertura dos trabalhos legislativos, com a reafirmação de uma ampla e sólida base governista, dá um novo alento às propostas de reforma da economia do presidente Michel Temer, inclusive aquelas consideradas mais difíceis, como as reformas trabalhista e previdenciária. Esse é o aspecto mais visível da eleição do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara, foi até bandeira em sua campanha. Mas existe uma agenda tácita na eleição de Maia que não admite mais tergiversação e exige a atenção da Câmara. E ela diz respeito aos assuntos políticos: o Congresso precisa dar uma resposta urgente às acusações que ameaçam soterrá-lo sob as cúpulas da Câmara e do Senado.

Os planos de Stepan Nercessian na Funarte

‘Não quero ser síndico’

• Novo presidente da Funarte, Stepan Nercessian diz que, diante do orçamento cada vez menor, é preciso rever os custos internos da fundação para retomar fomento às artes

“O país vive um momento confuso. A insegurança é total. Não sabemos o que vai acontecer a cada dia dessa novela Brasil, mas no meio disso acho que tenho uma contribuição a dar

Luiz Felipe Reis | O Globo

Em dezembro, o ator Stepan Nercessian foi o terceiro nome a assumir a presidência da Fundação Nacional de Artes (Funarte) em 2016. Após a saída de Francisco Bosco (2015-2016) e de Humberto Braga, que ficou apenas quatro meses no cargo, Stepan, de 63 anos, assumiu o posto a pedido do ministro da Cultura, Roberto Freire, seu companheiro de partido (PPS) e “amigo de longa data”, diz o ator. Recém-empossado, encontrou problemas. Com o orçamento em queda — de R$ 172,2 milhões em 2014 para R$ 170,2 milhões em 2015 e R$ 135,2 milhões em 2016 —, a Funarte viu crescer o desafio de cumprir o objetivo para o qual foi criada, em 1994: desenvolver políticas públicas de fomento às artes em território nacional. Com a verba disponível para este ano espremida pela folha salarial e por custos administrativos e operacionais, o novo presidente do órgão diz buscar “reestruturar o orçamento interno para sobrar mais dinheiro para nossas ações de fomento”. No entanto, para efetivar seus planos dependerá da disponibilidade do ministério de injetar mais recursos na instituição.


• Você assumiu a Funarte no fim de um ano de grande instabilidade, em que a fundação pouco realizou. O que o fez aceitar o convite em meio a sucessivas baixas no orçamento?

Realmente não era o momento em que eu estava interessado em assumir um compromisso político. Estava focado na minha carreira, fazendo o “Chacrinha — O musical”, no teatro, e alguns filmes. Fora que, nesses cargos, você nunca sabe por quanto tempo fica. Às vezes se passam meses e tudo muda, como vimos em 2016. Levei minha preocupação ao Roberto (Freire), mas ele disse que não era só um convite, mas um pedido, que precisava de mim. Nós temos uma ligação de muito tempo, desde o PCB. Viajamos muito pelo Brasil, fomos parlamentares juntos, e aceitei. O país vive um momento confuso. A insegurança é total. Não sabemos o que vai acontecer a cada dia dessa novela Brasil, mas no meio disso acho que tenho uma contribuição a dar. Tenho alguma experiência na área, não sou um leigo.

A Berlim – Vinicius de Moraes

Vós os vereis surgir da aurora mansa
Firmes na marcha e uníssonos no brado
Os heróicos demônios da vingança
Que vos perseguem desde Stalingrado.

As mãos queimadas do fuzil candente
As vestes podres de granizo e lama
Vós os vereis surgir subitamente
Aos heróicos prosélitos do Drama.

De início mancha tateante e informe
Crescendo às sombras da manhã exangue
Logo o vereis se erguer, o Russo enorme
Sob um sol rubro como um punho em sangue.

E ao seu avanço há de ruir a Porta
De Brandemburgo, e hão de calar os cães
E então hás de escutar, Cidade Morta
O silêncio das vozes alemãs.

Rio de Janeiro, 1945.