quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Fôlego não quer dizer musculatura


Maria Inês Nassif
DEU NO VALOR ECONÔMICO

O interior do Estado é a praia do candidato do PSDB à prefeitura da capital paulista. Geraldo Alckmin é de Pindamonhangaba e ampliou a sua influência para fora da capital quando era deputado federal e foi encarregado de organizar o recém-criado PSDB. Fez com o ex-governador Mário Covas, de quem foi vice, uma dobradinha eleita por dois mandatos. Covas tinha uma grande ascendência sobre o eleitorado paulistano; Alckmin conhecia profundamente a estrutura partidária fora da capital. A chapa "puro sangue" do PSDB foi vitoriosa em 1994 e 1998. Enquanto foi vice-governador, Alckmin era o responsável pela política miúda com os prefeitos. Quando tornou-se governador, não delegou essa função.

Covas morreu em 2001. Alckmin substituiu-o no Palácio dos Bandeirantes e se reelegeu em 2002, com um maciço apoio do interior. Antes disso, em 2000, foi candidato a prefeito da capital. Mesmo apoiado por Covas, ficou em terceiro lugar, numa disputa polarizada entre Marta Suplicy e Paulo Maluf.

Nas eleições para a reeleição de governador, em 2002, e para presidente, em 2006, o tucano conseguiu algum fôlego na capital paulista porque a conjuntura lhe permitiu polarizar com o PT. Mas fôlego não quer dizer musculatura. A pesquisa Datafolha divulgada no último dia 23 mostra que Alckmin despencou no momento em que a candidata do PT e o candidato do DEM, o atual prefeito Geraldo Kassab, ampliaram suas intenções de voto.

Mesmo depois de uma eleição para governador em que foi vitorioso e de uma eleição presidencial em que o Estado de São Paulo o favoreceu, Alckmin mostra que não consegue ser o candidato que naturalmente polariza com o PT na capital paulista. Ele polariza se sua campanha conseguir vinculá-lo fortemente ao seu próprio partido. É o PSDB, e não Alckmin, o anti-PT - pelo menos é assim na capital paulista. Nas duas vezes em que não disputava com candidatos que brigavam pela mesma faixa de eleitorado, Alckmin se impôs como o anti-PT. Nessa eleição, onde briga com Kassab para ser o candidato a disputar com Marta Suplicy num segundo turno, a sua identificação com o PSDB é fluida e a característica anti-PT, diluída. O candidato que ganha porque tem imagem de bonzinho não se basta na hora de polarizar.

Alckmin está no limbo: não é governo, nem oposição

A situação de Alckmin não é nada boa e tende a piorar. Devagar, Kassab tem reduzido a distância em relação a ele. Segundo pesquisas internas do DEM, a diferença entre Alckmin e Kassab já oscila entre 3% e 4% - o empate depende de um aumento de 1,5% a 2% nas intenções de voto para o candidato do ex-PFL. A pesquisa Datafolha demonstra que Alckmin caiu inclusive entre aqueles com mais de 60 anos, onde reinava sozinho na penúltima pesquisa. Na pesquisa da semana passada, Marta ganhou 5 pontos entre os eleitores nessa faixa etária e já está em empate técnico com o tucano: ela tem 28% das intenções de voto; ele, 29%. Alckmin perdeu eleitores na faixa de maior escolaridade para Marta e para Kassab: antes, estava 15 pontos à frente de Marta no estrato com curso universitário; na última pesquisa, caiu de 39% para 32% entre esses paulistanos, enquanto Marta passou para 28% (apenas quatro pontos a menos que o tucano) e Kassab, para 21% (seis pontos a mais que na penúltima pesquisa).

Um dado que não é relevante do ponto de vista estatístico, mas tem importância política, é a distribuição dos votos dos eleitores que se dizem do PSDB. Entre os que se declararam simpatizantes do partido, Alckmin caiu vertiginosos 11 pontos - de 78% das preferências para 67%. Kassab, que não é tucano, tinha 12% dos votos dos pessedebistas em julho e agora tem 19%. Marta, em compensação, tem crescido no eleitorado petista: saltou de 79% para 84% - e, diga-se de passagem, essa é a normalidade. A anormalidade é o candidato simpatizante de um partido votar num candidato que não é o do seu partido.

É difícil uma eleição na capital paulista ser absolutamente previsível - ironicamente, foi assim, da última vez, na eleição de Celso Pitta, que hoje teria dificuldade de se eleger síndico de prédio. E é prematuro jogar todas as fichas num segundo turno entre Alckmin e Marta. Kassab é prefeito e sua administração tem uma alta aprovação, que até agora se converteu apenas timidamente em intenções de voto, mas isso pode ser visto como uma incapacidade eleitoral ou como uma potencialidade - se hoje reverte apenas 35% da aprovação ao seu governo em votos, potencialmente pode elevar esse índice para 100%. Marta tem um eleitorado mais sólido por volta dos 38%. E Alckmin é o candidato da situação que briga com o prefeito e não tem um apoio entusiasmado do governador. A equação não é tão simples que se resuma à polarização PT/PSDB.

Maria Inês Nassif é editora de Opinião. Escreve às quintas-feiras

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