quinta-feira, 14 de agosto de 2008

DEU EM O GLOBO


O "FALCÃO" MCCAIN
Merval Pereira


NOVA YORK. Nada como uma guerra para confrontar as posições de candidatos a presidente dos Estados Unidos. À medida que a invasão russa na Geórgia vai se ampliando para além dos territórios separatistas e as pressões dos Estados Unidos aumentam para tentar fazer com que seja respeitado o acordo assinado entre Rússia e Geórgia sob os auspícios da União Européia, vai se tornando mais claro o protagonismo do candidato republicano John McCain no apoio ao presidente Mikhail Saakashvili. Seu principal assessor para assuntos externos, Randy Scheunemann, era sócio de uma empresa de lobby contratada pelo governo da Geórgia de 2003 até março deste ano, quando ele assumiu oficialmente o cargo na campanha de McCain. Scheunemann também foi presidente de uma ONG chamada Comitê para a Liberação do Iraque, que trabalhou em estreito contato com a Casa Branca apoiando as acusações contra o governo de Saddam Hussein antes da invasão pelos EUA.

Além de aspectos éticos envolvidos, como ter sido pago por um governo estrangeiro e agora, na qualidade de assessor de um candidato a presidente, defender os pontos de vista que favorecem seu antigo cliente, a própria escolha de Scheunemann comprova que McCain, em termos de política externa, e em especial em relação à Rússia, é talvez até mais duro do que a atual administração Bush.

Na verdade, desde o início dessa crise envolvendo a Geórgia, têm partido sempre do republicano as posições mais radicalizadas contra a Rússia. Esse comportamento corresponde a um longo histórico, e McCain é coerente com a posição que sempre defendeu, de que a Rússia representava um perigo mesmo depois do fim da Guerra Fria, devido à "nostalgia do império".

Com a subida ao poder de Vladimir Putin, ele passou a ser mais confrontador ainda, dizendo que podia ler nos olhos do primeiro-ministro a sigla KGB, a antiga polícia política da União Soviética de onde o russo provém.

O fato é que, fora os civis que estão sendo bombardeados, não há inocentes nessa disputa. O presidente da Geórgia, Saakashvili, atacou a cidade de Tskhinvali, capital da separatista Ossétia do Sul, com uma barragem de foguetes que causou total devastação, com 80% dos edifícios civis destruídos.

O objetivo político seria reforçar a idéia de a Geórgia entrar para a Otan, o que é apoiado pelos Estados Unidos e rejeitado pela Rússia, que aproveitou a agressão aos separatistas russos para invadir a Geórgia e agora discutir a sua autonomia, numa nova etapa da escalada militar.

A reação dos Estados Unidos, cada vez mais dura contra a subjacente intenção russa de anexar a Geórgia a seu território, corresponde à posição política defendida por McCain desde o início da crise. O candidato democrata Barack Obama ontem manteve-se fora da discussão, mas terá que se posicionar se a crise se agravar.

A postura de McCain, do lado dos "falcões" da Casa Branca, pode lhe valer pontos preciosos na corrida presidencial, ou fortalecer a idéia de que o diálogo, proposto por Obama, é mais eficaz nos dias atuais. Caso a posição dura do republicano seja a preferida dos eleitores, Obama sairá desse conflito com a fama reforçada de não estar à altura do cargo.

Recebi do candidato do PT à prefeitura do Rio, Alessandro Molon, a seguinte mensagem:

"Li em sua coluna de hoje que eu, aos 36 anos, poderia ser considerado pelos padrões de vida norte-americanos um mau exemplo de gestor de minhas próprias finanças. Incapacitado, segundo seu raciocínio, de gerir as finanças da prefeitura do Rio. Na profissão que abracei, o magistério, e no país em que vivo, o Brasil, as chances de enriquecimento seriam iguais a zero no tempo de vida que tenho.

"Mas nunca tive o enriquecimento como projeto de vida, e o magistério foi a profissão que escolhi e que desempenhei com absoluta dedicação até o dia em que me elegi deputado estadual aos 30 anos. Não fiz da vida pública, ao candidatar-me e eleger-me duas vezes deputado estadual, uma escada para o enriquecimento - o que seria ilícito, o que repudio.
"Tenho certeza de que ser fiel a princípios éticos é uma virtude. Virtude de quem abraçou a política por vocação e vontade de contribuir para a construção de um país melhor. Virtude que os eleitores brasileiros têm procurado com avidez nos políticos. Virtude indispensável para um bom gestor dos recursos públicos. Estou certo de que você concorda comigo".

Como nunca escrevi que o enriquecimento deveria ser o objetivo de vida de uma pessoa, não posso deixar de concordar com Molon quando ele diz que "ser fiel a princípios éticos" é "uma virtude indispensável para um bom gestor de recursos públicos".

O que me espantou foi sua declaração de bens de menos de R$12 mil, o que me cheira a demagogia semelhante à usada pelo então candidato Garotinho, que declarou zero de patrimônio.


Não sendo demagogia, não me parece uma demonstração de honestidade, mas sim de incompetência para gerir as próprias finanças. Não tem nada a ver com valores morais ou ética.

O conselheiro José Maurício de Lima Nolasco, presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE), envia uma mensagem para esclarecer que, ao contrário do que afirma o cientista político Marcus Melo em trabalho comentado por mim, o MP Especial (de Contas) tem representação no órgão "por meio de Conselheiro originário do MP junto à Corte de Contas e compõe o colegiado como estabelece a Constituição do Estado do Rio de Janeiro".

Marcus Melo esclarece que o banco de dados utilizado para as informações básicas do seu estudo é oriundo do levantamento do Programa do Modernização dos Tribunais de Contas (Promoex), financiado pelo BID. Essas informações são oficiais desse programa, e foram fornecidas pelas próprias instituições ao BID.

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