domingo, 6 de julho de 2008

DEU EM O GLOBO

LULA TENTARÁ REABRIR O DIÁLOGO COM PSDB
Adriana Vasconcelos

Presidente aproveitará eleição para buscar apoio à aprovação de uma reforma política antes de concluir o mandato

BRASÍLIA. A despeito da resistência de petistas e tucanos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a fazer sondagens com o objetivo de reabrir um canal de diálogo institucional com o PSDB. Após o encontro com o ex-presidente Fernando Henrique, no velório de Ruth Cardoso, Lula manifestou a intenção de convidá-lo para uma conversa - um recado já chegou aos ouvidos do ex-presidente, que estaria disposto a abandonar o tom ácido dos últimos tempos em relação ao governo. Mas, independentemente desses gestos, PT e PSDB caminham para mais uma acirrada campanha eleitoral, já de olho em 2010.

O gesto de Lula confronta a direção nacional do PT, que vetou aliança do partido com os tucanos em Belo Horizonte alegando que alimentaria a possível candidatura do governador de Minas, o tucano Aécio Neves, à Presidência. Para a cúpula tucana, Lula e Fernando Henrique podem se entender, mas é difícil a aproximação entre os dois partidos na base.

- O veto da cúpula petista à aliança com o PSDB em Belo Horizonte prejudica ainda mais nossa relação geral com o PT. Um partido que age assim não pode falar em relação construtiva e republicana. Esse ato, que não teve apoio do presidente Lula, reforça no PT a imagem de partido sectário - diz o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

Ao falar de sua intenção de conversar com Fernando Henrique, Lula disse o quanto o incomoda o sistema político, que impõe, segundo ele, uma relação de barganha do Congresso com o Executivo, e disse que não gostaria de concluir o mandato sem ver aprovada uma ampla reforma política no Congresso. Ele quer discutir o assunto com seu antecessor.

Aécio e Pimentel marcham juntos

Lula conta, publicamente, com dois aliados na estratégia: Aécio Neves e o prefeito de Belo Horizonte, o petista Fernando Pimentel. Os dois pretendem mostrar dia 10 que o veto do PT à aliança na capital mineira não funcionou: eles planejam participar do primeiro grande ato da campanha do candidato do PSB à prefeitura, Márcio Lacerda, convocando militantes de seus partidos para marcharem juntos.

- No campo nacional, PT e PSDB são adversários, mas não precisamos ser inimigos para sempre. Precisamos ter, no mínimo, capacidade para dialogar e Minas está ajudando a dar esse exemplo - diz Aécio.

Embora tenha recebido apoio explícito do presidente Lula à aliança que construiu com Aécio em Belo Horizonte, Fernando Pimentel não estaria em situação confortável no PT. Nos bastidores se especula sobre a possibilidade de o prefeito se filiar ao PSB. Ele nega:

- Isso não existe. Minha contribuição é mais importante dentro do PT do que fora, assim como é a do governador Aécio no PSDB. Não vamos desistir dessa aproximação, até porque tenho aliados fortes como o presidente Lula e uma enorme aprovação popular.

Mas o fato é que que, desde a eleição de 1994, PT e PSDB se consolidaram como alternativas de poder e essa polarização deve ser mantida em 2010. Isso significa que a vitória de um representa a derrota do outro. Por isso mesmo, o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), não vê chances de aproximação:

- Convivência civilizada eu sempre defendi, até porque PT e PSDB têm quadros importantes.
Mas não vejo muita coisa em comum entre nós.

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