domingo, 3 de agosto de 2008

DEU NO ESTADO DE MINAS

O JOIO E O TRIGO
Marcos Coimbra


"Se olharmos os candidatos a prefeito na grande maioria de nossas cidades, o que vamos encontrar, como regra, é gente séria, que encara com responsabilidade o trabalho para o qual se propõe"

Quem trabalha com eleições e candidatos há muito tempo às vezes se alegra e às vezes se entristece com o tratamento que esses temas recebem da imprensa e dos meios de comunicação. Não só eles, mas a política, de maneira geral, pode tanto ser tratada de um modo justo, como injusto.

Para tomar um exemplo recente: na discussão da questão Daniel Dantas, nossa imprensa teve desempenho positivo, preservando sua capacidade crítica e mantendo visão equilibrada. Ajudou-nos a todos a entender o que estava acontecendo.

O mesmo não se pode dizer a respeito do início da cobertura das próximas eleições municipais. Predomina um tratamento adequado, mas, volta e meia, temos o oposto, uma visão preconceituosa e equivocada.

Não é nos noticiários políticos, elaborados por profissionais especializados na análise e discussão do tema, que se encontram os problemas. Onde mais costumamos tê-los é nos lugares em que tais assuntos aparecem menos em épocas normais. Nos jornais, nas seções destinadas a temas de comportamento e cultura. Nas emissoras de televisão e de rádio, em programas de entretenimento e humor.

Nesses espaços, o que mais se vê é a crítica superficial, a ironia ligeira, a piada óbvia. Com mínima preocupação para com os fatos, o tom é dado por generalizações imerecidas e enganosas.

Os políticos são sempre ladrões, os candidatos, caricatos e despreparados, as campanhas, ridículas e enfadonhas, os eleitores, quase sempre tolos e ingênuos, facilmente enganáveis por expedientes pueris. Tudo fica nivelado, pelo mais baixo e mais desagradável, como se tudo fosse igual.

É impressionante a vontade com que cronistas de costumes e artes, colunistas de assuntos sociais, âncoras de programas de bate-papo se sentem autorizados a não ter qualquer compromisso com a realidade. Para muitos desses profissionais, uma piada fácil, mesmo que velha, está sempre na ponta da língua.

A ligeireza dessa atitude contrasta com o que são e pensam os dois personagens centrais dos processos eleitorais: os candidatos e os eleitores. Quem os acompanha de perto não duvida disso.

Se olharmos os candidatos a prefeito na grande maioria de nossas cidades, o que vamos encontrar, como regra, é gente séria, que encara com responsabilidade o trabalho para o qual se propõe. Há pessoas mais e menos preparadas, como em todas as atividades humanas. Pode haver gente com más intenções, mas é a minoria.

Em várias capitais, uma nova geração de políticos está debutando, alguns em início de carreira, outros disputando cargos majoritários pela primeira vez. Gente de grande experiência concorre em outras, com todas as credenciais para voltar. Muitos prefeitos bons pleiteiam a reeleição.

Não há eleições onde nosso povo mais se revele que nas escolhas de vereadores. Temos candidatos de todos os tipos, de todas as cores e orientações, defendendo todas as bandeiras, na maior parte das vezes vindos das camadas mais humildes da população. É preciso respeitar isso.

A grande maioria dos cidadãos brasileiros leva profundamente a sério seus deveres cívicos. Pode errar, mas sempre procura acertar, mais ainda os que precisam do poder público.

Não se questiona o direito de ninguém questionar o que somos. Ao fazê-lo, porém, é preciso tomar cuidado com estereótipos e preconceitos, que para nada mais valem do que para perpetuar os elementos autoritários e antidemocráticos de nossa cultura.

Antes de propor uma piadinha fácil sobre nossos políticos, valeria a pena conhecer quem eles, quase sempre, são.

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