sábado, 19 de julho de 2008

DEU NO JORNAL DO BRASIL


CAMPANHA NÃO SUSTENTA GOVERNO
Villas-Bôas Corrêa

Desta vez nada deu e continua não dando certo. O presidente Lula ajeitou a sua agenda para uma meia trava na ostensiva campanha eleitoral em que se empenhava praticamente em tempo integral, aproveitando o pretexto ou a desculpa – tão falsa como as explicações policiais sobre o mega-escândalo que envolve meio mundo nas trampas da turma do Banco Opportunity – de acompanhar as obras do Plano de Aceleração do Crescimento, o pobrezinho do PAC largado às traças, ao mesmo tempo em que apresentava ao distinto eleitorado a sua candidata para sucedê-lo, a ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, para a ainda distante eleição de 2010.

As coisas não correram como o esperado. Mas, o giro pelos muitos cantos do mundo garantiu boa cobertura na imprensa, com o exotismo da presença presidencial em paises sempre esquecidos, bem explorado pelas redes de TV e nas fotos de jornais e revistas.

Na retaguarda a campanha começou mal e continua como cabra-cega, sem rumo. A sacudidela com o tempero do azar está a exibir mazelas que ninguém queria enxergar, embora à vista na decadência galopante das grandes e médias cidades, na crise ética que corrói como ferrugem a respeitabilidade dos três poderes e assume a dimensão de escândalo no pior Congresso das últimas décadas.

Falta tudo para que a campanha para a eleição de prefeitos e vereadores salte a cerca da província e alcance a desejada projeção nacional. Engambelar o eleitor com a atividade de candidatos em visitas a bairros e subúrbios, distribuindo brindes e prospectos de propaganda, com a verônica em foto caprichada e os retoques que escondem rugas, disfarçam a calvície e as sobras que estufam a barriga ajuda a eleição dos mais afortunados.

É pouco, quase nada. Campanha eleitoral para valer exige partidos fortes, nítidos, com as marcas que o definem e que estimulem a desejada bipolarização na reta da chegada. Ou desde o começo, se o eleitor é da raça que acompanha a atividade política com a atenção de quem sabe da sua importância para a população que dele, de alguma maneira, depende.

Este Congresso que está nos presenteando com a folga do seu curto recesso até o fim do mês parece apostar com o governo o campeonato da incompetência obtusa e suicida. O presidente Lula, antes de recuperar o fôlego, mergulhou às cegas no suspeito desarranjo nas investigações da Polícia Federal sobre as trampas que envolvem bilhões e um elenco de primeiro time na arte de ganhar dinheiro sem suar a camisa. O encontro, no Palácio do Planalto, de Lula com o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, com a presença do ministro Tarso Genro, da Justiça passou para o país a desconfortável sensação de um governo perdido e que bate cabeça nos atalhos do absurdo.

A inflação mostra a sua face com a volta das maquinetas de remarcação de preços, retiradas do baú e em plena atividade, à vista da freguesia atordoada, a refazer as contas das despesas. Ainda não é a indignada decepção de quem descobre que foi enganado. Mas, o claro soar da estridência do alarme.

O cenário está sendo montado para uma recaída da população no depressivo desligamento da campanha, com as exceções conhecidas das cidades em que as rivalidades locais abafem o abatimento com a sensação de mais um logro. Nada pior do que a cólera do povo que se volta contra o governo, com o descrédito da democracia. E é um erro tático irreparável. A indignação precisa ser dirigida para o exemplar corretivo dos que enganaram o eleitor. E o voto é a arma não apenas eficaz, mas a única que o eleitor dispõe para punir os que o tapearam.

Não é tão difícil identificar os patranheiros que o enganaram, os desonestos envolvidos em CPIs, escândalos e roubalheiras e, como quem cata o diamante no garimpo, descobrir o candidato que mereça o seu voto. Se o conselho de velho repórter, que não é e nunca foi candidato a nada, tem algum crédito, sigam as duas regras de ouro: votem, não desperdicem a oportunidade de mandar o seu recado, mas votem com raiva. Com toda a raiva acumulada em anos, décadas de humilhação. Votem em quem mereceu o seu voto. E mandem os patifes para o inferno. Ou votem no novo que justifique a sua confiança.

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