quinta-feira, 31 de julho de 2008

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

SECRETÁRIO REAGE A VAZAMENTO E VETA DADOS A CPI
Marcelo Auler

Beltrame só repassará informações a investigação sobre milícias com compromisso de sigilo

O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou ontem que não terá mais condições de repassar informações à Comissão Parlamentar de Inquérito das Milícias da Assembléia Legislativa, se não houver compromisso com o sigilo. Ele ficou muito irritado com a divulgação pelo Estado de relatório confidencial sobre a situação das milícias no Rio, elaborado pela Subsecretaria de Inteligência (SSI) e encaminhado à CPI. A divulgação abriu uma crise entre os dois órgãos: o secretário reclamou do vazamento dos dados com o presidente da comissão, Marcelo Freixo (PSOL), que emitiu nota no fim da tarde considerando “grave e inadmissível o ocorrido”.

“Eu não culpo a imprensa, pois acho que ela fez seu papel. Mas isso sem dúvida nenhuma afeta nossa relação com essa comissão e acho que afeta o trabalho dessa comissão. Não trabalho dessa forma e não vou pactuar com esse tipo de leviandade”, afirmou o secretário ontem à tarde. Freixo prometeu, no texto, discutir na reunião de hoje “procedimentos mais rigorosos de recebimento, processamento e arquivamento de documentos dessa natureza na CPI”.

Beltrame não escondeu sua insatisfação e disse que há pessoas que estão “brincando de investigação” sem levar em conta que há vidas em risco. “Estamos lutando com todas as armas que nos são possíveis. Agora, não estamos aqui para brincadeira, para leviandade. Inteligência policial, se a comissão não sabe, é um serviço muito sério.”

“Se não houver sigilo, se não houver garantia das conseqüências daquilo que estamos produzindo aqui há um ano e meio, o trabalho não irá adiante. O problema é sério demais para esse tipo de leviandade, de brincadeira. Isso, da minha parte, não mais terá a colaboração sem as garantias do sigilo das informações.”

LIGAÇÕES

O secretário confirmou que, segundo o levantamento da SSI, em 119 das 171 comunidades ocupadas por milícias nem sequer existia tráfico de drogas antes de os milicianos as ocuparem.
Isso desmente a versão de que as milícias substituem os traficantes, dando proteção aos moradores do bairro ou da favela. Beltrame, sem entrar em detalhes, admitiu também que há “milícia sem ligação com o tráfico, mas já se percebe em alguns lugares essa ligação”.

Ele também adiantou que o número de pessoas envolvidas com as milícias já diminuiu. Segundo o relatório foram identificadas 521 pessoas - das quais 156 policiais militares (entre eles 7 oficiais), 18 policiais civis, 11 bombeiros militares, 3 agentes penitenciários, 3 integrantes das Forças Armadas e 330 civis. “Pelo simples fato de se atuar na zona oeste (onde a polícia é mais atuante) esse número já diminuiu e muito. Porque, onde se combate o maior (como a Liga da Justiça), se combate com muito mais facilidade o menor. Muitas dessas ações já diminuíram, muitas dessas ações já baixaram sua guarda e muitas dessas pessoas, inclusive, já deixaram essa opção criminosa.”

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