quinta-feira, 31 de julho de 2008

DEU NO JORNAL DO BRASIL

VAZAMENTO ABRE CRISE NA CPI DAS MILÍCIAS
Paula Máiran


Dez pessoas apenas – sete deputados estaduais membros da CPI das Milícias e três autoridades da Segurança Pública – deveriam ter sido as únicas com acesso livre a um relatório confidencial da Subsecretaria de Inteligência com os resultados de um ano e meio de investigações sobre milícias no Rio, onde há, segundo o documento, 171 comunidades sob o jugo de grupos criminosos paramilitares, 122 destas na capital. Ontem, o relatório saiu publicado no jornal O Estado de São Paulo. O vazamento do dossiê confidencial provocou uma crise no relacionamento entre a comissão parlamentar e a Secretaria de Segurança Pública.

O desvio do documento ocorreu justamente no momento em que entrou em cena a Polícia Federal, encarregada de investigar, com auxílio dos dados da CPI das Milícias, denúncias de formação de currais eleitorais no Estado, onde milicianos são acusados de impor seus próprios candidatos à população, sob ameaça de armas. Ontem, houve reunião de representantes da CPI com equipe de inteligência da Polícia Federal, na superintendência do órgão.

– Esse vazamento foi um ato leviano e irresponsável, que só serviu aos interesses das milícias e que põe em risco a vida dos agentes, muitos ameaçados, que participaram da investigação – acusou Beltrame, sobre a publicação do documento. – Não vou mais enviar documento algum à CPI. Esse foi o o primeiro e o único relatório que encaminhamos à comissão.

Fenômeno estadual

O dossiê revela haver pelo menos 521 pessoas suspeitas – 156 policiais militares, 18 policiais civis, 11 bombeiros, três agentes penitenciários, três militares e 330 civis –de envolvimento com milícias no Rio. As milícias se estendem por nove municípios da Baixada Fluminense, São Gonçalo, Niterói e Região dos Lagos. Na capital, controlam, segundo a investigação, áreas em cinco bairros da Zona Norte e em cinco da Zona Oeste. Entre os apontados no relatório, há ainda políticos como o deputado estadual Natalino Guimarães (DEM) e seu irmão, Jerominho (PMDB), ambos ex-policiais; o vereador Nadinho (DEM) e ainda três vereadores de Duque de Caxias.

– Não sei quem vazou e tenho de admitir que existe a possibilidade de isso ter partido da própria CPI. O assunto entrou na pauta da audiência de amanhã (hoje) da CPI. Temos que tomar providências para tornar mais seguro o manejo desse tipo de documento. Certamente quem fez isso prestou um serviço aos milicianos – disse ontem o presidente da comissão, deputado estadual Marcelo Freixo (Psol).

O vazamento ocorreu em meio a um momento de instabilidade interna na Secretaria de Segurança, que passa por troca de comando no seu segundo escalão, inclusive de titular na Subsecretaria de Inteligência, com a decisão da troca de homem de confiança de Beltrame, o delegado federal Edvaldo Novaes, por delegado da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, até então titular da Polinter. Três autoridades da Segurança Pública tiveram o documento em mãos, segundo a assessoria da pasta. Na CPI, além de Freixo, receberam o dossiê: o relator Gilberto Palmares (PT), o vice-presidente Paulo Melo (PMDB), Pedro Paulo (PSDB), João Pedro (DEM), André Corrêa (PPS) e Paulo Ramos (PDT).

Indeferimentos do TER

Entre os suspeitos apontados no relatório, há candidatos à eleição ou reeleição para a Câmara Municipal. O TRE deve decidir em breve se defere ou não as inscrições desses candidatos. Ontem saiu a primeira lista de indeferimentos do TRE, com 25 nomes de candidatos, que ainda podem recorrer da decisão.

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