quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Não se ganha de véspera


Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Serra e Aécio, à frente dos governos de São Paulo e Minas, se mantêm como pólos alternativos de poder, apesar do enorme prestígio de Lula

Governo bem avaliado, popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas alturas. Nada, porém, está decidido em relação à sucessão de 2010. Pesquisas de opinião mantêm o favoritismo do governador paulista José Serra (PSDB) para as eleições presidenciais. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), a preferida de Lula, ainda não decolou como possível candidata oficial.

Transferência

É ilusão pensar, porém, que o presidente Lula não tem capacidade de transferência de voto. Tem o suficiente para consolidar e impor o nome de Dilma às lideranças petistas, que relutam em apoiar um quadro sem experiência eleitoral, nem tradição de militância partidária. E também para convencer os aliados dessa opção, deslocando a candidatura do deputado Ciro Gomes(PSB), que continua sendo o nome de maior densidade eleitoral na base governista para disputar a sucessão de Lula. Entretanto, a pesquisa do instituto Sensus, divulgada na segunda-feira, mostra a chefe da Casa Civil atrás de todos os demais possíveis candidatos, do governador mineiro Aécio Neves (PSDB) à ex-senadora Heloísa Helena (PSol).

Vamos aos números: na simulacão espontânea, Lula obteve 23,4% das indicações. Seria o nome imbatível do PT, mas não pode concorrer ao terceiro mandato e já manifestou a intenção de não permitir que a lei seja alterada com esse objetivo. Em segundo lugar, apareceu o governador de São Paulo, José Serra, do PSDB, com 6,7%. Outro tucano, Aécio Neves, chegou a 3,3%. Dilma surgiu em quarto lugar, com apenas 1,9%. É muito pouco para quem vem tendo tanto apoio do governo para se projetar eleitoralmente.

Como Lula não pode ser candidato, ficou fora da pesquisa induzida. O resultado confirmou a tendência que vem se mantendo desde a reeleição do atual presidente da República. Seu prestígio é ascendente, o governo bomba, mas os nomes mais competitivos para a sucessão presidencial continuam sendo os da oposição. Serra permanece na liderança, com índices entre 37% e 45%, a depender de quais sejam os adversários. Quando o nome do PSDB é Aécio, o governador mineiro obtém índices entre 18% e 22%. Dilma fica atrás de Ciro Gomes (PSB) e Heloísa (PSol) em todas as simulações. Mas seu desempenho melhorou. No início do ano, mal passava de 1% das indicações. Nesta pesquisa, variou entre 8% e 12%, dependendo do cenário. É o tal poder de transferência de Lula, que tende a consolidar a candidatura da sua ministra, mas por si só não garante a vitória. Isso dependerá da pegada eleitoral da candidata oficial.

Expectativa

Esse resultado, porém, mina a expectativa de poder que Lula pretende criar em torno de Dilma, para transformá-la numa candidata imbatível. Em contrapartida, os tucanos Serra e Aécio, à frente dos governos de São Paulo e Minas, se mantêm como pólos alternativos de poder, apesar do enorme prestígio de Lula. É aí que entra em cena o desfecho das eleições municipais e os cenários que estão sendo construídos nas urnas para as eleições de 2010.

O resultado das eleições de Belo Horizonte é um vetor importante. Aécio e o prefeito petista Fernando Pimentel, contrariando a cúpula do PT e o Palácio do Planalto, têm possibilidades reais de eleger Márcio Lacerda (PSB), uma invenção política de ambos que deu certo. Se esse resultado se consolidar, a estratégia “pós-Lula” de Aécio para ser o candidato tucano ganha fôlego. É a velha política de conciliação e união nacional mineira renascendo como uma fênix.

Outro vetor é São Paulo, cuja eleição é eletrizante. Se Marta Suplicy (PT) voltar à prefeitura da capital, a candidatura de Serra estará em xeque. Se o vitorioso for o ex-governador Geraldo Alckmin, também. O contencioso criado pela preferência do governador paulista pela candidatura de Gilberto Kassab (DEM) rachou os tucanos paulistas. A melhor alternativa para Serra, portanto, é resolver a disputa interna logo, reelegendo o atual prefeito de São Paulo. Mas essa é uma estratégia de muita fricção, que desgasta o atual governador.

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