terça-feira, 22 de julho de 2008

DEU NO VALOR ECONÔMICO


GOVERNO MANTÉM APOSTA NA SUPERTELE
Raymundo Costa


No cálculo do governo, a menos que apareça uma irregularidade concreta capaz de desmanchar a operação, a criação da supertele de capital nacional, resultado do acordo da Oi com a BrT, está assegurada. Basta a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) concluir a consulta pública que convocou para discutir a revisão do Plano Geral de Outorgas (PGO), enviar suas sugestões ao Ministério das Comunicações e o presidente da República baixar o decreto com alterações nas regras estabelecidas à época da privatização do sistema Telebras, no ano da graça de 1998.

Pode ser, mas o inquérito aberto pela Polícia Federal contra o banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, elevou muito a desconfiança sobre o sucesso da empreitada, que tem a chancela e a torcida entusiasmada do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Entre os que auxiliaram Daniel Dantas a se desfazer de sua posição acionária na BrT - minoritária, mas um entrave sem tamanho para a realização do negócio - nem sequer há duvida: a prisão do banqueiro e a divulgação de grampos telefônicos envolvendo personagens palacianos foram uma espécie de última tentativa de melar esse acordo.

Dantas e seu grupo detectaram a investigação da PF bem antes da publicação da reportagem da jornalista Andrea Michael na "Folha de S. Paulo", em fins de abril. À época, já com o acordo para que Dantas se desfizesse de suas ações em fase bastante adiantada, alguns do grupo concluíram que estava em curso uma operação para invalidar o negócio.

O grupo bem que tentou, mas não conseguiu confirmar nem a existência da investigação nem saber quem estava no encalço do banqueiro. Fechado o acordo e com a Anatel a caminho de lançar as âncoras legais para o negócio, a Operação Satiagraha jogou incertezas sobre o final da operação. Resta saber quais seriam os interessados em melar um acordo cujo interesse o governo não escondeu antes, durante e nem agora, depois que ele foi fechado e a Operação Satiagraha pode ameaçar sua conclusão.

Num PT dividido e em vácuo de poder, os suspeitos são muitos. Mas por enquanto não passam disso mesmo, suspeitos de especulações políticas que vão do razoável à paranóia. Há até quem ache que o delegado Protógenes Queiroz, numa caçada fundamentalista a Dantas atirou no que viu e acertou no que não viu. Difícil é provar. No crivo do Palácio do Planalto, até agora, não se viu nada até agora que possa levar ao cancelamento do acordo.

Operação da PF é ameaça ao projeto BrT-Oi

A convicção do governo na formalização da supertele é que nenhum ilícito foi detectado na ação de agentes públicos. O que há no Palácio do Planalto é o que auxiliares do presidente chamam de "desconforto" com as "ações de boa vontade" ou de " lobby" terem exposto pessoas como o chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, flagrado numa conversa telefônica com Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado e advogado de Dantas na disputa societária.

Quem sabe das coisas no Planalto não desconhecia quem era o cliente de Greenhalgh. O advogado convenceu o Planalto que Dantas queria sair das teles; o Planalto entendeu que, sem Dantas, poderia levar adiante a supertele de capital nacional, projeto que considera estratégico na medida dos serviços de telecomunicações que podem ser agregados à telefonia fixa.

Elo entre Dantas e o Planalto, Greenhalgh está abatido. "Trabalhei um ano, seis meses dos quais levantando processos, convencendo o cara que o melhor era vender as ações, fazer o acordo", tem se queixado o ex-deputado em conversas privadas. "Terminou o acordo eu saí dessa história. Não tenho mais nada a ver com isso".

"Trabalhei um ano nesse assunto, e acho que fiz um bem para o país: ajudei a resolver o maior conflito societário do capitalismo moderno no Brasil", diz. Segundo acredita o advogado, "não havia a menor chance de ter uma supertele no Brasil com Daniel Dantas participando.

Agora Greenhalgh acha que está sendo crucificado por tudo o que Daniel Dantas faz ou fez "como se eu tivesse com ele nos últimos 40 anos". Teme estar entrando na mesma linha que julga trilhar José Dirceu. "O cara que é responsável por tudo, vai apanhar por tudo e vai pagar por tudo".


Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

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