terça-feira, 30 de setembro de 2008

Guerra contra números no Rio

Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Na disputa por vaga no segundo turno, Gabeira afirma que o Ibope estaria manipulando margem de erro de pesquisas. Diretor do instituto atribui as declarações ao nervosismo da reta final da campanha

Depois de Jandira Feghali e do prefeito Cesar Maia, agora é o deputado Fernando Gabeira (PV) que contesta as pesquisas do Ibope sobre as eleições no Rio de Janeiro. Segundo ele, o instituto estaria manipulando a margem de erro dos levantamentos para favorecer o candidato do PMDB, Eduardo Paes. Curiosamente, o ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), contrariado por causa das pesquisas realizadas pelo instituto em Salvador, apóia Gabeira. “Nós vamos pedir uma auditoria nas pesquisas do Ibope”, dispara Geddel.

Gabeira cresceu nas últimas pesquisas e ameaça o segundo colocado, o senador Marcelo Crivella (PRB). Contratado pelo jornal Estado de São Paulo e pela TV Globo, o Ibope atribui 10% das intenções de voto a Gabeira, 14 pontos atrás do senador Marcelo Crivella (PRB), com 24%. O Datafolha , em sua última pesquisa, mostra um empate técnico: o bispo licenciado da Igreja Universal com 18% e o candidato do PV com 15%. Jandira Feghali está com 13%, tecnicamente empatada com o candidato verde.

“O Ibope estava a serviço do PMDB. Eles têm contrato com o PMDB no estado inteiro. As pesquisas deles, no meu entender, não têm credibilidade. As pesquisas a que eu dou mais credibilidade são a do Datafolha e a do GPP, onde a situação é muito parecida”, acusa Gabeira. O prefeito Cesar Maia, cuja candidata Solange Amaral (DEM) não decolou, renova as críticas no seu ex-Blog: “Há um mês que Crivella não tem nem 20% das intenções de voto, que dirá os 24% que esse instituto divulgou no sábado. Um erro deste tamanho exige que o próprio Ibope faça uma auditoria interna em seus sistemas e processos”.

Invasão

Maia, porém, não acusa o instituto de manipulação política. Acredita que os computadores do Ibope foram invadidos. “ O que explica tamanha discrepância? Este ex-Blog vem sugerir um rastreamento em seus sistemas, pois o mais provável é que um hacker esteja trocando os códigos de Crivella, com outro candidato que tenha mais votos onde Crivella tem menos. Uma ação dessas, de um hacker experimentado, seria muito difícil de ser detectada”, sugere. O diretor-presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, atribui as críticas ao nervosismo dos candidatos à véspera da eleição. “O Ibope faz essa pesquisa há 60 anos”, argunta Montenegro.


Paes é favorito para o dia 5


O candidato Eduardo Paes (PMDB), com 29% tanto no Ibope quanto no Datafolha, está praticamente garantido no segundo turno. A segunda vaga é que estaria indefinida. É por isso que o clima da campanha esquentou. Marcelo Crivella (PRB), porém, não está interessado na polêmica. “A melhor pesquisa é o carinho que tenho recebido do povo nas ruas.” Apoiado discretamente pelo presidente Lula, está confiante de que irá ao segundo turno.

A pesquisa do Ibope tem margem de erro de 3% para mais ou para menos. Paes pode ter entre 26% e 32% e Crivella, entre 21% e 27%. O peemedebista oscilou positivamente dois pontos percentuais em relação ao levantamento anterior, quando tinha 27%. Crivella oscilou positivamente um ponto (tinha 23%). O candidato Fernando Gabeira subiu quatro pontos percentuais, de 6% para 10%. Jandira Feghali manteve 9%. Solange Amaral oscilou negativamente de 5% para 3%. Alessandro Molon (PT) oscilou de 4% para 2%. Chico Alencar (PSol) passou de 1% para 2%. Paulo Ramos (PDT) permanece com 1%.

Filipe Pereira (PSC), Vinicius Cordeiro (PTdoB) e Eduardo Serra (PCB) não alcançaram 1% das intenções de voto. Antonio Carlos (PCO) não foi mencionado por nenhum dos entrevistados.

Dos eleitores entrevistados, 9% informaram que pretendem votar em branco ou nulo, 10% disseram que não sabem em quem votar ou não opinaram. O Ibope entrevistou 1.204 eleitores de 23 a 25 de setembro na capital fluminense. O levantamento está registrado na 228ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro com o número 38/08.

Empate

Também divulgada no sábado pelo jornal Folha de S.Paulo, a pesquisa DataFolha mostra Paes com 29% contra 18% de Crivella, tecnicamente empatado com Fernando Gabeira (15%), que cresceu quatro pontos. Jandira Feghali manteve os 13% da pesquisa anterior. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. Isso significa que Paes pode ter entre 26% e 32%; Crivella, entre 15% e 21%; Gabeira, entre 12% e 18%; e Jandira, entre 10% e 16%. O Datafolha ouviu 1.184 pessoas na cidade do Rio de Janeiro entre as últimas quinta (25) e sexta (26). O levantamento recebeu da Justiça Eleitoral o registro RPE 35/2008.

Manifesto contra Crivella

A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) divulgou manifesto pedindo aos cidadãos do Rio de Janeiro para que não votem no senador Marcelo Crivella (PRB) nas eleições municipais do próximo domingo. Segundo a entidade, o senador é homofóbico e “não respeita a Constituição Federal, nos princípios da igualdade e da não-discriminação”.

No manifesto, segundo a Agência Estado, a ABGLT cita declarações e ações nas quais o senador teria demonstrado sua homofobia. A principal delas seria sua oposição à aprovação do Projeto de Lei 122 (em tramitação no Congresso desde 2006), cujo propósito é caracterizar como crime qualquer tipo de discriminação contra minorias sexuais. Em artigo publicado no Jornal do Brasil, no ano passado, o senador classificou o projeto como “perigo para as famílias brasileiras” e convocou manifestações contra sua aprovação.

Em entrevista a outro jornal do Rio, O Globo, o senador classificou como “excrescência” o projeto de lei. “Ninguém pode ter neste país a obrigação de concordar que não se pode criticar o homossexualismo”, afirmou. O senador é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e primo do empresário Edir Macedo, fundador e líder da denominação evangélica.

Essa não é a primeira vez que o candidato enfrenta críticas de fundamentalismo religioso. Em todas as vezes ele tem prometido não confundir o seu papel de prefeito com o de líder religioso. Durante a sabatina realizada pelo Estado, Crivella também prometeu não levar integrantes da Igreja Universal para o governo. “O Rio não precisa de líder religioso, de guerra religiosa”, afirmou.

Lista

A ABGLT também divulgou ontem uma lista atualizada de 200 candidatos a prefeito considerados “favoráveis à promoção da cidadania de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais em todo o Brasil”. De acordo com a lista, feita a partir de informações fornecidas por 203 organizações afiliadas à associação, o partido com mais candidatos simpáticos à causa é o PT (64), seguido pelo PSol (26), PCdoB (19), PV (15) e PR (11). Na divisão por estados, São Paulo lidera com 32 candidatos. Em seguida aparece a Bahia, com 29.

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