quinta-feira, 24 de julho de 2008

INFLEXÃO PRÓ-URIBE SUPERA AMBIGÜIDADE QUANTO ÀS FARC
Jarbas de Holanda

Antes tarde, é o caso de dizer”. Ou seja, antes tarde do que nunca. Assim, editorial do Estado de S. Paulo, de ontem – “O novo aliado de Uribe” – avalia e aplaude a presença do presidente Lula nas comemorações do 198% aniversário da independência da Colômbia, e a assinatura de um acordo de cooperação militar entre os governos colombiano, brasileiro e do Peru contra o narcotráfico e o contrabando em geral na região de fronteira dos três países. Promovido na cidade de Letícia, o principal ato das comemorações teve a participação dos presidentes Álvaro Uribe, Lula e Alan Garcia e ganhou a dimensão (ao lado de eventos semelhantes realizados em outros centros urbanos da Colômbia e em 90 cidades do exterior) de novo marco de mobilizações sociais pela libertação de cerca de 700 reféns que a narcoguerrilha das Farc mantém em cativeiros.

O editorial registra que “Lula molhou as mãos com tintas azul e amarela, as cores colombianas, para imprimi-las num mural grafitado com apelos pela liberdade dos seqüestrados”, e associa a inflexão pró-Uribe do nosso governo à atitude assumida agora pelo colombiano de concordância com a “polêmica” proposta da criação de um Conselho de Defesa da América do Sul, concebido pelo ministro Nelson Jobim e apresentado em recente encontro, em Brasília, da Unasul – União das Nações Sulamericanas, no qual “a proposta foi praticamente ignorada pelos participantes, a começar dos colombianos”. O texto do Estado trata ainda do anúncio, feito
nessa viagem pelo presidente Lula, de um financiamento de US$ 650 milhões, através do BNDES, para a construção por duas empresas brasileiras – Camargo Corrêa e Odebrecht – de ferrovia que ligará o altiplano colombiano ao litoral do país, com um ramal para servir a uma siderúrgica recentemente adquirida pela Votorantim.

Com essa inflexão, o presidente deixa, enfim, inteiramente para trás a ambigüidade que o Itamaraty mantinha diante do conflito entre o governo da Colômbia e as Farc, postura que o levou a enredar-se em sucessivas e confusas propostas de “negociação equilibrada para a libertação dos reféns”. Enredamento resultante de dois tipos de pressões: de um lado, o relacionamento ideológico- cooperativo entre o PT e a guerrilha colombiana, formalizado no Foro de São Paulo constituído na capital paulista no início dos anos 90, quando ela já passava a se financiar com o narcotráfico, e, de outro, a influência que nos últimos anos vinha sendo exercida por Hugo Chávez, explícita e agressivamente em favor do grupo narcoguerrilheiro (isso até a apreensão, do outro lado da fronteira da Colômbia com o Equador, dos computadores de Raúl Reyes, reveladores de estreito relacionamento do presidente da Venezuela com o grupo, seguida de completo isolamento internacional deste com o sucesso da operação de Uribe que libertou do cativeiro Ingrid Betancourt, três norte-americanos e 11 policiais-militares colombianos).


A parceria econômica com a Colômbia

Trechos de reportagem de hoje do Valor, intitulada “Após trauma, empresas do Brasil voltam à Colômbia”:

“Onze anos após ter tido dois de seus engenheiros seqüestrados pelas Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc), a construtora mineira Andrade Gutierrez está recuperada do trauma e pronta para voltar a operar no país. Mais segura, com um ambiente mais propício aos negócios e com uma economia em melhor forma do que há uma década,a Colômbia tem chamado a atenção de um número crescente de empresas brasileiras. Mas não apenas pelas mudanças internas. A disposição do governo brasileiro de financiar obras e serviços no país, realizados por companhias brasileiras, ajuda também a reforçar o interesse pela terceira maior economia e pelo segundo país mais populoso da América do Sul.


“O seqüestro foi um fator para sairmos da Colômbia”, diz o vice-presidente para Relações Institucionais da empresa, Flávio Ma
chado Filho. “Mas hoje, tendo em vista a situação do país, nos interessa em voltar a atuar aqui e estamos prospectando obras de infra-estrutura ferroviária, aeroportuária, metroviária, em Bogotá, particularmente, e de hidroelétricas”. Os dois engenheiros estiveram por sete meses nas mãos da guerrilha e seguem no quadro da empresa – um deles hoje trabalha na Venezuela; o outro, no Ceará”.

“Ao mesmo tempo em que conseguiu reduzir os indicadores de violência – os seqüestros, os homicídios e atos de sabotagem e atentados despencaram - o atual governo, ao longo dos últimos seis anos, centrou sua política econômica no equilíbrio das contas públicas, na redução da inflação e no crescimento econômico.”

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