domingo, 24 de agosto de 2008

OS APOIOS NA ELEIÇÃO

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

O eleitor vê é uma espécie de queda-de-braço para saber quem é “o verdadeiro candidato de Lula”, que até briga na Justiça já provocou

Nestes primeiros dias de campanha eleitoral, o que mais estamos vendo é uma disputa em torno de quem tem “os apoios mais fortes”. O mais cobiçado nacionalmente, o mais exibido pelos candidatos, é o do presidente Lula. Em segundo lugar, o dos governadores populares em seus estados. Em terceiro, o dos prefeitos (quando não concorrem), junto com outras lideranças locais.

Lula é citado por candidatos a prefeito de todos os partidos, sem sequer a exceção dos que pertencem àqueles mais distantes do governo, como o PSDB e o DEM. Em não poucas cidades, seus candidatos convivem bem em coligações até com o PT, sem falar nos outros partidos da base. Nesses, todos deixam clara sua fidelidade a Lula.

Na maior parte das cidades, seja onde há propaganda eleitoral pela televisão e o rádio, seja onde as campanhas ainda seguem a rotina das caminhadas, comícios e apertos de mão, a chamada base do governo tem dois, três, muitos candidatos. Como todos se sentem autorizados a dizer que são correligionários, quando não amigos, do presidente, o que o eleitor vê é uma espécie de queda-de-braço para saber quem é “o verdadeiro candidato de Lula”, que até briga na Justiça já provocou. Quanto aos candidatos de partidos de oposição, ficam quietos e nada dizem contra ele.

O resultado disso é que, se nada de muito surpreendente acontecer, Lula vai sair das eleições municipais maior do que entrou. Em vez de ser um momento para discutir o que seu governo faz e não faz, elas serão uma consagração. De Norte a Sul, os eleitores terão a sensação de que é consensual a aprovação da política do governo federal em relação a temas fundamentais na vida das cidades.

Se não há criticas à política para com a segurança pública, por exemplo, o recado que os candidatos passarão é que ela não precisa de mudanças. É como se dissessem que nada há a cobrar da União nessa matéria. Tampouco em relação à atuação federal na saúde, no saneamento, na habitação popular, no meio ambiente e assim por diante.

Ou seja, os candidatos estão apresentando suas propostas dentro de um quadro delimitado pela ausência de questionamentos ao governo federal, sem convidar os eleitores a pensar sobre o que é preciso fazer para que as administrações municipais tenham melhores condições para realizar seu trabalho.

Assustados com os números da popularidade do presidente, nem tocam no assunto.

O curioso é que se comportam assim por entender que precisam do “apoio de Lula”, como se tê-lo fosse decisivo para suas chances eleitorais. Esquecem-se de que a grande maioria das pessoas não aprova, cegamente, as ações do governo. Ao contrário, as pesquisas mostram que elas tendem a reprovar muitas políticas e que esperam que sejam mudadas, seja para aumentar seu alcance, seja para reformulá-las por completo, como ocorre no caso da política federal para a segurança pública.

Há, nisso, duas questões a discutir. Uma, é se ter “o apoio de Lula” faz alguém ganhar eleição. Pelo que vimos nas que tivemos nos últimos anos, sejam as municipais de 2004, sejam as estaduais e legislativas de 2006, os “candidatos do Lula” tanto podem ganhar, quanto perder. Difícil saber qual grupo é maior.

A segunda questão tem a ver com a noção de apoio. Afinal, quem apóia quem? É Lula quem apóia as legiões de candidatos que acham que vão vencer (e muitas vezes não vencem) com seu apoio? Ou são esses candidatos que apóiam Lula, permitindo que passe incólume pelas eleições, satisfeito e vendo sua popularidade aumentar?

Isso não quer dizer que não existam apoios que podem ser decisivos em uma eleição como a que faremos em outubro. Quando os candidatos são pouco conhecidos, uma apresentação bem feita, por alguém que o eleitor respeita e de quem gosta, é muito importante.

Os eleitores brasileiros, diferentemente do que pensam alguns, dão imenso valor ao voto e procuram fazer suas escolhas eleitorais da melhor maneira possível. Saber quem está do lado de quem, o que os candidatos são em relação a lideranças que prezam, são informações que os ajudam a votar com mais segurança.

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