quinta-feira, 17 de julho de 2008

O ESVAZIAMENTO DO RADICALISMO
Jarbas de Holanda



Da derrota de Hugo Chávez, no final do ano passado, no referendo em que buscou perenizar-se na presidência da Venezuela e consolidar, aprofundando, a institucionalização autoritária do país, até suas recentes guinadas de distanciamento das Farc e de reaproximação, calorosa, com o “hermano” Álvaro Uribe, da Colômbia, entre aquele e estes eventos desenvolveu-se nas Américas do Sul, Central e do Norte (México) um expressivo esvaziamento da onda e do apelo esquerdista. Que pareciam alastrar-se irresistivelmente nos últimos anos, dominando, ou quase, os diversos pleitos presidenciais realizados e as decisões de vários governos, por meio de uma receita populista agressiva baseada no revigoramento do “imperialismo “ norte-americano, numa escalada de estatizações e de restrições ao capital privado, doméstico e externo (inclusive de países vizinhos como o Brasil), na exacerbação de conflitos étnicos e classistas e em ações políticas e de caráter institucional para controle dos meios de comunicação e dos poderes legislativo e judiciário.

Apoiada nos petrodólares de Chávez, essa onda afirmou-se com as vitórias de Evo Morales, na Bolívia, de Rafael Correa, no Equador, de Daniel Ortega, na Nicarágua; manteve-se na Argentina, com a de Cristina Kirchner; e, por último, contribuiu para a do ex-bispo Fernando Lugo, no Paraguai. Todos esses atores com alta popularidade inicial. E o apelo do radicalismo populista quase venceu as disputas presidenciais no Peru e no México. Tudo isso enquanto Chávez procurava desestabilizar internamente e isolar no plano externo o governo democrático da Colômbia (inclusive armando e financiando as Farc).

Em pouco tempo, porém, a prática dessa receita está mostrando seus resultados econômicos e políticos nos diversos países que a ela se submeteram. Na Bolívia, a maioria dos estados (departamentos) aprovou referendos pró-autonomia, derrotando Evo Morales
e sem projeto centralizador de nova constituição. No Equador, o presidente Rafael Correa também enfrenta forte resistência contra projeto semelhante, e a economia recuou, crescendo apenas 2% em 2007, razões que ao lado de seu envolvimento com as Farc explicam sensível queda de popularidade que sofre. Na Argentina, o conflito com os agricultores, o desabastecimento conseqüente e o descontrole da inflação, já passando dos 25% anuais (a da Venezuela já chegou aos 30%), são os fatores básicos da queda vertiginosa da avaliação popular da presidente Cristina, para cerca de 20%, e de sua credibilidade, para 1,2 numa escala de 0 a 5. Na Nicarágua, o ibope de Ortega, que era altíssimo no ano passado, despencou para 21%. Enquanto isso, o governo centrista de Felipe Calderon, do México, eleito com apenas 36% dos votos, conta agora com uma aprovação social de 61%. O governo também centrista do Peru, de um Alan Garcia que deixou para trás o populismo de sua administração anterior no final dos anos 80, persistiu com as políticas de responsabilidade fiscal e abertura econômica do antecessor Alejandro Toledo, ganhando este ano o grau de investimento das agências internacionais de risco, atraindo grandes investidores em infra-estrutura, sobretudo em petróleo e gás, e impulsionando o crescimento. Por seu turno, o de Álvaro Uribe, na Colômbia, com sua dura política contra a criminalidade, inclusive a dos paramilitares, e a combinação do controle inflacionário com garantias aos investidores, reativa a economia do país e tem agora 92% de popularidade, após o profundo golpe aplicado nas Farc com a cinematográfica operação de resgate de Ingrid Betancourt, três americanos e 11 policiais militares colombianos.Outro indicador, emblemático, do esgotamento do radicalismo é a virada para o “socialismo realista” de Raul Castro, sintetizada em declarações dele no final da semana passada: “Igualdade não é igualitarismo. Este em última instância também é uma forma de exploração: a do bom trabalhador pelo que não é, ou, pior ainda, pelo vagabundo”.

Marta e seu adversário

Contando com o recall de ex-prefeita, reunindo toda a esquerda lulista e beneficiada pela divisão do pólo oposto entre Gilberto Kassab e Geraldo Alckmin, a candidata do PT Marta Suplicy, que ampliou para sete pontos, no último Datafolha, a vantagem sobre este (para 38% a 31%), poderá estendê-la ainda mais nas próximas pesquisas, subindo ao patamar de 40% das intenções de voto. O que, segundo nota recente do Painel da Folha, levou alguns petistas a preverem vitória dela já no primeiro turno, expectativa prudentemente negada pela própria, em declaração dada anteontem. Uma ascensão de Marta a esse patamar antecipará para bem antes do turno inicial da disputa a definição no campo dos tucanos e democratas em torno da candidatura representativa de um eleitorado que é basicamente o mesmo. O qual, dividido, potencializa a concorrente e, somado, certamente propiciará já nesta etapa o acirrado equilíbrio eleitoral que deverá caracterizar o enfrentamento entre os dois pólos no segundo turno.
Em face do reduzido percentual que continuou obtendo no Datafolha – no da semana passada menos da metade do de Alckmin, 13% contra 31% - Kassab será o alvo das pressões por tal definição,se não lograr um salto de intenções de voto em breve espaço de tempo. Neste caso, a erosão de sua candidatura começaria pelo desengajamento da maior parte dos tucanos serristas que seguem empenhados nela. Já se ele conseguir dar logo esse salto, voltando a se mostrar competitivo, a pressão unificadora do campo centrista se exercerá também sobre Alckmin.

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