segunda-feira, 4 de agosto de 2008

DEU NO JORNAL DO BRASIL

NOVOS CURRAIS O PREÇO DOS VOTOS NAS COMUNIDADES
Paula Máiran

Candidatos podem pagar até R$ 35 mil para fazer campanha em áreas do tráfico ou milícia. Há líderes comunitários com salários de R$ 2 mil

Políticos do asfalto perdem cada vez mais espaço no Rio para candidatos nascidos em comunidades pobres e sob domínio de poderes paralelos. O presidente da Federação das Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj), Rossino Castro Diniz, estima haver mais de 120 áreas de risco na cidade com candidatos próprios. O equivalente ao dobro do que se verificou no último pleito municipal. Em 2004, favelas elegeram três parlamentares ­ de duas regiões de milícias e outra de tráfico. O fenômeno dos candidatos de comunidade progride, no entanto, em um cenário onde predomina a política tradicional, com os chamados candidatos "de fora" ou "chapas brancas", dados à prática do clientelismo e dispostos ou obrigados a pagar pelo direito de realizar suas campanhas em currais eleitorais controlados pelo crime. ­ A autorização para candidatos de fora fazerem suas campanhas nas favelas é negociada de várias formas. Pode ser assistência social ou obras, mas há quem cobre em dinheiro, entre R$ 350 e R$ 35 mil ­ afirma Rossino Diniz. No mercado eleitoral clandestino, segundo denúncias investigadas pela Polícia Federal, pagam-se valores de até R$ 100 mil. Há o salário-campanha, que faz de líderes comunitários cabos eleitorais por valores de mais de R$ 2 mil mensais, mais a promessa de cargos públicos em caso de vitória. E houve até o caso em que um fuzil serviu como moeda em troca de autorização de traficantes para a campanha de um candidato da Zona Norte.

Plebliscitos em comunidades

A PF já tem 29 denúncias re- passadas pelo Tribunal Regional Eleitoral. O presidente do TRE, desembargador Roberto Wider, disse que deverão perder os registros aquele que forem ligados ao tráfico ou a milícias. Para Rossino, nem tudo parece escuso no panorama eleitoral: ­ As comunidades estão cansadas de candidatos Copa do Mundo, que só aparecem de quatro em quatro anos. Em Acari, por exemplo, participei da organização de um plebiscito em que foram escolhidos os candidatos da área. Vejo isso como um ponto positivo ­ diz ele, ao observar que comunidades tentam conquistar autonomia nos limites de sua submissão ao poder paralelo. ­ O mais interessante é que candidatos de milícias costumam ser de partidos da direita, enquanto nas áreas onde há tráfico, há uma identificação maior com os de esquerda. O representante das favelas refere-se ao resultado de plebiscito realizado pela Aliança Fortalecedora, conselho formado por 37 líderes comunitários de Acari e adjacências ­ área de tráfico ­ na Zona Norte, para defesa de Paulinho do Social (PTB), para vereador, e de Marcelo Crivella (PRB), para prefeito. ­ Líderes comunitários cada vez mais deixam de ser cabos eleitorais para tentar se eleger, fato que já incomoda bastante os políticos tradicionais porque estão perdendo seus antigos currais ­ avalia Rossino.

Sem deputados

Segundo ele, não há ainda ao menos um deputado estadual representante direto dos interesses de favelas. Na Câmara, ele cita a existência de Jorginho da SOS, do Complexo do Alemão, na Zona Norte, Nadinho de Rio das Pedras, na Zona Oeste, e Deco, dono de votos das favelas Chacrinha e Mato Alto, em Jacarepaguá. Este ano, também realizaram plebiscitos para escolher candidatos próprios comunidades dos Complexos do Alemão e da Penha, de Manguinhos, do Jacarezinho, na Zona Norte, de Turiassú e da Vila Kennedy, na Zona Oeste, da Rocinha e do Morro Santa Marta, ambas na Zona Sul.

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