domingo, 6 de julho de 2008

DEU EM O GLOBO

MARATONA DE R$45 MILHÕES
Maiá Menezes

Candidatos buscam formas alternativas de arrecadação, como as doações pela internet

Para disputar os votos dos 4,5 milhões de eleitores do Rio, na campanha que oficialmente começa hoje, os 11 candidatos a prefeito movimentarão até R$45 milhões. É dinheiro para ser gasto na propaganda na TV e no rádio, com material de campanha, agências de publicidade e nas peregrinações pelas ruas da capital. Mais importantes que o montante, porém, serão a forma de captação e a prestação de contas das doações, num esforço por transparência provocado pela crescente cobrança da sociedade por eleições limpas.

Marcado por levantar no Congresso a bandeira contra o caixa dois, o deputado federal Fernando Gabeira, candidato pela coligação PV/PPS/PSDB, planeja inaugurar a arrecadação pela internet, numa adaptação do modelo do candidato democrata às eleições americanas, Barack Obama. O recibo, exigência do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), será entregue ao doador pelo correio. O tesoureiro da campanha, cujo teto de gastos foi fixado em R$7 milhões, será o ex-deputado tucano Márcio Fortes.

- O uso da internet é um avanço, porque é nesse processo de arrecadação que nasce a corrupção - defende a empresária Neila Tavares, coordenadora da campanha e mulher de Gabeira, que promete dar aos internautas acesso diário ao detalhamento das doações.

A primeira prestação de contas das doações terá que ser entregue ao TRE no dia 6 de agosto, e a segunda, um mês depois.

Molon defende doação com cartão

Candidato do PT, o deputado estadual Alessandro Molon lamenta o rigor do TRE, que limita a participação dos pequenos doadores. Ele lembra que, nos Estados Unidos, é possível fazer doações em valores pequenos com cartão de crédito. Molon, que escolheu o deputado federal Antônio Carlos Biscaia (PT) como supervisor de finanças da campanha e planeja gastar até R$8 milhões, diz:

- Sob hipótese alguma aceitarei doação de empresa de ônibus.

Candidata do prefeito Cesar Maia, a deputada federal Solange Amaral (DEM) diz que a captação será feita de forma "explícita e transparente", mas não descarta receber recursos de prestadoras de serviço do município. Para ela, que prevê gastar R$6,5 milhões, a análise será caso a caso.

O ex-secretário Eduardo Paes (PMDB), com o maior tempo de TV - cerca de seis minutos -, apresentou também a maior previsão de despesas: R$12 milhões.

- Não quer dizer que a gente vá gastar tudo. O importante é que a população poderá acompanhar a prestação de contas - diz o tesoureiro da campanha de Paes, Antonio Pedro Viegas Figueira de Mello.

O candidato do PRB, Marcelo Crivella, estimou o custo da campanha em R$6,8 milhões. O tesoureiro da campanha do senador foi escolhido ontem: será Mauro Barata.

O setor naval deverá ajudar a financiar a campanha da ex-deputada Jandira Feghali (PCdoB), diz o coordenador financeiro da campanha, Caíque Tibiriçá. Ele lembra que o setor é uma das áreas de atuação de Jandira. O teto da campanha é de R$5 milhões.

- Sendo lícito, vamos fazer. Para entrar com chances de ganhar, é preciso, infelizmente, fixar valores altos - disse Caíque.

O deputado federal Chico Alencar (PSOL), que apresentou a menor previsão de gastos (R$400 mil), defendeu um pacto por campanhas baratas:

- Financiamento de campanha se tornou a matriz da corrupção política no país. Portanto, a exigência é transparência e austeridade.


Marcelo Crivella
Vice: Jimmy Pereira (PRTB)
Coligação: PRB/PR/PSDC/PRTB

Quem é

O então bispo da Igreja Universal estreou na política em 2002, quando se elegeu senador. A vinculação com a fé, que garantiu a eleição, se tornou obstáculo para o crescimento entre o eleitorado não-evangélico. Foi derrotado, nas últimas eleições, no primeiro turno, pelo prefeito Cesar Maia. Nesta campanha, procura respaldo em setores díspares, como o mundo do samba e a Igreja Católica. Já usou o nome da TV Record, ligada à Universal, para promover sua pré-campanha. Aos 50 anos, Crivella tem três filhos e um neto.

Tempo na TV

Cerca de um minuto e meio
Que eleições já disputou

Em 2002, pelo extinto PL, foi eleito senador; em 2004, concorreu à prefeitura do Rio, também pelo PL, e foi derrotado.


Jandira Feghali
Vice: Ricardo Maranhão (PSB)
Coligação: PCdoB/PTN/PHS/PSB

Quem é

Médica e baterista profissional, é filiada ao PCdoB desde 1981. Aos 50 anos, mãe de um casal de filhos, foi deputada federal por quatro mandatos sucessivos. Em 1986, foi deputada estadual. Em 2004, disputou a prefeitura do Rio pela 1ª vez. Em 2006, concorreu a uma vaga no Senado e amargou uma inesperada derrota para o então deputado federal Francisco Dornelles (PP). Foi relatora na Câmara de um projeto para descriminalizar o aborto, tema usado contra ela na campanha para o Senado.

Tempo de TV

Cerca de três minutos
Que eleições já disputou
Em 1986, elegeu-se deputada estadual; foi eleita deputada federal em 1990, 1994, 1998 e 2002. Em 2004, concorreu à prefeitura do Rio. Em 2006 tentou o Senado e perdeu.

Eduardo Paes
Vice: Carlos Alberto Muniz (PMDB)
Coligação: PMDB/PTB/PP/PSL

Quem é

O ex-deputado federal ganhou projeção com a CPI dos Correios, em 2005. Parlamentar por dois mandatos, surgiu na política pelas mãos de Cesar Maia, de quem hoje é desafeto. No começo dos anos 90, foi subprefeito da Barra e de Jacarepaguá. É bacharel em Direito, tem 38 anos e dois filhos. Ex-secretário-geral do PSDB, foi para o PMDB apadrinhado pelo governador Sérgio Cabral e irritou o partido ao sair pré-candidato. Cabral desistiu e apoiou Alessandro Molon, para depois relançar Paes.

Tempo de TV

Cerca de seis minutos

Eleições que disputou

Em 1996, foi eleito vereador no Rio. Em 1998, elegeu-se deputado federal, reeleito em 2002. Em 2006, disputou o governo do estado pelo PSDB.

Solange Amaral
Vice: Pedro Fernandes (DEM)
Coligação: DEM/PTC/PMN

Quem é
Psicóloga, 55 anos, foi secretária de Habitação do prefeito Cesar Maia e subprefeita. Vinculou sua imagem à do projeto Favela-Bairro, mas hoje tenta se descolar da atual gestão e se apresenta como uma candidata pós-Cesar Maia, que vai aproveitar o que deu certo na administração do aliado e aprimorar o que não deu. Com perfil técnico, a deputada federal tenta imprimir à sua imagem um tom mais leve. Mudou os cabelos e aparecerá mais acessível no horário eleitoral do DEM na televisão.

Tempo de TV

Entre quatro e cinco minutos

Eleições que disputou

Em 1994, elegeu-se deputada estadual; em 2000, foi reeleita. Em 2002, disputou o governo do estado e perdeu. Em 2006, elegeu-se deputada federal.

Alessandro Molon
Vice: Léa Tiriba (PT)
Coligação: PT

Quem é

Mais jovem dos principais candidatos, tem 36 anos e nenhuma experiência administrativa. É advogado e professor de História. Entrou para o PT quando estudava na PUC. É católico carismático e iniciou a atuação parlamentar como opositor ao governo Garotinho e depois ao governo Rosinha. Seu partido corre sozinho na disputa. Chegou a ser lançado pelo governador Sérgio Cabral e pelo presidente da Alerj, Jorge Picciani, mas estes desistiram da aliança para apoiar Eduardo Paes.

Tempo de TV

Cerca de quatro minutos

Eleições que disputou

Em 2000, Molon foi candidato a vereador no Rio e perdeu; em 2002, foi eleito deputado estadual, sendo reeleito em 2006.

Fernando Gabeira
Vice: Luiz Paulo C. da Rocha (PSDB)
Coligação: PV/PSDB/PPS

Quem é

Deputado no quarto mandato, destacou-se em 2005 ao pedir a renúncia do então presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, que defendera pena branda para o crime de caixa dois. Deixou o PT antes dos escândalos ligados à legenda. Mineiro, 67 anos, duas filhas, diz que se considera carioca. Em 1969, participou do seqüestro do embaixador dos EUA no Brasil, Charles Elbrick. Defensor da união civil entre pessoas do mesmo sexo e da discussão sobre aborto, tem votação concentrada na Zona Sul.

Tempo de TV

Quatro minutos e 40 segundos

Eleições que disputou

Em 1986, concorreu ao governo do Rio; em 1989, candidatou-se à Presidência da República; em 1994, elegeu-se deputado federal e foi reeleito em 1998 e 2002.

Chico Alencar
Vice: Vera Nepomuceno (PSTU)
Coligação: PSOL/PSTU

Quem é

Decepcionado com o PT depois do escândalo do mensalão, em 2005, foi um dos fundadores do PSOL. É historiador, professor e autor de 26 livros, alguns sobre fé. É católico. Em sua atuação parlamentar como vereador e deputado estadual, defendeu prioridade dos governos para a educação. Aos 58 anos, é pai de quatro filhos, um menino e três meninas. Nunca exerceu cargo majoritário, apesar da longa experiência no Legislativo.

Tempo de TV

Um minuto e 20 segundos

Eleições que disputou

Foi eleito vereador em 1988 e reeleito em 1992. Em 1996, disputou a prefeitura do Rio. Elegeu-se deputado estadual em 1998 e federal em 2002, reeleito em 2006.

OUTROS NOMES: Ainda figuram na lista de candidatos nas eleições quatro concorrentes à sucessão do prefeito Cesar Maia. O deputado estadual Paulo Ramos concorre pelo PDT, em uma chapa puro-sangue, que traz o capitão do tricampeonato da Seleção Brasileira, em 70, Carlos Alberto Torres, como vice. Partidos menores, como o PSC, o PTdoB e o PCB também decidiram pela candidatura própria: no PSC, o deputado federal Felipe Pereira sai candidato. O advogado Vinícius Cordeiro será o nome do PTdoB. E, em convenção no último dia 30, o PCB decidiu lançar o nome do secretário político do partido, Eduardo Serra. Os quatro candidatos terão, cada um, entre um minuto e meio e cinqüenta segundos no horário eleitoral gratuito.

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