quinta-feira, 24 de julho de 2008


LÊNIN E GRAMSCI
Raimundo Santos


Lênin e Gramsci guiaram as esquerdas comunistas – até os anos 1970, a marxista-leninista e, depois, a vertente que se reivindica apenas marxista. Orientaram-nas na busca de uma sociedade homogênea na qual a política e o Estado já não teriam serventia (neste estágio a "administração das pessoas" seria substituída pela "administração das coisas", cf. Engels). A ditadura do proletariado viria garantir a supremacia popular requerida para alcançarmos essas utopias igualitárias (cf. Marx e Engels, sobremaneira Lênin, no limiar do século XX).

Gramsci elabora suas teorias no contexto da crise de 1929, quando o poder burguês já não se sustenta exclusivamente no uso da força (no Estado, por ele renomeado como "sociedade política"). Ampliado, o Estado passa a contar com o consenso obtido por meio de um "conjunto de ´aparelhos privados´ de hegemonia" (escolas, partidos etc.), a "sociedade civil". Nessa circunstância, a revolução não se reduz a um assalto direto ao Estado (Rússia, 1917). Ela assume forma de uma "guerra de trincheiras" ou "posições" ao interior da "sociedade civil", não desconsiderada a captura da "casamata" mais forte: a "sociedade política". Para Gramsci, a revolução consiste num processo largo de renovamento "ético-político", "catarse" (sic). Todavia, assim pensada (consenso prévio, instituições), a revolução pressupunha hegemonia. No contexto já muito diversificado daquela época de "capitalismo organizado", o socialismo, no "Ocidente" (nas sociedades complexas; "Ocidente" não é conceito geográfico), requer supremacia de um bloco nacional-popular.

O núcleo dessa teoria gramsciana – a hegemonia – foi discutido intensamente desde que Bobbio fixou nosso paradoxo nos anos 1970: democracia no capitalismo; socialismo sem democracia. A esquerda vem se debatendo ante o desafio de renovar a sociedade por meio da política, sob o Estado Democrático de Direito. Habermas, a quem sigo, define-se pelo caminho da "identificação sem reservas com o Estado democrático de direito, sem o abandono de objetivos reformistas muito além do status quo".


Raimundo Santos é professor da UFRRJ/CPDA, autor de vários livros.

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