sexta-feira, 11 de julho de 2008

DEU NO JORNAL DO BRASIL


UM ESPAÇO VAZIO NAS RUAS
Villas-Bôas Corrêa

A melhor notícia dos últimos tempos, na contramão do povo encolhido e calejado pelo seriado de escândalos que pipocam nos três poderes, foi publicada na página A11 da edição de ontem do JB, enfeitado pelo título chamativo de Movimento Novo prega a renovação da Câmara do Rio.

Logo na abertura, as informações básicas: na marola de indignação com a matéria deste jornal sobre o alto custo dos vereadores cariocas, confrontado com a lista esquálida dos benefícios, foi lançado pelos líderes do Boicote ao IPTU, o movimento com o título chamativo de Vote Novo, que conta com a adesão de lideranças de seis bairros: Ipanema, Leblon, Leme, Humaitá, Copacabana e Méier.

É ainda pouco e nem poderia ser diferente. Mas a gritante oportunidade de cutucar a consciência da população para a crise ética que envolve no mesmo pacote, em níveis diferenciados, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, talvez embale no despertar da sonolência da cumplicidade omissa e saia para a rua, ocupe as praças públicas, arme barracas à frente do Congresso, das assembléias legislativas e das câmaras municipais – que são ou devem ser as casas do povo.

Em 60 anos de militância como repórter político não tenho lembrança de nada igual ou parecido. Não se apele para as comparações com os apagões da ditadura paisana do Estado Novo de Getúlio Vargas ou a fardada do rodízio dos cinco generais-presidente.

Mas para catar semelhanças e diferenças, pode-se comparar a apatia de agora com a brava mobilização dos estudantes que foram à luta nos idos de 60, com todos o risco da brutal repressão. Os caras-pintadas lideraram a passeata dos 100 mil, em 26 de julho de 1968, no governo do general-presidente Costa e Silva, na maior manifestação popular realizada no Rio e que ainda hoje é relembrada. A reação endureceu na violência e nas torturas até o espasmo do AI-5.

Agora, o quadro é inteiramente diferente. Não há sinais de vida nas águas paradas. Não podemos perder a oportunidade de uma cobrança do povo. E a hora de ir para a rua é exatamente agora, não amanhã ou depois.

Se o movimento Voto Novo não for adiante, seremos mais uma vez enganados pelo blá-blá-blá das promessas, das propostas mirabolantes que rolam das tribunas parlamentares com plenários vazios para a massificação nos programas milionários no soporífero horário de propaganda eleitoral.

A anunciada tentativa de mobilização do eleitor para valorizar o seu voto, como pano de chão para limpar a sujeira, necessita ser complementada pelo alerta para a tolice do voto em branco, que não é protesto, é a rendição do frouxo. Se o eleitor não sacar a arma do voto, está ajudando ao inimigo.

E as reivindicações básicas são de uma clareza de manhã de sol. O Congresso transformou-se no sepulcro das mordomias, das vantagens, das mutretas, das semanas de três dias úteis, da verba indenizatória para ressarcir despesas nos fins de semanas, dos gabinetes individuais entulhados de assessores, dos escândalos e das CPIs. Não satisfeitos, querem mais. Se a patuscada do bolsa defunto para as despesas como enterro de parlamentares não vingou, o baixo clero não se deu por vencido e promete novidades para depois da eleição.

A faxina do voto pode começar com a suspeição dos atuais parlamentares. Na eleição de outubro, de vereadores e prefeitos, o eleitor deve priorizar a renovação para injetar sangue novo no enfermo. E, com muito cuidado, selecionar as exceções para não cometer a injustiça de misturar o joio abundante com alguns grãos de trigo verde.

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