domingo, 17 de agosto de 2008

DEU NO ESTADO DE MINAS


O POVO E OS POLÍTICOS
Marcos Coimbra

"Analisados em conjunto, os resultados da pesquisa mostram que há muitos preconceitos e estereótipos na visão da população sobre a política, somados a muita desinformação. Mas há nela muita coisa que se formou a partir do que fizeram e deixaram de fazer nossos políticos"

A pesquisa que a Associação dos Magistrados Brasileiros encomendou à Vox Populi, divulgada esta semana, tem muitas coisas que merecem comentário. Feita em todo o país entre os últimos dias de junho e o começo de julho, ela ouviu cidadãos de todos os segmentos socioeconômicos e demográficos, residentes nas capitais, cidades médias e pequenas. Fornece um retrato do que pensam as pessoas sobre temas políticos e institucionais na véspera das eleições municipais.

Seus resultados não são surpreendentes e confirmam achados que outras pesquisas, recentes e mais antigas, encontraram. Pode-se, portanto, dizer que ela revela um quadro de percepções estáveis, quando não cristalizadas, de nossa população a respeito desses assuntos.

Como a grande maioria das conclusões da pesquisa está longe de ser favorável, temos aí uma primeira nota de preocupação. Se a desconfiança e o desapreço das pessoas pelo sistema político e seus atores diretos, os políticos, mostrados por ela, fossem conjunturais, causados por uma crise episódica qualquer, seria menos grave.

Não é esse o caso. Pensando no que ocorreu na política brasileira nos últimos anos, até que estamos vivendo um período bom, sem nenhum grande escândalo em pauta. Os vilões mais recentes, aliás, estão na iniciativa privada, ao contrário do que tem sido a regra.

Se, então, nos bons tempos, as coisas são assim, imagine-se nos maus! A pesquisa mostra quão disseminados são alguns sentimentos hostis em relação àqueles que se dedicam à vida política: 82% dos entrevistados acham que os políticos não cumprem as promessas que fazem nas campanhas; 85% que a política é uma atividade que os beneficia mais que aos eleitores; 64% acreditam que os políticos escapam da punição quando cometem irregularidades.

Uma nuvem de desconfiança envolve as instituições de representação: 52% das pessoas ouvidas não concordam com a frase “De modo geral, as eleições no Brasil são feitas de maneira limpa, sem fraudes, e têm resultados confiáveis”. Apenas 57% dos entrevistados discordam da frase “No sistema eleitoral brasileiro, os políticos têm como ficar sabendo em qual candidato cada eleitor votou”, ou seja, quase a metade não sabe dizer ou concorda que, em nosso sistema eleitoral, o eleitor não pode estar tranqüilo com a inviolabilidade de seu voto. A conseqüência disso é a elevada concordância, de 73% das pessoas ouvidas, com a frase “No Brasil de hoje, ainda acontece de alguém votar em um candidato só por medo de perder o emprego”.

Talvez por se sentir perdida dentro de um sistema em que confia pouco, a maior parte das pessoas reage com cinismo ao que supõe ser suas regras, como se dissesse que, se é assim que as coisas são, “quero também levar vantagens”. Nada menos que 60% dos entrevistados concordam com a expressão “A maioria das pessoas que conheço aceitaria votar em um candidato em troca de alguma vantagem pessoal”.

Sentimentos como esses não são, contudo, os únicos que a pesquisa revela. Quase a totalidade dos entrevistados, 89%, considera errado que “o eleitor receba ajuda de um candidato em troca do voto”; duas em cada três pessoas ouvidas acredita que “meu voto em um candidato pode mudar muito a minha vida, tanto para melhor quanto para pior”, indicando que a descrença na validade dos mecanismos democráticos existe, mas é minoritária.

Analisados em conjunto, os resultados da pesquisa mostram que há muitos preconceitos e estereótipos na visão da população sobre a política, somados a muita desinformação. Mas há nela muita coisa que se formou a partir do que fizeram e deixaram de fazer nossos políticos.

Aumentar a informação sobre as instituições, torná-las mais transparentes, evitar que mudem a cada capricho de alguém, tudo isso tem que ser feito. Mas de pouco vai adiantar se os próprios políticos não se convencerem de que precisam mudar.

Em quê, não há um que não saiba.

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