quarta-feira, 6 de agosto de 2008

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


MODELO BURRO QUANDO FOGE
Dora Kramer


À falta de condições morais para decretar um recesso “branco” durante a campanha eleitoral depois de duas semanas de folga até praticamente a véspera das férias do fim do ano, o Congresso optou por uma solução de cor indefinida.

De burro quando foge. Algo entre o cinzento e o bege, sem matiz nítido, mas preciso como tradução do espírito da coisa.

Suas excelências querem licença para fazer campanha nos Estados de origem - ou, como diz o presidente do Senado, Garibaldi Alves, cumprir seu “dever cívico” -, mas perderam aquela ousadia de antigamente quando decidiam as coisas com um ar de “e daí?” para a sociedade.

Rodaram, viraram, mexeram, fizeram uma reunião para decidir o figurino do embrulho e apresentaram a solução alegadamente ponderada: o Parlamento funciona, mas em termos.

Trabalha normalmente uma semana em agosto, outra em setembro e, no meio tempo, faz um rodízio e só vota o que for da concordância de todos os partidos.

Quer dizer, não vota nada. A invocação do consenso é uma das formas conhecidas de obstrução dos trabalhos quando é de interesse do colegiado.

Isso durante dois meses em que a política fervilha País afora e, ali ao lado, no Supremo Tribunal Federal, decidem-se questões tais como a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, a Lei Seca, a política de cotas nas universidades, o caso do ex-ministro Antonio Palocci, lei de imprensa, uso de algemas durante prisões e julgamentos.

Se senadores e deputados consideram mais importante fazer o papel de pastor de ovelhas da paróquia que acompanhar e marcar posição institucional a respeito de temas como aqueles - fora as atividades legislativas normais para os quais foram eleitos -, que reunissem argumentos consistentes para convencer o cidadão de que a mercadoria vale a despesa.

Como sabem que não é nada disso, que o eleitorado não tem nada a ver com as necessidades político-provincianas de cada um, arrumam um atalho para chegar ao mesmo ponto. Haverá recesso extra, ainda que a função de cabo eleitoral não esteja descrita em lugar algum do capítulo da Constituição que define as atividades dos legisladores.

Seria uma decisão de cada um. Mas com as conseqüências cabíveis: licença formal com suspensão de pagamento, ou falta deliberada e conseqüente desconto no fim do mês. Com a saída encontrada querem tudo: manter as prerrogativas e ainda contar com o aplauso da população.

Ora, sobre esses esforços ocasionais sabemos que de concentrados só têm a displicência.

Quando fala em “dever cívico” o presidente do Senado só pode estar brincando, pois o único dever de civismo exigido do Parlamento é cumprir sua tarefa.

Por exemplo, poderia dedicar esse tempo para mudar a lei das elegibilidades ao invés de assistir calado ao Supremo Tribunal Federal decidir hoje sobre o destino dos candidatos “fichas-sujas”.

Melancia

No afã de não sucumbir a uma polarização entre nomes consagrados como os de Marta Suplicy e Geraldo Alckmin, o prefeito Gilberto Kassab - na avaliação da própria campanha - cometeu tolices na largada.

As prioridades continuarão sendo aparecer, aparecer e aparecer. Mas já se chegou à conclusão de que há maneiras e maneiras de o prefeito lutar para não ser ofuscado pelas estrelas adversárias.

A pior é pôr a máquina da prefeitura para produzir resultados eleitorais. A melhor, na concepção da assessoria dele, é usar os resultados administrativos para “puxar” Marta para esse campo de debate.

Daí a opção por lançar “desafios” à ex-prefeita com comparações entre as duas gestões. A petista viu a isca e até agora não respondeu a nenhum deles, mas a idéia é persistir.

Faltam dois meses para a eleição e há 60 desafios já preparados para chamar diariamente a oponente à luta. Se Marta Suplicy aceitar a provocação, tanto melhor para Kassab.

Se não aceitar, como parece por enquanto mais lógico, ainda assim o pretendente a duelista garante destaque no noticiário da campanha.

Quanto pesa

Com todo o respeito que a Comissão de Ética Pública da Presidência da República não merece do governo, trata-se de mera embromação a “análise” dos conselheiros sobre as condutas da ministra Dilma Rousseff no caso da venda da Varig, e do chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, nas conversas gravadas com o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh sobre as investigações da Operação Satiagraha.

A comissão hoje vale quanto pesam suas decisões, nada.

Desde que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, pôde debochar por meses do parecer sobre a incompatibilidade do acúmulo dos cargos de ministro e presidente de partido (PDT), a comissão passou oficialmente à categoria dos supérfluos.

Seja qual for sua posição sobre Dilma e Gilberto, não fará a menor diferença.

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